Eu não tenho dúvidas que o 'Grande' e 'Imortal' Vinicius de Moraes era um maníaco-depressivo. Ele era maravilhoso na sua tristeza. Eu amo todas suas lindas, sensíveis composições e poemas. No mês de outubro será comemorado o centenário de Vinicius de Moraes, que nasceu no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913. Amo este poetinha!!!
Ser ou Estar em depressão é um estado de alma e não é uma doença contagiosa. Pelo contrário aí que essas pessoas sensíveis precisam de apoio e acolhida. Só os sensíveis entram em depressão! O contrário nunca vi... Roberta Carrilho
Ninguém consegue ser feliz 24 horas por dia. Estar triste é chato, sim, mas ajuda no equilíbrio da mente e do corpo. O segredo é saber reagir aos momentos debaixo-astral até mesmo para ser alguém mais feliz
É bem melhor ser alegre do que ser triste, já dizia Vinícius de Moraes. Sem dúvida. O poetinha ia mais longe, entoando em rima e prosa que tristeza não tem fim. Já a felicidade, sim. Até hoje, muita gente chora ao ouvir esses versos porque tocam num ponto nevrálgico da vida humana: os sentimentos. E quando tais sentimentos provocam algum tipo de dor, fica difícil esquecer – e ainda mais suportar. A tristeza, uma das piores sensações da nossa existência, funciona mais ou menos assim: parece bonita apenas nas músicas. Na vida real, ninguém gosta, ninguém quer.
Pois bem, caro leitor, está na hora de rever seus conceitos. Você já deve ter percebido que a tristeza faz parte da vida, então o jeito é aprender a lidar com ela. Quem já experimentou a sensação de felicidade, certamente, já ficou triste também – até porque uma não existe sem a outra. Por isso, em vez de ficar se lamentando, a partir de agora você vai descobrir que o estado de melancolia tem seu lado bom, podendo até ser produtivo em muitos casos.
Por que ficamos tristes?
Tristeza é um sentimento que responde a estímulos internos, como recordações, memórias, vivências; ou externos, como a perda de um emprego ou de um amor. Não se trata de uma emoção, que é uma resposta imediata a um estímulo. No caso da tristeza, nosso organismo elabora a sensação e amadurece-a antes de manifestar. É uma resposta natural a situações de perda ou de frustrações, em que são liberados hormônios cerebrais, chamados neuromônios, responsáveis pela angústia, melancolia ou coração apertado.
Como ninguém recebe somente notícias boas o dia todo, não há como fugir do estado de tristeza. O que dá para mexer é no significado dos estímulos e assim fazer com que ela apareça em menor grau de intensidade. “A tristeza é uma resposta que faz parte da nossa forma de ser e estar no mundo. Passamos o dia flutuando entre pólos de alegria e infelicidade”, afirma o médico psiquiatra Ricardo Moreno, coordenador do Grupo de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Se passamos o dia entre esses pólos de flutuação, é bom não levar tão a sério os comerciais de margarina em que a família é linda, perfeita, alegre e até os cachorros parecem sorrir o tempo inteiro. Não apenas na televisão, mas vivemos uma época em que a felicidade constante é praticamente um dever de todos. O físico, matemático e filósofo francês Blaise Pascal é autor de algumas das mais famosas reflexões sobre o tema. “A felicidade é o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar”, escreveu no século 17. O desejo desenfreado de querer ser feliz ganhou até status de direito social a partir do movimento iluminista, no século 18, cuja filosofia influenciou a Revolução Francesa e a independência dos Estados Unidos. Na Constituição americana, a busca da felicidade é assegurada como um “direito inalienável” dos cidadãos. “Quando passo por momentos de melancolia sem saber o porquê, me sinto até culpado. Afinal, como um sujeito bem-sucedido profissionalmente, com namorada e uma família linda, poderia se sentir triste?”, diz o analista de sistemas Guilherme Azevedo,de 26 anos.
Felicidade tirana
É fato: a obrigação de ser feliz o tempo todo está virando uma obsessão a ponto de causar angústia. “A felicidade é efêmera por definição. Por isso, as pessoas que só pensam nela sofrem muito mais e se distanciam das pequenas alegrias da vida”, afirma o escritor francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua (Bertrand Brasil, 2002), no qual critica o que chama de “tirania da felicidade”. “Hoje em dia, sofre-se também por não querer sofrer, do mesmo modo que se pode adoecer de tanto procurar a saúde perfeita.” Não é à toa que os antidepressivos são um sucesso arrebatador nas farmácias. Para se ter uma idéia, em 2000, o Prozac, propagado como a “pílula da felicidade”, rendeu 2,6 bilhões de dólares aos cofres do laboratório fabricante. “É bom lembrar que essas drogas não fazem efeito em pessoas normais, ou seja, em quem não sofre de depressão. As substâncias antidepressivas não são necessariamente estimulantes”, diz o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.
Evitar a tristeza vem sendo um ideal tão perseguido que está chamando a atenção de pesquisadores do mundo todo. A conclusão: estar infeliz é mais do que natural, é necessário à condição humana. Segundo o psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, a tristeza é um dos raros momentos que nos permite reflexão, uma volta para nós mesmos, uma possibilidade de nos conhecer melhor, de saber o que queremos, do que gostamos. E somente com essa clareza de dados é que podemos buscar as atividades que nos dão prazer, isto é, que nos fazem felizes.
Ferreira-Santos concorda. “A tristeza com relação a algum fato nos leva a pensar sobre ele. Pensamos em soluções, ou seja, trata-se de um mecanismo psíquico que nos dá condições de reflexão sobre nós mesmos e até mesmo para evitar a repetição do erro.” Assim como a dor e o medo, a tristeza nos ajuda a sobreviver. Sim, porque se não sentíssemos medo, poderíamos nos atirar de um penhasco. E se não tivéssemos dor, como o organismo poderia nos avisar que algo não vai bem?
Insatisfação passageira
O pesquisador americano Robert Wright acredita que a tristeza tenha sua participação até mesmo no processo evolutivo. “Se a alegria que vem após o sexo não terminasse nunca, os animais copulariam apenas uma vez na vida”, diz Wright. Para ele, a felicidade é propositadamente projetada para escapar – e dessa forma corremos atrás daquela maravilhosa sensação que sentimos anteriormente. Um estudo feito em 1978 com ganhadores da loteria mostra o caráter momentâneo da felicidade: os sortudos tiveram picos de alegria logo após a premiação, mas tenderam a voltar aos níveis anteriores pouco tempo depois. O inverso é verdadeiro. No mesmo estudo, pessoas que ficaram paraplégicas em acidentes recuperaram seus níveis de felicidade dois meses depois. Ou seja: a tristeza, quando é um sentimento saudável e natural da vida, tem fim. Se não passar, aí é bom se preocupar, pois pode virar depressão, doença que afeta cerca de 20% da população mundial.
“Mas tem muita gente que confunde as coisas, diz que está deprimido porque perdeu o emprego ou brigou com a namorada. Isso não é depressão, é tristeza. Depressão é uma síndrome e nunca vem isolada”, afirma o psiquiatra Ricardo Moreno. Foi o que aconteceu com a administradora de empresas Patrícia Menziane, de 25 anos. “Depois de perder um bebê, me senti muito mal. As pessoas me cobravam uma volta por cima, me incentivavam a sorrir, mas não dava. Demorou para descobrir que eu não era infeliz, apenas estava infeliz”, conta.
Um dos pilares do budismo é a impermanência, segundo a qual tudo é transitório, em constante mudança. Para Dalai Lama, se as coisas podem ficar ruins de um momento para outro, as ruins também podem ficar boas rapidamente. O ideal é aprender os recados da tristeza enquanto ela não vai embora.
Impulso criativo
Alguns artistas e intelectuais viveram o auge da produção nos momentos de melancolia
O que seria da música se seus compositores não tivessem passado por terríveis dores-de-cotovelo? Provavelmente, não existiriam os mais belos sambas, valsas, tangos, chorinhos e afins que tanto fazem bem aos nossos ouvidos. E essa constatação vale também para outras formas de expressão artística.
O compositor alemão Ludwig van Beethoven redigiu a maior parte de suas sinfonias, incluindo a “Nona”, em momentos de profunda tristeza – acredita-se que o sentimento era alimentado pela sua precoce surdez e por três amores impossíveis. Outro clássico alemão, Franz Schubert, um melancólico de carteirinha, compôs em 1822 a maravilhosa “Oitava Sinfonia”, obra tão angustiada que ficou inacabada.
Na literatura, o poeta português Fernando Pessoa escreveu a maioria de seus textos quando se sentia ensimesmado – prova disso é que assumia diversas personalidades literárias.Um estudo da Harvard Medical School, de Boston, publicado em 2003, examinou a criatividade de 17 pacientes com depressão e concluiu que eles tiveram um melhor desempenho criativo do que pessoas sem histórico de doenças psíquicas. Isso indica que até mesmo a tristeza que se torna patológica pode ter lá sua serventia.
Fique atento
Ao contrário da tristeza natural, a depressão é uma doença séria que exige ajuda médica. Veja alguns sintomas da depressão
• Melancolia profunda e incessante por mais de 15 dias consecutivos.
• O sentimento é incapacitante, ou seja, impede ou dificulta a execução das atividades normais.
• Perda de interesse em atividades que antes davam prazer, incluindo sexo.
• Dificuldade de raciocínio e concentração.
• Irritabilidade e ansiedade.
• Fadiga constante e perda de energia.
• Alterações nos hábitos de sono, como excesso de sonolência ou insônia.
• Pensamentos freqüentes sobre morte e suicídio.
• Mudanças no apetite.• Tendência ao isolamento.
por Texto Mariana Sgarioni
A depressão, por Vinicius de Moraes
Daqui a algumas semanas será comemorado o centenário de uma das figuras mais importantes do nosso cancioneiro, Vinicius de Moraes, que nasceu no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913. Desnecessário falar de sua importância para a cultura brasileira, especialmente no que diz respeito ao surgimento da Bossa Nova, nos anos 50.
Mas entre tantas coisas que Vinicius produziu, quero destacar uma pequena poesia, que travei contato pela primeira vez ao ler o livro “Para Viver Um Grande Amor”, que comprei quando ainda estava na Faculdade de Medicina (e edição original é de 1962). Entre os textos de crônicas e poesias que constam no livro, a poesia chamada “Dialética” me marcou muito:
Dialética
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
Não quero fazer uma análise estrutural do poema, composto de versos brancos e livres, quero apenas dizer que em sua aparente simplicidade formal, Vinicius de Moraes descreve nesse poema o sentimento exato de uma pessoa com depressão.
Vejam que o eu-poético insiste em deixar bem evidente, através da repetição do “É claro”, que tem muitas razões para ser uma pessoa contente. No entanto, ele nos diz na última frase que, muito pelo contrário, é uma pessoa triste. Essa contradição, revelada pelo título “Dialética”, que quer dizer uma contraposição de ideias, está presente nos pacientes que sofrem de transtorno depressivo. É justamente por isso que a depressão é uma doença (mas muitas pessoas não pensam assim), porque ela deixa o seu humor rebaixado, porque o faz chorar e se sentir sem ânimo para nada quando tudo que lhe acontece na vida só deveria fazê-lo feliz ou, no mínimo, satisfeito com a vida que leva. Muitas pessoas que sofrem com depressão passam muito tempo tentando achar uma explicação para o sentimento de tristeza que lhes aflige, não admitindo que esse sentimento não possa ter explicação, ou melhor, não admitem que a explicação seja uma doença!
Do livro “Para Viver Um Grande Amor”, entre tantas coisas belas, esse foi o texto que mais me chamou a atenção. Acho que eu nem pensava em ser psiquiatra quando o li pela primeira vez. É possível que a as contradições e riquezas de emoções da alma humana que emanam desse pequeno poema de Vinicius e que li na faculdade me tenham feito enveredar pelos caminhos da mente e da Psiquiatria.
Saravá!
Postado por Dr. Deyvis Rocha // 2 de novembro de 2012
Eu não existo sem você
Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você
Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você
Vinícius de Moraes
Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...
Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nos e-mails trocados...
Podemos nos telefonar... conversar algumas bobagens. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo...
Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos...Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!!!Vinícius de Moraes
Soneto de FidelidadeDe tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes
Se eu morrer antes de você, faça-me um favor. Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase: ' Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!' Aí, então derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxuga-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele. Você acredita nessas coisas? Sim??? Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Eu não vou estranhar o céu . . . Sabe porque?Porque... Ser seu amigo já é um pedaço dele!Vinícius de Moraes
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