sexta-feira, 20 de abril de 2012

O PROIBIDO E O IMPOSSÍVEL - PERDAS NECESSÁRIAS por Judith Viorst



Por mim e pela minha filha, Maria Eduarda Carrilho
Roberta Carrilho




“A realidade psíquica sempre será estruturada com base nos pólos da 

Ausência e da diferença; e... os seres humanos sempre
Precisarão se adaptar ao que é proibido e ao que é impossível”.

Joyce McDougall


QUANDO VOCÊ VAI LEVAR O NOVO BEBÊ DE VOLTA PARA O HOSPITAL?

“Pois o erro gerado nos ossos

De cada mulher e cada homem
Deseja o que não pode ter.
Não o amor universal,
Mas ser amado sozinho”.
W. H. Auden


O amor pode ser a ponte entre um eu separado e outro eu separado, mas o amor que imaginamos inicialmente é algo só nosso, um amor indivisível e que tudo abrange. Entretanto, logo começamos a perceber que o amor que recebemos não é exclusivamente nosso, existem outros com direito ao amor do nosso amor verdadeiro, que desejamos e não podemos ter. Ou seja, nós almejamos o impossível. 

Uma garotinha acorda na manhã de Natal e encontra o presente que queria – uma gloriosa casa de bonecas, com pequenos cômodos atapetados, papel de parede, lustres e móveis. Olha para a casa encantada, e nisso a mãe, com um leve toque no braço dela, faz-lhe uma pergunta simples e terrível: será que ela é capaz de ser generosa, agir como adulta e compartilhar o presente com a irmã mais nova, Bridget? 

Fiquei pensativa. 

Aquela pergunta, a simples pergunta de minha mãe... foi a coisa mais complexa que já me tinham perguntado. Pensei durante um minuto inteiro, com meu coração parado, meus olhos piscando, meu rosto rubro de fúria. Era uma pergunta capciosa, bilateral, que saltava para frente e para trás, agora-você-vê-agora-não-vê, o truque de um mágico supremo capaz de transformar – com um perfeito gesto de prestidigitação – alguns segundos de tranquilidade numa eternidade de caos. A verdade: não, sob nenhuma circunstância, de modo algum eu queria compartilhar a casa de bonecas com Bridget... Ou a verdade: sim, é claro que eu queria compartilhar com Bridget, não só porque isso agradaria minha mãe e demonstraria o quanto eu era generosa e crescida, mas também porque eu sabia que amava Bridget profundamente, e me identificava com seu desejo quando ela tocava timidamente a miniatura do relógio de carrilhão no hall em miniatura (‘Tire essa mão horrível daí’, eu tinha vontade de gritar, ‘até eu permitir que toque no relógio’). Bridget ignorava beatificamente minha dor, meu conflito. Antes daquela pergunta, jamais tive consciência de odiá-la ou amá-la tão completamente. Nunca mais fui capaz de sentir o mesmo que sentia por minha irmã, nunca mais consegui ignorar o que sentia por ela. E nunca consegui brincar com a casa de bonecas. Finalmente, ela foi dada a alguém. 

Poucos podem lembrar com tanta clareza, com a escritora Brooke Hayward, os sentimentos de ódio angustiante da primeira infância. Além disso, nossa dignidade de adultos não permite à lembrança da força possessiva e da cobiça que alimentava aquele ódio. Mas, no começo, todos nós desejamos a possessão exclusiva dos nossos tesouros, incluindo nosso primeiro tesouro – o amor da nossa mãe. E não queremos que ninguém mais receba ou tire o que só a nós pertence. 

Pois o que sobrará para nós se compartilharmos o que temos com um rival? Algo menos do que tudo é suficiente? O desejo de ser o único amado provavelmente nasce conosco. Furiosa e dolorosamente, com maior ou menos sucesso, aprendemos a renunciar a esse desejo – e deixar que desapareça. 

“Uma criança pequena não ama necessariamente os irmãos”, diz Sigmund Freud; “de modo geral, obviamente não os ama... Ela os detesta como competidores, e é sabido que essa atitude pode perdurar muito tempo, até a maturidade, ou mesmo mais tarde, sem interrupção”. 

Negamos o sentimento de ódio em nós ou em nossos filhos, devido ao desconforto que ele nos causa. É mais fácil chama-lo de um mito freudiano. Contudo, as reações de como um primogênito costuma encarar o novo bebê: “Quer dizer que ele vai ficar?”, ou: “Quando vai levar o novo bebê de volta para o hospital?”, ou ainda: “Enfia ele no cesto de roupa suja e fecha a tampa”, e mais: “Para que precisamos dele?”, demonstra, de forma refinada, a “intensa aversão” que meu dicionário define como ódio. 

Primeiro item: há alguns anos meu amigo Harvey tomava conta do filho de três anos, enquanto a mulher e o novo bebê estavam ainda no hospital. Tudo parecia calmo. Mas, em certo momento Harvey perguntou a Josh, que estava ao seu lado com papel e lápis de cera: “Que tal fazer um bonito desenho para mim?” E Josh respondeu, olhando friamente para o pai: “Não enquanto você não se livrar daquele outro garoto”. 

Segundo: as crianças de mães que as levavam ao colégio em sistema de rodízio estavam falando sobre “a pior coisa que já aconteceu na minha vida”. Assim como quebrar o tornozelo. Ou cair da árvore. Ou um envenenamento por planta venenosa. Quando chegou a vez de Richard, ele disse: “A coisa pior e mais horrível que já me aconteceu, foi o nascimento da minha irmã”. 

Terceiro: “Muito bem, aqui está o novo bebê que você queria. O que tem a dizer?”, perguntei ao meu filho Tony quando nasceu o irmão Nicky. “Tenho que dizer”, respondeu Tony sem um momento de hesitação, “que mudei de ideia”. 

A rivalidade entre irmãos é normal e universal? Dez psicólogos em dez respondem que sim. E, embora possa ser mais intensa nos primogênitos, ou entre duas crianças (ou mais) do mesmo sexo, ou quando as idades são muito próximas, ou ainda quando as famílias são menores, não há dúvida de que todos nós somos tocados por esse sentimento de rivalidade, do qual ninguém fica completamente isento. Pois nós todos experimentamos, nos primeiros meses de vida, a ilusão de possuir completamente nossa mãe. A simbiose ocorre estritamente entre mamãe e eu. Verificar que outros têm direitos iguais e até mesmo maiores sobre ela, significa nossa iniciação ao ciúme. 

Naturalmente, isso não significa a inexistência – pelo menos no futuro – de fortes elos de lealdade e afeição. Irmãos podem ser aliados e amigos íntimos. Mas é o ‘Gênese’, não Freud, que nos ensina: o primeiro crime de morte ocorrido na terra foi entre irmãos. É o ‘Gênese’, não Freud, que atribui a esse primeiro crime motivos muito semelhantes à rivalidade entre irmãos. 

E o Senhor respeitava Abel e suas oferendas, mas não Caim e suas oferendas. Revoltou-se Caim, e seu tosto encheu-se de sombras... Aconteceu então que, estando os dois no campo, Caim ergueu-se contra Abel e o matou. 

Matamos nossos irmãos e irmãs por terem mais ou menos um pouco do amor dos nossos pais. Mas essas mortes se realizam, em sua maior parte, dentro de nossa mente. E finalmente, aprendemos que a perda do amor indivisível é uma perda necessária, que amar vai muito além do relacionamento mãe-filho, que a maior parte do amor que recebemos neste mundo terá de ser compartilhado –e que isso começa em casa, com nossos irmãos e rivais. 

Isso não nos agrada. 

Realmente, Anna Freud inclui entre as características normais da primeira infância “ciúme e competitividade extremos” e “impulsos para matar os rivais”. Porém, embora a ideia de matar possa nos parecer um método muito eficiente para reconquistar o amor exclusivo da nossa mãe, logo aprendemos que atos hostis não conquistam esse amor, mas, ao contrário, o afastam. 

O perigo de perder o amor da mãe ou do pai – o amor dos que amamos – nos apavora, e é uma promessa de imensa ansiedade. Assim, quando a criança tem um impulso (“Destrua esse bebê!”) que pode provocar essa perda, procura afastá-lo. Por meio de um ou mais dos nossos mecanismos de defesa – quase todos inconscientes -, podemos manter afastada a ansiedade, opondo-nos resistindo, transformando, livrando-nos – nos defendendo – desse impulso perigoso, e agora indesejável. 

Essas defesas não se restringem aos problemas da rivalidade entre irmãos. Elas nos servem durante toda a vida, funcionando sempre que uma perda temida ou real começa a gerar ansiedade. Elas nos servem nas situações que inconscientemente consideramos perigosas emocionalmente. E, embora façamos uso de uma ou outra em determinados momentos, aquelas às quais recorremos com maior frequência tornam-se parte central do nosso estilo e caráter. 

Aqui estão os nomes e os significados dos mais comuns mecanismos diários de defesa. 

E aqui está como podemos fazer uso deles para enfrentar aquele impulso de “destrua esse bebê”, quando ele ameaça fazer com que percamos o amor da nossa mãe. 

REPRESSÃO significa empurrar o impulso indesejado (e qualquer lembrança, emoção ou desejo associados a ele) para longe do consciente. Assim, “não sinto conscientemente vontade de machucar este bebê”. 

FORMAÇÃO REATIVA significa manter o impulso indesejado longe do consciente, super enfatizando o impulso oposto. Assim: “Não quero machucar este bebê. Eu amo este bebê”. 

ISOLAMENTO significa separar uma ideia do seu conteúdo emocional, de modo que, enquanto perdura o impulso indesejado, todos os sentimentos ligados a ele são empurrados para longe do consciente. Assim: “Tenho esta fantasia constante de ferver meu irmão em óleo, mas tenho o menor sentimento de ódio contra ele”. 

NEGAÇÃO significa a eliminação de fatos indesejáveis, o impulso indesejável associado a esses fatos, reexaminando-os em nossas fantasias, palavras ou comportamentos. Assim: “Não preciso machucar o bebê porque continuo a me considerar filho único”. (Um maravilhoso exemplo de negação é a história da garotinha informada de que ia ganhar um irmão ou uma irmã). Ouviu aquilo num silêncio pensativo, depois ergueu os olhos da barriga da mãe para os olhos dela e disse: “Sim, mas quem vai ser a mamãe do novo bebê?”.

REGRESSÃO significa escapar do impulso indesejado voltando a um estágio anterior do desenvolvimento. Assim: “Ao invés de machucar o bebê que está tomando meu lugar ao lado de mamãe, eu serei o bebê”. 

PROJEÇÃO significa repudiar o impulso indesejado atribuindo-o a outra pessoa. Assim: “Não quero machucar esse bebê, ele quer me machucar”. 

IDENTIFICAÇÃO significa substituir o impulso indesejado por sentimentos mais bondosos e positivos, tornando-se outra pessoa – a mãe, por exemplo. Assim: “Ao invés de machucar o bebê, vou servir de mãe para ele”. 

VOLTAR-SE CONTRA SI MESMO significa dirigir o impulso hostil contra si mesmo, ao invés de ferir a pessoa que se quer ferir. Assim: “Em lugar de bater no bebê, vou bater em mim”. Às vezes, a pessoa com essa reação identifica-se com a pessoa que odeia. Assim: “Batendo em mim mesmo estou, na verdade, batendo no bebê”. 

ANULAÇÃO significa expressar os impulsos hostis por meio da fantasia ou de fato, e então reparar o dano causado com um ato de boa vontade. Assim: “Primeiro bato no bebê (ou imagino que bato no bebê) e depois anulo o mal que fiz beijando-o”. 

SUBLIMAÇÃO significa substituir o impulso indesejável por afinidades socialmente aceitáveis. Assim: “Ao invés de bater no bebê, vou fazer um desenho”. 

Ou talvez, como no meu caso (em resposta a minha irmã mais moça), a pessoa cresce para escrever sobre a rivalidade entre irmãos. 

Além desta lista dos assim chamados “mecanismos de defesa”, quase qualquer coisa pode servir para o mesmo fim. E outra tática importante, usada por muitos irmãos rivais, inclusive minha irmã mais moça, Lois, e eu, consiste em fazer a distinção entre nós e o irmão ou irmã, concedendo ao rival um conjunto de características e a nós outro conjunto... oposto. Essa tática defensiva é chamada “desidentificação”, e, em termos práticos, significa dividir os campos de luta. A desidentificação, compreendi afinal, foi de crucial importância no meu relacionamento com minha irmã. 

Pois, dividindo os campos, tornamo-nos completamente diferentes. Deixamos de ser rivais. Não mais tomávamos parte nas mesmas corridas. Definindo-nos em termos opostos (ar livre/dentro de casa, cientista/escritora, extrovertida/introvertida, lugares diferentes), minha irmã e eu conseguimos enfrentar nossa competitividade e nossos ciúmes, evitando competições e comparações dolorosas. 

A desidentificação começa mais ou menos aos seis anos, geralmente entre o primeiro e o segundo filho do mesmo sexo. Permite a duas irmãs ou dois irmãos – como permitiu a Lois a a mim – sentir que cada um tem o que é seu. Ambos podem se sentir superiores. Antigamente, eu acreditava que os não-conformistas eram mais interessantes do que as pessoas convencionais, ao passo que minha irmã, com a mesma presunção, acreditava que pessoas iguais a ela eram confiáveis – é claro, em contraste com os levianos não-conformistas. E houve um tempo em que eu acreditava que era nobre ser introvertida. E Lois acreditava que era mais saudável ser extrovertida. 

Todos saíram ganhando. 

Uma parte daquilo que os irmãos dividem podem ser a mãe e o pai. Assim, pareço-me mais com minha mãe e Lois com meu pai. Separando os pais e possuindo direitos reais de identificação com um deles, cada uma de nós encontrou o próprio nicho não-competitivo. 

Mas essa polarização de papéis – para minha irmã e eu, para qualquer par de irmãos – tem graves limitações. Suponhamos que nós duas tivéssemos tendência para a ciência, ou para a literatura. Teríamos fechado uma parte de nossa natureza, que nos enriqueceria mais se fosse explorada. Podíamos ter sido cada uma apenas a metade de um ser humano completo. Além disso, há famílias onde os pais – não os irmãos – são os que insistem em dividir os campos de ação, marcando os filhos com etiquetas que vão desde atividades contrárias à natureza do filho, até a imposição da vocação, decidindo: “Você é bonita. Ela é inteligente. Você é alegre. Ela é melancólica. Você tem bom-senso. Ela tem talento”. Mesmo quando a intenção é reduzir a rivalidade entre irmãos, dando a cada filho uma identidade separada, mas igual, pode decorrer um longo e custoso processo até que dois irmãos ou duas irmãs se libertem das etiquetas e comecem a procurar saber o quer realmente são. 

(May, com 25 anos, afirma: “Minha mãe costumava dizer que Margot era a ‘gêmea inteligente, e May a ‘gêmea bonita’. O resultado dessa caricatura constante foi que ainda estou tentando provar o quanto sou inteligente, e Margot tentando provar o quanto é bonita”). 

Entretanto, a definição de um eu específico e distinto, um eu claramente diferente do de nosso irmão ou irmã, pode nos livrar de chegar em segundo lugar, ou de matar para vencer. Aos seis anos, ou em qualquer idade, a defesa de desidentificação oferece um alívio enorme à rivalidade entre irmãos. 

Sarah, de trinta e poucos anos, diz que ainda costuma dividir os papéis sempre que se sente ameaçada por outra mulher, dizendo a si mesma que o que ela tem, aquela mulher não tem, e o que ela é, aquela mulher não pode ser, e depois disso pode ver e aceitar as qualidades positivas da mulher – exatamente como aceitou as da irmã, há três décadas. 

“Se ela é bem-sucedida e linda, mas não tem filhos, digo para mim mesma”, conta Sarah, “que eu tenho filhos”. 

“E se ela é bem-sucedida, linda e também tem filhos, digo para mim mesma”, conta Sarah – que as feministas a perdoem -, “que os meus são todos homens”. 

O modo pelo qual resolvemos, ou não resolvemos, nosso sentimento de rivalidade fraterna geralmente nos acompanha até a vida adulta. E, muito depois do fim da infância, em outras cidades, em outros relacionamentos, podemos repetir nossa reação. 

Ela pode ser às vezes, como a de Sarah, basicamente construtiva. Mas muitas vezes não o é. 

O psicólogo Alfred Adler observa que, quando a criança acha que pode lutar e vencer o irmão rival, “torna-se uma 
criança briguenta; se lutar não der resultado, pode perder a esperança, ficar deprimida e conseguir seus objetivos preocupando e assustando os pais...”. Assim, problemas de dinheiro, saúde, escola, relacionamentos sociais ou com a lei podem começar na infância e continuar até muito mais tarde, e podem ter como objetivo atrair a atenção dos pais, acostumados a aplaudir irmãos mais bem-sucedidos. 

Existem outras táticas prejudiciais para se defender da rivalidade entre irmãos, táticas que podem moldar a vida adulta. 

Calvin, por exemplo, vinte meses mais moço do que o irmão Ted, desde o começo foi sempre o filho mais brilhante e mais competente. Mas quando começou a se expressar, a mostrar suas capacidades, a mãe aparentemente, teve medo de que Ted se sentisse diminuído. Sua mensagem para Calvin era: “Não vença seu irmão. Contenha-se. Vá mais devagar. Desista. Se quer minha aprovação, jamais compita com Ted”. Essa mensagem, embora em grande parte não posta em palavras, foi por demais persuasiva. Calvin obedeceu. 

E agora, com quarenta anos, não consegue dar tudo o que tem: “No tênis, procuro melhorar meu jogo – não vencer. E no golfe”, diz ele, “posso ficar na frente até o décimo oitavo buraco, mas quando chego no décimo oitavo, sempre perco a partida”. No trabalho, como no esporte, o maior problema de Calvin, diz ele, é evitar a competição. Sonha com o sucesso, tem planos grandiosos, começa-os, mas... 

“Chego na beira da montanha e não consigo continuar”, diz ele, “Não posso correr o risco de vencer”. Pois, ser bem-sucedido no mundo competitivo significa, como ele lentamente chegou a compreender, “matar meu irmão e perder o amor de minha mãe”. 

Os psicólogos Helgola Ross e Joel Milgram, que publicaram um trabalho muito interessante sobre a rivalidade entre irmãos adultos, concluíram que essa rivalidade raramente é discutida entre os irmãos, ou com pais e amigos. Permanece como um segredo, um segredo vergonhoso, um segredinho sujo. E esse sigilo, dizem Ross e Milgram, pode ajudar a perpetuação da rivalidade. 

Assim, muitos irmãos e irmãs são rivais ferozes durante toda a sua vida. Jamais se libertam do ciúme e da competitividade. E, a despeito de tudo que possa estar acontecendo a eles em outro lugar qualquer, continuam intensamente confundidos um com o outro. 

Anne, de oitenta e nove anos, sente ainda ressentida contra a popularidade da irmã, enquanto esta, de oitenta e seis, ressente-se ainda do intelecto evidentemente superior de Anne. (Como vemos a desidentificação nem sempre funciona). 

E Richard e Diane atualmente competem para cuidar da mãe idosa (cada em quer ser a pessoa encarregada), uma competição que parece representar uma batalha final, na guerra para decidir quem vai ser coroado como o filho mais zeloso. 

E duas irmãs de meia-idade disputam ainda jogos de superioridade, mas agora competente por intermédio dos filhos e dos netos. 

E dois irmãos brilhantes – o escritor Henry e o filósofo William James – lutaram durante toda a vida pelo poder, uma luta que começou com o nascimento de Henry e tornou-se para eles “um modo prevalente de vida”. 

William costumava criticar o estilo literário de Henry, muito admirado, extremamente colorido – “Diga de UMA VEZ, pelo amor de Deus, e acabe logo com isso” - , e Henry certa vez queixou-se ao irmão: “Sempre tenho pena quando ouço dizer que você leu alguns dos meus livros, e sempre espero que não leia – você me parece basicamente tão incapaz de ‘apreciar’ o que escrevo ...”. E, num gesto supremo de quem acusa as uvas de ser verdes, William declinou de uma indicação para a Academia de Artes e Letras, porque, explicou, “meu irmão mais moço, mais superficial e mais vaidoso, já está na Academia” – em outras palavras, porque Henry chegou primeiro. 

Consideremos também as irmãs/atrizes Olivia de Havilland e Joan Fontaine, as quais, desde o nascimento, escreve Joan Fontaine, “foram encorajadas pelos pais e governantes à rivalidade...”, uma rivalidade inevitavelmente acentuada pela escolha da mesma carreira. Na noite em que Joan Fontaine recebeu o prêmio da Academia de melhor atriz, estava sentada bem de frente para Olívia, pensando, enquanto olhava para irmã: Finalmente eu tinha feito o máximo! Toda a rivalidade que havia entre nós quando crianças, os puxões de cabelo, as lutas selvagens, a vez em que Olívia quebrou minha clavícula, tudo voltava rapidamente em imagens caleidoscópicas. Fiquei completamente paralisada. Tinha a sensação de que Olívia ia saltar sobre a mesa e me agarrar pelos cabelos. Era como se eu tivesse quatro anos e estivesse enfrentando minha irmã mais velha. Diabo, mais uma vez eu estava provocando sua fúria! 

Billy Carter, ao contrário, parecia não ter medo de provocar a fúria do irmão mais velho. E Jimmy Carter suavemente anunciava que “eu amo Billy me ama”, permitindo que o irmão, durante todo o tempo em que Jimmy ocupou a presidência, fizesse de si mesmo um espetáculo público. Bebendo, dizendo o que não devia, envolvendo-se em complicações financeiras, Billy competia com Jimmy pela atenção do povo. E embora não tivesse meios para derrotar o irmão rival, virtuoso e bem-sucedido, podia – com sua conduta “de desprezo e não-arrependimento” – embaraça-lo e prejudica-lo. 

O psicólogo Robert White, falando sobe conflitos entre irmãos não resolvidos durante a infância, diz que irmãos rivais adultos competem ainda ‘pela atenção de pais que podem ser idosos, senis e até mesmo estar mortos’. E embora não tivesse meios para conduta “de desprezo e não-arrependimento” – embaraça-lo e prejudica-lo. 

Um técnico de laboratório, por exemplo, queixa-se do companheiro de trabalho três anos mais velho, que “está sempre me espionando. Implica comigo e acha errado tudo o que faço. Fico tão nervoso que cometo mais erros. Exatamente o que acontecia com meu irmão mais velho”. 

A editora de uma revista fica tão perturbada, quando Isabel, uma colega mais nova, é promovida antes dela, que precisa procurar ajuda psicológica. Por que a preferência do patrão por aquela jovem atraente e ambiciosa a deixou tão arrasada? Por que está sendo atormentada por sentimentos de ciúme, raiva e rejeição? 

“Descobri mais tarde”, diz ela, “que minha rival, mais moça do que eu, fazia-me lembrar vagamente minha irmã mais nova, Cynthia. O cabelo de Isabel era crespo como o de Cynthia, e ela era também muito insinuante – e eu sempre invejei isso. Compreendi também que Cynthia sempre fora a preferida de papai, e, por estranho que pareça, meu chefe lembrava meu pai com seus maneirismos. Percebi então que um drama da minha infância estava sendo novamente encenado. Ali estava o chefe, preterindo-me a favor de Isabel, exatamente como meu pai me ignorava a favor de Cynthia”. 

A rivalidade fraterna conjugal é algo que Pam finalmente chegou a compreender, depois de ter reencenado esse drama durante anos com o marido, John, cegamente envolvida por ele, até perceber que aquela divisão territorial entre eles: “Isto é meu, aquilo é seu, e fique longe do meu território”, era uma repetição exata do sei relacionamento hostil com a irmã mais nova. Por que sua atitude inflexível – na verdade, extremamente inflexível -, ao não permitir que John pusesse as camisas na sua mala? Por que ficava tão furiosa quando ele demonstrava o desejo de tomar parte num almoço que ela combinara com amigos – amigos especiais? E por que tinha tanta dificuldade em deixar que ele compartilhasse esses amigos? Ou uma escova? Ou um pedaço de bolo? Ou uma área do conhecimento? E por que ele não podia pendurar o paletó no lado dela no guarda-roupa, sem que Pam se irritasse? 

Finalmente, ela descobriu que estava transferindo para o marido a raiva que tinha da irmã quando ele invadia seu espaço. E, embora tenha ainda hoje uma tendência para dizer: “Isto é meu, aquilo é seu”, suas reações às invasões do marido são mais brandas do que a antiga: “Trate de ficar longe do que é meu”. 

Ao que parece, alguns dos padrões que repetimos mais tarde são determinados, não só por nossos pais, mas também por nossos irmãos. 

Freud diz: “A natureza e a qualidade do relacionamento do ser humano com pessoas do seu sexo, ou do sexo oposto, são determinadas nos primeiros seis anos de vida. Mais tarde, podem se desenvolver e se modificar em determinadas direções, mas nunca desaparecem. Os objetos desse tipo de fixação são os pais e os irmãos. Todas as pessoas tornam-se substitutas dos primeiros objetos desses sentimentos... sendo assim obrigadas a arcar com esse legado emocional...”.

Esse legado emocional é às vezes imposto à geração seguinte, quando julgamos um dos nossos filhos “igualzinho a mim”, enquanto que outro filho é visto como o irmão que foi objeto do mais profundo ressentimento da nossa infância. Há o exemplo da mãe que foi, na infância, a irmã mais nova sempre preterida. Cresceu cheia de raiva e inveja. Inconscientemente, moldou o primeiro filho à imagem da irmã mais velha. Na entrevista com um psiquiatra, quando interrogada sobre o desejo de dar ao filho mais novo o melhor quarto da casa, ela respondeu emocionalmente que “ela era a mais nova, e sempre sentiu que a irmã mais velha tinha o melhor de tudo e que ainda a odiava extremamente”. 

Como irmã mais velha, concordo e que os primogênitos sempre têm o melhor, mas estou certa de que recebem o pior também. Por um lado, experimentamos – durante meses, talvez anos além da união simbiótica – um relacionamento especial e exclusivo com nossa mãe. Por outro lado, nossa perda – a desse relacionamento especial e exclusivo – é maior para nós do que para os irmãos que vêm depois. O nascimento de um novo bebê pode provocar uma sensação de traição e de perplexidade. 

Mamãe diz que sou seu doce-de-coco. 
Mamãe diz que sou seu coelhinho. 
Mamãe diz que sou superespecial, maravilhoso, um garoto fantástico. 
Mamãe acaba de ter outro bebê. 
Por quê? 

Não há dúvida de que os pais costumam dar mais atenção e mais valor ao primeiro filho do que aos outros. É também do consenso geral que os pais são menos possessivos e exigentes para com os outros filhos. Assim, os mais novos podem invejar os direitos de primogênito do mais velho. E os mais velhos talvez sintam que os irmãos são tratados com maior indulgência. Em outras palavras, independentemente da posição na família, por ordem de nascimento, a criança pode provar sem nenhuma dúvida que está sendo preterida. 

E às vezes isso é verdade. 

Pois, embora os pais devam amar de modo mais ou menos igual todos os filhos, às vezes – porque um é mais inteligente, mais bonito, mais cordato, tem mais sucesso, é mais atlético, mais afetuoso, por ser homem – um deles recebe tratamento especial. 

No livro fascinante de Max Frisch, Stiller, por exemplo, há o curioso intercâmbio entre dois homens, Wilfried e Anatol, que vão ao cemitério para visitar os túmulos de suas mães, e depois vão juntos a uma taverna pra comparar suas impressões: 
“Aparentemente, a mãe dele era muito rigorosa”, escreve Anatol, “a minha, nem um pouco... Lembro-me de escutar pelo buraco da fechadura quando minha mãe contava a um grupo de amigos minhas palavras engraçadas e inteligentes... Nada disso jamais aconteceu com Wilfriend; a mãe dele temia que o filho jamais conseguisse coisa alguma...”.
Além disso, nota Anatol, a mãe de Wilfried era “uma mulher de espírito prático, que incutiu no filho, desde muito cedo, a ideia de que nunca poderia se casar com a mulher certa, se não ganhasse muito dinheiro”. A mãe de Anatol, ao contrário, era alegre e indulgente, e “dava mais importância às minhas qualidades interiores, certa de que eu poderia me casar com quem quisesse...”. 

Está claro que Anatol e Wilfried tinham mães completamente diferentes. Porém... era a mesma mãe. 

Os homens eram irmãos. 

Às vezes, o filho favorito abusa arrogantemente da sua posição especial. E às vezes sente-se culpado. Outras vezes, é aprisionado no papel de Melhor Filho. Mas, seja qual for a sua resposta, os irmãos e irmãs na certa o invejarão e ficarão ofendidos, e essa hostilidade pode ultrapassar a fase da infância. O bêbado Jamie, da peça de Eugene O’Neil, ‘A longa viagem para dentro da noite’, amargamente furioso com o irmão mais novo, admite que este foi uma “péssima influência para ele”. Por quê? Porque, diz ele: “Jamais eu quis que você tivesse sucesso na vida, para não me fazer parecer pior ainda, em comparação. Queria que você falhasse. Sempre senti ciúme de você. Filhinho da mamãe, preferido do papai!”. 

Contudo, mesmo quando os pais não demonstram favoritismo, a presença de irmãos ou irmãs significa um logro, uma perda – perda porque transforma os braços, os olhos, o colo, o sorriso e o seio inigualável da mãe, de um domínio particular, numa propriedade compartilhada. 

Como é possível que a criança não queira se livrar do irmão ou da irmã? 

Como é possível não sentir um pouco de rivalidade fraterna? 

Quando Josh, de três anos, viu a mãe abraçando o novo irmãozinho, disse, com a maior simplicidade: “Você não pode amar a nós dois. Quero que ame só a mim”. 

Ao que a mãe respondeu com sinceridade: “Eu o amo muito. Mas... não amo só a você”. 

E esse é um doloroso fato da vida que não pode ser negado. Temos de dividir o amor da nossa mãe com irmãos e irmãs. Nossos pais podem nos ajudar a enfrentar a perda do sonho do amor absoluto. Mas não podem nos fazer acreditar que não o perdemos. 

Contudo, é possível aprender – se tudo correr bem – que existe amor suficiente para todos. 

Pode-se aprender também que irmãos e irmãs oferecem a possibilidade de outro tipo de ligação familiar amorosa. 

Pois, embora a rivalidade entre irmãos costume provocar desconforto e sofrimento, pode nos acompanhar na mossa vida de adultos, pode vir a ser uma herança emocional legada a todos os outros tipos de relacionamentos, pode também subordinar-se a elos contínuos de amor fraterno. Na verdade, nos últimos anos cresceu o número de estudos sobre o relacionamento de irmãos durante a vida, estudos que focalizam não apenas a rivalidade, mas que identificam nos irmãos seres consoladores, protetores, modelos, incentivos para realizações, aliados leais e grandes amigos. 

Na verdade, às vezes, quando não têm mais os pais amorosos para apoiá-los, os irmãos podem se tornar o que os psicólogos Michael Kahn e Stephen Bank chamam de João e Maria, tão intensamente fiéis e mutuamente protetores quanto os irmãos do conto de fadas. Joãozinho e Maria geralmente compartilham uma linguagem especial, ficam aborrecidos quando precisam se separar, e consideram a harmonia desse relacionamento mais importante do que qualquer vantagem individual. Crescem com o compromisso de permanecerem juntos a todo custo, mesmo que tenham de excluir cônjuges e amigos. A lealdade ao irmão ou irmã vem sempre em primeiro lugar. 

Quatro irmãos – Eli, Larry, Jack e Nathan Jerome – tornaram-se Joõezinhos e Marias por ocasião da morte da mãe, e devido ao comportamento instável e às vezes violento do pai. Homens adultos hoje, a lealdade persiste. Vejamos o que diz Nathan: 
“Tenho certeza de que, se eu tivesse algum problema, as primeiras pessoas que vou procurar são meus irmãos. Não vou procurar meu pai. Não procuro os parentes da minha mulher. Procuro meus irmãos”.
E Larry diz: 

“Se vocês, meus irmãos, viessem a mim com alguma dificuldade, vocês sabem, academia, financeira, ou seja lá o que for... eu lhes darei meu último centavo. E estou falando sério, com toda a sinceridade, apesar da minha responsabilidade para com minha mulher e meus filhos”.
Joõezinhos e Marias são casos extremos de proximidade entre irmãos, e a intensidade do relacionamento sugere que o fracasso dos pais – ou alguma tragédia – os obrigou a abrir caminho sozinhos nos bosques cheios de bruxas. Joõezinhos e Marias têm menos probabilidade de se desenvolver em círculos familiares mais benignos, capazes de dar amor e proteção aos filhos. O que se forma, então, não tem a mesma intensidade, mas representa do mesmo modo um apoio carinhoso e uma união. 

Pois, com o tempo, a identificação com o progenitor carinhoso (“Vou ser como você e vou amar esta criança”), mais a formação reativa (“Talvez eu ame esta criança”), além do prazer de ter um companheiro para brincar, uma admirador, um seguidor ou um companheiro do “nós” contra o “eles”, representados pelos pais, podem finalmente moderar a rivalidade. E essa peste, esse intruso, esse competidor, esse ladrão do amor da mãe, pode vir a ser um amigo. 

“Somos irmãos”, ouvi dizer meu filho de oito anos, com imenso desprazer, respondendo à pergunta de um estranho. 

Com quinze anos, ele respondeu com orgulho e entusiasmo, com amizade e amor: “Somos irmãos”. 

Porém, mesmo quando a rivalidade continua na vida adulta, é possível uma mudança e uma reconciliação. Os antigos padrões persistem, mas não estão mais gravados em pedra. E, às vezes, os triunfos ou problemas de um irmão ou uma irmã podem alterar o equilíbrio do amor-ódio a favor do amor. Às vezes, uma crise na família pode aproximar os irmãos. O reconhecimento, em qualquer idade, das nossas dolorosas repetições pode nos libertar para modificar as coisas. Nem sempre precisamos continuar como sempre fomos. 

O psicólogo Victor Cicirelli, depois de mais de uma década de pesquisas sobre o relacionamento entre irmãos, define o elo fraterno como uma união sem igual nos relacionamentos humanos, por sua duração, seu igualitarismo e a divisão de uma mesma herança. Muitos irmãos, diz ele, mantêm contato até o fim da vida, sendo que as irmãs desempenham o papel principal na manutenção do relacionamento familiar e de apoio emocional. Num estudo sobre irmãos com mais de sessenta anos, Cicirelli descobriu que 83% deles descreviam o relacionamento com irmãos ou irmãs como “muito próximo”. E, uma vez que se sabe que a rivalidade diminui com a idade avançada, talvez o aperfeiçoamento e a renovação do relacionamento entre irmãos seja uma tarefa importante dos últimos anos de vida. 

Cicirelli, dando o devido valor à ambivalência de todos os relacionamentos humanos, observa também: “Podemos conceber a rivalidade como um sentimento sempre latente, que aparece com mais força em determinada circunstâncias, ao passo que a união é provocada por outras circunstâncias”. Mas, embora a rivalidade possa reviver em qualquer época da vida, podemos supor que crescer significa fazer as pazes com a perda do amor indivisível. 

A grande antropóloga Margaret Mead escreve, no seu livro autobiográfico ‘Blackberry Winter’: 
“Irmãs, durante a fase de crescimento, quase sempre agem como rivais, e como jovens mães tendem a continuar a rivalidade, comparando seus filhos. Mas, quando os filhos crescem, as irmãs aproximam-se, e geralmente na velhice transformam-se nas mais felizes e seletas companheiras”.
A Dra. Mead descreve, a seguir, como é bom compartilhar as lembranças da infância. Sei o que ela quer dizer.

Pois só com minha irmã Lois eu podia relembrar o spaniel Springer chamado Corky, a casa na Clark Street com uma gloriosa macieira no quintal, nossa mãe cantando “Os Dois Granadeiros” enquanto nos levava de carro para a praia, nosso pai treinando golfe na sala de estar, e uma governanta chamada Catherine que nos ensinou a dizer, quando fazíamos nossas preces à noite: “Deus abençoe minha mãe e meu pai, todos os meus parentes e amigos, e – Bing Crosby”. Irmãs e irmãos compartilham aquilo que nenhum outro contemporâneo (por mais íntimo que seja) pode compartilhar: os detalhes íntimos e significativos da história da família. 

Essa partilha, quando se consegue ultrapassar a rivalidade lançar as bases de uma conexão para o resto da vida, uma conexão que nos sustentará depois da morte dos nossos pais, depois que os filhos saírem de casa, depois de um casamento fracassado. Pois, embora irmãos e irmãs compartilhem uma perda – a perda do amor exclusivo da mãe -, essa perda pode nos trazer ganhos imensuráveis.

Judith Viorst



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Ainda faltam alguns capítulos... 



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