Foto by Roberta Carrilho - Tiradentes 2012
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Sábado eu saí para comprar um livro de histórias, aliás, dois livros para minha filha Maria Eduarda, pois a mesma, tem fome de saber. Ela adora escutar e se colocar dentro das narrativas infantis. As histórias para ela são uma verdadeira odisseia no mundo da imaginação. Principalmente as histórias de aventuras, de animais, de princesas, de romances e de amizades. Então, não tive alternativa, já que meu repertório não é tão vasto como a mente criativa do pai dela (HK), o jeito foi plagiar histórias de outros autores (rsrsrs).
No domingo a noitinha liguei para saber como andava seu coraçãozinho e como tinha sido o seu final de semana. E de repente, como de costume, lá vem ela com a pergunta que não quer calar:
- "mamãe me conta uma história?", já escovei os dentes, coloquei pijama e estou com a Jully deitada para dormir. (Era a Chácha, que foi rebatizada com o nome Jully, a cachorrinha que ela dorme abraçada).
Desta vez, eu estava “armada”, o suor e o aperto passou longe de mim. Ufa! Saquei os dois livros repletos de histórias infantis e me coloquei a passar o repertório para que ela pudesse escolher. Entre muitas, ela escolheu naquele dia 03 histórias.
A primeira foi: “O Senhor do Céu", depois "Os 7 irmãos" e por fim, o livro: “O rei maluco e a rainha mais ainda” (Fernanda Lopes de Almeida - Ed. Ática).
Contei as primeiras, ela adorou, riu e perguntou algumas coisas. Depois comecei a ler a história do livro citado. É uma história com vários diálogos entre a menina Heloísa e sua formiga própria. Resolvi ler com entonações diferentes, dando ênfase às falas de cada uma. Ela ria, e como sempre, muito atenta, prestava atenção em tudo, sem perder sequer um mísero detalhe.
A história é inteligente, muito envolvente e faz refletir. Em seus vários diálogos, utiliza-se de uma linguagem coloquial. É de fácil compreensão e o mais importante, traz embutido algumas lições de vida. (é uma metáfora complexa, o texto é singelo, mas de uma profundidade absurda, nos chama a reflexão). Veja um trecho do livro:
"... Por que sou a sua formiga. Só posso falar desses assuntos com você. Não posso falar com o vizinho.Heloísa sentiu um certo orgulho:- Não sabia que tinha uma formiga própria.- Claro que tem. Se todos têm, por que você não teria?- Todos têm? Nunca reparei.- É que, em geral, as pessoas andam tão preocupadas com a sua casa própria, com o seu carro próprio, que não dá para notar a formiga própria de cada um. Mas todos têm a sua, isso eu garanto a você.Heloísa estava desconfiadíssima:- Não estou acreditando em nada dessa sua conversa.- Pobre menina! Não acredita em nada, nem em ninguém. Com certeza foi abandonada sozinha no mundo, quando era bebê.Era demais tanto atrevimento:- Tenho pai, mãe e até avó, está ouvindo? - gritou Heloísa. - E se você veio aqui só para me incomodar pode ir dando o fora.- Estou incomodando?- Lógico. Não me deixa dormir e diz coisas que ninguém compreende.A formiga ficou quase louca de alegria:- Obrigada! Obrigada! Não pensei que fosse incômoda.Heloísa achou que ela estava caçoando, mas a Formiga puxou um lencinho e enxugou uma lágrima de emoção:- Hoje é o dia mais feliz da minha vida! Desde que você nasceu, eu me esforço para incomodá-la e, afinal, hoje estou conseguindo!- Mas por que esse esforço todo para me incomodar?- Porque só os incomodados é que mudam.- Agradeço o interesse, mas fique sabendo que não pretendo me mudar.A formiga fez cara de medo:- Nem diga uma barbaridade dessas, menina. Já pensou que perigo uma pessoa que não se muda?- Não vejo perigo nenhum.- Pobre menina! Não enxerga um palmo adiante do nariz.Não sabendo mais o que fazer, Heloísa pôs a língua de fora para a formiga. A formiga veio examinar a língua de perto:- Está suja. São as palavras presas que vão sujando a língua (...)".
Voltando, estamos ainda no 1º capítulo, mesmo assim, quando terminei de ler, ela disse de pronto:
- “mamãe às vezes eu guardo as palavras na minha boca igual à Heloísa (a menina do conto)”.
Eu perguntei, por quê?
- “porque eu não quero magoar e nem deixar as pessoas tristes comigo”.
E eu disse:
- Sabe filha, você está certa, as vezes temos que guardar as palavras na boca para não ferir os sentimentos das outras pessoas. Mas por outro lado, quando as palavras for do coração e trouxerem alegrias às pessoas, elas devem ser ditas.
Imagina se a mamãe guardasse na boca as palavras como: “Eu te amo filha”; “Estou com saudades de você"; "Você é meu orgulho” e etc; você não iria saber que é amada por mim. Você se sentiria triste em pensar que não têm o meu amor, não iria?
Ela disse:
- "Sim. Mas sabe mamãe, eu sempre me lembro daquela história que você me contou. A história daquele jardineiro que plantou uma árvore de amor.
"...Ele era um homem bondoso e colecionava um monte de sementinhas: amor, amizade, fraternidade e generosidade. Um dia, ele resolveu plantá-las. E daquelas sementinhas, cresceu uma linda árvore cheia de amor. E toda vez que o jardineiro sentia-se triste e solitário, ele ia até lá na sua árvore e colhia todo amor que precisava. E ficava feliz novamente. Enquanto, que seu vizinho invejoso e mal, não tinha sementes de amor, só sementes de orgulho, desconfiança e egoísmo. Como não tinha outras sementes, plantou aquelas assim mesmo. Dali nasceu uma árvore enorme, maior que a do jardineiro do amor, porque todo mal cresce mais rápido do que o bem. Ele vivia triste e sozinho. Não tinha amor!"
"Uma árvore de amor, os seus frutos são de amor; uma árvore de carinho os seus frutos também são de carinho; porém, uma árvore de maldades, os frutos são ruins e amargos".
Fiquei embriagada com a inteligência e sensibilidade da minha filha, tão novinha e com um coração tão generoso! Maior que ela. É uma benção esta menina! A cada dia, me sinto mais orgulhosa em ser sua mãe.
Ao final da nossa conversa, ela disse ainda:
- "mamãe eu te amo, te adoro e tenho paixão por você".
Eu não tinha entendido o final da frase, pois, ela tinha dito bem baixinho (creio eu que era para que a sua avó paterna não escutasse). Então, pedi para que ela repetisse. Porém desta vez, ela respondeu de forma firme:
"Tenho paixão por você mamãe".
Eu fiquei emocionada e ri ao mesmo tempo. Achei muito engraçado, e excessivamente amorosa a expressão: "tenho paixão por você mamãe". Esta tocou lá no fundo da alma, fôra demais para meu coração. Aí eu completei:
- filha, todas as vezes que eu converso com você, meu coração fica maior, e cresce ainda mais o meu amor por você. E como sempre para não ficar sem dar a última palavra, ela disse: eu também.
Roberta Carrilho
(a mamãe mais orgulhosa do mundo)
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