segunda-feira, 20 de outubro de 2014

NEUROSE (neurastenia): ORIGEM, DESENVOLVIMENTO E TERAPIA por Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis


Foto by Brett Walker - link: https://www.flickr.com/photos/brettwalker/


Psicogênese (origem) da neurastenia (neurose)



Aneurastenia, anteriormente conhecida como debi­lidade dos nervos, passou a ser introduzida nos es­tudos psiquiátricos a partir das propostas do ameri­cano Dr. G. M. Beard, em 1879, facultando que, em 1894, Müller apresentasse um estudo bem-elaborado, embora sin­tético, sobre essa síndrome perturbadora.

Ainda no século XIX, Weir Mitchell definiu o ex­tremo cansaço de qualquer natureza - físico, emocional e mental - como responsável pelo desencadeamento desse transtorno neurótico.

Vivia-se, então, o período dos estudos da histeria, havendo merecido de Pierre Janet e outros estudiosos, as­sociá-la, bem como os seus efeitos, à disfunção orgânica geradora do processo de conversão...

À medida que os avanços do conhecimento amplia­ram o estudo dos transtornos neuróticos e psicóticos, e a Bioquímica facultou serem entendidos em maior profundidade, eliminou-se a possibilidade de que substâncias es­pecíficas fossem responsáveis pela irrupção da neurastenia. Passou-se a considerar com mais propriedade a neurastenia e as organoneuroses como enfermidades de adaptação, por­tanto, como alterações do mecanismo normal de adaptabilidade do indivíduo. Entretanto, cuidadosas observações, como, por exemplo, as de Cannon, constataram um au­mento de secreção da adrenalina sobre a atividade muscular, avolumando, por consequência, a combustão do glicogênio e produzindo a diminuição do nível da glicose no sangue, afetando o sistema neurovegetativo.

Acredita-se, dessa forma, que a neurastenia resulte de uma espécie de fuga da realidade, como escusa inconscien­te do paciente em relação aos fracassos pessoais, às reali­dades de natureza perturbadora. Ocorre, então, uma per­da de interesse pelos acontecimentos e desmotivação para realizações enobrecedoras, por ausência de autoestima e de coragem para ultrapassar os limites exigíveis.

Não é possível negar-se que a neurastenia vincula-se muito aos processos organoneuróticos, em face da ansie­dade que é liberada por via somática mediante a utilização do sistema vago-simpático. Por outro lado, diversos autores descrevem o transtorno neurastênico como estando mais próximo da histeria, preferindo outros, ainda, caracterizá-la como expressão depressiva com manifestações maníacas e tendência à esquizofrenia.

Sem dúvida, o cansaço demasiado desempenha um papel fundamental na eclosão do processo neurastênico, por produzir a fatigabilidade, que poderia ser transitória, não fossem a sua continuidade e permanência, tornando-se patológico esse esgotamento nervoso, decorrente da estafa, desde que o repouso não logra restabelecer o equi­líbrio somático.

É nesse estágio que se apresentam a irritabilidade, o mau humor, o pessimismo, caracterizando a presença da neurastenia.

Igualmente, pode-se registrar esta síndrome em indivíduos portadores de constituição física astênica (falta de coragem ou prostração), embora não estejam bem definidas as razões da ocorrência perturbadora desta psiconeurose.

Por certo, não se trata somente do excesso de ativida­de em si mesmo, mas da forma como o trabalho é desen­volvido, das motivações que o promovem, das compensa­ções que faculta.

Deflui das frustrações que se ocultam no inconscien­te e propelem aos esforços exagerados. Noutras vezes, são a culpa decorrente da insatisfação, da necessidade de autorrealização, mas destituída de autoconfiança em relação ao seu êxito, ou da imposição exibicionista de aparecer, como também da timidez que necessita de proteção, mesmo que inconsciente.

Quando o móvel do trabalho é idealista e plenificador, os estímulos emocionais diluem a estafa ou facilitam a renovação de forças, sem que o cansaço desarticule os equipamentos do sistema vago-vegetativo.

Na nosologia (doença) da neurastenia (neurose), a ansiedade é responsá­vel pela incompletude do paciente que trabalha com afã e, mesmo quando em repouso permanece em agitação, acreditando-se defraudador do tempo e de conduta irresponsável.

Estudos cuidadosos revelaram a ação da adrenalina secretada pelas glândulas suprarrenais como desencadeado­ra de distúrbios glicêmicos, que poderiam apresentar-se em síndrome neurastênica (neurose).

Incontestavelmente, porém, é o Espírito e não o cor­po o responsável pelo distúrbio, em face da culpa decorren­te da ociosidade e da extorsão de outras vidas em existên­cias pretéritas, agora gerando os processos de recuperação através do refazimento doloroso.

A instabilidade emocional em forma de labilidade (estado especial em que se produz a mudança rápida e imotivada do humor ou estado de ânimo, sempre acompanhada de extraordinária intensidade afetiva) impele-o ao trabalho descontrolado que o atormenta, quando deveria ser-lhe terapêutico.

As consequências da neurastenia (neurose) são destrutivas, quando não tratadas com eficiência, tornando-se crônicas.

Carrega um vasto contingente de conflitos embuti­dos, e principalmente os derivados da insatisfação.


Desenvolvimento da neurastenia (neurose)

A ansiedade mórbida surge em qualquer período da existência humana. À medida que se instala, irrompem os sintomas inquietantes, dentre os quais a irritabilidade se destaca.

Podem surgir acompanhados de inapetência (=anorexia que é a a perda ou ausência de apetite) ou glutoneria (gula), esta última na condição de fuga do conflito inter­no não detectado pelo Eu consciente.

Com o tempo, os episódios de insônia ou de inter­rupção do sono aumentam de intensidade, tornando as noites do paciente desagradáveis e o despertar angustiante, exaustivo. a medida, porém, que o dia avança, ocorre uma melhor adaptação, culminando com certo equilíbrio ao entardecer.

Conflitos Existenciais

Há sempre uma hiper fatigabilidade, preocupação demasiada com a saúde, insegurança no comportamento. No homem, os efeitos podem expressar-se também como impotência sexual, enquanto que, nas mulheres, ocorrem as dismenorreias (cólicas menstruais). Surgem, quando em estado mais avançado, o proces­so patológico, paresias (disfunção ou interrupção dos movimentos de um ou mais membros) e complexidades nervosas que atormentam o enfermo.


Sem orientação, ou desprezando-a quando a tem, mais ansiedade acrescenta às suas ações e atividades, pio­rando o quadro. Os relacionamentos fazem-se difíceis em face do mau humor do enfermo e certa dose de pessimismo e descon­fiança a que se entrega. Podem-se acrescentar processos físicos de perturba­ção orgânica, como extrassístoles (irregularidade do ritmo cardíaco), debilidade de forças, sudorese fria e abundante, pulsação irregular, sempre sob a injunção da ansiedade mórbida.



A neurastenia (neurose) é síndrome grave que se avoluma no organismo social, devorando belas florações da esperança humana. 

Confundida com transtornos neuróticos, mereceu de Freud, quando da análise destes últimos, o conceito de que se trata de uma repressão incompleta pelo ego de impulsos do id. O impulso, quando reprimido, ameaça, embora a repressão procure impedir a sua irrupção na consciência e na conduta. Nas tentativas de defender-se de novos impul­sos, toma corpo a conduta neurótica buscando de alguma forma a substituição deles, em esforço contínuo para afas­tá-los totalmente.

Considerando os critérios de duração e de intensida­de, Freud classificou as neuroses, em face do conflito desencadeador e da espécie de constituição.

Mesmo nesses casos, na essência de qualquer conflito está o Espírito insatisfeito com a conduta, assinalado pelo sofrimento decorrente do erro que necessita ser reparado, a fim de que haja o equilíbrio da consciência, portanto, a liberação da culpa nela embutida.

Na larga jornada evolutiva, as experiências dolorosas assinalam o ser por largo período, produzindo dificuldades de compreensão das finalidades essenciais e nobres da vida.

Com o decorrer e o vivenciar de novas experiências, tornam-se muito complexas as ocorrências que devem ser trabalhadas, dando lugar aos conflitos que se transferem de uma para outra reencarnação, gerando distúrbios de comportamento, indecisão, timidez, angústia, transtornos neuróticos, que o trabalho paciente da psicoterapia e da renovação pessoal logram superar.

Nas análises das reencarnações sucessivas encontram-se as melhores respostas para toda sorte de perturbação e de impulsos incontroláveis que aturdem os seres humanos.

Quando faltam o interesse por uma existência feliz e o discernimento para compreender e realizar o melhor método em favor de uma trajetória feliz, o indivíduo estorcega (magoa) nas vascas (ânsia) da agonia, sem confiança nem paz, que lhe facultem prosseguir nos empreendimentos abraçados ou por abraçar de forma realizadora.

A astúcia, que caracteriza o primarismo do ser hu­mano, é responsável por atitudes infelizes que supõe com­patíveis com os objetivos de lograr resultados satisfatórios, utilizando-se de recursos ignóbeis (desprezíveis) para os conseguir. Acreditando, o astuto, na ingenuidade alheia ou na sua ignorância em torno dos métodos utilizados, olvida-se de que a própria consciência torna-se o juiz reto que não pode ser ludibriado e que sempre impõe as punições reparadoras como recurso de tranquilidade.

Eis por que assomam tormentos e inquietações que parecem não ter procedência, quando, em realidade, são o ressumar (manifestações) dos comportamentos morais negativos que ele se permitiu.


Terapia para a neurastenia (neurose)

A psicoterapia é portadora de excelente arsenal de re­cursos para atender o paciente neurastênico (neurótico).

Inicialmente, torna-se indispensável que o mesmo re­conheça o estado em que se encontra e opte pela ajuda que lhe será valiosa, predispondo-se à aceitação do tratamento.

Mediante os estímulos novos do psicoterapeuta, ocorre a remoção da culpa e dos tormentos internos, através de uma análise da realidade em que o paciente se encontra, altera-se-lhe o anterior impulso para o trabalho como autorrealização punitiva, abrindo-lhe campo não experimentado de prazer durante a execução das atividades.

E o que ocorre com os cientistas, artistas, estudantes, buscadores de ideais e concretizadores de sonhos, que se entregam a esforços sobre-humanos, às vezes, sem que a estafa exaustiva tome conta das suas energias. Experimentado o cansaço, o natural repouso proporciona o renovar das forças, facultando o prosseguimento das atividades abraçadas.

No caso de neurastenia (neurose), a terapêutica psicológica substitui perfeitamente a de natureza psiquiátrica, devendo-se evitar as recomendações para uso de drogas quími­cas, exceto quando o quadro se apresentar caracterizado por transtornos mais graves em trânsito para a queda em alienação esquizofrênica.

A conversação com o psicoterapeuta (ou psicólogo), que deverá infundir confiança, pesquisando as causas dos conflitos: culpa, insatisfação, frustração, exibicionismo, ensejará a aceitação da própria realidade e emulará (competirá) na renovação dos conceitos existenciais favoráveis ao bem-estar.

Como podem suceder recidivas (cometer os mesmos erros), o que, muitas vezes, sucede, o psicoterapeuta deverá recorrer ao encorajamen­to constante do paciente, sem exageros, como aqueles que transformam o distúrbio em quesito de menor importân­cia, bem como aos ideais de enobrecimento pessoal, de ma­neira que passe a experimentar alegria sem a agitação a que se entregava, e na qual parecia satisfeito...

Nesse processo de recuperação, fazem-se valiosos os recursos espíritas da bioenergia, sob todos os ângulos considerada, de forma que ocorra a renovação interior e se robusteçam as disposições íntimas para a saúde.

O paciente neurastênico (neurótico) espera sempre encontrar compreensão de todos: familiares, amigos, colegas de trabalho, sociedade... o que nem sempre é possível, tendo em vista as dificuldades que assinalam as demais pessoas. No entanto, é sempre viável a cooperação fraternal daqueles que estão próximos do enfermo, laborando com ele em fa­vor da sua recuperação.

No atual contexto social, quase todas as pessoas se defrontam com dificuldades e enfrentam desafios para os quais não se encontram psicologicamente preparadas, sofrendo-Ihes os efeitos danosos e tendo problemas para superá-los. As propostas da Doutrina Espírita, em forma de psicoterapia em grupo, atendem perfeitamente as necessidades humanas, individuais e coletivas, iluminando as consciências, amparando os sentimentos e orientando a razão para os rumos libertadores da paz e da autorrealização.

Com essa visão diferente a respeito do mundo transi­tório e a certeza da imortalidade do Espírito, os horizontes a serem conquistados ampliam-se e incomparável alegria toma conta do indivíduo, que atravessa a estreita passagem por onde deambula (divaga), antegozando a esplendorosa paisagem do futuro.

Desse modo, o paciente neurastênico (neurótico) adquire auto­confiança, e o repouso torna-se-lhe refazente, gratificante, permitindo que os fenômenos de perturbação cedam lugar ao equilíbrio e instala-se-lhe a saúde emocional.


Divaldo Pereira Franco ditado pelo 
Espírito Joanna de Ângelis



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