Antes de mais nada peço licença para publicar este texto que está circulando nas redes sociais mesmo não sendo uma blogueira negra e sim uma blogueira branca. Que coisa ridícula esta adjetivação branca e negra! Começa por aí...
Vamos refletir!
Vamos refletir!
Será que a nossa sociedade é tão sem valor assim?
É geral? É regional? É local?
O que está acontecendo na verdade?
Abrindo um parêntese
Quero deixar bem claro que EU não sou adepta ao feminismo exacerbado como é comumente exercido. Eu sou mulher e penso que tenho meu lugar (diferenciado) na relação entre homem e mulher. EU não gosto deste papo que temos que ser e exigir os mesmos direitos e tratamentos dos homens. Não! Eu sou mulher e gosto de ser tratada como tal e não como um homem em pé de igualdade. Cada qual cumpre seu papel na sociedade e na relação. Homem é homem e mulher é mulher. Simples assim. Nada de tudo igual!!! Podem dizer quer tenho uma visão romântica, restrita, submissa etc e tal? Pode ser! E daí? É minha visão e minha ideologia. Respeito todas as diferenças e não admito invasão ou desrespeito as minhas. Como dito é a minha visão e não quero que ninguém (mulheres feministas de plantão) venham me julgar por não compartilhar a mesma ideologia delas - feministas. Não estou levantando nenhuma bandeira ideológica tenho preguiça disto!
Eu vejo isto como uma total ausência de auto-estima, de valores maiores que temos como seres humanos completos não só a embalagem ou rótulos tão defendidos por esta geração que cultua acima de tudo e dos valores éticos: a forma, a perfeição e os esteriótipos de mulher 'bonita e atraente' ser a Super 'sexy feminize fatal' e as peitudas-siliconadas. Ou rótulos como: mulheres frutas, popozudas, gostosas, cachorras, funkeiras estilosas e sei lá mais o quê?
Eu creio que este esteriótipo é uma ilusão ou uma fuga de si mesmas da responsabilidade de seres pessoas e não carnes humanas descartáveis, usáveis.
Mulheres devem se auto-respeitarem e não auto-vendarem para quem der mais dinheiro, conforto, status, carros caros e novos, jóias, viagens... é uma gama imensa de bens e vantagens que elas buscam para preencher este vazio sem fim que é a existência dessas criaturas de Deus. Eu não consigo aceitar esta depreciação da mulher como sendo 'normal' e/ou 'padrão'. É insano e cruel!!! É como se fosse a única forma hoje em dia de serem aceitas socialmente e pior de terem um relacionamento ou casamento bem sucedido e feliz! Será que os homens querem é só isso mesmo? Se for eu prefiro ficar sozinha com meus livros, dignidade e auto-estima.
O corpo não pode substituir a essência, o caráter, ou seja, a pessoa em si mesma! O que que está acontecendo? Que deformação é esta?
Eu não vou entrar na questão do ser branca é melhor do que ser negra. É fato que existe sim racismo irascível no Brasil. Deprimente e deve ser combatido. Todas as pessoas são belas e cada qual com sua cor. O que é belo e atraente para mim pode não ser pra você. Mas impor um padrão "branco" como sendo o melhor e o mais atraente é tão ridículo que não vou perder meu tempo convencendo ninguém disso. Uma pessoa deve ter ética como cidadão e não como racista pífio. Este deve ser o padrão: ética nas relações. Todas sem exceção! Beleza é um elemento subjetivo e intransferível de cada um. Não tem padrão ou regra ou rótulos. Pelo menos não deveria ter. Penso! É questão de educação (principalmente familiar) e cultural. Mas o que eu estou questionando aqui é o outro lado do texto sobre estas meninas-mulheres que se deixam ser objetos de consumo e não seres humanos femininos. É isso que me impressiona e entristece.
Fica este artigo forte para reflexão de todos nós.
Lamentável isto!
Roberta Carrilho
Seja pelo preconceito de classe ou pela intolerância diante de letras com conteúdo sexual explícito, as mulheres do funk são grandes vítimas da misoginia e do racismo. Esse grande repúdio contra as artistas femininas do funk é intimamente relacionado à repulsa às mulheres negras, não somente porque a maioria das funkeiras são negras, mas porque o funk tem raízes históricas e é intimamente ligado à cultura negra brasileira.
No entanto, há pelo menos um exemplo atual de mulher que veio do funk e é amplamente aceita e celebrada na mídia: a Anitta. Enquanto as outras artistas têm suas raízes no funk tradicional com letras explícitas, a Anitta é apresentada como uma funkeira voltada para a cultura pop, com uma produção higienizada e pronta para o consumo. Artistas como a Anitta são reposicionadas em uma nova classe social, que embranquece suas expressões artísticas e as torna muito mais “adequadas” para a televisão brasileira.
Há divergências sobre os motivos que levam a Anitta a ter mais sucesso que outras artistas similares. Alguns ativistas acreditam ser devido a uma suposta branquitude. No entanto, enxergar Anitta como uma pessoa branca demonstra a naturalização do processo de embranquecimento racial. Em uma sociedade que tem como branca qualquer pessoa miscigenada de pele clara, o caso de Anitta merece no mínimo uma reflexão.
É preciso entender que a identidade que Anitta ou outras artistas possuem sobre suas cores é algo subjetivo, construído ao longo dos anos sob influência da sociedade. Não adianta relativizar o reconhecimento racial e reduzi-lo a uma questão de afirmação, pois compreender-se como negra não é um fator decisivo para que alguém seja tratada como negra; para isso acontecer, é necessário que a sociedade também consiga ver a negritude nessa pessoa.
A Anitta é um exemplo de uma mulher miscigenada que foi embraquecida e “enriquecida” para que o seu trabalho artístico fosse valorizado. A aparência de Anitta vem se tornando cada vez mais diferente desde a sua fama, com tratamentos de clareamento sobre uma imagem cada vez mais elitizada. Sabendo disso, vale a reflexão: será que Anitta é aceita por ser reconhecida como uma mulher branca ou terá embranquecido em busca de aceitação? Se outras funkeiras passassem por um processo de embraquecimento e elitização classial, seriam elas abraçadas pelos programas da televisão aberta nos mais diversos horários?
Esse processo não diz respeito somente ao embranquecimento de características físicas, como cabelos lisos, pele clara e nariz fino, mas está também relacionado à repressão da sexualidade feminina. O funk bem aceito socialmente é aquele que constrói uma sensualidade feminina tolerável, que não intimida o machismo. E a sexualidade feminina que é aceita é aquela que não causa choques. A Valesca Popozuda é um bom exemplo: embora em sua aparência atual ela seja vista como uma mulher “morena clara”, ou em alguns casos até mesmo branca, o modo como lida com o sexo sem eufemismos faz com que sua expressão artística seja repudiada socialmente.
Artistas femininas sofrem uma imposição de limite sobre a sensualidade, que só pode ser expressada de modo comedido e elitizado: uma mulher que rebola na MTV é muito mais aceita artisticamente do que aquela que rebola em um baile funk no morro. É extremamente importante notar, no entanto, que nenhuma mulher é plenamente aceita ao expressar sua sexualidade. Ao final do dia, todas essas mulheres têm algo em comum: todas elas são transformadas em objetos de consumo.
Ser consumida, nesse caso, significa oferecer a sensação de controle ao público masculino. A mulher objeto de consumo deve expressar sensualidade, mas não ao ponto de fazer com o que o homem se sinta ameaçado, nem na eminência de ser “traído”. Caso a mulher expresse sua sexualidade de forma objetiva e direta, ela é tida como uma “vadia” indigna de valor e seriedade. A mulher negra, especificamente, carrega nos ombros o estereótipo de “mulher consumível” e descartável, para ser “usada” e jogada fora, ao contrário do produto mais cotado e duradouro: a mulher branca. Essa é a realidade da misoginia: as mulheres são tratadas como mercadorias, algumas mais valorizadas do que outras.
Embora a questão da branquitude de Anitta seja debatível perante nossos olhos, o problema é muito mais profundo e está entranhado em diversas nuances da sociedade. A questão não é atribuir uma identidade a Anitta ou outras artistas brasileiras, mas sim levantar o questionamento sobre a possibilidade de sucesso e a aceitação social dependerem de uma branquitude, seja ela real ou imposta. Uma pele clara e um cabelo liso combinados com uma sexualidade moderada e restrita são necessárias para o sucesso das mulheres.
Seja ao chamar mulheres negras de morenas ou ao aceitar o “branco” como padrão, o racismo articula com a violência imposta sobre as classes desfavorecidas e encontra seu apogeu quando atua de forma machista. É preciso trazer todas essas nuances para o debate e trabalhar para destruir essas violências. A forma como as opressões atuam não é sempre tão óbvia, tampouco tão simplista. São necessárias uma dialética e uma visão abrangente, não polarizada, para que possamos transformar nossa cultura e conquistar a dignidade que é usurpada de tantas mulheres.
No entanto, há pelo menos um exemplo atual de mulher que veio do funk e é amplamente aceita e celebrada na mídia: a Anitta. Enquanto as outras artistas têm suas raízes no funk tradicional com letras explícitas, a Anitta é apresentada como uma funkeira voltada para a cultura pop, com uma produção higienizada e pronta para o consumo. Artistas como a Anitta são reposicionadas em uma nova classe social, que embranquece suas expressões artísticas e as torna muito mais “adequadas” para a televisão brasileira.
Há divergências sobre os motivos que levam a Anitta a ter mais sucesso que outras artistas similares. Alguns ativistas acreditam ser devido a uma suposta branquitude. No entanto, enxergar Anitta como uma pessoa branca demonstra a naturalização do processo de embranquecimento racial. Em uma sociedade que tem como branca qualquer pessoa miscigenada de pele clara, o caso de Anitta merece no mínimo uma reflexão.
É preciso entender que a identidade que Anitta ou outras artistas possuem sobre suas cores é algo subjetivo, construído ao longo dos anos sob influência da sociedade. Não adianta relativizar o reconhecimento racial e reduzi-lo a uma questão de afirmação, pois compreender-se como negra não é um fator decisivo para que alguém seja tratada como negra; para isso acontecer, é necessário que a sociedade também consiga ver a negritude nessa pessoa.
A Anitta é um exemplo de uma mulher miscigenada que foi embraquecida e “enriquecida” para que o seu trabalho artístico fosse valorizado. A aparência de Anitta vem se tornando cada vez mais diferente desde a sua fama, com tratamentos de clareamento sobre uma imagem cada vez mais elitizada. Sabendo disso, vale a reflexão: será que Anitta é aceita por ser reconhecida como uma mulher branca ou terá embranquecido em busca de aceitação? Se outras funkeiras passassem por um processo de embraquecimento e elitização classial, seriam elas abraçadas pelos programas da televisão aberta nos mais diversos horários?
Esse processo não diz respeito somente ao embranquecimento de características físicas, como cabelos lisos, pele clara e nariz fino, mas está também relacionado à repressão da sexualidade feminina. O funk bem aceito socialmente é aquele que constrói uma sensualidade feminina tolerável, que não intimida o machismo. E a sexualidade feminina que é aceita é aquela que não causa choques. A Valesca Popozuda é um bom exemplo: embora em sua aparência atual ela seja vista como uma mulher “morena clara”, ou em alguns casos até mesmo branca, o modo como lida com o sexo sem eufemismos faz com que sua expressão artística seja repudiada socialmente.
Artistas femininas sofrem uma imposição de limite sobre a sensualidade, que só pode ser expressada de modo comedido e elitizado: uma mulher que rebola na MTV é muito mais aceita artisticamente do que aquela que rebola em um baile funk no morro. É extremamente importante notar, no entanto, que nenhuma mulher é plenamente aceita ao expressar sua sexualidade. Ao final do dia, todas essas mulheres têm algo em comum: todas elas são transformadas em objetos de consumo.
Ser consumida, nesse caso, significa oferecer a sensação de controle ao público masculino. A mulher objeto de consumo deve expressar sensualidade, mas não ao ponto de fazer com o que o homem se sinta ameaçado, nem na eminência de ser “traído”. Caso a mulher expresse sua sexualidade de forma objetiva e direta, ela é tida como uma “vadia” indigna de valor e seriedade. A mulher negra, especificamente, carrega nos ombros o estereótipo de “mulher consumível” e descartável, para ser “usada” e jogada fora, ao contrário do produto mais cotado e duradouro: a mulher branca. Essa é a realidade da misoginia: as mulheres são tratadas como mercadorias, algumas mais valorizadas do que outras.
Embora a questão da branquitude de Anitta seja debatível perante nossos olhos, o problema é muito mais profundo e está entranhado em diversas nuances da sociedade. A questão não é atribuir uma identidade a Anitta ou outras artistas brasileiras, mas sim levantar o questionamento sobre a possibilidade de sucesso e a aceitação social dependerem de uma branquitude, seja ela real ou imposta. Uma pele clara e um cabelo liso combinados com uma sexualidade moderada e restrita são necessárias para o sucesso das mulheres.
Seja ao chamar mulheres negras de morenas ou ao aceitar o “branco” como padrão, o racismo articula com a violência imposta sobre as classes desfavorecidas e encontra seu apogeu quando atua de forma machista. É preciso trazer todas essas nuances para o debate e trabalhar para destruir essas violências. A forma como as opressões atuam não é sempre tão óbvia, tampouco tão simplista. São necessárias uma dialética e uma visão abrangente, não polarizada, para que possamos transformar nossa cultura e conquistar a dignidade que é usurpada de tantas mulheres.
Por Jarid Arraes para as Blogueiras Negras
http://blogueirasnegras.org/2013/08/16/anitta-embranquecimento-e-elitizacao/?fb_source=pubv1
SOBRE JARID ARRAES
Educadora sexual, feminista, ativista pelos Direitos Humanos e estudante de Psicologia. Trabalha voluntariamente com o grupo FEMICA – Feministas do Cariri e com o FQC – Feminismo Que Cola. Escreve no Mulher Dialética e no Guia Erógeno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário