quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

RESPONSABILIDADE EMOCIONAL INFANTIL - Flávia Camargos


Foto by Juergen Kuprat

Hoje vim falar sobre uma coisa que venho me questionando bastante, que é sobre a responsabilidade emocional das crianças com elas mesmas, até uma questão cultural nossa, porque aqui no Brasil nós passamos muito “a mão na cabeça” das nossas crianças evitando ao máximo que elas sintam toda e qualquer responsabilidade, ao máximo que podemos, por exemplo, minha mãe mesmo tinha pena de me colocar no período da manhã na escola, eu ia a tarde, enquanto criança, o máximo de tempo que ela pode decidir.


As brincadeiras eram primeiro, prá depois virem as obrigações, afinal eu era muito criança ainda, e vejo que ainda é assim na nossa sociedade, e é exatamente por isso que pensamos como pensamos e agimos como agimos, e tanto emocionalmente como na parte prática de nossas vidas, nós brasileiros não temos muitas medalhas de ouro e achamos que o importante é competir, é participar, se ganhar ganhou, mas não importa se você é perdedor, aliás, perder é sinônimo de nobreza porque afinal, você foi lá e tentou, claro que não culpo minha mãe, ela também aprendeu assim, mas de tanto eu observar e estudar, graças a mim, mudei meus pensamentos a respeito disso, o importante é vencer naquilo que queremos e quem pensa assim na nossa sociedade acaba sendo visto como arrogante, pretensioso e por acreditar em si mesmo, a pessoa “se acha”, mas não é só nesse aspecto que tenho me atentado, e percebo o quanto tiramos a responsabilidade das nossas crianças em deixá-las aprenderem a lidar com suas próprias emoções, e quando crescem, crescem perdidas de si, e vão parar lá no consultório.


Então além de um alerta aos pais em relação às práticas de responsabilidades do dia a dia escolares, aprendizados, limites e disciplinas, quero enfatizar o quanto é importante que os pais façam as crianças perceberem que elas à partir dos 6 anos, já podem sim lidar com as suas dores emocionais, perdas, raivas, para que vão aprendendo saber o que fazer com elas e não começarem a jogar tudo nos outros como aprendemos desde crianças, na minha época, e que agora já é tarde de mais prá que fechemos os olhos prá isso e continuemos com esses comportamentos infantis que nem as nossas crianças mais podem se dar ao luxo de ter. Eu não sou mãe, mas tenho sobrinhos, e sei bem como é bem mais fácil educar do modo antigo, mas podem ter certeza de que quem realmente ama, vai preferir dispor de um tempinho a mais e ver um ser humano feliz lá na frente do que um infeliz, imaturo, doente e cheio de problemas quando crescer, como sempre a escolha está nas nossas mãos.


Então, quando dizem que as crianças são espelhos dos pais, da família que convive, tenho algumas ressalvas a respeito disso, porque antes dela fazer parte desse convívio ela é um ser humano com uma essência pronta, com um temperamento que já nasceu com ela, senão todos nós seríamos muito iguais aos nossos semelhantes e não somos, não é apenas na adolescência que começamos a nos diferenciarmos de nossos pais ou de que nos criou, claro, que agimos de acordo também com o meio onde vivemos, mas à partir dos 6 anos em que já há um entendimento maior das nossas cognições podemos e devemos começar a deixar que a criança comece a entender algumas responsabilidades internas, como por exemplo, a caçula de 6 anos de idade apanha do irmão mais velho de 8 anos porque ela mexeu em suas coisas, alguns psicólogos iriam averiguar se os pais apresentam algum comportamento agressivo, em alguns casos pode haver, em outros não, mas o fato seria mostrar ao mais velho que ele pode sentir raiva, é natural, mas agredir não, ele deve aprender a conter seus impulsos e desde já cuidar das suas coisas que não quer que sejam mexidas, ainda mais por uma criança mais nova, e para a caçula, que os brinquedos não são dela, afinal ela já tem capacidades mentais suficientes para entender isso, e se responsabilizar por suas atitudes, e os pais não devem interferir como muitos fazem brigando com o mais velho para defender o mais novo. Assim, cada um assumindo as suas responsabilidades vão aprendendo a lidar tanto com as emoções geradas no dia a dia quanto com a prática de limites, disciplina, regras e normas de uma educação saudável e responsável, sem brigas e muito menos agressões de qualquer espécie. E infelizmente é nessas horas que a maioria dos pais se exaltam pelo cansaço, por quererem educar a qualquer custo impondo regras que muitas vezes as crianças nem entendem os porquês das coisas, sendo que quando a responsabilidade entra em ação o entendimento é claro, não há desgaste, há diálogo, resolução definitiva e logo eles já associam em outras circunstâncias da vida, porque quando passamos a nos responsabilizar pelas coisas, aprendemos a colocar em prática em tudo, e a vida passa a ser muito mais fácil.


Vamos então tentar fazer crianças vencedoras tanto em casa quanto na vida, chega de poupar as nossas crianças como se elas fossem limitadas, porque é isso que ainda infelizmente muitos brasileiros fazem, limitam seus filhos e depois reclamam da sociedade como está.


Uma outra coisa que faz com que a isenção de responsabilidade nas crianças ocorra, é a crença equivocada nessas crianças e até um certo período da adolescência de que os adultos sabem de tudo, eu mesma demorei prá perceber que os adultos também não sabiam das coisas, que também não sabiam o que estavam fazendo com suas próprias vidas e não sabiam muitas respostas, e por terem me isentado de muitas responsabilidades eu acreditava que quando eu fosse adulta eu saberia fazer, eu saberia agir, que quando chegasse a hora eu saberia o que fazer e quando me dei conta disso, que era bem o oposto me vi tendo que saber e me virar sozinha e dando conta das minhas emoções e responsabilidades, sendo que se tivessem me mostrado de uma outra forma antes, se tivessem feito com que eu me responsabilizasse pelas minhas faltas emocionais antes, eu teria evitado muitas coisas, a mim foi bom tudo isso, mas prá muitas pessoas pode não ser, podem não conseguir assumir as responsabilidades de uma forma assertiva, e se perderem em si mesmos e na vida. Cabe a nós adultos, educadores, psicólogos e pais começarem a nos atentar a essa realidade de não deixar ao leu o crescimento das crianças como sendo apenas crianças espelhos, sem responsabilidades, sem aprenderem com as suas faltas internas mesmo que abandonadas quando pequenas, ou qual o problema familiar se encontrarem, elas é que precisam aprender a começarem a se responsabilizar pelas faltas e carências emocionais que em suas vidas aparecerem, claro que não de uma forma a ser tratada como um adulto, mas iniciando um processo de aprendizado, e esta é a chave do seu auto valor, de aprender a não deixar a sua vida nas mãos de ninguém, de não culpabilizar mais nada e ninguém dos seus fracassos e medos, e quem sabe não precisarmos mais ter sequer um consultório psicológico para adultos.

نجاحFlávia Camargoنصرة

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