Os espíritos transitam por uma escala vastíssima de reencarnações, através dos milênios, ocupando posições ora masculinas ora femininas, o que lhes confere, geralmente, certas características bissexuais. Ser homem ou mulher é uma transitoriedade do mundo físico.
Além das diversidades biológicas, naturais e inerentes dos corpos masculinos e femininos, encontramos outras tantas nas áreas psíquicas, sociais e reencarnatórias. Todas essas diferenças sofrem as pressões das regras sociais da educação vigente e dos costumes de uma época, juntamente com a ação das glândulas sexuais. Isso nos leva a classificar as atitudes humanas com certas predominâncias, masculinas ou femininas.
Os espíritos não têm sexo; portanto, em toda personalidade humana existem traços de masculinidade e de feminilidade. Isso não quer dizer que uma mulher com traços masculinos seja anormal, mas sim que existem aspectos sexuais típicos e diferentes em cada pessoa.
Dessa forma, cada ser se distingue por determinadas peculiaridades no mundo afetivo e, por isso, a tendência emocional da pessoa, muitas vezes, difere e independe de sua morfologia orgânica.
Na infância, os pais se encarregam de transmitir às crianças as primeiras noções sobre sexualidade, mas nem sempre guiam seus filhos para um bom entendimento das faculdades genésicas. em muitas ocasiões, fixam preconceitos na mente infantil, os quais, mais tarde, gerarão diversos desequilíbrios da libido.
As religiões ortodoxas e controladoras atribuíram ao sexo uma proibição divina. Afirmam que todos os seres humanos nascem com o "pecado original", ou seja, pelos erros sexuais cometidos por Adão e Eva, considerados como os "pais da humanidade", e que todos precisam ser purificados pelo batismo. Colocaram ainda a abstenção sexual como condição imprescindível para se atingir a santidade, olvidando-se de que tudo o que existe na natureza foi gerado por Deus e que a sexualidade é parte integrante de nossa criação divina.
Adultos imaturos do ponto de vista espiritual reprimem os impulsos sexuais nas crianças, atribuindo malícia ou precocidade, por desconhecerem que as energias sexuais são forças criativas inerentes aos seres humanos e importantíssimas para seu desenvolvimento psicoemocional.
Desconhecem ainda que somente pequena parte dessa energia age na atividade sexual propriamente dita. O restante dessa força criativa se generaliza nas manifestações das atividades sociais, intelectuais, físicas, emocionais e espirituais do indivíduo. Ao inibirem um setor, estão comprometendo o todo, quer dizer, os seres humanos não funcionam por partes separadas, mas um processo de interdependência. Não podemos tocar num elemento sem afetarmos todo o crescimento psicológico em evolução.
"Que se deve pensar das mutilações operadas no corpo do homem...? (...) A Deus não pode agradar o que seja inútil e o que for nocivo lhe será sempre desagradável. (...) Deus só é sensível aos sentimentos que elevam para ele a alma. Obedecendo-lhe à lei e não a violando é que podereis forrar-vos ao jugo da vossa matéria terrestre".
A energia sexual pode trazer satisfações tanto nas atividades afetivas e emocionais, quanto em quaisquer das atividades intelectuais, espirituais e orgânicas, proporcionando ao indivíduo uma sensação de bem-estar e facilitando sua criatividade.
A ideia de sexualidade proposta pela Doutrina Espírita, há mais de cento e quarenta anos, encontra apoio nas modernas teorias psicológicas, leva o indivíduo a uma ótica transcendente do sexo e o faz abandonar essa visão simplista, biológica e materialista a que ele sempre foi relegado.
Entendemos por mutilação não somente a privação ou a destruição visível de partes do nosso corpo, mas também a ocorrida de forma imperceptível, oculta ou velada.
Podemos cobrir os impulsos sexuais com o manto da simulação. Substituímos por outros, inventamos desculpas e álibis convincentes para ocultá-los de nós mesmos e dos outros; porém, eles não desaparecem.
As mutilações de qualquer gênero são sempre uma repressão cruel e violenta às leis naturais da vida; no entanto, todos nós somos convocados a planejar uma vida sexual equilibrada.
Abstenção imposta gera desequilíbrio, mas a educação, aliada ao controle e à responsabilidade, será sempre a meta segura para o emprego respeitável e nobre das forças sexuais.
Hammed - As dores da alma
Nenhum comentário:
Postar um comentário