Antes de mais nada, e mesmo sem saber se sentiram falta ou alívio, vos digo: estava Rio Negro abaixo, no “Navegar é preciso”, projeto da Livraria da Vila (SP) que leva escritores selva amazônica adentro para encontros com os leitores. Foi bonita a festa, pá, fiquei contente.
No que meditei e repito o mantra e a crônica: Só um chifre humaniza um macho.
Daqueles bem parafusados pelo destino em nossas testas ou frontes de artistas. Nem que seja apenas como arma de vingança, como reza a lírica do cancioneiro de Carlos Alexandre, o gênio potiguar dos românticos dizeres.
Um chifre daqueles que nos faz furar o LP com Stephanie Says, do Velvet, ou nos põe como a última das criaturas, ao sentir as batidas dos pingos da tempestade contra a vidraça.
Aí entra Tom Waits, que gorjeia This One’s From The Heart, aquela do fundo coração, o filme de Francis Ford Coppola.
Posso tocar mais uma da fita O Fino do Corno, que acabo de gravar aqui no velho cassete das antigas?
Então lá vai, lá vai, roda, segura aí, peça logo outra cerveja: Les Amours Perdues, do gênio Serge Gainsbourg. Essa é para chorar, como convém a quem deixou rastros de incompetência e de vacilos sentimentais pelo caminho.
Chifre posto, lá estamos nós, répteis do amor (agora entra Por que me Arrasto aos teus Pés, do rei Roberto, para coroar a breguice dos humilhados e ofendidos), carentes como um poodle.
E essa nossa loucura, muitas vezes, não deve ser tributada simplesmente à febre amorosa que estoura na pele e mancha o caroço dos olhos. Enlouquecemos mais pelo ego de macho, que não suporta uma “literatura comparada”, uma derrota.
Enlouquecemos, na maioria das vezes, mais pelo ego de macho do que pela perda. É difícil saber o que é amor e o que é orgulho em um coração caubói.
É o medo do cabrón diante das comparações.
Tudo que queremos saber é apenas se o adversário, a quem sempre vemos, de imediato, como o Pelé do tantra, o Cassius Clay do priapismo, é mesmo o tampa-de-Crush, a bala que matou Kennedy, o tal da química de pele, o cão do terceiro livro… Perdeu, playboy!
Aí insistimos, insistimos, insistimos na nossa babaquice, até que ouvimos mesmo, daquela ingrata, que perdemos o embate, o jogo, o clássico do sobe-e-desce, o decisivo mata-a-mata nesse faroeste empoeirado dos nossos inconscientes.
A comparação é o golpe fatal.
E que gazela perderia a chance, diante da perguntado imbecil, de empurrar o sujeito para o abismo?! Aí não tem cachaça ou uísque que curem. É o fim. O mais confiante dos homens sucumbe nessas horas.
E se a moça, toda saltitante, aparecer na firma com aquele sorriso franco, aquela pele remoçada… Nunca vamos imaginar que possa ter sido apenas uma combinação perfeita entre o tarja preta e o creme de vitamina C + coenzina Q10, obra e graça da renovadora indústria coméstica!
Sempre pensaremos no desastre-mor, no grito selvagem (dela) de prazer.
Sempre achamos que a desgraçada, a miserável, descobriu, finalmente, todos aqueles multiorgasmos fresquinhos anunciados toda semana pela revista Nova.
A capa da Nova é a primeira imagem que temos. A perua toda feliz com a carga elétrica de 220 wolts que recebeu do canalha.
É assim mesmo. Pois a vida é simples e sempre vai imitar aquela singela crônica de Rubem Braga. Lá para as tantas, uma tal de Joana entra no carro de um palhaço, toda aconchegada a ele, meio tonta de uísque, vai para o apartamento do monstro – um imbecil que não sabe uma só palavra de esperanto.
A vida é triste, Sizenando, conclui o escriba, a quem agora fazemos coro.
E no toca fita do meu carro, como canta agora Bartô Galeno, uma canção me faz lembrar você…
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