sábado, 18 de outubro de 2014

CIÚME: ORIGEM, COMPORTAMENTOS DOENTIOS E TERAPIA por Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis

Foto by Brett Walker - link:  https://www.flickr.com/photos/brettwalker/



Psicogênese (origem) do ciúme


O Espírito imaturo, vitimado por desvios de com­portamento em existências transatas, renasce assi­nalando o sistema emocional com as marcas infe­lizes disso resultantes.

Inquieto e insatisfeito, não consegue desenvolver em profundidade a autoestima, permanecendo em deplorável situação de infância psicológica. Mesmo quando atinge a idade adulta, as suas são reações de insegurança e capricho, caracterizando as dificuldades que tem para um ajustamen­to equilibrado no contexto social.

Aspira ao amor e teme entregar-se-lhe, porquanto o sentido da posse que lhe daria autoconfiança está adstrito à dominação de coisas, de pessoas e de interesses imediatistas, ambicionando transferi-lo para quem, certamente, não se permitirá dominar pela sua morbidez. Às vezes, quando se trata de um relacionamento com outra personalidade igual­mente infantil, esta deixa-se, temporariamente, manipular, por acomodação ou sentimento subalterno, reagindo a pos­terior! de maneira imprevisível.

Em oportunidades outras, permite-se conduzir, desinteressando-se das próprias aspirações, enquanto submete-se aos caprichos do dominador, resultando numa afetividade doentia, destituída de significados nobres e de vivências enriquecedoras.

Porque a culpa se lhe encontra no íntimo, esse indiví­duo não consegue decodificá-la, a fim de libertar-se, ocultando-a na desconfiança que permanece no seu inconscien­te, assim experimentando tormentos e desajustes. Incapaz de oferecer-se em clima de tranquilidade ao afeto, desconfia das demais pessoas, supondo que também são incapazes de dedicar-se com integração desinteressada, sem ocultar sentimentos infelizes.

Porque não consegue manter um bom nível de autoestima, acredita não merecer o carinho nem o devotamento de outrem, afligindo-se, em razão do medo de per­der-lhe a companhia. Esse tormento faz-se tão cruel, que se encarrega, inconscientemente, de afastar a outra pessoa, tornando-lhe a convivência insuportável, em face da gera­ção de contínuos conflitos que o inseguro se permite.

A imaturidade psicológica daqueles que assim agem, torna-se tão grave, que procuram justificar o ciúme como o sal do amor, como se a afetividade tivesse qualquer tipo de necessidade de conflito, do sal da desconfiança.

O amor nutre-se de amor e consolida-se mediante a confiança irrestrita que gera, selando os sentimentos com as belas vibrações da ternura e da amizade bem-estruturada.

A falta de maturidade emocional do indivíduo pren­de-o ao período do pensamento mítico, no qual as fanta­sias exercem predominância em sua conduta psíquica. Incapaz de enfrentar a realidade e as situações que se apresentam como necessárias ao crescimento contínuo da capacidade de discernimento e de luta, faculta-se a per­manência na fantasia, no cultivo utópico da ilusão, imagi­nando um mundo irreal que gostaria de habitar, evitando a convivência com o destemor e o trabalho sério, de forma que se conduz asfixiado pelo que imagina em relação ao que defronta na vida real.

Torna-se capaz de manter uma vida interior conflitiva, que mascara com sorrisos e outros disfarces, padecendo o medo e a incerteza de ser feliz. Sempre teme ser descoberto e conduzido à vivência dos fatos conforme são, e não consoante desejaria.

Evita diálogos profundos, receando sempre falsear e ser identificado nos recalques e desaires que lhe são habituais.

Procedente de uma infância na qual teve de escamo­tear a verdade e disfarçar as próprias necessidades por medo de punição ou de incompreensão dos demais, atinge a ida­de adulta sem a libertação das inseguranças juvenis.

Sentindo-se sempre desconsiderado, porque não consegue submeter aqueles a quem gostaria de amar-dominando, entrega-se aos ciúmes injustificáveis, nos quais a imaginação atormentada exerce uma função patológica. Vê e ouve o que existe no seu mundo íntimo, trans­ferindo essas fantasias para subjugar o ser a quem diz amar.

Atormentado pela autocompaixão, refugia-se na infe­licidade, de modo a inspirar piedade, quando deveria esfor­çar-se para conquistar afeição; subestima-se ou sobrevaloriza-se, assumindo posturas inadequadas à idade fisiológica, que deveria estar acompanhada do desempenho saudável de ser psicológico maduro.

Sempre recapitula a defecção afetiva dos demais, que compara com as suas próprias aflições, permitindo-se a ideia mórbida de que ninguém é fiel, pessoa alguma con­segue dedicar-se a outrem sem que não mantenha senti­mentos servis.

Possivelmente, no íntimo, sente-se, dessa forma, in­capaz de afeiçoar-se pelo prazer de querer bem, portador de insatisfações pessoais em relação a si mesmo, mesquinho no que se refere à autodoação... Por consequência, enxerga o amor como mecanismo de manipulação ou instrumento para a conquista de valores amoedados ou de projeção po­lítica, social, artística, sem entender que, se existem aqueles que assim se comportam, não poucos agem e amam de maneira total e diferente dessa postura infeliz.

O ciúme tem raízes, portanto, no egotismo exagera­do, que somente pode ser superado mediante o trabalho de autodisciplina e de entrega pessoal.

O Espírito evolui através de etapas sucessivas, lapi­dando arestas mediante o instrumento sublime da reencarnação, que lhe propicia transformações morais contínuas, enquanto desenvolve a inteligência e os sentimentos. Por isso, o Self é depositário de todos os valores das experiências adquiridas no largo jornadear do desenvolvi­mento antropossociopsicológico.

Quanto mais o indivíduo valorizar o ego, sem admi­nistrar-lhe as heranças da inferioridade, mais se atormen­ta, em face da necessidade do relacionamento interpessoal que, sem a presença da afetividade, sempre torna-se frio, distante, sem sentido nem continuidade.

A existência física tem por meta o aprimoramento dos valores espirituais que jazem latentes no ser humano, que adquire sabedoria e paz, de forma que possa desfrutar de saúde integral, o que não significa ausência de enfermidades, que podem ser consideradas como acidentes de per­curso na marcha, sem danos graves de qualquer natureza.

Trabalhar a emoção, reflexionar em torno dos senti­mentos próprios e do próximo constituem uma saudável psicoterapia para a aquisição da confiança em si mesmo e nos outros.


Comportamentos doentios

Na morbidez do ciúme, o paciente estertora sempre na inquietação. Anela pelo amor e recusa-o pelo receio de ser traído ou enganado. Não se sentindo portador de sentimentos de abnegação e de devotamento, desconsidera as mais belas florações da afetividade, sempre tidas como recurso de pra­zer e de conquista de coisas, sem procurar entender a no­breza que vitaliza aquele que ama.

Talvez essa análise da personalidade enferma do ciu­mento haja propiciado o conceito psicanalítico de con­siderar que a bondade, o sacrifício, o devotamento são frustrações da libido, que se transfere de direcionamento, ensejando outro tipo de realização. Essa conduta de enobrecimento, que enriquece a Humanidade com exemplos dignificadores, é vista, nesse contexto, sob suspeição exa­gerada, até quase considerada patológica, em razão da con­sideração imprópria em torno da criatura, como se fora animal apenas pensante...

Os períodos cruciais por que passa a criança, segun­do a observação de Freud, no que diz respeito ao desenvolvimento psicossexual, através dos estádios oral, anal, fálico e genital, direcionam o ser humano somente para a busca do prazer, sendo que, na mudança de um para outro está­dio são gerados conflitos e frustrações, em razão das outras formas anteriores de satisfação (prazer) serem negadas.

Por sua vez, Karen Horney (1885 - 1952), analisan­do os diferentes padrões da personalidade, sustentou que os indivíduos, particularmente na sociedade hodierna, so­frem de um tipo de ansiedade fundamental.

Essa ansiedade que gera neuróticos, ou daqueles que já se encontram neurotizados, indu-los a uma exagerada busca de múltiplos objetivos como forma de diminuir ou abafar essa inquietação. Um grande número foge, então, na busca do amor, enquanto outros se entregam à conquista de recursos amoedados, de prestígio social, político, reli­gioso, de qualquer tipo, evitando envolvimentos emocio­nais ou ainda tentando diminuí-la por meio do álcool, das drogas aditivas...

A busca neurótica pelo amor, porém, tem prevalên­cia nesses comportamentos ansiosos. E porque o indivíduo pensa que a satisfação do instinto poderá acalmar-lhe a an­siedade, frustra-se com facilidade, já que as suas exigências de afeto são excessivas, totais... A mínima insatisfação que lhe advém, atira-o para o conceito falso de que foi recusa­do, sentindo-se rejeitado. Com esse fenômeno, aumenta--lhe a ansiedade, que o tornará mais afadigado na busca do afeto ainda não alcançado, ampliando as possibilidades de repulsa, e assim movimentando-se num círculo vicioso.

Desvairado, permite-se a hostilidade que não conse­gue identificar, sempre receando a perda total do ser que diz amar. Desvaloriza-se a si mesmo, a fim de enaltecer o outro a quem se afeiçoa, ou passa a desconsiderar, imagi­nando que se equivocou, quando atribuiu excessivos valo­res e recursos que a pessoa não possui.

Esse tipo de mecanismo circular é muito comum no paciente ciumento, que sempre está em busca de fidelidade absoluta noutrem, sem condições de manter-se no mesmo padrão, mediante uma conduta tranquila, não neurótica.

Em face dessa insegurança emocional, sente o ego ferido pelo desprezo que imagina foi-lhe concedido, dei­xando-se dominar por ideias perversas de autocídio ou de homicídio.

Na raiz de muitos crimes na área da afetividade doentia, o ciúme destaca-se como fator primacial, por ser possessivo, asselvajado. Sentindo-se recusado, muitas vezes, porque é cansa­tivo o apego do paciente, e o outro parceiro exaure-se na sua convivência, isso é tido como rejeição porque - pensa - certamente há outrem interferindo no relacionamento, em um triângulo imaginoso.

Desencadeada a ideia suspeitosa e infeliz, a maquina­ção doentia aumenta, e considerando-se vítima, põe-se em observação alucinada, deformando todos os acontecimentos, que passa a ver através de uma ótica distorcida, isto é, confirmando o que deseja que esteja acontecendo.

Quando a mente descontrola o comando do discer­nimento, o paciente consegue introduzir pessoas de quem suspeita no convívio do lar, a fim de facilitar o relaciona­mento com o outro e poder melhor confirmar as angus­tiantes expectativas, culminando em loucura ou crime.

Não apenas na área da afetividade entre parceiros o ciúme é tormento da alma, como também em qualquer contato interpessoal, social, profissional...

Quem se permite alimentar a víbora do ciúme no coração, mediante suspeitas infundadas, torna-se elemento prejudicial à sociedade, em razão do comportamento que se decompõe, levando a maledicências, a comentários desairosos, a apresentação de ocorrências não reais, a aponta­mentos deprimentes e a censuras injustificáveis.

O ciúme estimula a inveja, e ambos trabalham em comum acordo para anular a ação daquele que lhes inspira o sentimento negativo.

Pais imaturos são muito responsáveis por esse comportamento doentio, quando geram cenas de preferências no lar, selecionando os filhos queridos daqueles que pa­recem rejeitar. Outras vezes, demonstram a conduta inamistosa com aqueles que são tímidos, empurrando-os para dentro de si mesmos, frustrando-os na afetividade e na au­toconfiança, de forma que o complexo de inferioridade os fere dolorosamente, dando lugar ao ciúme e à inveja.

A sociedade é, nesse caso, sempre tida como hostil. Sem dúvida, ela é constituída pelos indivíduos que a com­põem. Se a criatura é indiferente ou agressiva, ao encon­trar outra equivalente, forma o grupo social desinteressado pelo bem-estar comum, desenvolvendo o egoísmo geral e cerrando as portas àqueles que desejam oportunidade de relacionamento.

Os indivíduos tímidos, aqueles que sofreram agres­sões na infância, que desenvolveram conflitos de inferio­ridade, sempre sentem-se rejeitados e repelidos, expulsos sem consideração ou sequer comiseração, em mecanismo evocativo inconsciente do que experimentaram durante a construção da personalidade...

Irão formar bolsões de adversários inconscientes uns (os rejeitados) dos outros (os encarcerados no egoísmo), todos eles insensíveis aos sentimentos de humanidade, e isto sucede porque se sentem excluídos da sociedade, de­senvolvendo a agressividade, filha dileta da revolta e do res­sentimento, que explodem em forma dos diversos crimes que ora assolam em toda parte.

Não bastassem os prejuízos que provocam onde se encontram, esses indivíduos são infelizes em si mesmos, merecedores de tratamento especializado, de ajuda fraternal, de consideração espiritual, porquanto avançam, cada vez mais, para situações penosas e aflitivas.

Inegavelmente, a convivência com o paciente ciu­mento é martirizante, especialmente quando se recusa ao tratamento libertador.


Terapia para o ciúme

Todo e qualquer distúrbio orgânico, psicológico ou mental necessita de tratamento especializado, consideran­do-se a área em que se apresenta.

E natural, portanto que, naquilo que diz respeito ao comportamento emocional, seja levada em conta a terapêutica especializada, de modo a encontrar-se a raiz atual do problema, nunca sendo olvidado que o Espírito, em si mesmo, é o grande enfermo. Embora esse conhecimento, podem ser minimizados os efeitos perturbadores através do reencontro com as causas da existência presente, que tiveram origem no lar agressivo ou negligente, no grupo social perverso, nas condutas extravagantes ou em processos enfermiços que atingiram a organização física.

Penetrando-se nas causas dos conflitos dessa natureza - o ciúme - pode-se avaliar a melhor conduta para os indi­víduos normais, em face dos padrões que denominaremos como de confrontação e de saúde mental.

Em todos os indivíduos encontram-se os conflitos inconscientes e os mecanismos de defesa, diferenciando-se através de como são resolvidos.

Oportunamente, com Anna Freud (1895-1982) e outros, como Heinz Hartman (1894-1970) e Erik Erikson (1902-1994), surgiu uma corrente na psicanálise, denomi­nada como psicologia do ego, em que os seus adeptos, além do conceito da libido, agregam os fatores culturais e inter­pessoais como desencadeadores da saúde e dos distúrbios de conduta. Nada obstante, propõem as contribuições saudáveis do si-próprio, na maneira como trabalhar o mundo, conviver com a realidade tal como se apresenta, em vez de mascarar-se, evitando enfrentá-los ou procurar justificati­vas falsas para a sua evasão.

A criatura humana possui motivação para uma exis­tência saudável, a depender da aspiração que mantenha no seu sacrário íntimo, conforme propõe Abraham Maslow (1908-1970).

Na pirâmide proposta pela eminente terapeuta hu­manista, as necessidades fisiológicas dos primeiros períodos vão lentamente sendo direcionadas para outras, como as de segurança, conforto, ausência de medos, busca do amor, competência, aprovação e reconhecimento; logo ascendendo para as necessidades cognitivas, ordem, beleza, realiza­ção pessoal para atingir as experiências-limite.

Nessa ascensão, o conceito de si-próprio exerce um papel preponderante, por estimular o ser à conquista de valores internos e pessoais, que o erguem ao pleno desenvolvimento dos seus recursos morais e espirituais.

O paciente ciumento, em sua insegurança, não tem qualquer consideração por si próprio, necessitando, por­tanto, de ser conduzido à autoestima, à superação dos con­flitos de inferioridade e de insegurança, tomando conheci­mento lúcido das infinitas possibilidades de equilíbrio e de afetividade que lhe estão ao alcance.

Ao mesmo tempo, a libertação das ideias masoquis­tas primitivas que nele permanecem, da culpa inconsciente que necessita de punição, bem direcionada pelo psicoterapeuta, ensejar-lhe-á a compreensão de que todos erram, de que todos devem assumir a consciência dos equívocos, mas a ninguém é concedido o direito de permanecer no muro das lamentações em torno de reais ou imaginárias aflições.

O amor é como um perfume. Espraia-se invisível, mas percebido, impregnando os sentimentos que se iden­tificam, facultando saúde emocional e bem-estar a todos.

Quando buscado com afã, torna-se neurótico e per­turbador, jamais atendendo às necessidades legítimas da pessoa.

Por outro lado, a ação fraternal da solidariedade en­seja uma visão diferente daquela na qual o paciente encar­cera-se, acreditando-se, apenas ele, como pessoa que vive um tipo de incompletude. Nesse ministério da ação cari­dosa para com os enfermos, em relação às demais pessoas que experimentam diferentes tipos de necessidade, ele se descobrirá naqueles a quem Jesus, o Psicoterapeuta por excelência, denominou como os filhos e as filhas do Calvário, por conduzirem também suas cruzes, algumas delas invisí­veis aos olhos externos das demais pessoas.

A ação de benemerência direcionada ao próximo conduz ao descobrimento de quanto é saudável ajudar, fa­cultando o entendimento dos dramas alheios e, ao mesmo tempo, encontrando solução para os próprios conflitos.

Aquele que se dedica à compaixão e à caridade, des­cobre, deslumbrado, não ser o único sofredor do mundo, e identifica-se com muitos que também estão padecendo, verificando, entretanto, quantos estão lutando com deste-mor para superar os impedimentos e as dificuldades que os atam à aflição.

Essa constatação serve-lhe de estímulo para também procurar a melhor maneira de libertação pessoal.

A terapêutica da bondade ao lado da psicoterapia especializada constitui elemento construtivo para a superação do ciúme, porque, nesse serviço, o afeto se amplia, os horizontes alargam-se, os interesses deixam de ser persona­listas e a visão a respeito do mundo e da sociedade torna-se mais complacente e menos rigorosa.

Amor terapia, portanto, é indispensável para qual­quer evento de desequilíbrio emocional, especialmente por ensejar o intercâmbio com o Pensamento Divino que se haure através da oração e da esperança.





Divaldo Pereira Franco ditado pelo 
Espírito Joanna de Ângelis



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