sexta-feira, 29 de novembro de 2019

BIOGRAFIA DA CIDADE DIVINÓPOLIS DO CENTRO-OESTE DE MINAS GERAIS



Foto by Emerson Coelho


A cidade de Divinópolis foi fundada em 13 de janeiro de 1767, por cinquenta famílias que residiam no sertão dos rios Itapecerica e Pará. As famílias eram lideradas pelo fazendeiro João Pimenta Ferreira. A cachoeira de Itapecerica que tem o significado (caminho de pedras na correnteza do rio, no Tupi), era passagem para estes fazendeiros, índios, aventureiros, entre outros.A passagem de Itapecerica era muito conhecida por sua beleza, porém foi palco de muita disputa entre autoridades das Câmaras Colônias de Pitanqui, São João del Rey e Tamanduá. A passagem era considerada como um lugar estratégico. Desde a sua fundação até 1841, pertenceu ao município de Pitangui, sendo um dos seus principais distritos e, foi anexada ao município de Tamanduá até a sua emancipação em 1911.

Em junho de 1912, a município teve a sua instalação oficial e no mesmo ano, mudou o nome para Vila Divinópolis. Dois anos depois, foi elevada à condição de cidade. Com o desenvolvimento do sistema ferroviário, a cidade teve a oportunidade da instalação de indústrias siderúrgicas, metalúrgica e aciaria, mantendo a maioria dos seus moradores empregados e aumentando o índice de desenvolvimento da cidade.

Divinópolis recebeu esse nome por causa do Divino Espírito Santo (significa: Cidade Do Divino).

A cidade é considerada a capital da região centro-oeste de Minas Gerais. Em Divinópolis, está concentrado um importante centro financeiro e comercial, além de possuir um enorme centro de confecção de roupas para pronta entrega.

A cultura da cidade tem muito destaque no cenário nacional. A arte plástica, a música, a poesia e a cultura em geral, se tornaram muito importante para os divinopolitanos. No cenário urbano, bem próximo à Catedral do Espírito Santo, está o Casarão, o Museu histórico de Divinópolis, que guarda a história local.

Em Divinópolis, já existe uma atividade turística em constante desenvolvimento. O lago da Roseira, a Ponte de Ferro do Rio itapecerica, o Centro Cultural do Povo e o Seminário do Espírito Santo, são alguns de seus pontos turísticos mais frequentados. A cidade também é muito conhecida por ser a maior consumidora de cerveja do Brasil. Por isso, em Divinópolis acontece todo ano o Festival Nacional da Cerveja que reúne cerca de 40 mil pessoas por dia no seu Parque de Exposição.

Além da cerveja, a cidade é bastante conhecida por apresentar belas cachoeiras e muitas paisagens naturais. A população de Divinópolis é bastante hospitaleira e recebe muito bem seus visitantes que chegam de todo o lugar do Brasil para conhecer a alegria dos divinopolitanos.

A partir de 1912 - 25 pessoas foram prefeitos do município de Divinópolis, sendo alguns nomeados, alguns vices que assumiram por algum motivo e outros eleitos pelo povo. Sendo: (ordem alfabética)

  1. Antônio Gonçalves de Matos (03/1936 a 11/1945) e (02/1946 a 12/1946)
  2. Antônio Olímpio de Morais (06/1912 a 08/1918)
  3. Alvimar Mourão (03/1947 a 10/1947)
  4. Américo Magalhães (11/1945 a 02/1946)
  5. Antônio Martins Guimarães (01/1973 a 01/1977)
  6. Aristides Salgado dos Santos (01/1983 a 01/1989) e (01/1993 a 12/1996)
  7. Demetrius Arantes Pereira (01/2005 a 12/2008)
  8. Domingos Sávio (01/1997 a 12/2000)
  9. Fábio Botelho Notini (01/1963 a 05/1966) e (01/1977 a 04/1982)
  10. Francisco Coelho da Fonseca (09/1918 a 12/1918)
  11. Galileu Teixeira Machado (04/1982 a 01/1983), (01/1989 a 12/1992), (01/2001 a 12/2004) e (01/2017 - atual)
  12. Isauro Ferreira da Silva (01/1919 a 06/1922)
  13. Itagiba de Souza (01/1947 a 03/1947)
  14. João Notini (06/1922 a 1925)
  15. José Antônio Saraiva (03/1936 a 03/1936) - apenas alguns dias
  16. José Maria Botelho (05/1927 a 12/1930)
  17. Jovelino da Costa Rabelo (12/1947 a 01/1951)
  18. Lauro Epifânio Pereira (10/1947 a 12/1947)
  19. Luiz Fernandes de Sousa (01/1955 a 01/1959)
  20. Olímpio Moreira de Vasconcelos (1925 a 05/1927)
  21. Orides Batista Leite (05/1966 a 01/1967)
  22. Pedro Xavier Gontijo (12/1930 a 03/1936)
  23. Sebastião Gomes Guimarães (01/1951 a 01/1955), (01/1959 a 12/1963) e 01/1971 a 01/1973)
  24. Vladimir de Faria Azevedo (01/2009 a 12/2016)
  25. Walchir Jesus de Resende Costa (01/1967 a 01/1971)





quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A PRIMEIRA OBRIGAÇÃO DE UM BOM PAI É RESPEITAR A MÃE DOS SEUS FILHOS por André J. Gomes



Um bom pai educa. E o faz pelo exemplo. Logo, não há pior modelo para uma criança do que ter um pai que desrespeita a sua mãe. Um sujeito põe fogo no apartamento em que moram sua ex-mulher e seus dois filhos pequenos. Por um milagre, a mulher com o corpo em chamas, atirada do terceiro andar, escapa viva. Mas as duas crianças, uma menina de dois anos e um menino de três meses, morrem no incêndio. No julgamento do caso, seis anos depois, o assassino quase é absolvido da morte dos bebês. Argumento da defesa: “ele era um bom pai.”

Um amigo advogado me conta o quanto é delicada a situação de uma mulher que tenta, na Justiça, uma medida protetiva contra o marido ou ex-marido que a agride ou ameaça. Quando o casal, ou ex-casal, tem filhos, a dificuldade se torna maior e mais profunda. Sobretudo porque alguém sempre se levanta e diz: “mas você não pode impedir o sujeito de se relacionar com os filhos, afinal, ele é um bom pai!”

Aí é que está. Será mesmo que um “bom pai”, mas um “bom pai”, de verdade, um pai que ama e educa, é capaz de agredir e subjugar a mãe de seus filhos? Alguém acredita mesmo que pagar as contas de uma criança ou tão somente ter ajudado a concebê-la dá a um homem alguma espécie de salvo-conduto para ser dominador e covarde com a mãe dessa criança?

Sem nenhum rodeio, não basta ser correto com os filhos, é preciso ser decente com a mãe deles também. É o mínimo!

Um bom pai educa. E o faz pelo exemplo. Logo, não há pior modelo para uma criança do que ter um pai que desrespeita a sua mãe.

Ainda que esse pai seja um poço de carinhos, afagos e presentes para com os filhos, se, em relação à mãe deles, a sua figura mudar de médico para monstro, se a postura carinhosa com as crianças se tornar a de dominador e violento com a esposa, então esse sujeito não passa de um mentiroso e malfeitor. Simples assim.

É triste, mas, como sociedade, ainda somos coniventes e permissivos com esse comportamento tacanho e criminoso de muitos de nós, homens, em relação a suas mulheres, ainda que “tratem bem” os filhos, o que é apenas uma de suas obrigações. Aliás, a primeira delas é respeitar a mãe dessas crianças.

Um bom pai de verdade é aquele que honra esse dever.


fonte: A primeira obrigação de um bom pai é respeitar a mãe dos seus filhos


quarta-feira, 20 de novembro de 2019

SENTIR GRATIDÃO PELO QUE OS OUTROS FAZEM POR NÓS VAI MUITO ALÉM DE DIZER OBRIGADO(A)




Normalmente, dizemos "obrigado" em resposta a um gesto gentil como forma de educação, uma convenção social que geralmente é praticada distraidamente e sem convicção. Agradecemos quando recebemos algo, um presente, um favor, um desejo, mas o verdadeiro significado dessa manifestação interior às vezes não é percebido ou é esquecido. A gratidão vai muito além de meros hábitos ou etiqueta; representa um movimento alegre desencadeado por um ato de cortesia e humanidade.

A própria palavra "gratidão" deriva do termo "graça", que é exatamente a condição emocional perfeita para descrever o que se sente, ou o que se deve experimentar ao receber algo de outro ser humano. Um trivial "muito obrigado" para tentar retribuir, não é suficiente para expressar o valor da felicidade que se sente, mesmo por um momento, talvez até em meio de uma situação ou contexto triste.

Agradecer é reconhecer ter tido muito mais que um objeto ou uma boa ação. Significa entender que você foi colocado no centro dos pensamentos, de ter a sorte de ter sido escolhido, abençoado pelo carinho de um amigo, membro da família ou parceiro.

Muitas pessoas negligenciam a riqueza contida na gratidão, enquanto outras são completamente incapazes de sentir esse tipo de sentimento. Esses indivíduos têm personalidades narcísicas, tomam tudo como garantido, acreditam que tudo é devido a eles e não têm capacidade de dar, portanto, não sabem apreciar o dom de receber. 

Saber agradecer, não apenas com palavras, mas com todo o ser, é um exercício de positividade que é bom para si mesmo, para os outros e para o mundo. Todos os dias devemos ser gratos. 


Cada pessoa está ligada a outra por um imenso senso de gratidão, porque todas as ações estão conectadas, todas as intenções se entrelaçam e fazem parte de um grande projeto. Cada indivíduo é um escritor e um personagem na história dos outros, e ser grato por participar de tudo isso significa realizar a própria felicidade.





sábado, 16 de novembro de 2019

BOLSONARISMO É UMA IDEOLOGIA DE CLASSE MÉDIA AMERICANIZADA, RESSENTIDA por Armelle Enders



Historiadora Armelle Enders comenta os ataques de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes à primeira-dama francesa e descontrói FHC.


A historiadora francesa Armelle Enders é apaixonada pelo Brasil, país que visita e estuda há mais de 30 anos. Nesta entrevista a CartaCapital, ela comenta o episódio dos ataques grosseiros desferidos por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes à primeira-dama francesa, Brigitte Macron

“O bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida. E tem também a personalidade do Macron, um homem culto, o que para o bolsonarismo é uma coisa que instiga a homofobia deles. Cultura é vista como uma coisa feminina, desprezível, de homossexual.”
A historiadora desconstrói ainda a personagem de Fernando Henrique Cardoso, “que goza de uma reputação de esquerda esclarecida entre franceses de sua geração, mas é, na realidade, um coronel da política brasileira que faz em Paris análises totalmente equivocadas sobre a realidade do País”.

Professora titular de História Contemporânea na Universidade Paris 8 e pesquisadora do Institut d’Histoire du Temps Présent, Armelle Enders publicou, entre outros livros, A História do Rio de Janeiro (Editora Gryphus) e Histoire du Brésil (Chandeigne), que acaba de ganhar a terceira edição, atualizada com a eleição de Bolsonaro.


CartaCapital: Em janeiro deste ano, em Paris, FHC disse que não houve golpe de Estado, as instituições no Brasil funcionavam normalmente e a eleição de Bolsonaro foi a expressão da rejeição da corrupção e da violência.

Armelle Enders: Acho que há um divórcio entre a imagem que o FHC tem na França, por causa das relações que ele tem de amizade com uma certa inteligência francesa da geração dele, e a realidade. Ele tem uma imagem de esquerda esclarecida, esquerda moderna, e na realidade é um coronel da política brasileira. Como historiadora, vejo como uma coisa típica que havia na Primeira República: políticos que tinham posições públicas progressistas e, na verdade, no reduto eleitoral de poder deles, eram muito atrasados, oligarcas tradicionais. 

A análise dele é equivocada. É a versão do PSDB, surgida antes da campanha de 2014, de que o “lulopetismo era um sistema para se perpetuar no poder”. A propaganda foi massiva e espalhou-se. Pode-se contestar o PT, num contexto democrático isso faz parte da luta política. Mas, com o golpe, a situação política no País virou uma construção diabólica, de destruição do Estado.

CC: Uma construção diabólica?

Armelle Enders: O PT foi acusado de se corromper para manter um projeto autoritário de poder. Foi isso o que os brasileiros teriam rejeitado. A afirmação de FHC é a consagração dessa lógica, que se desenvolveu num contexto de eleições, mas virou verdade para muita gente. Acabou por abalar as consciências. Outro argumento foi usado no pleito de 2018: o PT e Bolsonaro são dois extremos. Então, ambos devem ser rejeitados. Esses dois temas são desdobramento do contexto eleitoral, mas totalmente equivocados.



CC: O escritor chileno Ariel Dorfman afirmou recentemente: “O Brasil continua de costas para seu passado. A impunidade das Forças Armadas brasileiras abriu o caminho para Bolsonaro ser presidente e dizer as barbaridades que pronuncia diariamente”. Concorda?

Armelle Enders: Na verdade, esse conflito nasce da correlação de forças no final da ditadura. A extrema-direita militar e civil negociou uma transição pretensamente democrática feita por cima, um acordão. O poder estava do lado dos militares, o que estava em jogo era a anistia. Foi preciso escolher: ou a ditadura persiste ou se processa os militares. O preço foi uma anistia negociada, sem punição. O problema sempre surge em função dos militares.

CC: Por que não se revogou a Lei da Anistia, como Néstor Kirchner fez na Argentina?

Armelle Enders: Essa correlação de poder se manteve. A Comissão Nacional da Verdade desfez o pacto da Anistia, mas sem julgar os torturadores e responsáveis por crimes contra a humanidade.

CC: E essa série de incidentes degradantes e ridículos protagonizada por Bolsonaro, Guedes e outros em relação à França? Houve ofensas à mulher do presidente Macron que envergonham qualquer brasileiro decente.

Armelle Enders: Analiso em dois níveis. Primeiro, o nível político, da relação do Brasil de Bolsonaro com o governo americano e Trump. Houve atritos entre Trump e o presidente Macron. Logo em seguida, começaram os atritos do Bolsonaro com Macron, o alinhamento era evidente. Foi também uma maneira de Bolsonaro agitar a bandeira da soberania diante das velhas potências europeias. Há ainda um componente cultural. A representação da Europa, e particularmente da França, é o contrário da ideologia dos bolsonaristas. A França é representada pela cultura, sofisticação de uma certa elite brasileira tradicional. O bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida. E tem também a personalidade do Macron, um homem culto, o que para o bolsonarismo é algo que instiga a homofobia. Cultura é vista como uma coisa feminina, desprezível, de homossexual. Macron valoriza a cultura, não é o estilo varonil do russo Vladimir Putin. O casal que ele forma com Brigitte, uma mulher culta e mais velha, representa tudo o que eles odeiam.

CC: Bolsonaro não esconde o interesse de se apropriar das terras indígenas para favorecer o agronegócio e explorar as riquezas do subsolo. Como a comunidade internacional pode ajudar a proteger a biodiversidade da Amazônia, mas também a proteger essas populações?

Armelle Enders: Políticos populistas, como Trump, Netanyahu ou Putin, desrespeitam totalmente as instituições internacionais. Imagino que Bolsonaro fará a mesma coisa. As ONGs sofrem perseguição do governo brasileiro, e há ainda os consumidores do mundo. O que pode alterar a situação do Brasil da era Bolsonaro são os interesses econômicos. Mas não é fácil, porque muitas empresas multinacionais lucram com o bolsonarismo.

CC: Em artigo publicado no Le Monde, o filósofo Alain Badiou sustentou que o capitalismo é o responsável pela destruição do planeta. E propôs: “Que não exista propriedade privada do que deve ser comum, a saber a produção de tudo o que é necessário à vida”.

Armelle Enders: Na verdade, a única alternativa que tivemos ao capitalismo foi a União Soviética, que em relação ao meio ambiente também não foi exemplar. É uma crise não só do capitalismo, mas da civilização, do que era a social-democracia. Não acredito também na economia administrada ou num Estado todo-poderoso, que pode acabar sendo predador.

CC: Qual seria a solução?

Armelle Enders: É uma questão de consentimento das populações. Uma grande parcela apoia a predação. É difícil resolver.

CC: Será resolvido somente quando todos perceberem que estamos à beira do precipício?

Armelle Enders: Já estamos. Aparentemente, há uma consciência mais nítida do que muitos anos atrás. O Brasil tem uma coisa mais forte, uma tradição escravocrata, que vem da época colonial. E o Bolsonaro refere-se a isso no imaginário da conquista do Oeste. Existe a ideia de que o território do Brasil é infinito. Pode-se explorar as terras à vontade, com permissividade absoluta.





domingo, 10 de novembro de 2019

SENTENÇAS MORAIS E NÃO JUDICIAIS por Maria Carolina de Jesus Ramos




Cada vez mais, juízes e MP colocam a própria opinião ao invés da doutrina em sentenças e cotas ministeriais.

Recentemente causou repercussão negativa a decisão de uma juíza que, ao negar procedência a uma ação civil pública, movida pelo MP em desfavor de um universitário que liderou um “trote” com expressões ofensivas às universitárias, emitiu juízos morais e pessoais acerca do feminismo. 

No fim, a juíza deixou o caso concreto de lado para juntar um punhado de autores que, como ela, são contra o movimento feminista:


É pública e notória a prática, nas universidades, de recepção aos recém aprovados, marcada por festas e comemorações, que muitas vezes ferem o bom senso e a moral, como no caso em questão.

Apesar de vulgar e imoral, o discurso do requerido não causou ofensa à alegada coletividade das mulheres, a ensejar a pretendida indenização. O requerido não se dirigiu “às mulheres” em geral, mas àquele grupo restrito de pessoas mencionado expressamente.

Sequer vislumbro a existência do pretendido “coletivo” de mulheres.
Os indivíduos do sexo feminino não são iguais e não possuem os mesmos valores daqueles descritos na inicial, para serem tratados como um “coletivo”, a ensejar a pretendida tutela estatal, data venia. Apesar disso, a assim chamada “luta das mulheres” foi uma luta coletiva, e não individual. Lutou-se pela emancipação “das mulheres”, e não por cada mulher em particular. Ao coletivizar a luta, ela automaticamente torna-se política.
A inicial retrata bem a panfletagem feminista, recheada de chavões que dominam, além da esfera cultural, as universidades brasileiras. É bom ressaltar que o movimento feminista apenas colaborou para a degradação moral que vivemos, bem exemplificada pelo “discurso/juramento” que ora se combate.


A escritora feminista Kate Millet, em sua obra “Política Sexual” demonstra como o feminismo está visceralmente atrelado a uma modificação dos comportamentos sexuais.

A busca por emancipação das mulheres começou com demandas conflitantes quanto ao sufrágio e conquistou, ironicamente, o prodígio de subverter a própria identidade da mulher.

As mulheres conquistaram não o direito de trabalhar, mas o dever de trabalhar. A questão da liberdade apenas as tornou mais dependentes da regulada vida social e cumpriu o sonho de Rousseau: entregar os filhos aos cuidados do Estado para uma condução (supostamente) autônoma da vida.

As mulheres acharam que para ser livres e iguais precisavam fazer as mesmas coisas que os homens. Subiram aos cargos mais elevados, mas também adquiriram os seus vícios mais baixos.

É aqui que se encontra o ponto de inflexão do feminismo. A revolução sexual das mulheres é a mancha da segunda onda do movimento, que começou pedindo direitos políticos e melhores condições sociais e terminou, para chegar lá, gritando por pílulas anticoncepcionais e abortivas; por liberação sexual e aceitação pública da degradação de seus corpos e almas.

Em seu livro “Feminismo: Perversão e Subversão”, a professora e Deputada Estadual, Ana Caroline Campagnolo, descreve com rigor histórico, a evolução e a identidade do movimento feminista, que teve início, antes mesmo da Revolução Francesa, para desembocar na terceira onda, que milita em favor da subversão das identidades, passando pela degradação moral.

(…)

A verdadeira identidade do movimento feminista, portanto, é de engenharia social e subversão cultural e não de reconhecimento dos direitos civis femininos.

Estamos vivendo a degradação moral e a subversão das identidades, de onde advém comportamentos como aquele descrito na inicial. Diante dos usos e costumes instalados na sociedade, promovidos pelo próprio movimento feminista, entender ofensivo o discurso do requerido é, no mínimo, hipocrisia.

(…)

Aliás, se a questão fosse mesmo de proteção à dignidade da mulher, por qual motivo seria irrelevante a opinião das mulheres que estavam no local, tal como consta na inicial (fls. 35 – item 2.1)? Seriam tais mulheres incapazes de entender o caráter dos fatos e de determinar-se de acordo com tal entendimento?

Ou, se as mulheres que lá estavam são plenamente capazes e concordaram com a brincadeira infeliz, por que precisam de um ente estatal para falar em nome de uma ‘coletividade’ da qual, em tese, fazem parte, mas de cujas ideias discordam? Seriam tais mulheres menos capazes que as outras?

Assim, é de rigor a improcedência da ação, posto que não houve ofensa à pretensa coletividade de mulheres.

Não se pode presumir que o comportamento do requerido, dirigido a um grupo específico de pessoas, seja uma agressão dirigida a todos os indivíduos do sexo feminino. A responsabilidade civil demanda dolo ou culpa, dano e nexo causal, os quais estão ausentes no presente caso. (grifos nossos). 

Resumindo, a juíza, além de desancar o movimento feminista, parece jogar a culpa das obscenidades proferidas pelo universitário nas próprias estudantes que participavam do trote:


Seriam tais mulheres incapazes de entender o caráter dos fatos e de determinar-se de acordo com tal entendimento?

‘Mas de quem foi a culpa’, diz Tia Helena, levantando um dedo roliço.

Dela, foi dela, foi dela, foi dela, entoamos em uníssono.” (ATWOOD, 1985, pg. 88).

Primeiramente, convém ressaltar que “trotes” violentos são uma triste tradição brasileira, a ser combatida com rigor pela sociedade como um todo. Seja violência verbal ou física, não há motivos para a sociedade, em especial o Judiciário, compactuar com essa “tradição” que já causou mortes, e continua causando violência e humilhação. 

Em segundo lugar, a juíza fugiu do caso concreto para explanar o quanto abomina o movimento feminista. Uma sentença extra petita, que pouco ou nada aventou acerca dos fatos, provas, testemunhas relacionadas aos autos. 

Em terceiro lugar, não deixa de ser preocupante o quanto membros do Judiciário cada vez mais abraçam um discurso antidireitos. O ódio ao feminismo é um dos pilares desse neoconservadorismo.

Olympe de Gouges, pseudônimo de Marie Gouze (1748-1793), em plena Revolução Francesa, redigiu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em setembro de 1791. Esse documento pioneiro trazia um anexo de contrato social entre homem e mulher, que deixaria o casal em pé de igualdade em matéria de direitos civis. 

Marie foi guilhotinada em 1793. Seu crime, ser uma mulher “desnaturada.”

Na Inglaterra, Mary Wollstonecraft redigiu a Reivindicação dos Direitos da Mulher, publicada em 1792. Mary foi companheira de Willian Godwin e mãe de Mary Wollstonecraft Shelley, que passaria à História como autora do clássico “Frankenstein ou o Prometeu moderno”. Eis um trecho de sua obra:

A educação das mulheres, ultimamente, tem sido objeto de mais atenção do que no passado; contudo, elas ainda são consideradas um sexo frívolo, ridicularizadas ou vistas como dignas de pena pelos escritores que se esforçam, por meio da sátira ou da instrução, para melhorá-las. Reconhece-se que elas passam grande parte dos primeiros anos de vida adquirindo habilidades superficiais; enquanto isso, a força do corpo e da mente é sacrificada em nome de noções libertinas de beleza e do desejo de se estabelecer mediante o matrimônio – o único modo de as mulheres ascenderem no mundo. Como esse desejo faz delas meros animais, quando se casam comportam-se do mesmo modo que se espera das crianças – vestem-se, pintam-se e são apelidadas criaturas de Deus. Certamente, esses seres frágeis servem apenas para um harém! Como se pode esperar que governem uma família com juízo ou cuidem das pobres crianças que trazem ao mundo? (WOLLSTONECRAFT, 1792, pg. 28).

A superficialidade da “educação” feminina no tempo de Wollstonecraft, que se limitava a prendas de sociedade e prendas domésticas, não tinha utilidade nenhuma para formar cidadãs conscientes.

A Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres: Ação para Igualdade, Desenvolvimento e Paz (1995), realizada em Pequim, reconheceu a desigualdade de direitos entre os gêneros como um problema a ser combatido:


1. Nós, os Governos, participante da Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres,

2. Reunidos aqui em Pequim, em setembro de 1995, no ano do 50º aniversário de fundação das Nações Unidas,

3. Determinados a promover os objetivos da igualdade, desenvolvimento e paz para todas as mulheres, em todos os lugares do mundo, no interesse de toda a humanidade,

4. Reconhecendo as aspirações de todas as mulheres do mundo inteiro e levando em consideração a diversidade das mulheres, suas funções e circunstâncias, honrando as mulheres que têm aberto e construído um caminho e inspirados pela esperança presente na juventude do mundo,

5. Reconhecemos que o status das mulheres tem avançado em alguns aspectos importantes desde a década passada; no entanto, este progresso tem sido heterogêneo, desigualdades entre homens e mulheres têm persistido e sérios obstáculos também, com consequências prejudiciais para o bem-estar de todos os povos,

6. Reconhecemos ainda que esta situação é agravada pelo crescimento da pobreza que afeta a vida da maioria da população mundial, em particular das mulheres e crianças, tendo origem tanto na esfera nacional, como na esfera internacional, 

7. Comprometemo-nos, sem qualquer reserva, a combater estas limitações e obstáculos e a promover o avanço e o fortalecimento das mulheres em todo o mundo e concordamos que isto requer medidas e ações urgentes, com espírito de determinação, esperança, cooperação e solidariedade, agora e ao longo do próximo século. 

No Brasil, a Constituição de 1988 deixa clara a igualdade de direitos entre homem e mulher:


Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; (…).

Essa desinformação sobre o movimento feminista é um retrocesso a ser combatido, em especial pelo Judiciário. Em especial em um país que bate tristes recordes de violência contra a mulher.

REFERÊNCIAS

ATWOOD, Margaret. O CONTO DA AIA. Tradução de Ana Deiró. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2017.

WOLLSTONECRAAFT, Mary. REINVIDICAÇÃO DOS DIREITOS DA MULHER. São Paulo: Editora Boitempo, 2015.




COMO SABER SE CHEGOU A HORA DE PROPOR O SEXO A TRÊS? por Sílvia C. Carpallo do Jornal El Pais



Deve ser muito interessante quando o relacionamento é maduro e consciente do que quer. Eu acho normal e muito excitante estas variações dentro de um relacionamento pleno.  






Há quem fique excitado com as características físicas de alguém que uma outra pessoa acharia sem graça, os homens que se derretem diante de uma mulher com cinta-liga, os que chegam ao ápice no sexo se entregando ao prazer em uma série de lugares cuidadosamente selecionados... Existem opções para todos os gostos. Mas se tem uma fantasia sexual que se repete vez ou outra no cinema, nas revistas e nas mentes de incontáveis pessoas é a do ménage à trois.

Não é uma moda nem um produto publicitário, nem sequer algo novo. O sexo em grupo existe desde o início da humanidade. No entanto, hoje ainda parece algo totalmente fora do comum: uma pesquisa feita pela rede norte-americana ABC revelou que 21% dos entrevistados haviam fantasiado sobre um ménage, mas apenas 14% o tinham concretizado. Na Espanha, o estudo Realidade vs. Ficção, da Bijoux Indiscrets, encontrou grande disparidade entre os sexos. No total, 18,7% dos homens admitiram ter feito sexo a três; e apenas 5,6% das mulheres disseram ter estado num ménage.

A sexóloga Ximena González diz que a tendência é pensarmos que a prática "pode atrair mais a atenção dos homens do que das mulheres", levando em consideração a influência de fatores como a pornografia ou a diferença entre propor um triângulo com dois homens ou com duas mulheres. A especialista encontra em seu consultório pessoas que pensam em propor essa ideia a seus parceiros em algum momento, "para sair da rotina e, como consequência, fortalecer o relacionamento". 

Isso é possível? O que é preciso levar em conta para que o casal continue funcionando depois?

Seja uma desconhecida, amiga do casal ou profissional, a terceira pessoa não é um brinquedo e também precisa participar de uma conversa esclarecedora antes do ato. Mesmo que você não saiba o nome dela, deve saber seus limites e vontades para que vocês alinhem seus interesses.

Invista em um lugar confortável

O lugar da ação também tem que ser escolhido previamente, porque precisa ser confortável e deixar todos à vontade. 
  1. Vai acontecer na casa de algum de vocês? 
  2. Vão para um motel? 
  3. Qual? 
Façam essas perguntas durante o planejamento para que tudo dê certo. Quanto mais coisas forem decididas com antecedência, mais excitante vai ficando a ideia.

Faça listas

Inclua na conversa uma lista de coisas que vocês podem e não podem fazer na hora do ménage. Assim, os limites ficam mais claros e não há risco de alguém estragar a experiência tentando um movimento que incomode o outro.

As vontades também ficam expostas e há menos chances de alguém deixar um desejo passar por receio de pedir no calor do momento.

Safeword: segurança sempre!

Ok, não estamos falando de BDSM ou relações sexuais que oferecem reais riscos à integridade física dos participantes, mas segurança nunca é demais. Por isso, combinem uma Safeword, uma palavra de emergência que deve ser acionada se alguém se sentir desconfortável ou, no caso, deixado de lado. Mesmo que tudo tenha sido discutido previamente, o sexo pode fugir do controle – e isso não é ruim, muito pelo contrário, é o que faz dele maravilhoso.

Então o principal segredo do ménage bem-sucedido é a conversa e as preparações, assim, quando chegar a hora, você deixa sua mente livre de preocupações e só sobra espaço para aproveitar o momento.


Prós e contras

Como a sexóloga Gabriela lembra, o ménage tem tudo pra dar certo quando o casal está disposto, já conversou sobre isso várias vezes e os dois estão certos que se excitam com a prática. O mesmo vale para o contrário, se um dos dois não está totalmente à vontade com a ideia ou um quer fazer apenas para agradar o outro, a chance de dar errado é grande! Para guiar você, fizemos uma listinha de prós e contras para ser levada em consideração nas suas conversas sobre o assunto.

Prós
  1. Como toda experiência sexual bem acordada, aumenta a confiança do casal (mas atenção: nunca faça um ménage na tentativa de salvar um relacionamento).
  2. Amplia seus horizontes em relação a sexo. Nós nunca sabemos tudo sobre nossas vontades, sair da zona de conforto ajuda a (re)descobri-las.
  3. Melhora a autoestima, afinal, você pode dar prazer a duas pessoas ao mesmo tempo!
Contras
  1. Se não for bem conversado, “pode acontecer um trauma sexual e prejudicar a vida íntima do casal daquele dia em diante”, explica Gabriela.
  2. Há o risco de a terceira pessoa ter um desempenho sexual melhor que o seu, um problema para pessoas inseguras.
  3. Quando feito por pressão, refletirá negativamente no seu relacionamento e poderá deprimir uma das partes.

Colocaram todos os pingos nos is? É só partir para a ação! Não deu certo? Tente novamente! As escolhas são todas suas, faça as adaptações que precisar. Ah, claro, não se esqueçam de comprar muitas e muitas camisinhas.


A importância de distinguir o desejo da fantasia
"O triângulo, como fantasia, tem o poder de alterar algo tão socialmente estabelecido como o conceito de casal. Parece que tudo visa, inclusive o erótico, a ser sempre duas pessoas, de modo que um trio se torna uma aparente transgressão do normativo oficial", diz o sexólogo Iván Rotella.

Desse modo, é fácil que, em nosso imaginário, naquilo que usamos para nos excitar sozinhos ou no casal, essa ideia venha à cabeça como uma maneira de buscar exatamente essa libertação ou aumentar o tesão. Mas é importante distinguir as fantasias que nos ajudam a nos excitar do que realmente queremos levar adiante.

"A fantasia é grátis para todas as pessoas, podemos fantasiar sobre o que quisermos, fora de legalidades, 'normalidades', lógicas sociais... Mas a fantasia não tem a ver com a realidade, e esse é o seu poder, que você pode deixar seguir até os limites que desejar. Já o desejo é um impulso que nos leva a realizar algo que nos acende e nos provoca. O desejo tem sua excitação e seu interesse em alcançá-la, e é um objetivo para alimentar nosso erotismo", explica o especialista.

Ximena González observa que o impulso de transferir um desejo para a vida real costuma ser por duas razões:
"Geralmente é por diversão ou pelo simples fato de experimentar algo novo no relacionamento de casal ou sensações diferentes, se a pessoa estiver sozinha”.
Antes de falar, pense nas consequências
Ok, estamos nesse percentual de pessoas que querem fazer um ménage, temos claro que não é só uma fantasia, mas algo que realmente queremos experimentar. Como abordamos a questão com o parceiro? E se é o nosso companheiro que levanta a questão, como encarar a ideia?

"Falar sobre sexo em casal deveria ser um dos temas mais comuns e recorrentes, entendendo que falar sobre sexo não é só falar do que fazemos, mas sobretudo falar do que somos", insiste Iván Rotella. Ainda assim, uma coisa é falar sobre práticas sexuais que gostaríamos de tentar entre nós e outra é abordar aquelas que envolvem a inclusão de outra pessoa. Nesse sentido, Ximena González insiste em que "é preciso levar em conta a segurança e a confiança em nós mesmos e em nosso parceiro".

Para atender a esse desejo, precisamos abrir a porta para uma conversa, dar tempo para a outra pessoa assimilar a proposta e, entre os dois, ser capazes de fazer uma lista de prós e contras. De novo, é importante distinguir a realidade da imaginação. Nesse momento, o ideal, segundo Rotella, é "compartilhar medos, dúvidas e preocupações", e que, quando tivermos tudo isso claro, tomemos uma decisão, a favor ou contra, juntos. 

"É muito importante que exista realmente um consenso e que o acordo seja mútuo, não inspirado unicamente em uma das duas pessoas. Se a outra pessoa não concordar ou não estiver convencida, pode ser um desastre."

Teste para o candidato perfeito

Quando um casal decide dar o passo, ainda é preciso tomar algumas precauções antes de passar à ação. Lembre-se de que as ideias que temos de um ménage costumam estar baseadas em filmes, livros e outras fontes que correspondem a histórias de ficção. Podem ter muito pouco a ver com a realidade de nos depararmos com uma pessoa a mais na cama.

É importante levar em consideração todas as situações que podem ocorrer quando chegar a hora, como um dos dois, ou os dois, se sentirem desconfortáveis, ou não saberem como agir e precisarem da condução do outro para seguir adiante. 

"Devemos estar conscientes de que nosso parceiro pode sentir muito prazer com nossas carícias e também com as carícias de outra pessoa", alerta Rotella; mas, para não nos bloquearmos, o sexólogo aconselha “ver isso como um jogo, como uma experiência para ser compartilhada e que pode até nos unir mais".

  1. Também é necessário discutir os aspectos mais práticos. É permitido beijar a outra pessoa? 
  2. Podemos transar entre todos ou existem certos limites? 
  3. A pessoa que queremos que participe será homem ou mulher? 
  4. Melhor alguém conhecido ou um total desconhecido? 

"Aqui cada pessoa e cada casal é um mundo, claro, mas geralmente é importante não escolher alguém que tenha tido um relacionamento amoroso importante com um dos dois, para não suscitar dúvidas", propõe Rotella, em primeiro lugar.

Com relação à dinâmica a ser adotada quando se chega ao ponto, o sexólogo esclarece que "é importante que a distribuição do tempo entre as três pessoas seja equitativa e que o interesse demonstrado também seja igual. Não façamos comparações. Sejamos conscientes de que cada pessoa tem sua forma de sentir e fazer sentir, e que todos os corpos são diferentes. Não são melhores nem piores, são apenas diferentes, e todos têm a capacidade de dar prazer ", diz ele.

Ximena González esclarece que, embora tenhamos discutido a questão e feito um exercício pessoal e de casal, pode ser que na hora não nos sintamos tão preparados quanto pensávamos. 

"Se a qualquer momento um dos dois não estiver confortável, o encontro tem que ser interrompido, não importa o que for, porque recordemos que da fantasia à realidade existe uma ponte bastante grande e, durante o caminho, podemos tropeçar em situações que não nos agradam. Estamos no nosso direito de mudar de ideia e não continuar, já que a motivação principal de fazer um ménage é a de ter um bom momento e desfrutar de um sexo prazeroso."

complementando com uma matéria da BBC 

As reflexões de um especialista em sexo: ‘Somos monogâmicos porque somos pobres’



Irene Hernández Velasco


As visões sobre sexo do espanhol Manuel Lucas Matheu, de 69 anos, contrariam - e muito - o senso comum. Presidente da Sociedade Espanhola de Intervenção em Sexologia e membro da Academia Internacional de Sexologia Médica, ele argumenta que os seres humanos não são predispostos à monogamia. Se a praticamos, é por um único motivo: somos pobres.

O sexólogo apresenta outras visões marcantes. Diz, por exemplo, que o verdadeiro órgão sexual dos seres humanos é a pele.
A BBC News Mundo, o serviço espanhol da BBC, entrevistou Matheu, considerado um dos maiores especialistas em sexualidade.


Leia abaixo e entrevista completa.


BBC News Mundo - Woody Allen dizia: "Há duas coisas muito importantes na vida, uma é sexo e da outra não me lembro". Sexo é, de fato, tão fundamental?
Manuel Matheu - Sexo é importantíssimo, muito mais importante do que pensa a maioria das pessoas, as instituições e a sociedade em geral. O sexo determina em grande medida a nossa qualidade de vida e é a origem de vários comportamentos.

BBC News Mundo - O senhor, por exemplo, defende que as sociedades mais pacíficas, com menos conflitos, são aquelas que vivem a sexualidade de maneira mais livre, desinibida...
Matheu - Não sou eu quem diz, é um estudo que fiz, em que analisei 66 culturas diferentes, algumas com pesquisa de campo.

Estive, por exemplo, nas Ilhas Carolinas, na Micronésia. E a conclusão desse estudo é que as sociedades mais pacíficas são aquelas onde a moralidade sexual é mais flexível e onde o feminino tem um papel preponderante.


Em contrate, as sociedades reprimidas e nas quais as mulheres têm papel secundário, como as sociedades ocidentalizadas em que vivemos, são mais agressivas.





Matheu pesquisou 66 culturas diferentes e descobriu que as sociedades com moralidade sexual mais flexível são menos agressivas

BBC News Mundo - Para entender do que estamos falando, o senhor poderia nos dar um exemplo de sociedade sem repressão sexual e onde o feminino é muito valorizado?
Matheu - Os chuukies, uma sociedade que estive estudando por quatro meses nas Ilhas Carolinas, na Micronésia. Trata-se de uma sociedade em que todos os bens são herdados através da linha materna. Ou seja, a mãe é quem determina o poder econômico.

Ao contrário do que ocorre na sociedade ocidental, em que se dá uma enorme importância ao tamanho do pênis, ali o que importa é o tamanho dos lábios menores da genitália das mulheres. Enquanto no Ocidente a menstruação era considerada algo impuro, lá ela é considera vantajosa e é empregada até para fins medicinais.

Além disso, a mulher é a voz mais forte nas relações sexuais. É ela a responsável pelos encontros sexuais. Os homens se aproximam engatinhando nas cabanas das mulheres, solteiras e casadas, e introduzem nas cabanas pedaços de pau talhados que permite à mulher identificar quem é cada um deles.

Se a mulher quiser ter relações sexuais naquela noite, ela retém na cabana o talo correspondente ao homem que lhe interessou. Isso significa que ele está autorizado a entrar na cabana. É assim todas as noites.

Ali não existe ciúme, nem o conceito tradicional de fidelidade. A moralidade sexual é muito mais flexível que aqui. Ao mesmo tempo, essa é uma sociedade muito pacífica, enquanto a sociedade ocidental é muito agressiva.

BBC News Mundo - Então a monogamia não é algo intrínseco ao ser humano, algo que faz parte da sua natureza?

Matheu - Não, não é. A monogamia não é uma característica do ser humano de forma alguma.
Basta olhar o atlas etnográfico de Murdock, que analisou mais de 800 sociedades e mostrou que 80% delas não são monogâmicas. Elas são poligínicas (um homem com várias parceiras) ou poliândricas (uma mulher com vários parceiros).

BBC News Mundo - E por que o Ocidente adotou a monogamia?
Matheu - As espécies animais que são monogâmicas são aquelas que não têm tempo nem recursos suficientes para poder se dedicar a cortejar.

É o caso das cegonhas, que são monogâmicas porque têm que empregar muita energia todos anos às longas migrações que realizam. E os animais que vivem em locais onde é mais difícil encontrar alimento tendem a ser mais monogâmicos.

BBC News Mundo - Quer dizer que a monogamia está relacionada à economia?
Matheu - Exatamente. Nós somos monogâmicos porque somos pobres. É só observar nossa sociedade para compreender: os ricos não são monogâmicos, na melhor das hipóteses são monogâmicos sequenciais - ao longo da vida têm vários parceiros consecutivamente, um atrás do outro.

Os que não são ricos não podem ser monogâmicos sequenciais, porque se divorciar ou separar causa um enorme dano econômico. E a poligamia (ter vários parceiros sexuais ao mesmo tempo) também é muito cara.

BBC News Mundo - Se as sociedades com maior liberdade sexual são mais pacíficas, a nível individual as pessoas agressivas podem agir assim por terem problemas com sexo? É razoável pensar que muitos ditadores são pessoas reprimidas sexualmente?
Matheu - Bem, Hitler, Franco e outros ditadores tinham problemas de autoestima e problemas sexuais importantes.

Acredito que as pessoas que se dedicam a acumular riqueza ou poder de maneira compulsiva sofrem o que chamo de "erótica do poder", compensam a sua falta de satisfação sexual com isso (poder).






BBC News Mundo - Qual a sua opinião sobre o presidente americano Donald Trump, que é protagonista de vários escândalos de natureza sexual?
Matheu - Para mim, Donald Trump parece acima de tudo um desequilibrado mental, mas também aparenta ter problemas sexuais.

Todos os escândalos sexuais que protagonizou, a meu ver, denotam que sua autoestima é baixa. As pessoas de autoestima alta são, em geral, pacíficas e tranquilas, não se vendem como galos de briga. É difícil provocá-las. Elas não têm muita variação de humor e sua forma de amar é pouco possessiva.

As pessoas com problema de autoestima podem reagir de maneiras diferentes: fechando-se em si mesmas, numa timidez incapacitante, ou fazendo uso de um comportamento grosseiro e desafiante, como é o caso de Trump e de outros políticos.

BBC News Mundo - O orgasmo é superestimado e mitificado?
Matheu - Com certeza. O psicanalista Wilhem Reich dizia que reprimimos a libido não apenas de maneira quantitativa, mas também qualitativa. A sociedade burguesa capitalista, ele dizia, concentrou a sexualidade nos órgãos genitais para que o resto do corpo pudesse focar em produzir para o sistema.

Não sei se é isso mesmo, mas é sim verdade que há muito tempo começamos a concentrar nossa sexualidade nos genitais e nos esquecemos, com o tempo, da pele. Os seres humanos têm a pele mais sensível de todos os mamíferos, mas a aproveitamos muito pouco na nossa cultura.

Hoje em dia, nos acariciamos muito pouco. As famílias se dedicam a acariciar cachorro e gato, mas não se acariciam.

BBC News Mundo - A pele seria o ponto G?
Matheu - Isso, a pele é o verdadeiro ponto G, o grande ponto sexual do ser humano. E, além de tudo, a pele funciona do nascimento à morte. Mesmo que tenhamos uma doença terminal, a pele segue funcionando.

Quando alguém nos abraça de verdade, soltamos uma enorme quantidade de endorfina. É nisso que se baseia grande parte da nossa sexualidade.

O problema é que convertemos a sexualidade numa atividade de ginástica, na qual o homem primeiro tem que ter uma ereção, depois tem que mantê-la a todo custo para não ejacular antes do tempo. Isso acontece porque consideramos que o homem, com seu pênis, é um mago com uma varinha mágica que consegue dar prazer à mulher. E, por fim, a mulher tem que ter um orgasmo.

No entanto, 60% das mulheres da nossa cultura ocidental já simularam um orgasmo em algum momento da vida.

E, quando as perguntamos por que fizeram isso, a resposta costuma ser: "para que o outro ficasse satisfeito" ou "porque assim o outro me deixaria em paz".






O sexólogo alerta que os seres humanos têm negligenciado a pele como 'órgão sexual'

Tanto os homens quanto as mulheres fizeram da sexualidade um exercício físico e mental, quando a sexualidade é se fundir, sentir um ao outro, sentir-se embaixo da pele do outro, como dizia Frank Sinatra.

BBC News Mundo - Vivemos em um mundo em que a pornografia está ao alcance de todos, em que adolescentes crescem vendo pornografia. Que efeito isso tem nas relações sexuais?
Matheu - O problema da pornografia não é mostrar os atos sexuais explícitos. Nesse sentido, me parecem mais perigosos os programas de televisão que fazem pornografia da intimidade, a calúnia, a fofoca, ou alguns filmes violentos.

O problema da pornografia é que é uma pornografia absolutamente "genitalizada", que reforça a ideia de sexo como ginástica.

Eu não acho que a pornografia deva desaparecer, mas sim mudar. Deve deixar de ser aquela pornografia tediosa do mete e tira, para se converter numa pornografia de pele.




Fontes: 
As reflexões de um especialista em sexo: ‘Somos monogâmicos porque somos pobres’





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