quarta-feira, 28 de abril de 2010

O CICLO DA AUTO-SABOTAGEM - PARTE II


Concluindo a minha análise íntima...

No início do nosso relacionamento, o H.K. se comportou de forma perfeita, um verdadeiro "Gentleman", era um namorado 'nota 11'. Ele era perfeito!!! Fiquei muito feliz naquela época em reencontrá-lo depois de 12 anos, era tudo que eu buscava e ainda busco em um homem. Ou seja, um homem calmo, pacífico, sensível, generoso, e etc. (um protótipo do pai maravilhoso que eu tenho) e para minha infelicidade acabei sabendo mais tarde que eu tinha inconscientemente escolhido uma 2ª mãe, que tanto tenho pavor. Que ironia do destino!!!!! hehehe


Minha mente mediana, naquela época, não conseguiu detectar que ele estava dissimulando ou interpretando um personagem que eu buscava, mesmo que inconsciente. Eu estava muito envolvida e  para ser bastante sincera e honesta, estava realmente apaixonada por ele. Então creio eu que minha mente não quis analisar racionalmente e observar mais pormenorizado o seu comportamento. Minha humanidade falível falou mais alto. Hoje eu sei quem ele é ou o que ele é. Mas tudo bem!!! Fazer o quê? Porque desta relação nasceu uma pessoa maravilhosa que eu amo muito, a nossa filha Maria Eduarda. Valeu a pena passar por todos aqueles sofrimentos inenarráveis. Eu precisava passar por essa experiência expiatória. Deus é extremamente inteligente, justo e perfeito. Nos possibilita aprender inclusive pela dor. Com isso, aprendi a ser uma pessoa melhor, mais paciente, mais indulgente, mais espiritualizada  e etc. Eu falo que "no sofrimento tudo é bom, menos sofrer, pois nada se perde, tudo se transforma".


E outra coisa que também acredito que a nossa união já estava planejada antes mesmo de nascermos. Estava em nosso roteiro existencial nos encontrarmos, apaixonarmos e possibilitar a vinda da Maria Eduarda; não acredito em absoluto que exista o acaso. Porque apesar de tudo, ainda sinto carinho e desejo vê-lo pleno, realizado e feliz. Independentemente em sermos ou não um casal (marido-mulher).


Um dos maiores desejos (ou sonhos) que ainda tenho, é que o H.K. se trate e volte a ser aquele homem que eu reencontrei. Acredito no poder do querer!!! Mas é preciso que ele queira de verdade. Nada é impossível quando se deseja muito uma coisa ??? Eu ainda espero e acredito firmemente na sua transformação não só por ele mas principalmente pela nossa filha. Hoje a medicina está muito avançada e têm medicações eficientes. Depois desta experiência em conviver diariamente com ele, posso afirmar que não é só a medicação em si que ajuda, presenciei uma desastrosa avaliação médica e consequentemente uso de medicação errada, acarretando inúmeras consequências. Portanto, o mais importante é  encontrar "'OS' profissionais certos" e a prescrição medicamentosa correta. É necessário um cuidado e trabalho em buscar referências de profissionais confiáveis, especialistas no seu campo de atuação (seja na psiquiatria e/ou psicologia). E quem sabe???? Tudo é possível, basta buscar e mudar ... (para melhor!!! É claro!!!).


Roberta Carrilho - 28/04/10
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HOJE (07/02/13) RELENDO ESTE POST - posso afirmar que não é mais meu sonho. Não é nada mais! Sei que o H. K. é psicótico-bipolar e que não aceita a doença. Cansei!!! Eu tenho preguiça de falar, de pensar, de lembrar dele. Aff! Como tudo em mim mudou!!!! 

Só estou postando isso porque este blog foi criado com este intuito, colocar minhas memórias, registrar meus sentimentos. Não escrevo para ser popular, ou para ter ou ser isso ou aquilo. Não! Escrevo para registrar, desabafar... 

Fico feliz por ver que a cada dia tem mais seguidores, etc porque percebo que essas pessoas de alguma forma se identificam com os meus sentimentos, registros e memórias. E gostam! Então fica o meu muito Obrigada


(...) A discrepância observada anteriormente entre as fantasias de submissão de Jillian e seu comportamento sedutor-sádico eram complementadas na relação com Michael. As fantasias sexuais dele eram repletas de temas agressivos e sádicos, mas ele externava apenas a parte submissa e passiva. As fantasias representavam os desejos reprimidos e inibidos que não poderiam ser expressos abertamente. Se Michael tivesse tido acesso, experimentado e expressado a sua raiva, talvez tivesse conseguido solucionar seu dilema. Sua raiva poderia ter sido controlada e usada produtivamente a seu favor, e ele poderia ter sido muito bem-sucedido.

Comentei com Michael em diversas ocasiões: "Parece que você está muito zangado, mas para você é difícil assumir isso. Você está descarregando sua raiva em si mesmo, achando que sempre vai ser derrotado, não importa o que diga ou faça".

Michael sempre balançava a cabeça e dizia: "Certo. Certo". Ele concordava, mas não fazia nada. Para ele era muito perigoso e muito arriscado fazer alguma coisa.

O torpor e a frustação de Michael podiam ser comparados a minha paralisia e frustação como seu terapeuta, não apenas nas sessões individuais, mas também, posteriormente, nas sessões de grupo. Acreditei que, em um grupo, Michael teria uma idéia mais clara de como era percebido, não apenas por mim ou Jillian mas por um grupo de indivíduos sensíveis que queriam ajudar e ser ajudados. Mas, ali também, Michael frustou todos os esforços. Fazia corpo mole, prendia-se a detalhes, e desperdiçava os esforços para tentar demovê-lo da posição em que se achava. Lidava com assuntos como se andasse em círculos, minando meus esforços e os do grupo. Os membros do grupo mostraram-lhe o que ele estava fazendo e expressavam sua frustração por não faze nada para ajudar a si mesmo. Isso adiantou? Não. Ao contrário, para Michael foi apenas mais uma indicação de que ele era um fracassado. Isto também foi dito a ele, mas sem nenhum proveito.

Foi doloroso participar disso, doloroso ver que Michael, com todo o seu potencial não realizado, se colocava em situações que perpetuavam seus problemas, minando os esforços para efetivar mudanças. Foi doloroso observá-lo agindo como se estivesse atendendo a seu pai, sabotando o tratamento, como sabotou outros aspectos de sua vida. Para a maior parte dos homens, chega uma época em que é preciso enterrar simbolicamente o pai, guardar luto por sua passagem, e, então, seguir em frente. Michael não conseguiu fazer isso. Manteve o pai vivo por meio de seu comportamento de auto-sabotagem.

Assim como Jillina escolheu casar com Michael porque ele não a ameaçava com sua raiva, assegurando-lhe que não iria criticá-la em humilhá-la, Michael tambem escolheu se casar com Jillian. Ela o manteria em um estado de impotência e o protegeria de desafogar sua raiva. Michael sabia com quem estava lidando no seu relacionamento com Jillian, da mesma forma que estava familiarizado com o relacionamento que manteve com o pai. Por mais doloroso que fosse, era algo já conhecido, e ele não podia querer mais que isso. Grande parte da vida de Michael foi devotada a evitar e desviar-se de confrontos que poderiam deflagar a expressão de sua vida, porque ele tinha muito medo da emergência desse ódio. Jillian inconscientemente impôs limites para ele experimentasse algum sentimento de força ou de confiança. Ela o abatia assim que ele acordava - começava a falar. Michael provou a sim mesmo, com esse relacionamento, que seu pai estava certo, que ele realmente era um fracassado, um desajeitado.

Além disso, ao repetir a relação traumática paterna com Jillian, ele tentava amansar a fera. Tentava ganhar aprovação, mesmo sabendo que seus esforços seriam em vão. Inconscientemente, estava tentando ter algum controle da rejeição, mas provocando continuamente a si mesmo que isto nunca aconteceria. Michael estava preso a uma repetição de auto-sabotagem. Sua admiração por Jillian e suas conquistas representavam sua identificação vicária com o agressor, sem colocar-se em risco.

Entretanto - e isso ficou cada vez mais óbvio à medida que eu trabalhava com Michael -, com o seu comportamento ele também estava provando algo mais. Estava negando ao pai e a jillian o bom resultado para que não se sentissem orgulhosos dele. A seu modo, ele comunicava que era, basicamente, uma pessoa capaz, que poderia fazer mais do que fazia, mas, mesmo sacrificando-se, não daria a eles nenhuma satisfação. A rejeição era uma coisa que ele conhecia, e algo com que estava familiarizado.

E, assim, no fim, Michael preferiu continuar vivendo com isso, em vez de aproveitar a oportunidade para fazer mais por si, apenas para acabar fracassando. A despeito de todos os nossos esforços, os dele, inclusive, Michael  não iriase mexer da posição em que fora colocado pelo pai, a posição que acabou escolhendo para si.

E, então, o que aconteceu com esse casamento? Foi uma história com um final feliz?
Sim.
E não.
Há momentos em que os conflitos e os traumas que ocorrem na nossa infância são tão fortes que não podem ser desfeitos. A consequência disso é que algumas pessoas, como, por exemplo, Michael e Jillian, fazem concessões que limitam seu potencial, mas que estão dispostos a aceitar. Eles se acomodam em vez de partir para uma batalha que exigiria muito esforço. Há, por vezes, uma consciência de que os ganhos em manter o status quo são maiores do que o preço pago pela mudança - porque mudança também significa revolução. Mas o ponto importante é: há uma grande diferença entre estar em situações difíceis que ocorrem sem que a pessoa tenha consciência do que está acontecendo e o reconhecimento de que há alternativas e que é possível efetivar mudanças em comportamentos de auto-sabotagem. A diferença vital, é o reconhecimento. Freud escreveu: " Na verdade, eu sempre soube disso; só que isso não me passava pela cabeça". Não é, senão, outra maneira de falar sobre todos esses contratos não-escritos, inconscientes.

Jillian poderia ter mudado a sua situação se estivesse disposta a aceitar as consequências. Ela escolheu não romper o casamento e a vida familiar, apesar das limitações. Teve oportunidade de ver se livre do casamento com um marido atraente, honesto, atencioso - embora passivo -, e encontrar um homem mais assertivo e agressivo. Escolheu a primeira opção. Aceitou Michael como ele era e parou de provocá-lo e humilhá-lo.

Em uma de nossas últimas sessões, ela disse:
- As coisas com Michael não vão mudar. Tentei várias vezes e talvez tenha tornado as coisas piores, pertubando-o para que fizesse mais coisas e se impusesse, e afastando-o quando ele tentava se aproximar. Mas agora sei que ele não vai mudar. Também não quero deixá-lo. Acho que preciso dele assim, desse modo. Eu realmente o amo, e ele é bom para mim. Seria uma reviravolta muito grande destruir esse casamento depois de tantos anos. Então, é assim que vai ser e tudo vai ficar bem.

Naquela época, já havíamos passado muitas horas juntos e Jillian progredira consideravelmente. Senti-me confortável para comentar.
- Parece que você precisa dessa relação com Michael assim, como está. Você mudou. Ele tentou mudar. Mas, acima de tudo, ele esteve ao seu lado. Talvez agora, mais consciente, você lide bem com essa situação.

Ela concordou. E, então, o casamento sobreviveu, porque Jillian reconheceu que mudar as condições do contrato não-escrito também teria um preço muito alto. teria ameaçado as próprias bases do casamento. Ela não queria isso, e estava disposta a pagar o preço. Era uma decisão clara, consciente, baseada em anos de trabalho árduo de psicoterapia. O resultado foi que Jillian não agiu por motivos desconhecidos. Ela teve a liberdade de escolher, com base na compreensão de si mesma e da situação.

Procuro deixar claro aos casais que me procuram com dificuldades no casamento que o objetivo da terapia não é salvar ou destruir o casamento, mas habilitá-los para se conscientizar do que causou as dificuldades atuais e adquirir mais compreensão de si mesmos.

"Se o fato de se conhecer melhor e de avaliar o seu papel na questão melhorar o casamento, ótimo", eu lhes digo. "Mas o divórcio é um risco calculado quando se inicia uma terapia de casal". E sigo com esse cuidado, lembrando-lhes que não se ganha nada ao se desfazer um casamento para se casar novamente quando o padrão se repete. E isto é bem comum.


Trecho do livro: O CICLO DA AUTO-SABOTAGEM (Por que repetimos atitudes que destroem nossos relacionamentos e nos fazem sofrer)

Autores: Stanley Rosner e Patrícia Hermes - Editora Best Seller


Stanley Rosner, Ph.D., é psicólogo com mais de 40 anos de experiência. Diretor da Career and Educational Planning Assicuates, entidade que oferece consultoria em planejamento profissional, foi presidente da Connecticut Psychological Association e da Connecticut Society of psychoanalytric Psychologists. Publicou mais de 30 artigos e é autor de The Marriage Gap, sobre casamentos disfuncionais.


Patrícia Hermes é escritora e autora de mais de 40 romances voltados para o público jovem. Ganhou prêmios com o Smithsonian Notable Book e o C.S. Lewis Honor Book.


3 comentários:

  1. Querida Roberta, parabéns pela coragem de 'derramar o seu coração' nesses dois últimos posts. Fiquei sensibilizado com a sua história. A Maria Eduarda deve ter muito orgulho de você. Espero que o HK caia em si do quanto você é especial. Parabéns pelo lindo elo entre você e seu pai. Caso possível, tente reconciliar-se com sua mãe...

    Um abraço carinhoso. Cuide-se bem...

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  2. Muito Obrigada!!! Geraldo pelas palavras ... sou eu quem fico sensibilizada com sua amizade e consideração!!!

    Quanto a minha mãe, estou tentando !!!

    Abraços fraternos,
    Roberta Carrilho

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  3. Geraldo gostaria de completar dizendo o seguinte:

    É TÃO, MAS TÃO BOM SER LIVRE!!! Poder ser quem a gente gosta de ser. (Filosófico né!!!)

    Enfim, não tenho receios em ser rotulada ou discriminada de me mostrar, expor, ser assim aberta e transparente. Sei que existem regras nesta sociedade hipócrita e castradora. É uma espécie de escudo de auto-defesa ou uma máscara para que ninguém conheça ou reconheça você por inteiro.

    Não estou de forma alguma destituindo nada. Eu não quero ser a palmatória do mundo. De jeito nenhum!!! Pelo contrário, as (regras sociais)eu respeito e as uso quando é necessário.

    Mas aqui no meu BLOG resolvi me abrir. Vou escrevendo e escrevendo, sinto ele tão meu, que as vezes esqueço que ele é público rsoss.

    Esta sou eu, SOU SENTIMENTOS...
    :-)

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