terça-feira, 25 de janeiro de 2011

QUANTO CUSTA A FALTA DE SINTONIA (EMPATIA) - Daniel Goleman (INTELIGÊNCIA EMOCIONAL)


continuação ... publicação do dia 21/01/11


Stern afirma que, com essas repetidas sintonizações, o bebê começa a desenvolver o sentimento de que outras pessoas podem partilhar e partilham de seus sentimentos. Esse sentido parece surgir por volta dos 8 meses, quando os bebês começam a compreender que não estão em simbiose com as outras pessoas, e continua a ser moldado por relacionamentos íntimos durante toda a vida. Quando os pais não estão em sintonia com um filho, isso é profundamente perturbador. Num experimento, Stern fez com que as mães deliberadamente respondessem com mais e com menos intensidade a seus bebês, em vez de se igualarem de modo sintonizado; os bebês reagiram com imediata consternação e angústia.

Uma prolongada ausência de sintonia entre pais e filhos impõe um tremendo tributo emocional à criança. Quando um dos pais repetidamente não entra em empatia com uma determinada gama de emoções da criança - alegria, lágrimas, necessidade de aconchego -, a criança começa a evitar expressar, e talvez mesmo sentir, esses tipos de emoção. Dessa forma, presume-se, séries inteiras de emoção para relacionamentos íntimos podem começar a ser apagadas do repertório, sobretudo se durante a infância esses sentimentos continuarem a ser tácia ou expressamente desestimulados.

Da mesma forma, as crianças podem vir a preferir uma infeliz gama de emoção, dependendo dos estados de espírito que lhes foram retribuídos. Mesmo os bebês "captam" estados de espíritos: bebês de 3 meses cujas mães estão deprimidas, por exemplo, refletiam esse mesmo estado de espírito quando brincavam com elas, exibindo mais sentimentos de ira e tristeza, e muito menos curiosidade e interesse espontâneos, em comparação com bebês cujas mães não estavam deprimidas.

Um mãe, no estudo de Stern, sempre reagia com pouca intensidade ao nível de atividade de seu bebê; o bebê acabou aprendendo a ser passivo.
- Um bebê tratado desse modo aprende: quando eu fico excitado, minha mãe não fica igualmente excitada, logo, talvez seja melhor nem tentar". - Os relacionamentos de toda a vida - com amigos ou parentes, por exemplo, ou na psicoterapia - remodelam continuamente nosso modo funcional de tê-los. Um desequilíbrio num ponto pode ser corrigido depois; é um processo contínuo de uma vida inteira.

Na verdade, várias teorias da psicanálise vêem a relação que se estabelece entre analista e analisado como proporcionando exatamente esse ajustamento emocional, uma experiência reparadora de sintonização. Espelhar é o termo empregado por alguns pensadores psicanalíticos para designar o fato de o terapeuta ser, para o paciente, o reflexo de seu estado interior, como faz uma mãe sintonizada com o seu bebê. A sincronia emocional é tácita e fora da consciência, embora o paciente possa extrair um grande prazer da sensação de que está sendo profundamente reconhecido e entendido.

Os custos emocionais, para toda uma vida, decorrentes da falta de sintonização na infância podem ser grandes - e não só para a criança. Um estudo sobre criminosos que praticam os crimes mais cruéis e violentos constatou que o que lhes caracterizava e os distinguia de outros criminosos é que, na infância tinham sido mandados de uma casa de adoção para outra, ou criados em orfanatos, ou casas de parentes - históricos de vida que sugerem abandono emocional e pouca oportunidade de sintonização.

Enquanto, o abandono emocional parece embotar a empatia, há um resultado paradoxal quando ocorre abuso emocional intenso e constante, incluindo ameaças cruéis e sádicas, humilhações e maldade pura e simples. As crianças que sofrem tais abusos podem tornar-se hiper-abertas para as emoções daqueles que as cercam, o que é equivalente a uma vigilância pós-traumática para detectar indícios que anunciem ameaça. Essa preocupação obsessiva com os sentimentos dos outros é típica de crianças psicologicamente maltratadas e que, na idade adulta, sofrem os mercuriais altos e baixos às vezes diagnosticados como "distúrbio limite de personalidade". Muitas dessas pessoas têm o dom de sentir o que sentem os que as cercam, e é muito comum relatarem que sofreram abusos emocionais na infância.

Daniel Goleman

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