quinta-feira, 18 de março de 2010

A ÁGUIA E A GALINHA (PARTE II) - Leonardo Boff (uma metáfora da condição humana)

PARTE II

Como vivem as águias
A águia-fêmea choca somente dois ovos. A águia-macho é coadjuvante nesta tarefa familiar de incubação, que dura de 43 a 45 dias. Nasce então um primeiro filhote. Três a quatro dias após, o segundo. Aí o filhote recém-nascido comete um aguicídio: bica o irmãozinho recém-nascido até matá-lo. Somente um em quatro filhotes sobrevivem ao ataque do irmão mais velho. Essa crueldade é um mistério da natureza. Talvez se ordene à garantia do equilíbrio ecológico, já que as águias são predadoras vorazes a ponto de ameaçar a existência de outras espécies como as preguiças, os préas e outros animais de pequeno porte.

Quando filhote, a águia se alimenta do lhe é trazido já semidigerido no papo dos pais. Aos poucos vão trazendo presas maiores, picadas em pedaços. Por fim, entregam-lhe um coelho inteiro para que sozinha o despedace e coma.

Com idade de 75-80 dias, a águia-filhote já está adulta, do tamanho dos pais. Está madura para voar com independência. Já tem os olhos de lince, o bico encurvado, a língua dura e forte como pedra. Já lhe cresceram todas as penas, especialmente as das pernas. Esta é uma das características pelas quais se diferencia de seus primos como o falcão e outras aves carnívoras da mesma espécie. Todos estes têm os pés descobertos. A águia não. Os trinta tipos conhecidos de águias (Aquila rapx, Aquila audax; Aquila verreauxii, Hieraetus billicosus, Spizaetus coronatus, Harpia Barpyja) têm penas cobrindo inteiramente as pernas até os pés. Agora está pronta para ganhar o azul do céu, sobrevoar as montanhas mais altas, enfrentar ventos e tempestades.

Uns dias antes de voar, pode-se ver a águia-filhote acercando-se das bordas do ninho. Espia para o abismo pois lá embaixo, no chão, estão os animais que vai caçar. Ou para o profundo dos céus, para a infinita liberdade, onde seus pais estão circulando, ao sabor dos ventos. Se os olhos estão fixados no chão, é nas alturas que tem o coração.

Como se enamoram e se acasalam as águias: O casal de águias entretém uma relação de fidelidade por toda a vida. Juntos caçam, juntos montam o ninho, juntos incubam os ovos e juntos buscam alimento para os filhotes. Como entre os humanos, o casal de águias não copula apenas para multiplicar a espécie ou em certos períodos do ano por ocasião do cio. Surpreendentemente, copula com frequência. Na fase de enamoramento, até oito vezes ao dia. Depois de acasalados, se amam em qualquer época do ano, como expressão de companheirismo amoroso.

O enamoramento tem símbolos de grande força. O macho, voando mais alto, se precipita como uma flecha por sobre a fêmea que voa muito metros abaixo. Ao aproximarem-se, a águia-fêmea se volta sobre o dorso. Fica de peito para cima, expandindo as asas e estendendo as garras na direção da águia-macho. E dá-se então o festival do encontro. A águia-macho, vindo como uma flecha, de súbito paira no ar. Abre as asas e  entrelaça suas garras como as garras da águia-fêmea. Assim ficam, ora voando à maneira de bicicleta, ora para frente, ora para os lados, ora deixando-se cair, embevecidos pela paixão, até quase tocarem o solo. Só então se separam e voam em forma de guirlanda, ascendendo para um novo abraço de garras e de volutas no espaço.

Depois se acasalam. Antes, porém, dá-se uma disputa feroz entre dois machos rivais. São lutas renhidas e sangrentas. Podem durar horas. Garras, bicos, asas: eis as armas usadas um contra o outro. Às vezes se entrelaçam no ar, a cem metros de altura. Esvoaçam penas por todos os lados. Despescam enrolados um no outro até perto do chão. E aí se largam. Ganham novamente altura e, revezando ataques mútuos, retomam a disputa. Às vezes rolam no chão, numa nuvem de pó e de penas, num estardalhaço sanguinário. Até que um macho, precipitando-se com fúria e violência sobre o outro, consegue atingi-lo profundamente  A luta termina quando um se dá por vencido e ganha os longes do céu, fugindo.

Conquistada a noiva, a águia-macho ganha como troféu o seu território demarcado. E lá vive o casal voando e caçando por muitos e muitos anos, felizes até que a morte os separe. Uma águia vive cerca de trinta anos.

Como uma águia virou galinha: 
Durante o tempo de crescimento no ninho podem ocorrer acidentes. Uma rocha se despende carregando tudo consigo, ninho e filhotes. Pois assim, certa feita, infelizmente, ocorreu. E aqui começa nossa história. (midraxe bagadá )

Numa tarde sonolenta de verão, voltava um criador de cabras, do alto de uma planura verde, na floresta atlântica do norte do Rio de Janeiro. Ao pé da montanha por onde passava encontrou, de repente, um ninho de águias todo estraçalhado. Semicoberta de gravetos, uma jovem águia, ferida na cabeça. Parecia morta, toda ensaguentada  Era uma águia rara, a águia-harpia brasileira, ameaçada de extinção.

Recolhendo-a com cuidado pensou:
- Vou levá-la ao meu vizinho que é um amante de pássaros. Gosta de empalhar gaviões, garças, patos selvagens e veados. Talvez ele queira empalhar este filhote de águia!

E assim fez, pois o caminho passava junto à casa do empalhador. 

Este acolheu alegremente o criador de cabras. Ficou admirado por se tratar de uma águia-harpia, ele supôs que estivesse morta. 

Colocou-a ternamente debaixo de uma cesta.
Amanhã vou empalhá-la, matutou resignadamente consigo mesmo. 
Embora pequena, vai ser uma ave soberba depois de empalhada, enchendo de grandeza qualquer sala!

No dia seguinte, teve grata surpresa. Ao retirar o cesto, percebeu que a águia se mexia levemente. As garras, ainda novas, estavam fechadas. Havia feridas em várias partes do corpo. A águia estava cega.

Novamente sentiu pena da jovem águia. Por misericórdia quase quis sacrificá la. Pensando com seus botões , encontrava até razões para isso: "Elas matam muitos animais pequenos, especialmente preguiças e macacos. Desequilibram o sistema ecológico circundante, pois cada casal de águias-harpia precisa de um território exclusivo de caça de cinquenta quilômetros quadrados, com incursões num raio de mais de trezentos quilômetros".

Lembrou-se de ter lido nos jornais que, há algum tempo, na região amazônica, foram encontrados perto de um ninho restos de quarenta lebres e de mais de duzentos patos devorados por elas. Sabia até que, na Austrália  as águias são mortas às centenas por serem prejudiciais aos cangurus e a outros pequenos animais. 

Como lá não existem abutres, são elas que comem animais putrefatos. Por isso são tão numerosas. Lera numa revista sobre aves de rapina que, entre 1950-1959, foram sacrificadas 120 mil águias australianas.

Pensava em tudo isso como justificativa do atentado que, piedosamente, queria cometer. Mas nisso lembrou-se da tradição espiritual de Buda e de São Francisco de Assis. Eles viviam e pregavam um ilimitada compaixão por todos os seres que sofrem. Recordou-se também da ética ecológica que reza: "bom é tudo o que conserva e promove a vida, mau é tudo o que diminui e elimina a vida". Até uma frase bíblica veio-lhe à mente: "escolha a vida e viverá".

Por todos esses argumentos convenceu-se de que não deveria sacrificar a águia. Decidiu preservá-la. Começou, então, a tratá-la com carinho.

Ela, porém, pouco reagia. Não procurava comida nem andava. Como era colocada, assim ficava. Sem luz e sem sol, a águia não é águia.

Todo dia o empalhador partia-lhe pedaços de carne e a alimentava com dificuldade. Depois de um ano começou a perceber que os seus sentidos despertavam para a vida. Primeiro os ouvidos reagiam felizes ao ruído dos passos, quando lhe traziam carne. Esticava a cauda, geralmente em forma de cunha, e abria as asas alegremente.

Uma águia adulta pode espraiar as asas numa extensão de mais de dois metros. A águia-harpia brasileira tem uma envergadura de asas que vai de 2 a 2,5 metros de uma extremidade à outra. As asas abertas da águia dos Andes, o condor, medem entre 2,9 a 3,5 metros.

Depois começou a mover-se por si mesma. Andava pela sala e pelo jardim. Postava-se sobre um tronco mais alto. Por fim, recuperou sua própria voz, o kau-kau típico da águia.

Mas, continuava cega. Os olhos são tudo para uma águia. Seu olhar penetrante vê oito vezes mais que o olhos humano. A retina é em parte monocular, orientada para coisas de perto, e em parte binocular, dirigida para as coisas de longe. Vê e controla tudo porque consegue girar a cabeça em 180 graus. Discerne o focinho de um coelho que espia da toca ou uma gazela no meio dos arbustos a mais de 1.600 metros de distância. Então arremete como uma fecha.

Contrariamente ao que se pensa, ela não mata com o bico, mas só com as garras que funcionam como punhais. As garras da águia-harpia são maiores e mais afiadas do que as do urso pardo dos Estados Unidos. O bico tira pedaços de carne com a ajuda da língua, musculosa e forte.

Por fim, o empalhador decidiu colocá-la junto às galinhas. Uma águia não é uma galinha. Mas a galinha pode provocá-la para viver, para locomover-se e, quem sabe, para despertar em si a imagem das alturas e buscar, um dia, o sol. Quem sabe ... os olhos poderão renascer? ...

Mas há também o risco de a águia esquecer o céu e o vasto horizonte do sol e acomodar-se aos limites estreitos do terreiro das galinhas. Poderá comportar-se como galinha. Será que vai virar galinha?

E foi assim que a jovem águia continuou a ser criada com as galinhas. Durante dois anos circulava, cega, entre elas. Andava com dificuldade, pois suas garras não foram feitas para andar. 

Ciscava aqui e ali como fazem as galinhas, mas sem poder ver.

Eis que, um belo dia, o empalhador se deu conta de um milagre. A águia via. Sim, via e já distinguia os alimentos. Seus olhos eram enormes. Na verdade, eles são tão grandes como os olhos humanos, embora uma águia pese 28 vezes menos que um ser humano normal.

Enfim, a águia estava curada e perfeita! Depois de três anos de paciente cuidado, ela recuperara seu corpo de águia. Contudo à força de viver com galinhas virara, também ela, uma galinha. Vivia com as galinhas, ciscava com as galinhas, dormia no poleiro com as galinhas. O empalhador, ocupado em seu ofício de empalhar aves, já se acostumara com a águia-galinha entre as demais galinhas. Esqueceu-se dela.

Como a galinha-águia despertou
A águia recupera seu corpo. Mas, e o coração? Será que tinha perdido seu coração de águia? Essa pergunta foi suscitada, um dia, por certo fato curioso.

Certa manhã ensolarada, sobrevoou o galinheiro um casal daquelas águias brasileiras grandes e imponentes. Fez violentos voos rasantes, atraídos pelos pintinhos que por lá circulavam despertando seu instinto e apetite.

Foi aquela correria geral. As águias só não caçaram os pintinhos porque o empalhador veio correndo em seu socorro.

Ao perceber o casal de águias no céu, a águia-galinha espalmava as asas, sacudia a cauda e ensaiava pequenos vôos. O sol começava a despertar em seus olhos.

Foi então que o nosso empalhador se deu conta. A águia-galinha começava a despertar para o seu ser-águia. Seu coração de águia voltava a pulsar aos poucos.

O casal de águias foi embora em elegantes vôos circulares. A águia-galinha se aquietou. Um pouco mais e mais um pouco, enturmou-se às companheiras galinhas. No entanto, algo havia acontecido com ela. Vez por outra, quando águias sobrevoavam o terreiro, virava a cabeça para poder vê-las melhor. Procurava identificar suas verdadeiras irmãs águias. Ensaiava pequenos vôos com o ruflar de suas gigantescas asas. Mas logo voltava à sua segunda natureza de galinha-águia.

Nesse momento, o empalhador começou a dar-se conta desses pequenos sinais. Disse consigo mesmo:
- Uma águia é sempre uma águia. Ela possui uma natureza singular. Tem as alturas dentro de si. O sol habita seus olhos. O infinito dos espaços anima suas asas para enfrentar os ventos mais velozes. Ela é feita para o céu aberto. Não pode ficar aqui embaixo, na terra, pressa ao terreiro como as galinhas.

Passado um tempo, o empalhador recebeu a visita de um naturalista amigo. Conversaram sobre as aves da região e foram observar aquela águia tornada galinha. O naturalista ficou perplexo com a capacidade adaptativa da águia. Logo ponderou:

A águia jamais será galinha. Ela possui um coração. E este é de águia. Ele a fará voar. Ela voltará a ser plenamente águia.

Aí mesmo decidiram fazer um teste. Queriam ver o quanto da águia originária ainda vivia dentro da águia-galinha. O empalhador tomou uma proteção de couro para o braço a fim de não ser espetado pelas garras pontiagudas da águia. A muito custo conseguiram pegá-la. O empalhador colocou-a no braço estendido, sustentando seu peso de mais de três quilos. Animado pelo amigo falou-lhe com voz imperiosa:
- Águia, você nunca deixará de ser águia! Você já sobreviveu a tantas desgraças! Você recuperou, um dia, seus olhos. Você é feita para a liberdade e não para o cativeiro. Então, estenda suas asas! 

Erga-se! E voe para o alto.

A águia parecia abobada. Não fez sequer um movimento. Ao olhar em redor de si, vendo as galinhas comendo milho, deixou-se cair pesadamente. E somou-se a elas.

Encorajado pelo amigo naturalista, o empalhador não desanimou. Ponderou com ele:
- Uma águia tem dentro de si o chamado do infinito. Seu coração sente os picos mais altos das montanhas. Por mais que seja submetida a condições de escravidão, ela nunca deixará de ouvir sua própria natureza de águia que a convoca para as alturas e para a liberdade!

No dia seguinte, agarrou a águia quando ainda estava no galinheiro. Colocou novamente a proteção de couro e subiu com seu amigo ao terraço de sua casa. Sob o olhar de expectativa do naturalista, disse-lhe com convicção:
- Águia, já que você é e será sempre águia, desperte de seu sono. Liberte sua natureza feita para as alturas. Deixe nascer o sol dentro de você.

Abra suas asas! E voe para o infinito!

A águia parecia totalmente distraída diante de palavras tão comovedoras. Olhou para baixo. Viu as galinhas ciscando o chão e bebendo água no cocho. O empalhador lançou-a lá de cima, na esperança de que voasse. Ela despencou pesadamente. Voou apenas alguns metros, como voam as galinhas. Tentou uma, duas, ate três vezes. E a águia não chegava a voar. Comentou com seu amigo naturalista:
- Efetivamente, nesta galinha-águia, a galinha parece triunfar.

Como a galinha-águia voltou a ser águia
Aí ambos se lembraram da importância do sol para os olhos da águia. Ponderou com razão o naturalista.
- Ela é filha do sol. Desde pequena aprendeu a sorvê-lo pelos olhos. A mãe-águia segura o filhote na direção do sol. Acostuma seus olhos ao resplendor solar. Certamente - asseverou - é por causa disso que as águias, desde pequenas até a idade adulta, têm os olhos com as cores  típicas do sol, o amarelo brilhante ou o alaranjado forte. Somente bem mais tarde, à força de olhar para o chão em busca de presas, seus olhos assumem a cor de terra. Tornam-se castanhos.

O empalhador completou estas idéias com a seguinte indagação:
- Não será, por acaso, o sol que irá devolver-lhe a identidade perdida? Reanimar seu coração adormecido?

O naturalista confirmou-lhe a ponderação.
No dia seguinte, bem cedo, levantaram-se antes de o sol nascer. O amanhecer estava esplêndido. A fímbria das montanhas escuras se destacava do fundo roxo do céu. Do lado do nascente, os primeiros raios douravam o cimo das rochas, avermelhando-as.

Para lá rumaram o empalhador e seu amigo naturalista levando a águia-galinha. Quando chegaram ao alto, o sol despontava, fagueiro, por detrás das montanhas. Os raios eram doces. A natureza despertava ressuscitada do langor da noite.

O empalhador de aves colocou a proteção de couro, sustentou fortemente a águia e sob o olhar confiante do naturalista lhe disse:
- Águia, você que é amiga das montanhas e filha do sol, eu lhe suplico: Desperte de seu sono! Revele sua força interior. Reanime seu coração em contato com o infinito! Abra suas potentes asas. E voe para o alto!

A águia mostrou-se surpreendentemente atenta. Parecia voltar a si depois de um longo esquecimento. Olhou ao redor, viu as montanhas e estremeceu. Por mais que o empalhador a ajudasse , com movimentos para cima e para baixo, ela não superava o medo. Ele não conseguia fazê-la voar.

Então, a conselho do naturalista, tomou-a firmemente entre as duas mãos e, por bom espaço de tempo, segurou-a pela cabeça na direção do sol. Os olhos da águia se iluminaram. Encheram-se do brilho juvenil do sol, amarelo e alaranjado forte.
- Agora sim ela vai renascer como águia! O sol vai irromper dentro de sua alma! - proclamou entusiasmado o empalhador de aves.

Com voz forte e decidida retornou:
- Águia! Você nunca deixou de ser águia! Você pertence ao céu e não à terra. Mostre agora que você é de fato uma águia. Abra seus olhos. Beba o sol nascente. Estenda suas asas. Erga-se sobre você mesma e ganhe as alturas. Águia, voe!

Segurou-a firmemente pelas pernas emplumadas. Alçou-a para cima. Deu-lhe um último impulso.

Oh, surpresa! A águia ergueu-se, soberba, sobre seu próprio corpo. Abriu as longas asas titubeantes. Esticou o pescoço para frente e para cima, como para medir a imensidão do espaço. Alçou voo  Voou na direção do sol nascente. Ziguezagueando no começo, mais firme depois, voou para o alto, sempre para mais alto, para mais alto ainda, até desaparecer no último horizonte.

Acabara de irromper plenamente a águia até aqui prisioneira da galinha. Finalmente livre para voar, e voar como águia resgatada rumo ao infinito. E assim voou! Voou até fundir-se no azul do firmamento.



Leonardo Boff -
A águia e a Galinha
(uma metáfora da condição humana)











Leia também:


PARTE I - A águia e a Galinha (uma metáfora da condição humana)

PARTE II  - A águia e a Galinha (uma metáfora da condição humana)

PARTE III - A águia e a Galinha (uma metáfora da condição humana)

PARTE IV - A águia e a Galinha (uma metáfora da condição humana)


PARTE V - A águia e a Galinha (uma metáfora da condição humana)

PARTE VI - A águia e a Galinha (uma metáfora da condição humana)

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