A maioria das pessoas foram educadas ouvindo fábulas e mitos do amor romântico. Os tabus sexuais, as velhas estruturas familiares, as normas tradicionais do matrimônio, consideradas "virtudes femininas", estabeleceram, na formação educacional das mulheres, todo um comportamento de dependência em relação aos homens. Elas centraram suas vidas em outros indivíduos, preocupados em receber proteção e cuidados, e destruíram com o tempo suas vocações e aptidões mais íntimas.
"São iguais perante Deus o homem e a mulher (...) outorgou Deus a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir".
Muitos acreditaram que o amor seria somente despertado por uma "varinha de condão" ou por uma "flecha do cupido" que, ao tocá-los, acordasse das profundezas de seu inconsciente um sentimento há muito tempo adormecido. Exitem aqueles que, ingênuos, passam um encarnação inteira esperando que essa "dádiva mágica" desabroche de repente, entre a procura e a espera do ser amado, pagando desesperadamente qualquer preço.
Na atualidade, muitos educadores, psicólogos, antropólogos e psiquiatras afirmaram que a forma como usamos nossos sentimentos é uma "resposta apreendida". A capacidade de amar está presente na alma humana, mas, para que floresça, exige maturação da consciência, isto é, "aprimoramento dos sentimentos".
Explicam, ainda, que a pessoa aprende a utilizar o amor através de um processo que está diretamente relacionado com o ambiente em que viveu na infância e com o em que vive hoje, somando-se a tudo isso a capacidade íntima de aprendizagem. Portanto, estamos constantemente "aprendendo a amar".
Paralelamente, sabemos que as diversas vivências reencarnatórias sedimentaram, na alma humana, certas predisposições no entendimento do amor. Os costumes, as tradições e os hábitos que envolvem o namoro, o casamento, o sexo e a família são completamente diferentes de nação para nação, de continente para contimente, estabelecendo, então, noções diversificadas sobre a afetividade nos espíritos em sua longa marcha evolutiva.
Exitem aqueles, que colocaram o amor dentro de uma estrutura romântica, ou seja, fazem prevalecer um sentimentalismo exagerado e uma imaginação irreal, desprezando o significado dos sentimentos autênticos. Eles acreditam que o casamento extingue por completo todas as adversidades e infortúnios existenciais e que as ansiedades do cotidiano acabariam, terminantemente, quando a cerimônia sacramentasse num abraço de ternura o "felizes para toda a eternidade".
A necessidade recíproca de controle, as promessas de que renunciariam à própria individualidade e teriam os mesmos objetivos para o sempre são os primeiros indícios de uma enorme desilusão na vida a dois. Compromissos de amor são válidos, desde que aprendamos que nossa vida está em constante renovação. Assim como as pessoas passam por diversas transformações, também o amor que sentem pelos outros se transforma.
Quanto mais observarmos os ciclos da vida, mais entenderemos as transformações que ocorrem em nossa intimidade, porque nós também somos vida. Apenas desse modo, ficaremos mais seguros e estáveis em relação ao nosso desenvolvimento e amadurecimento afetivos.
A diferença fundamental entre amor e dependência é observada com clareza nas ações e comportamentos das pessoas. A dependência prende, possessivamente, uma pessoa à outra, enquanto o amor de fato incentiva a liberdade, a sinceridade e a naturalidade. O dependente é caracterizado pela atitude de necessidade constante e por reclamar sistematicamente a atenção do outro.
O indivíduo dependente padece dos recursos psíquicos de alguém para viver. Ele dirá "eu amo", mas, em realidade, quer dizer "eu preciso de você", ou mesmo, "eu não vivo sem você". O amor real baseia-se no sentimento compartilhado entre duas pessoas maduras, ao passo que o amor dependente implora consideração e carinho, infantilmente.
Os legítimos sentimentos da alma nunca se sujeitam a ordenações e imposições, mas sim a uma completa espontaneidade de atitudes e emoções. Dependência gera dores na alma; já a liberdade para amar é um direito natural de todos os filhos de Deus.
Hammed - As dores da alma
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