Cérebro
Pesquisa encontrou fortes evidências de que neurônios presentes no cérebro de uma pessoa apresentam 'idades' diferentes. Segundo o trabalho, todos os dias são formadas 1.400 novas células nervosas no hipocampo
Neurônios: Cientistas suecos descobrem que cerca de um terço dessas células nervosas se renovam frequentemente ao logno da vida (Thinkstock)
A formação — ou não — de neurônios no cérebro humano ao longo da vida é um assunto muito discutido entre os neurocientistas. Há evidências de que novas células neuronais são geradas em algumas estruturas cerebrais até a vida adulta, mas a frequência com que isso ocorre e a importância desse processo, chamado neurogênese, dentro da fisiologia do cérebro como um todo são temas ainda pouco compreendidos pela ciência.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Dynamics of Hippocampal Neurogenesis in Adult Humans
Onde foi divulgada: periódico Cell
Quem fez: Kirsty L. Spalding, Olaf Bergmann, Kanar Alkass, Samuel Bernard, Mehran Salehpour, Hagen B. Huttner, Emil Boström, Isabelle Westerlund, Céline Vial, Bruce A. Buchholz, Göran Possnert, Deborah C. Mash, Henrik Druid e Jonas Frisén
Instituição: Instituto Karolinska, Suécia
Dados de amostragem: Cérebros congelados doados após a morte de pessoas entre 19 e 92 anos
Resultado: Cerca de um terço dos neurorônios se renovam constantemente ao longo da vida. Todos os dias, 700 novos neurônios são formados em cada hipocampo do cérebro.
Agora, em um estudo publicado na revista científica Cell, pesquisadores revelam evidências diretas e inéditas de que neurônios são formados continuamente ao longo da vida no hipocampo, uma região do cérebro fortemente associada à memória e ao aprendizado. Mais especificamente, são cerca de 700 novos neurônios por dia em cada hipocampo — o cérebro tem dois, um em cada hemisfério. De acordo com a pesquisa, cerca de um terço dos neurônios são renováveis e repostos regularmente, e o restante foi criado na fase fetal e, uma vez morto, não é substituído.
Testes nucleares — O estudo foi feito com cérebros congelados (doados após a morte) de pessoas entre 19 e 92 anos, sob a coordenação de cientistas do Instituto Karolinska, na Suécia. Para determinar a idade dos neurônios e concluir em que momento da vida eles foram gerados, utilizou-se uma técnica de datação de carbono semelhante à que se usa na arqueologia e na paleontologia para datação de fósseis e objetos antigos.
Os cientistas mediram no DNA de cada neurônio a concentração de carbono-14, um isótopo de carbono não radioativo. Embora o carbono-14 ocorra naturalmente, os vários testes nucleares realizados durante a Guerra Fria nas décadas de 1950 e 1960 aumentaram muito a sua concentração no meio ambiente e no DNA de plantas e animais.
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Por isso, quando os pesquisadores compararam a concentração de carbono-14 nos neurônios às concentrações presentes na atmosfera no passado, foi possível determinar em que ano cada neurônio foi gerado. Ou seja, a concentração de carbono-14 serviu como marca para determinar a idade de um neurônio. Se um neurônio “nasceu” em 1995, mas a pessoa nasceu em 1965, por exemplo, isso significa que ele foi gerado na vida adulta.
O estudo observou que, em um mesmo cérebro, havia neurônios com concentrações diferentes – e, portanto, com idades diferentes, mostrando que uns foram gerados anos antes do que outros. “Algumas células estão morrendo, outras sendo repostas. Há um constante fluxo de vida e morte no nosso cérebro”, diz Kirsty Spalding, uma das autoras do estudo.
De acordo com os autores, o próximo passo é tentar determinar a importância dessa neurogênese nas funções cerebrais. Segundo cientistas, o fato de tantas células serem formadas continuamente sugere fortemente que elas têm um papel importante na manutenção das funções cognitivas do hipocampo ao longo da vida.
(Com Estadão Conteúdo)
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