quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

QUANDO É HORA DE LEVAR A CRIANÇA AO PSICÓLOGO? por IG Delas



Alterações no comportamento e no rendimento escolar podem ser pistas de que o auxílio profissional é bem-vindo para melhorar o presente e o futuro de seu filho


Após a avaliação, muitas vezes o psicólogo detecta que não há necessidade de um tratamento continuado para a criança

Resistência. Essa é a palavra que os especialistas mais usam para definir a postura da maioria dos pais que levam seus filhos para uma avaliação psicológica. “Eles têm uma aversão muito grande à terapia para suas crianças porque, em seu íntimo, isso é sinônimo de ‘nós falhamos’, ‘nós não damos conta de educá-los’. Sentem sua responsabilidade diretamente atacada”, explica a psicóloga Eliza Rocha, do Instituto Reintegrar.

O psicólogo Erick Rôso Huber, consultor do Consulte Aqui (portal de agendamento online de consultas médicas), concorda e nota também uma falta de disponibilidade física e emocional por parte desses pais. “Eles temem que em algum momento o acompanhamento psicológico infantil os atinja, o que pode acontecer, e criam todo tipo de dificuldade. Até as questões do transporte e de quanto tempo será gasto no trânsito acabam entrando na lista de desculpas para fugir do consultório”, relata.

Há, ainda, uma boa pitada de preconceito nessa equação. “Não é exclusivo no tratamento infantil. Muita gente ainda pensa que só precisa de psicólogo quem é louco”, conta Huber. Para Ricardo Halpern, presidente do departamento científico de comportamento e desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), esse é o primeiro aspecto que os pais devem trabalhar internamente caso seus filhos precisem de terapia: “Essa necessidade mexe com as emoções familiares, mas há que se conscientizar de que a promoção da saúde mental é importante em todas as idades”.

Atenção às mudanças

Halpern afirma que “as crianças normalmente não precisam de avaliação psicológica. Ela é válida apenas quando existe uma situação que fuja da normalidade”. E o que pode ser considerado fora da normalidade? “O surgimento de um comportamento repetitivo e duradouro que não seja adaptável à vida cotidiana. Ele indica que a criança encontrou uma forma não adequada para lidar com seus problemas e frustrações. Daí é interessante procurar auxílio para a recuperação de sua saúde mental”, esclarece.

Mas nada de pânico diante de qualquer mudança de comportamento de seu filho. Eliza sugere que os pais se façam algumas perguntas antes de procurar um profissional:

- O novo comportamento da criança prejudica seu dia a dia e suas relações pessoais?

- O desempenho escolar piorou por causa desse comportamento?

- Há quanto tempo o comportamento se manifestou?

- Aconteceu algo na família ou na escola que possa ter motivado esse novo comportamento?

- Os pais já tentaram ajudar e não conseguiram?

Independentemente da idade da criança, se alguma das respostas incomodar os pais no sentido de acharem que é melhor ter uma ajuda externa, podem levar o filho a uma avaliação psicológica. “Muitas vezes detecta-se que não é necessário um tratamento continuado, que uma orientação para os adultos lidarem com a situação já é suficiente”, diz a psicóloga.

Mais segurança para agir

Os benefícios do tratamento psicológico infantil são muitos, afirmam os especialistas. Além da promoção da saúde mental, Ricardo Halpern menciona o alívio da ansiedade e das situações que causam desconforto na criança. De acordo com Erick Rôso Huber, ela também consegue “resolver a questão pontual que causou sua mudança de comportamento e entender melhor o ambiente ao seu redor, interagir com o que se apresenta nele”.

Eliza complementa visualizando alguns passos adiante: “Ao compreender a si e ao outro, ao aprender a se relacionar bem com as pessoas, essa criança construirá melhor sua autoestima. Isso terá reflexos lá na frente, na vida adulta. Ela será um adulto mais seguro e completo”.

Respeite o temperamento de seu filho

Diante de tudo isso, vale ressaltar que os pais não podem desrespeitar a personalidade natural do filho e tentar moldá-la ao seu gosto em um consultório psicológico. “Ser muito quieto ou muito agitado não é motivo para precisar de psicólogo”, afirma Eliza. “A questão é realmente a mudança repentina de comportamento”, reforça.

Trocando em miúdos: assim como entre os adultos, há crianças mais introspectivas e outras mais extrovertidas. E tudo bem. “Se o temperamento não afeta os estudos, a sociabilização e o relacionamento com a família, não há com o que se preocupar”, diz Erick. “Nesse caso, a única recomendação que dou é que os pais aproveitem e se dediquem ao desenvolvimento do filho com a mesma atenção que dispensam à carreira profissional e à vida amorosa”, finaliza o psicólogo.

Problemas na escola vêm de casa

Estudo revela que os tipos de problemas apresentados na escola pelas crianças estão diretamente ligados à dinâmica familiar

Ambientes familiares pouco equilibrados prejudicam o comportamento das crianças fora de casa. Mas um recente estudo da Universidade de Rochester, em Nova York, procurou explicar como são estes efeitos. Os pesquisadores dividiram as famílias infelizes em dois grupos: de um lado, ficam as famílias frias e controladoras e, de outro, aquelas conflituosas e intrometidas.

TV Globo/Renato Rocha Miranda

"A Grande Família" retrata confiança e respeito: modelo de família coesa. Nos três primeiros anos de escola, as crianças que convivem com o primeiro grupo – as famílias frias – têm cada vez mais problemas, que vão de comportamentos agressivos a depressão e alienação. Já o segundo grupo – famílias intrometidas – causa ansiedade e afastamento nos pequenos. “Famílias podem servir de apoio para crianças que entram na escola – ou podem ser fontes de estresse, distração e comportamentos inadequados,” declarou Melissa Sturge-Apple, coordenadora da pesquisa e professora-assistente de psicologia da Universidade de Rochester, ao site da instituição.

Com duração de três anos, o estudo examinou padrões em 234 lares que tinham filhos de 6 anos de idade e identificou três perfis de famílias: uma feliz (chamada de coesa) e duas infelizes (classificadas em não-comprometidas ou entrosadas).

Dá para reconhecer as coesas por suas relações harmoniosas, calor emocional e papéis firmes, porém flexíveis, para pais e crianças. Um exemplo deste tipo de relação é a família de Lineu e Nenê no seriado “A Grande Família”. Apesar dos problemas, eles estão sempre prontos para ajudar os filhos e têm muito amor e respeito um pelo outro.

Famílias disfuncionais 

TV Globo/ Divulgação

Marta é assombrada pela filha em "Páginas da Vida": mãe controladora e fria é característica da família não-comprometida, que leva crianças à agressividade. Uma família entrosada pode estar envolvida emocionalmente e demonstrar carinho, mas também apresentar níveis altos de hostilidade, intromissão destrutiva e pouca percepção da família como um time. 

O filme “A Sogra”, com Jane Fonda e Jennifer Lopez, mostra uma mãe que ama o filho e se sente no direito de atrapalhar seu noivado para não perdê-lo – esta é uma família entrosada. Durante o estudo, os filhos vindos deste tipo de família entraram na escola com comportamentos parecidos aos de famílias coesas, mas com o tempo passaram a apresentar níveis altos de ansiedade e sensação de solidão e alienação. 

Já as famílias não-comprometidas são marcadas por relacionamentos frios, controladores e distantes. Um caso que ilustra este tipo de família é o de Marta (Lília Cabral), a fria mãe de Nanda na novela “Páginas da Vida” (2006). Ela desaprovou a gravidez da filha e rejeitou a neta com síndrome de Down. Crianças vindas destes tipos de família começam a vida escolar com níveis altos de agressividade e maior dificuldade para aprender e cooperar com as regras da classe – e este comportamento destrutivo cresce à medida em que as crianças avançam na escola. “Frieza geralmente gera depressão, que pode ser externada com agressividade. É como se a criança estivesse se vingando dos pais através da escola”, explica a psicopedagoga Maria Irene Maluf.

Trabalhar em equipe 

Para chegar a estas conclusões, os psicólogos analisaram como os pais se relacionavam entre si, notando se havia agressividade e distanciamento, e observando suas habilidades de trabalhar como uma equipe na presença da criança. Os cientistas decodificaram a disponibilidade emocional dos pais em relação aos filhos, se ele ou ela elogiava e aprovava ou simplesmente ignorava os pequenos durante atividades compartilhadas. Os observadores também perceberam como a criança se dirigia ao pai e à mãe, notando se as tentativas de se aproximar deles eram breves e superficiais ou sustentadas e entusiasmadas.

Os autores do estudo enfatizam que outros fatores, além de família desestruturada, podem levar a comportamentos problemáticos na escola. Vizinhanças violentas, escolas despreparadas e traços genéticos também determinam se as crianças terão ou não dificuldades no aprendizado.

5 respostas sobre estresse infantil 


A psicóloga e psicopedagoga Alessandra Wajnsztejn explica como os pais podem lidar com o estresse infantil

Estresse infantil: ele pode vir tanto de sensações e experiências boas como de sensações ruins. Muitos adultos sonham com um retorno à infância, como se essa fase da vida fosse livre de qualquer transtorno. Mas não é bem assim. Conversamos com Alessandra Wajnsztejn, psicóloga, psicopedagoga e palestrante da 17ª Educar, feira de Educação que acontece em maio, em São Paulo, sobre o estresse infantil. Ela conta como o estresse é desencadeado em nossas crianças e o que podemos fazer para ajudá-las.

O que causa o estresse infantil? 

Situações cotidianas podem desencadeá-lo? 

Ou apenas situações específicas, como uma morte na família ou bullying escolar? 

Alessandra Wajnsztejn: O estresse é um conjunto de reações físicas e psicológicas que causam mudanças químicas no corpo. Isso pode vir tanto de sensações e experiências boas como de sensações ruins. Por exemplo, a morte de um familiar pode ser considerada uma das fontes de estresse mais significativas na infância, mas experiências comuns podem ser responsáveis pelo desencadeamento, como a aproximação de uma data comemorativa, como Natal ou aniversário. Ou mesmo a programação estimulante, porém desgastante, de uma viagem muito esperada. 

Também podem contribuir para o surgimento do estresse a responsabilidade em excesso, a presença constante e muito intensa de brigas familiares ou a separação dos pais; a rejeição por parte de colegas no ambiente social e a atitude de disciplina confusa por parte dos pais – quando cada um diz uma coisa e, assim, confundem o referencial que a criança deve seguir. Tudo isso desencadeia ansiedade e pode gerar o estresse. Outros fatores bastante importantes, mas não muito refletidos, são a hospitalização e a doença. Durante o processo de gestação e nascimento de irmãos, a criança também passará por uma fase de adaptação, e requer um olhar de qualidade afetiva por parte dos pais.

O que muda no comportamento da criança estressada? 

Como os pais podem perceber que ela está com o problema? 

Alessandra Wajnsztejn: A ansiedade e a depressão podem ser tanto causa como consequência do estresse. Os pais devem estar atentos, por exemplo, para uma mudança comportamental como uma introversão súbita, a presença de medo excessivo com motivo aparentemente irracional, a manifestação de comportamentos agressivos, impaciência e choro excessivo, desânimo, comportamento de hipersensibilidade, insegurança e sinais de baixa autoestima. Alguns sintomas podem ser de ordem física, como dor de barriga, manifestação de tique nervoso, frequentes dores de cabeça, comportamento hiperativo secundário a alguma situação, enurese noturna (xixi na cama), bruxismo (ranger de dentes durante o sono) e muitos outros comportamentos.

O que os pais podem fazer para ajudar quando a criança já está estressada? 

Alessandra Wajnsztejn: Pode-se tentar evitar algumas fontes estressoras. Mas há experiências que a vida nos proporciona que não podem ser evitadas ou controladas por nós, como a morte de alguém, o surgimento de doenças e a ocorrências de acidentes. Portanto, o ideal é dar apoio, afeto, compreensão, ouvir os anseios e temores de nossos filhos e buscar avaliação e tratamento especializados quando este estresse se torna disfuncional – ou seja, quando começa atrapalhar a vida física e mental da criança.

Alessandra Wajnsztejn: situações boas, como um aniversário ou uma viagem, também podem causar estresse

O stress infantil pode influenciar no desenvolvimento da criança? De que forma?

Alessandra Wajnsztejn: Durante o processo de desenvolvimento intelectual, emocional e afetivo, a criança se confronta com momentos em que a tensão de sua vida alcança níveis muito altos, muitas vezes ultrapassando sua capacidade ainda imatura para lidar com as situações conflitantes. A criança que se desenvolve em um ambiente onde a palavra e a atitude familiar são norteadas pelo respeito, ou pela busca de respeito mútuo, poderá sentir-se mais segura de si e, assim, mais resistente. Crianças que são protegidas, mas não sufocadas, também poderão apresentar mais resistência aos eventos da vida. O que precisamos refletir é que nós adultos, pais e educadores, podemos de alguma forma influenciar na vulnerabilidade e na resistência ao estresse, já que ele tem componentes de hereditariedade, mas também de aprendizagem pelo meio.

E como prevenir o estresse infantil? O que os pais podem fazer para evitar que seus filhos sofram esta pressão? 

Alessandra Wajnsztejn: A criança aprende muito com a forma com que o adulto responde às ocorrências da vida. Se o adulto responde de forma ansiosa ou angustiada, a criança tende a aprender a responder à vida da mesma forma. Não podemos evitar que nossas crianças sofram estresse, mas podemos ser otimistas no sentido de acreditar que o estresse poderá não traumatizar a criança para sempre, e que ela poderá ter resiliência para superar estas fases. Podemos ajudar evitando muitas mudanças no cotidiano de nossas crianças em curto espaço de tempo. Por exemplo, não trocar com frequência de escola ou de moradia e evitar sobrecarga nas atividades extracurriculares, numa busca frenética de uma formação acadêmica precoce que, muitas vezes, acaba gerando um desapego da criança em relação às suas experiências escolares e reverte uma situação que ela deveria estar vivenciando com prazer.

Sete erros dos pais na hora de impor limites

Os equívocos mais comuns dos adultos quando as crianças precisam ouvir um “não” – e as dicas para evitá-los.

“Filho, se você não parar com isso agora...”. Muitos pais já devem ter usado esse conhecido início de frase em tentativas frustradas de impor limites aos filhos. Logo depois, pode seguir uma ameaça de palmada ou de castigo. Funcionaria? Provavelmente não. Ser permissivo tampouco é uma solução. 



Especialistas dão dicas para impor limites em crianças

Para os pais não acharem que estão em um beco sem saída, listamos alguns dos erros mais comuns cometidos nestas horas. Saiba quais são e como evitá-los.

1. Não faça ameaças se não for cumpri-las

Antes de dizer que o filho desobediente ficará sem sorvete até o ano que vem, os pais precisam pensar – de verdade – se poderão cumprir a promessa. Ameaçar e não cumprir, para o psicólogo Caio Feijó, autor do livro “Pais Competentes, Filhos Brilhantes – Os Maiores Erros dos Pais na Educação dos Filhos e os Sete Princípios Fundamentais para Prevenir essas Falhas” (Novo Século Editora), gera filhos que perdem o respeito pelos pais. Se ele não se comportou direito, melhor vetar aquela festinha do amigo que está próxima – e cumprir – do que proibir que ele jogue videogame para sempre.

Dica: Transforme ameaças em avisos, passando a mensagem sem violência. 

2. Não ceda

Não vale ser indulgente com a indisciplina do filho porque você trabalha fora e se sente culpada, nem por achar que ele deixará de amá-la – medos bem comuns, segundo a psicóloga Dora Lorch, autora do livro “Superdicas para Educar bem seu Filho” (Editora Saraiva). Se uma posição foi determinada, não volte atrás. A postura, segundo Caio Feijó, é essencial para as crianças não serem tão resistentes com os limites impostos.

Dica: Leve em consideração se o seu filho está passando por um momento difícil – como a perda de um animal de estimação.

3. Evite recompensas

O comportamento adequado não é uma moeda de troca. Os pais não devem prometer um brinquedo novo para o filho se comportar em um restaurante. “Dessa forma ele acreditará que tudo na vida se resolve negociando”, afirma a psicóloga e pedagoga Regina Mara Conrado, autora do livro “Filhos e Alunos sem Limites: Um Desafio para Pais e Professores” (Editora WAK) ao lado de Lucy Silva.

Dica: Não coloque a recompensa como um prêmio, mas saiba reconhecer a boa conduta da criança com palavras. Presentes não são proibidos, mas o psicólogo e terapeuta familiar João David Cavallazzi Mendonça sugere dá-los só às vezes. 


Frustrações na infância ajudam a criança a lidar melhor com adversidades no futuro

4. Não dê ordens dúbias para a criança

Para o psicoterapeuta e educador Leo Fraiman , os pais que não decidem juntos os padrões da educação do filho cometem um grande erro. Se a mãe diz que o filho não deve ir dormir mais tarde em dia de jogo do time preferido e o pai acaba deixando, a criança não irá entender o que deve fazer.

Dica: Os pais devem decidir as regras a dois – e cumpri-las. 

5. Seja firme e paciente

Frustrar a criança a ajudará a lidar com as adversidades da vida no futuro. “Dizer ‘não’ é prerrogativa e obrigação dos pais quando necessário”, diz Caio Feijó. Portanto, os pais devem ser firmes em suas ações e não deixar para resolver um problema depois que ele já passou. Resolver de cabeça quente também não adianta: diante de um comportamento inadequado, insista e, se necessário, conte até mil. Mas sempre evite dizer que a criança é malcriada e não faz nada direito.

Dica: “É mais seguro sugerir que aquilo que ela fez foi errado e é melhor não se repetir”, diz João David. 

6. Não se prolongue demais nas explicações

De acordo com Regina Mara Conrado, é importante pontuar o porquê dos limites, mas não é necessário contar uma novela enquanto a criança reluta. “Se os pais se estendem na justificativa, acabam se perdendo e cedem à insistência da criança”, diz.

Dica: Seja claro e objetivo sobre por que a criança ouviu um “não”, mas adapte a explicação à capacidade de compreender dela.

7. Não insista se não tiver razão

Existem coisas que não se obriga. Se seu filho não gosta das aulas de judô, não há razões para insistir. Dora Lorch recomenda aos pais perceber quando a criança precisa de acolhimento em vez de imposição. Ela pode estar sendo intransigente por estar sofrendo bullying na escola, por exemplo.

Dica: Esteja próximo a seu filho para saber diferenciar indisciplina de apreensão. 

Os limites da bronca

Se seu filho insiste em desobedecer, você pode estar falando o que não devia. Veja 9 frases vetadas por especialistas


Pais devem entender o efeito das frases na hora da bronca. Na luta por colocar limites em seus filhos, pais podem notar que algumas táticas estão longe de causar o efeito necessário. Na verdade, algumas atitudes chegam a acarretar o resultado contrário. Antes de culpar as crianças, os pais devem prestar atenção se estão dando bronca direito – e “direito” não significa com cara de bravo ou com ameaças assustadoras. Muito pelo contrário. 

Ações como gritar excessivamente e bater são vetadas por psiquiatras, psicólogos e psicopedagogos. De acordo com Içami Tiba, autor de “Disciplina: Limite na Medida Certa” (Integrare Editora), as crianças aprendem com o que os pais fazem. Se eles batem na criança, “o filho aprende a linguagem da violência”. A psicopedagoga Larissa Fonseca afirma que tanto gritar quanto bater demonstram falta de controle pessoal dos pais, o que é bastante danoso para a criança. “Gritar é mostrar que a criança te afetou – e ela adora isso”, afirma Larissa.

Leila Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da USP, explica que as crianças, como todas as pessoas, precisam de atenção. “Se os pais só olham para a criança quando ela faz algo de errado, ela continuará fazendo isso”, fala. Na opinião de Dora Lorch , psicóloga e autora do livro “Superdicas para educar bem seu filho” (Editora Saraiva), educar é passar por certos desconfortos. Ou seja, dar bronca é chato e prometer um chocolate para a criança parar de chorar parece bem mais fácil. Só que os pais precisam estar preparados para se posicionar quando as desobediências acontecem.

Mas como se posicionar corretamente? Consultamos especialistas que resumiram 9 frases que não devem ser ditas para a criança.

1. “Não te amo mais” 
“A criança é muito mais frágil que o adulto. Tudo que se fala ganha uma dimensão maior”, comenta Dora Lorch. Portanto, ouvir uma frase destas da boca dos pais pode causar estragos. Larissa Fonseca explica que esta falta de aceitação pode ser muito forte. “A criança não consegue entender a complexidade do mundo, e alguns adultos não têm consciência disso”, diz Larissa.

2. “Você é feio” 
Xingamentos e palavras feias podem afetar a formação da autoimagem, explica Leila Tardivo. Repetidos excessivamente, também podem ser considerados violentos. Larissa Fonseca aponta que existe uma diferença sutil, mas essencial entre “você é feio” e “o que você acabou de fazer foi muito feio”, que desloca o adjetivo negativo para a ação e não para a criança.

3. “Vou te matar” 
“O que traz a educação é a firmeza, e não a agressividade”, diz Içami Tiba. Ameaças do tipo servem apenas para criar medo nas crianças, o que, segundo o psiquiatra, não leva a lugar algum. “O medo não educa, só traumatiza”, diz Içami. A longo prazo, a intimidação tampouco é efetiva e esvazia o discurso dos pais, já que eles obviamente não vão cumprir o que prometeram. “Primeiro, as crianças sentem um desamor muito grande. Depois, quando descobrem que as ameaças não funcionam, não levam mais os pais a sério”, afirma Dora Lorch.

4. “Nunca mais te trago aqui” 
Como a noção temporal das crianças é diferente, as punições precisam ser imediatas. Este tipo de ameaça também não faz efeito por ser mentirosa. “As crianças sentem que estão sendo enganadas. E isso não faz bem para elas”, diz Larissa. Dora Lorch aponta que ameaças do tipo, assim como “você nunca mais vai ver televisão” ou “nunca mais vou falar com você”, passam uma ideia ambígua para criança, o que prejudica a sua formação moral.

5. “Você puxou o seu pai” ou “Você é igualzinho a sua mãe” 
Quando os pais estão separados e há algum conflito entre ambos, não é nada saudável usar este tipo de frase. Segundo Leila Tardivo, as crianças entendem que elas são parecidas com a parte rejeitada – e se sentem dessa forma. 

6. “Se ficar bonzinho, dou um chocolate para você” 
Comportar-se bem, arrumar o quarto, guardar os brinquedos ou fazer a lição de casa são responsabilidades dos filhos, por isso eles não precisam ganhar nada em troca quando fazem isso. Quando os pais fazem estes acordos de maneira repetida, os filhos podem achar que não se tratam de deveres. “A criança precisa aprender a fazer as coisas por responsabilidade, e não porque vai ganhar algo”, diz Larissa.

7. “Para com isso, todo mundo está olhando!” 
Esta frase é mais fruto do embaraço dos pais que um tipo de bronca para os filhos. Segundo Içami Tiba, ela também passa a mensagem da “campanha da boa imagem”, quando a criança só tem que parecer educada para os outros. “O que os pais estão falando é um problema deles. As crianças não ligam para o que os outros estão vendo”, explica.

8. “Fica quieto!” 
No geral, as crianças tendem a atender ordens mais específicas. Quando escutam frases como esta, elas se confundem. “Ela não sabe se é para parar de falar, de pular ou de fazer o que está fazendo”, diz Dora Lorch. Os pais devem apontar exatamente o que eles gostariam que a criança fizesse.

9. “Limpe já seu quarto, senão você vai ficar de castigo” 
“Quando um adulto coloca um ‘senão’ do lado de suas ordens, isso quer dizer que ele não acredita muito nelas”, diz Dora Lorch. Isso demonstra que os próprios pais já estão negociando, o que faz com que as crianças não respeitem as ordens dadas. Os “senões” só podem aparecer quando a criança questionar muito. “Firmeza é dizer que não pode, e não poder mesmo”, resume Içami.

9 passos para impor limites


Terapeuta, autora, mãe e avó, Diane Levy separa as atitudes que valem a pena das que só gastam energia e compartilha sua fórmula para ter filhos disciplinados.


Interpretar a atitude da criança é chave para impor limites. Na incansável luta para impor limites, muitas vezes os pais desperdiçam mais energia do que deviam. Para evitar isso, a psicóloga neozelandesa Diane Levy, autora do livro “É Claro que Eu Amo Você... Agora Vá para o Seu Quarto!” (Editora Fundamento) e especializada no aconselhamento de pais, separa aquilo que apenas cansa daquilo que dá certo na hora de educar os filhos.

“Há um bom punhado de coisas que fazemos ao tentar educar as crianças e que simplesmente não ajudam”, ela comenta, em depoimento ao iG Delas . “Quando você evita explicar muito, avisar muito, adular, subornar, ameaçar e punir, você poupa tempo e energia e mantém a sua dignidade como pai ou mãe. Quando você pede, diz e deixa a distância emocional fazer o trabalho, suas crianças rapidamente aprenderão que quando você pede que eles façam algo – ou que parem de fazer algo – eles não tem alternativa a não ser fazê-lo”.

Segundo Diane, reconhecer e evitar estratégias exaustivas e inúteis torna os pais mais convincentes em suas ordens ou instruções. Ela explicou, a pedido do iG Delas , as atitudes menos efetivas na hora de impor limites – e, do outro lado, as que mais garantem êxito. Leia abaixo os conselhos.


Diane Levy: "Quando você evita explicar muito, avisar muito, adular, subornar, ameaçar e punir, você poupa tempo e energia e mantém a sua dignidade como pai ou mãe".

1. Não se explique demais

“Quando pedimos para uma criança fazer algo ou para parar de fazê-lo, nosso hábito é de seguir com uma grande explicação de porquê tal ação é necessária. Se nossos filhos não respondem à primeira explicação, pensamos que ela não teve apelo para eles (ou que eles apenas não a entenderam) e, então, gastamos tempo e energia em tentar convencê-los novamente”, explica Diane.

Se a criança não entendeu porque está sendo solicitada a fazer ou deixar de fazer algo, dificilmente ela será convencida por mais e mais explicações. O que ela precisa entender é que tudo o que você pede é para o bem dela – e assim será até ela crescer.

2. Não dê mais de um aviso

“Ao dar várias chances e avisos, nós mostramos às crianças que não acreditamos naquilo que dizemos e que não esperamos uma ação efetiva até darmos muitos e muitos avisos”, diz Diane. “A maioria das crianças entende que enquanto os pais estão nesse ‘modo de aviso’, nada irá acontecer com elas”. Portanto, seja firme.

3. Não adule

Você se pega usando frases como “se você arrumar seu quarto, ganha um chocolate” ou “faça toda a lição e te dou um brinquedo” com frequência? Pense melhor. “Quando os adultos se esforçam adulando e coagindo as crianças para que elas façam o que devem, isso significa que só os pais estão fazendo o trabalho duro, enquanto os filhos esperam uma recompensa convincente o bastante para encorajá-los a começar uma tarefa que não é mais que obrigação deles”.

4. Não suborne

As crianças devem ser acostumada a agir dentro de um senso de obrigação. “Se o único jeito de conseguirmos fazer com que as crianças façam o que mandamos é oferecendo algo, nos deixamos vulneráveis a ter que pensar em maiores e melhores ‘mimos’ com o tempo. Além disso, essa ação dá às nossas crianças a permissão de perguntar ‘o que você me dará se eu fizer isso?’ – e esse não é um bom hábito para se encorajar”, resume Diane.

5. Não ameace

Ameaças funcionam com "se você não fizer isso.. então eu irei…”. Diane explica que, assim, você abre um contrato e isso dá margem para a criança negar a oferta. "Aprendi essa lição muito cedo com o meu primeiro filho. Quando dizia 'Robert, se você não guardar seus brinquedos agora, não iremos ao parque essa tarde', ele apenas respondia 'tudo bem'. E eu ficava sem saber para onde ir", relembra.

"Outro problema em ameaçar é que, se você fala que irá fazer algo, é obrigado a cumprir isso. A maioria das ameaças que tem como objetivo persuadir a criança a fazer o que foi pedido nos pune mais do que a elas", explica Diane. E exemplifica: “Os pais ameaçam: 'Se você não fizer isso imediatamente, não verá mais TV pelos próximos três dias'. É mais provável que a vida de quem fique mais difícil com essa ameaça?".

6. Não puna

Segundo Diane, algumas crianças aprendem através das punições, mas muitas se tornam ressentidas, irritadas e se sentem tratadas de forma desleal. “Também, se usarmos a punição, nossos filhos podem simplesmente aprender como aguentá-las – e voltarem a fazer aquilo que tentamos evitar”, afirma.

Mas se os pais deixarem de explicar, avisar, adular, subornar, ameaçar e punir, o que eles podem fazer? Diane sugere uma estratégia simples, com três passos: peça, diga e aja.

7. Peça uma vez só

Diane recomenda que os pais simplesmente peçam o que deve ser feito e observem a resposta do filho. Isso dará a eles uma informação importante. “Quando as crianças se negam a fazer o que foi pedido, eles usualmente expressam uma das três formas a seguir: tristeza, irritação ou distanciamento”, ensina ela.

A tristeza é simbolizada por chateação. “Eles parecem ofendidos e dizem ‘por que eu?’”, descreve. A irritação se manifesta em confronto: “eles discutem e acusam você de ser injusto com eles”. O distanciamento é caracterizado por indiferença. “Eles ignoravam você, olham para outro lado e continuam o que estão fazendo”, completa Diane. “Tudo isso significa que a criança não fará aquilo que pediu”. Mas como reagir?

8. Diga de maneira enérgica

“Vá até o seu filho – isso pode ser um pouco difícil para os pais, pois significa que eles terão que parar aquilo que estavam fazendo, levantar e ficar do lado da criança”, orienta Diane. Segundo ela, a presença próxima vale a pena. “Uma vez que aparecemos perto da criança, ela sabe que isso significa que ela terá que fazer o que foi pedido”.

A autora recomenda que os pais falem baixo – isso mostra que eles estão no controle tanto da própria voz quanto da criança – e que olhem seu filho nos olhos.

9. Aja

Se seu filho não respondeu a nenhuma das ações anteriores, você precisa fazer algo. “A coisa mais efetiva que você pode fazer é usar a ‘distância emocional’ até que ele esteja pronto para fazer o que foi pedido”, aconselha Diane. “Pegue-o no colo ou pela mão e o leve para o quarto. Diga firmemente ‘você é bem-vindo para se juntar à família assim que estiver pronto para fazer o que pedi’, e deixe-o sozinho”, completa. Lembre-se: o seu filho tem o poder de se reunir à família ao fazer o que lhe foi pedido.

Quando as crianças são maiores – e tirá-las do lugar é mais difícil – Diane recomenda que os pais apenas determinem consigo mesmos: “eu não farei nada até que ele esteja pronto para fazer aquilo que eu pedi”. E continuem com o que estiverem fazendo, normalmente. “Quando a criança aparecer com um pedido, você pode calmamente lembrá-la de que ficaria feliz em atendê-la, assim que ela fizer aquilo que foi estabelecido (e ignorado) anteriormente”, diz a autora. “Ele pode fazer duas ou três tentativas para chamar sua atenção, mas vai acabar entendendo que precisa fazer o que foi solicitado pelos pais”, finaliza. 

Limites: essenciais para a criança

A imposição de limites, escolhida como grande desafio da educação, não pode ser "terceirizada" - e é fundamental para os filhos


Não somos anjos: crianças precisam de limites para atingir seu pleno desenvolvimento. Cuidados, amor e atenção: todos os pais sabem bem como agradar seus filhos. Mas, depois do amor, a coisa mais importante que eles podem dar aos filhos tem sido esquecida, muitas vezes confundida com repressão: disciplina. 

Para o pediatra e psiquiatra infantil T. Berry Brazelton, autor de livros como "Disciplina: O Método Brazelton" (Editora Artmed), a maior necessidade de uma criança, depois de amor, é disciplina. Mas falta a muitos pais conhecimento - para estabelecer os limites corretos, sem reprimir os filhos - e firmeza - para fazer com que eles sejam cumpridos sem lançar mão das palmadas.

Ao longo do ano, o iG Delas tratou do assunto muitas vezes, sob enfoques diversos. Se o bebê passa por uma fase narcisista natural , depois de certa idade ele precisa de disciplina - e é mais fácil estabelecer limites antes dos 7 anos .


Mesmo estabelecendo regras, rotinas e desenvolvendo um vínculo saudável com a criança, ela vai testar os limites impostos. Nessa hora, entender o papel da birra e saber como reagir são armas essenciais. Tudo para não perder a cabeça e acabar dando palmadas na criança - ainda que tenham finalidade pedagógica, elas não são necessárias .

Birra é inevitável, mas pode ser controlada

Experts em comportamento infantil explicam a origem da birra e como controlá-la


Jo Frost auxilia os pais a imporem limites nas manhas e birras dos filhos. Segundo a educadora Cris Poli, a Supernanny do programa de televisão brasileiro, a birra é uma maneira de a criança expressar o que quer ou não quer, e faz parte do seu desenvolvimento. E mesmo que os pais ensinem aos poucos a forma mais adequada de se colocar perante ao mundo, as birras vão acontecer, não tem jeito. “Os primeiros sinais de mau comportamento começam a aparecer na primeira infância, a partir dos 18 meses, e ficam mais evidentes em crianças com mais de 2 anos e meio. A birra é conseqüência da falta de limite. Se os pais não definirem nenhum tipo de limite, terminarão com crianças que não sabem se controlar”, completa a babá inglesa Jo Frost, a Supernanny do programa norte-americano. 

A fonoaudióloga Carmen Carbone, 37 anos, é mãe da Renata, 3 anos e 10 meses e reconhece a birra no choro (algumas vezes acompanhado de berros) que vem depois do “não”. “Considero um teste de força e paciência para ver quem vai ceder primeiro”, relata. Segundo a especialista em comportamento infantil Patrícia Brum Machado, autora do livro Estabelecendo limites (editora Mediação), os pais acabam reforçando o comportamento ao cederem. “A criança fica condicionada e aprende que toda vez que fizer birra vai ganhar o que quer”, explica. Por isso, a técnica comportamental mais eficaz, de acordo com a expert, é deixar o pequeno se debater e chorar a vontade, até que perceba que as conseqüências de tanta cena não serão positivas. “Quanto mais cedo os pais procederem dessa forma, mais fácil se torna a extinção da birra”, acrescenta. 

Na prática 

“De 0 a 2 anos, é difícil estabelecer regras pra que o pequeno aprenda, memorize e obedeça. Nesta idade, o ideal é falar que não gosta de determinado comportamento e que ela não precisa se jogar no chão. Mostre com a expressão do rosto e a voz firme que você desaprova, afinal a criança entende mais a linguagem de expressão e o tom de voz”, aconselha Cris Poli. 


A partir dos 2 anos, os pequenos já têm condições de entender o que são regras, então chegou o momento de dizer com todas as letras “não pode gritar, nem chorar sem motivo, se debater ou bater nos outros”. Carmen, a mãe de Renata, diz que agora, perto dos 4 anos, ela já entende melhor e é possível dialogar e explicar os porquês de não poder ficar sem lavar o cabelo, descer para o parquinho do prédio à noite, ganhar o brinquedo novo... “Finjo também que ela não está chorando, mantenho o sorriso e mostro que quem está no comando sou eu. Agora (depois de muita birra!) ela percebeu que chorando não vai conseguir nada”, conta. 

Determine as regras para ensinar o comportamento adequado de maneira tranquila e racional, para que a criança assimile gradativamente. “A parte visual ajuda a visualizar, portanto desenhar as regras estabelecidas pode ser um aliado!”, complementa Cris Poli. Jo Frost explica que tudo isso deve ser feito a partir do primeiro ano. “Porém é possível reverter o quadro, se a birra é constante e os pais já cederam algumas vezes. Neste caso é importante introduzir técnicas básicas de disciplina aliada a uma nova rotina e a um conjunto de regras domésticas, com muitos elogios e incentivos”, diz. Ou seja, dê os parabéns cada vez que um bom comportamento brotar no lugar da birra. No bom relacionamento entre pais e filhos, há amor e respeito de ambas as partes. E todas as entrevistadas colocam esta regra em primeiro lugar. 

Dicas práticas 

Cris Poli , Jo Frost e Patrícia Brum Machado ensinam o beabá das estratégias antibirra: 





Siga as dicas para controlar as birras dos seus filhos- Estabeleça regras. E se elas não forem cumpridas, dê uma advertência pra que ela saiba que está fazendo errado. “Este aviso permite que a criança mude o comportamento, sem necessidade de ser disciplinada”, diz Cris. 

- Se a criança continuar desobedecendo, mande para o cantinho da disciplina (por um minuto por ano de idade, afinal mais do que isso ela dispersa e o efeito não é o mesmo) pra refletir sobre o que não cumpriu. Segundo as especialistas, este método não é castigo, ensina a criança a controlar as birras e aprender a lidar com o sentimento de raiva por não conseguir o que ela quer. Use-o até os 10 anos de idade. 

- A criança fez escândalo em público? Separe do grupo, leve para um cantinho e dê advertência. Se ela não parar, mande para o cantinho da disciplina assim que chegar em casa. “É um processo que requer paciência, dedicação e calma”, conta Cris. Patrícia lembra que é fundamental manter a calma nessa hora e diminuir a platéia. 

- Corte aquilo que ele gosta, quando o “momento de reflexão” não surtir mais efeito. Tire o computador, a brincadeira na rua, o desenho preferido... Para que ele aprenda a se comportar e reconquiste tudo por meio do cumprimento de regras. 

- Use tom de voz firme e baixo ao dizer não. 

- Evite a raiva: não grite, nem bata, ameace ou castigue. Introduza o diálogo depois do choro. “As explicações se fazem oportunas assim que a crise cessar”, justifica Patricia. Seja firme, sem punir. 

- Identifique os comportamentos inadequados e ensine melhores formas, deixando claro de qual jeito você quer que o seu filho se porte. “Mas pense também nas preferências e particularidades dele, deixando-o fazer escolhas na medida do possível”, diz Patricia. 

- Sirva de modelo, não reforce o comportamento agressivo com as suas atitudes. Mostre interesse na vida e atividades do pequeno, separando um tempo exclusivo para conversa e brincadeiras. 

- Entre em acordo com o pai. Os dois precisam ser coerentes e ter a mesma postura perante os acessos de birra. 

- O mais importante: imponha limites.

O poder dos pais na escolha profissional dos filhos

Especialistas mostram como agir de maneira correta para orientar os filhos na carreira, sem impor a própria vontade a eles

Ainda hoje, muitos pais desejam que os filhos sigam a mesma profissão deles. Esta é uma maneira que encontram para se sentir realizados e reconhecidos pelos seus descendentes. O problema maior acontece quando esta vontade passa a ser uma fixação e, o pior, vira pressão para que o jovem trilhe um determinado caminho. “Os pais devem aprender a escutar o filho, a respeitar sua escolha e entender que ele só será bem sucedido na profissão que realmente gostar”, explica a psicóloga Nancy Erlach Danon, especialista na área na área cognitiva-comportamental.

Por outro lado, há pais que não conversam com os filhos sobre carreira ou não demonstram interesse em saber o que eles estão planejando para o futuro. O psicólogo Fabiano Fonseca da Silva, do Serviço de Orientação Profissional da USP, acredita que o tema profissão deve ser inserido na família “desde sempre”. É importante perguntar para a criança o que ela quer ser quando crescer e, especialmente na adolescência, conversar claramente com o filho sobre o assunto, para que ele perceba que tem um suporte familiar para decidir.

O ideal é que os pais prestem uma espécie de “consultoria” aos filhos, para orientar sem influenciar, mostrando os prós e os contras das carreiras cogitadas. Isso pode se mostrar um desafio quando você é um apaixonado pelo seu trabalho ou se tem algumas frustrações com a carreira. Por isso, se for preciso, vale levá-los a testes vocacionais ou apresentá-los a profissionais de diversas áreas, para que possam sentir as distintas realidades do mercado de trabalho.

Conheça algumas histórias de pais que incentivaram os filhos a optar pela mesma carreira – ou o oposto – e outros que não opinaram e deixaram os jovens à vontade para decidir qual profissão seguir. E aprenda as lições de cada um delas.


Leandro seguiu os passos do pai Eurides, camiseiro, por conta própria. Camiseiro segue o ofício do pai, mesmo sem ter recebido qualquer incentivo

A rotina do camiseiro Leandro Fernandes é agitada. Aos 28 anos, ele atende clientes, organiza a produção da confecção e resolve problemas administrativos na Camisaria Eurides – empresa que o pai dele, Eurides Fernandes, fundou há 40 anos. Quando Leandro percebeu que o curso de Turismo não lhe traria o futuro desejado, ele próprio decidiu ir trabalhar com o pai, que nunca o havia incentivado para seguir a mesma carreira. Na época com 21 anos, o então estudante Leandro foi aprendendo o ofício de camiseiro – tão pouco comum entre os mais jovens – e, aos poucos, abraçou novas atividades, como a parte administrativa. “Meu pai sempre nos deu a liberdade de fazer o que queríamos. Embora ele nunca tivesse sugerido que eu tocasse o negócio, eu acabei vindo, dando ideias e ele aceitou”, diz Leandro.

Prestes a se aposentar, Eurides chegou a cogitar a possibilidade de fechar o negócio. Mas Leandro deu novo ânimo à camisaria: ampliou o atendimento, contratou novos funcionários e modernizou a produção. “Fiquei muito feliz em saber que meu filho queria seguir em minha área. Me sinto homenageado”, diz o pai.

Palavra do especialista: A psicóloga Angélica Capelari, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade Metodista, em São Paulo, diz que nem sempre a influência dos pais ocorre de maneira direta. Muitas vezes, assim como no caso de Leandro, o estímulo acontece por meio do exemplo deixado pelos mais velhos. “Os filhos observam tudo. Se eles veem os pais como modelo bem-sucedido podem ser incentivados indiretamente a seguir a mesma carreira”, explica.

Nutricionista não quis seguir a carreira em odontologia, apesar da vontade da mãe

Até o último minuto, a dentista Rada El Achkar da Silva acreditou que a filha Karla fosse seguir a sua profissão. A decepção veio quando a garota, aos 18 anos, chegou em casa com a inscrição para o vestibular de Nutrição. “Meu sonho era que ela trabalhasse no consultório comigo”, conta a mãe. Karla, ainda criança, acompanhava a mãe no trabalho e demonstrava até mesmo uma certa aptidão. “Teve um dia em que ela pediu para esculpir um dentinho na cera e falou: ‘mãe, eu vou ser dentista igual a você’”, suspira a mãe.

Mas Karla cresceu e mudou de ideia. “Odonto era uma possibilidade, mas não a que mais me atraía. Não conseguia me ver como dentista”, afirma a filha. Já formada, ela é nutricionista de um hospital e adora o que faz. A mãe, Rada, apesar de ter ficado chateada na época, acabou apoiando a decisão da jovem. “Hoje eu vejo que ela está feliz, gosta do que faz e tenho muito orgulho dela”.

Palavra do especialista: Para a psicóloga Nancy Erlach Danon, os pais não devem colocar suas próprias vontades, mas sim servir de orientadores. “O pai conhece seu filho e, lógico, sabe o que ele gosta ou não. Portanto, deve atuar como intermediador e consultor na escolha profissional”, afirma.

A biologia uniu ainda mais mãe e filha

Paula Ferro e Silva Capucho quase nasceu no trabalho da mãe, a bióloga Regina Ruivo Ferro e Silva. Literalmente. “Eu trabalhei até as quatro horas da tarde e a Paula nasceu às oito da noite daquele dia”, conta. A convivência com o universo de trabalho da mãe continuou por toda a infância. Sem ter com quem deixar os dois filhos pequenos, Regina muitas vezes levava as crianças para o laboratório – e começou a notar que a menina estava sempre curiosa para saber como as coisas funcionavam. “Eu passava horas ali. Ela me mostrava as coisas no microscópio e fui pegando gosto pela profissão”, conta Paula.

O gosto foi tanto que Paula seguiu a mesma especialidade da mãe, em bacteriologia, e chegaram até a atuar em parceria em um projeto de pesquisa sobre tuberculose. “Publicamos dois trabalhos juntas em revistas internacionais. É muito bom tê-la na mesma profissão”, diz Regina.

Palavra do especialista: O peso da influência familiar na escolha da profissão dos filhos é grande, pois os filhos “respiram” o ambiente de trabalho dos pais – como no caso de Paula. “Se eles são bem sucedidos, gostam do que fazem e têm orgulho da profissão, certamente isto influenciará positivamente na decisão dos filhos”, explica a psicóloga Nancy Erlach Danon. Porém, o contrário também acontece: se os pais não forem realizados na profissão que escolheram, este fator pode afugentar os filhos dela.

Apoio para as filhas atuarem em outras carreiras

A fonoaudióloga Rosana Maimeri é apaixonada por sua profissão. Dedicada, atua há 30 anos na área e fez diversos cursos de especialização. No entanto, por considerar que o mercado de trabalho neste campo ainda é um pouco restrito, acabou desestimulando as filhas Gabriela e Carolina a seguirem o mesmo caminho. “Eu nunca disse para elas ‘não façam fonoaudiologia’, mas elas mesmas foram vendo as dificuldades que passei até me estabelecer na profissão”, conta Rosana.

Com isso, naturalmente, as filhas optaram por outras carreiras. A mais velha, Carolina, com 19 anos, cursa Economia e já faz estágio na área. Gabriela, de 17 anos, vai começar a faculdade de Direito. “Apesar de termos crescido no consultório dela, a profissão não nos interessou. Acho que é uma carreira ainda pouco reconhecida”, comenta Gabriela.

Palavra do especialista: De acordo com a psicóloga Angélica Capelari, é importante mostrar aos filhos como é a verdadeira realidade de uma profissão. No entanto, o fato de querer evitar que eles passem pelas mesmas dificuldades não vai livrá-los de enfrentar problemas em outras carreiras. “O que se pode fazer é dar dados reais, mas, ao mesmo tempo, mostrar ao filho como superar os possíveis obstáculos”, aconselha. 





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