segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

DEPOIMENTO DE UM ESPÍRITO por Wagner Borges



Eu peço desculpas a você, por abordá-lo assim, de surpresa. Mas é que eu gostaria de contar o meu caso e dividir minha experiência. Isso me fará bem e ainda ajudará na reflexão de outros. E, se alguém evitar o inferno das drogas por causa disso, eu me sentirei muito bem. E eu preciso disso para ficar bem comigo mesmo.

Eu tive boa educação e não tenho do que reclamar dos meus pais. Eles me deram do melhor e sempre se preocuparam em fazer o certo. O problema era eu mesmo, sempre foi.
Na época, eu não tinha noção das coisas e sempre acusava alguém por minhas desditas. Porque eu era um babaca mesmo, dos grandes. E hoje eu vejo isso claramente.

Eu era tão encrenqueiro, que até uma música bonita me incomodava. E eu não suportava ver alguém apaixonado. Eu sentia asco quando alguém falava de amor.

Eu sofria de um ressecamento emocional crônico, e descontava minha frustração nos outros. Eu era um sujeito casca de ferida, como se diz por aí. E inflamei a minha vida e me exasperei demais. E não foi por falta de instrução, não; foi pura falta de coração.
Machuquei minha família e meus amigos, encrespei com todo mundo. E desci a ladeira das drogas... Até o fundo da vala de mim mesmo. E eu caí sabendo, por pura arrogância. Foi marra e egoísmo de minha parte, uma espécie de auto-sabotagem bem safada. Mas, como eu era um babaca completo, achava que estava abafando. E também desprezava o mundo e achava que ninguém me compreendia, porque todos eram burros e eu era o maioral. E era tudo ao contrário, eu era a encrenca de mim mesmo.

Eu era tão marrento e cheio de panca, que usava de tudo e ria de quem não tinha coragem de ser como eu. Maconha, cocaína, ácido, álcool, o que viesse eu traçava.
E, de forma diferente de outros caras, eu não gostava de cantos escuros; eu gostava de muito sol e mar aberto. E isso me iludia, porque eu dizia para todos que era sarado e estava bem. Afinal, o problema eram sempre os outros e o mundo.
Se alguém tentasse ponderar comigo sobre alguma coisa, eu virava uma fera e cortava o papo na hora. Não importando quem fosse, eu sempre achava que estava com razão em tudo. E, devido à instrução que tive, eu distorcia as coisas e sempre arranjava argumentos para justificar tudo.

E, assim, eu fui levando minha vida, na loucura do consumo de drogas e álcool, e desprezando tudo e todos. Até que o tempo cobrou o seu preço e eu cheguei ao fundo da vala de mim mesmo. Não sei muito dos detalhes, pois não me lembro de quase nada. Só sei que fiquei chapado novamente e bati o carro violentamente num muro. Tudo ficou escuro, e eu naquele estado de torpor desagradável. Não sei quanto tempo se passou.

Eu não conseguia recobrar a consciência direito e nem organizar minhas idéias. Logo eu, que me achava o bonzão da inteligência, não conseguia nem pensar direito. E ainda havia uma tontura que me tomava e me deixava péssimo. Eu fiquei num turbilhão de sensações e visões distorcidas, sem saber como sair, como num transe dentro de mim mesmo.
E eu fiquei assim por um tempo, sem noção das coisas, girando sem parar e vomitando uma gosma amarronzada e viscosa, que me sujava todo e me dava um nojo terrível. E eu gritava desesperado, sem saber o que fazer para aquilo parar.

E foi assim, vagando nesse pesadelo que eu mesmo criei, que, em dado momento, a ajuda chegou ao meu pedaço. Eu não compreendia nada, mas via fachos de luz descendo sobre mim. E aquilo me centrava e acabava com as malditas tonturas. Lentamente, as coisas foram clareando e eu vi a situação em que estava. Na medida em que recuperava minha clareza mental, eu tomava noção do que tinha acontecido. Eu havia morrido e estava preso na minha tumba, flutuando por cima do meu cadáver em estado de putrefação. E o cheiro era uma coisa de arrasar qualquer um. Horrorizado, eu comecei a chorar, com nojo de mim mesmo. Surtei ali e me debati, tentando escapar de qualquer jeito para cima. Mas não conseguia nada, só me cansava e caia novamente por cima do cadáver.

Foi então que aquelas luzes desceram sobre mim novamente, e eu ouvi alguém me dizendo: Sua arrogância cegou você, meu irmão. E o Mestre Tempo cobrou o seu tributo, mostrando-lhe que a inteligência, sem o equilíbrio do amor e do respeito aos outros, se torna vilã e leva o Ser para os abismos da dor. Você se tornou ácido e áspero, e o seu remédio foi amargo. E essa é uma tendência que você já trazia de outras vidas, e que veio trabalhar e se acertar nessa última vivência, mas acabou por falhar no mesmo problema. Ah, meu irmão, nós poderíamos tirá-lo dessa situação logo após o seu acidente, aliás, causado por você mesmo. E, se você não tivesse batido o carro, certamente teria desencarnado por overdose de drogas e álcool, pois você abusou muito. Contudo, nós o deixamos agarrado nas malhas energéticas do corpo em decomposição, justamente para você ver em que situação a sua arrogância o colocou. Para ver se dessa vez você imprime na mente a lição necessária. E que isso lhe sirva de aprendizado para futuras vivências...

Venha, está na hora de sair disso e retomar sua consciência. Providenciamos um banho de luz purificador, que o deixará limpo e renovado. Depois, você dormirá um pouco, não mais por necessidade fisiológica, mas por necessidade de repouso psíquico, para descansar sua mente. E, quando acordar, voltaremos a conversar. E aí, juntos, avaliaremos o que se passou e as lições que ficaram. E você escutará o que for preciso, sem arrogância, com mente de aprendiz e coração aberto. Você voltará a sentir a vida pulsando e, mais à frente, até rá do seu ridículo e de sua soberba. E valorizará as coisas simples da vida e também as coisas do coração, sem as quais a inteligência se perde nos escaninhos do orgulho e da secura no trato com os semelhantes.

Vamos, é hora de deixar de ser marrento como você sempre se disse ser. Ou, se preferir, é hora de deixar de ser babaca como você se vê agora. É hora de ser apenas você mesmo, um espírito, centelha da Vida Maior que pulsa em todos os seres. Você é parte da sinfonia divina, apenas desafinou por arrogância. Está na hora de afinar a sua inteligência com o seu coração, para gostar de música e viver e falar de amor, e ser feliz.

Então, eu fui arrebatado pelas luzes e levado para um tratamento espiritual. E, liderando o grupo de espíritos que me ajudou, estava um senhor calvo, de barba branca e aparência simpática. E foi ele que falou tudo isso comigo. Depois, conversamos novamente e ele me fez ver muitas coisas que eu não atinava antes. E, diga-se de passagem, ele é muito educado e respeitoso. É um sábio mesmo, mas não gosta de aparentar coisa alguma e respeita todo mundo. Diante dele, eu, o babaca arrogante, me coloquei no meu devido lugar. Inteligente era ele, não eu. E ele, modesto e amoroso, me disse que era apenas um servidor da Luz.
Ao ver a sabedoria daquele senhor de aparência jovial e tranquila, a sua serenidade e o seu equilíbrio, eu chorei de vergonha. E ele me abraçou e ficou comigo ali, até eu me acalmar. E ele ainda me disse: “Olhe a imensidão do universo e a vida pulsando em todos os seres, em miríades de dimensões e planos, e se pergunte qual foi o Poder Maior que criou isso tudo. Esse sim, o Absoluto, o Pai de todos, é a Suprema Inteligência. Eu, você e todos os seres somos seus eternos aprendizes. Inteligente é quem reconhece isso... E agradece a Ele, por tudo”.
E esse é o meu caso. E eu me sentirei muito bem se você der conhecimento dele ao mundo. Eu sei que muitas pessoas, mesmo em situações diferentes da minha, repensarão suas vidas enquanto é tempo. E, se somente uma pessoa melhorar ao saber da minha história, já terá valido a pena contar tudo isso. Não tenho a pretensão de consertar a vida de ninguém, nada disso. Tanto que ainda estou acertando a minha própria situação. Só quero deixar a minha história correr por aí... E dizer que, nesse mundo, alguém pode até ter tudo, mas, se não tiver amor no coração, nada terá! E amar e falar de amor, não é tolice; é força espiritual do Ser e contrabalança os percalços, e deixa o coração aceso, para inspirar a inteligência e a ação criativa no mundo.

Eu sou um babaca em recuperação! E já estou até rindo e gostando de música. E isso é um bom recomeço. E minha recuperação será melhor ainda, se alguém deixar de se machucar com drogas e álcool por ler minha história. E também se alguém apaixonado de verdade, que brigou por algum motivo, fizer as pazes com quem ama. E, mais ainda, se alguém pensar em mim com carinho e colocar uma música linda em minha intenção.

Vela não, por favor. Nem ladainha alguma, isso eu não curto mesmo. Só a música já está bem.

P.S:
Novamente eu peço desculpas por chegar assim, de surpresa, e insistir tanto para passar o meu recado. Você está me vendo claramente? É só você prestar atenção um pouquinho e se ligar comigo, de mente à mente. E aí será rápido e eu irei embora logo. E eu não estou sozinho nisso, tem outros que passaram pelas mesmas coisas e é como se eu representasse todos eles ao mesmo tempo. E eles estão me fortalecendo para isso. E eu estou aqui só para isso. Por favor, aceite esse pedido e escreva. Você, que é um cara que curte música e sente um Grande Amor em seu coração, compreende os motivos disso, não?

Então, dê essa força aí. Você me fará muito feliz, saiba disso. E eu tenho certeza que, vindo lá dos planos da pura Luz, descerá um raio de cristal sobre você e os seus. Pelo favor que você prestará emprestando o seu tempo e sua atenção nisso.

Obrigado por me escutar e por me dar o exemplo do que é ser um cara que gosta de boa música e se sente agradecido por poder apreciá-la.
Cara, tudo de bom para você e os seus.

(Recebido espiritualmente pro Wagner Borges – São Paulo, 28 de janeiro de 2010.)

- Nota de Wagner Borges: Hoje, no fim da tarde, eu estava na fila do caixa de um supermercado perto de meu apartamento, escutando um excelente trabalho do excepcional tecladista e vocalista americano Bruce Hornsby*, enquanto esperava minha vez de tirar as compras do carrinho e colocar na esteira do caixa para o devido pagamento. Então, de surpresa, vi esse espírito flutuando em frente a mim. Tratava-se de um rapaz com aparência de uns vinte e poucos anos de idade, cabelos louros, grandes e encaracolados, de compleição forte, risonho, e meio agitado. Ele vestia apenas uma bermuda vermelha florida, daquele tipo que os surfistas usam, e estava sem camisa. E foi ali mesmo que ele me disse tudo isso. Daí eu finalizei as compras e vim rapidamente para casa, para escrever o recado dele. E, ao término do mesmo, ele foi embora rapidamente. Parece que a energia que o sustentava só dava para a consecução de sua tarefa. Não sei detalhes sobre ele, nem nada, muito menos seu nome ou procedência**.

Então, aí está o recado dele. Espero que ele esteja radiante “do lado de lá”. E tomara que o recado seja útil para outras pessoas.

Paz e Luz.
Wagner Borges



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