domingo, 21 de julho de 2013

OS PSICOPATAS NO MERCADO DE TRABALHO - Tiago Cordeiro (Revista Veja)


Eu penso que deva ser esse fenômeno que têm feito tantas pessoas infelizes nos empregos. Para as empresas é bom, aliás é excelente para os lucros, mas para nós seres humanos é muito sofrível esta convivência com isso ou com essas pessoas no dia-a-dia. É uma tortura! É muito ruim. Que Deus tenha misericórdia de mim (ou de nós reles mortais e 'normais') que nos livre dessa convivência nociva a alma. Eu já tive minha quota de sofrimento em conviver com um tipo assim na minha vida. Não gosto nem de lembrar... me dá uma dor na altura do estômago. Tenho náuseas quando lembro ou comento aqui. Mas é preciso registrar para as minhas filhas saberem de mim e também para limpar este tumor. Só cura quem fala do que faz mal no íntimo. É um tumor maligno! Minha psicóloga (Dra. Cláudia Rabello - excelente diga-se de passagem. Faz 2 anos que estamos limpando um 'bocado' de coisas...). Ela acha que só se cura quando coloca para fora e com isso trabalhamos essas lembranças odiosas. Enfim... Quero distância de pessoas assim... Eu DETESTO profundamente pessoas com este perfil psicopático. Eu só quero pessoas leves, amorosas, fraternas e cheias transbordantes de empatia.
Roberta Carrilho


Em novo livro, psiquiatra britânico defende que, em doses moderadas, características como audácia, agressividade e capacidade de convencimento são úteis no ambiente de trabalho


Segundo o psiquiatra britânico Kevin Dutton, audácia, capacidade de persuasão, falta de empatia e coragem para assumir riscos — típicas da psicopatia — são características de líderes políticos e religiosos (Thinkstock).

Os transtornos mentais se manifestam em graus variados. Nem todo psicopata é um assassino implacável. Algumas pessoas conseguem até tirar proveito das formas mais brandas deste distúrbio para se dar bem no mercado de trabalho — e não representam nenhuma ameaça à sociedade. A tese é do psicólogo britânico Kevin Dutton, professor da Universidade de Oxford, que acaba de publicar o livro The Wisdom of Pshychopaths (A Sabedoria dos psicopatas, sem versão em português). “Todos temos algumas das características dos psicopatas. O que determina o transtorno são os diferentes graus e a forma como cada uma dessas características se combinam”, diz.

A gradação da psicopatia

Transtornos mentais são diagnosticados com base em exames clínicos e questionários padronizados. Normalmente, admitem gradações. No caso da psicopatia, a pontuação vai de 0 a 40, segundo o teste de referência. O exame é feito com base em questões comportamentais, que sondam, por exemplo, se o paciente maltrata animais, que tipo de relacionamento ele consegue manter e até se costumava fugir da escola. De acordo com Daniel Martins de Barros, psiquiatra coordenador do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, a psicopatia é tecnicamente diagnosticada nos casos em que a pontuação é maior do que 30. “Há, no entanto, gradientes, com notas perto dos 30. Essas pessoas têm graus maiores de frieza e indiferença, por exemplo, mas não são psicopatas formalmente diagnosticadas.” Segundo o psiquiatra, não há tratamento comprovado para a psicopatia — em alguns casos, a terapia pode até piorar o quadro. O mais eficaz, portanto, é transmitir ao paciente a clara percepção de que seus atos serão punidos.

A psicopatia, ou o transtorno de personalidade antissocial, está descrita no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), referência da psiquiatria. A condição tem como característica principal um "padrão global de desrespeito e violação dos direitos alheios". De acordo com o DSM, as características centrais da personalidade de um psicopata são falta de empatia, tendência à insensibilidade, desprezo pelos sentimentos das outras pessoas, irresponsabilidade, irritabilidade e agressividade.

Segundo Dutton, no entanto, em doses pequenas, algumas dessas características não são um perigo concreto à sociedade. Elas podem até favorecer a ascensão profissional. “Todo executivo tem que promover cortes de funcionários em algum ponto da vida. A falta de empatia é importante nestes casos”, diz. A diferença entre os assassinos — como o personagem Dexter, protagonista da série homônima — e os empresários é que, em um serial killer, o traquejo social é menor, e a capacidade de se comportar de forma agressiva, bem maior. “Mas nem todo psicopata é violento.” 

Características de psicopatas que podem ajudar no trabalho:

Firmeza

O psicólogo nova-iorquino Paul Babiak, autor do livro Snakes in Suits (Cobras de terno, sem tradução para o português), entrevistou 203 executivos de alto escalão em sete empresas americanas em 2010. Concluiu que 3,9% deles podiam ser diagnosticados como psicopatas — quase quatro vezes mais do que a média mundial, de 1 psicopata para cada 100 pessoas. “As empresas valorizam este tipo de perfil, em grande parte, por causa da postura assertiva, agressiva e extremamente autoconfiante destes profissionais”, diz. Kevin Dutton, autor de The Wisdom of Pshychopaths, reforça: “Em qualquer reunião de negócios, a capacidade de questionar quem discorda das suas ideias é fundamental. Ajuda a emplacar projetos que beneficiam você”. A mesma atitude pode ajudar na hora de pedir um aumento.

Charme

Carisma e simpatia ajudam a conquistar a confiança dos colegas e dos chefes e, no limite, fazem com que um grupo inteiro realize seus desejos de livre e espontânea vontade. “Fala-se muito que os psicopatas não têm empatia, ou seja, a capacidade de se colocar no lugar dos outros”, diz Kevin Dutton. “Nos últimos anos, descobrimos também que eles têm outra característica: a de fingir empatia melhor do que a média das pessoas”. Psicopatas são especialistas em ler as fraquezas dos outros e explorar isso a seu favor. Seu charme é superficial, mas muito eficaz. Quando a pessoa percebe que não pode confiar tanto assim naquele colega, já é tarde demais: ele já foi promovido. Ou, no caso de um político, já foi eleito.

Determinação

Kevin Dutton aponta uma característica comum a psicopatas e monges budistas: a capacidade de abstrair pensamentos sobre o passado ou o futuro e focar apenas no presente. Quando o foco está bem definido, é mais fácil encontrar soluções para problemas da empresa, sem sofrer excessivamente com o estresse que a dúvida gera. “Quem analisa diferentes alternativas e não consegue se decidir fica paralisado”, diz Dutton. A desvantagem de trabalhar com um colega com características de psicopata é que ele vai apostar todas as fichas na solução que encontrar: um dos problemas de ser assertivo e determinado o tempo todo é que a pessoa vai insistir até o fim na solução que apresentou. Se ela der errado, vai encontrar uma forma de colocar a culpa em algum outro colega.


Audácia

A audácia pode ajudar um bombeiro a entrar em um edifício em chamas ou um piloto a fazer uma curva em velocidade mais alta do que o recomendável. Dentro de uma companhia, ela é útil para encontrar a coragem necessária para tomar atitudes ousadas, que outras pessoas, por medo, não colocariam em prática. “A capacidade de agir sob pressão intensa é uma qualidade importante no mundo empresarial”, afirma o psiquiatra americano Ronald Schouten, professor da Escola de Medicina da Universidade Harvard. Por outro lado, muitas vezes estas iniciativas não levam em conta dilemas éticos ou morais, para os quais os psicopatas dão quase nenhuma atenção. No limite, esta atitude pode levar a atitudes irresponsáveis ou até mesmo ilegais. De acordo com um levantamento de 2009 da consultoria PriceWaterhouseCoopers, um terço das empresas do mundo sofre fraudes, com perda média de 1,2 milhão de dólar anual.

Senso de urgência

A falta de empatia ajuda uma pessoa a não levar desentendimentos profissionais para o plano pessoal, o que facilita o trabalho em equipe. “Até certo ponto, isso ajuda a unir pessoas em torno de soluções imediatas para problemas urgentes. Este tipo de capacidade é importante para gerentes”, diz Kevin Dutton. Um profissional assim assertivo não se assusta com cara feia, não admite má vontade e, se toma uma decisão incorreta, não perde muito tempo se lamentando. O problema é que o mesmo pacote de qualidades pode gestar profissionais autoritários, egocêntricos e cruéis. “Se você perceber que seu chefe tem características psicopatas em excesso, a melhor coisa a fazer é não bater de frente com ele e, na primeira oportunidade, mudar de departamento ou de emprego”, recomenda Ronald Schouten.

Carreira — E Dutton não está sozinho. Estudos anteriores já haviam identificado características da psicopatia em executivos. Um dos mais importantes foi publicado em 2005. As psicólogas forenses Belinda Board e Katarina Fritzon, pesquisadoras da Universidade Surrey, na Inglaterra, entrevistaram executivos de alto escalão e aplicaram a eles testes de personalidade. Depois, compararam os resultados com os perfis de um grupo de detentos do hospital psiquiátrico de segurança máxima Broadmoor, também na Inglaterra.

Resultado: as pesquisadoras descobriram que os executivos compartilham, em graus moderados, de três desordens de personalidade comuns entre psicopatas: os comportamentos obsessivo-compulsivos (que levam ao perfeccionismo e a atitudes autoritárias), os transtornos de personalidade histriônica (caracterizados pela necessidade de manipular os outros para chamar a atenção para si) e o narcisismo (marcado pela preocupação em ser bem visto pelos outros e pela despreocupação com o bem-estar alheio). É o que explica alguns traços em comum, como o egocentrismo, a capacidade de manipular e explorar os outros, o perfeccionismo, o autoritarismo e a insinceridade.

No entanto, o que normalmente se toma por um defeito de personalidade pode ser um vantagem no ambiente de trabalho. “A audácia, a capacidade de persuasão, a falta de empatia e a coragem para assumir riscos são características dos líderes políticos e religiosos, cirurgiões, generais, bombeiros, policiais, jogadores de pôquer, astronautas, pilotos de Fórmula 1 e operadores das bolsas de valores”, diz Dutton, ressalvando que a psicopatia, como qualquer transtorno psíquico, demanda atenção: em formas mais intensas, faz mal para os familiares, amigos, colegas de trabalho e para a própria pessoa. “A vida não se resume a uma série de ações egoístas bem sucedidas. Construir uma gama de relacionamentos saudáveis é fundamental”, diz o psicólogo.







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