O que sei sobre a felicidade? O que dela experimentei. Ao longo destes anos vividos, muitas vezes eu reconheci que meu corpo estava visitado por uma satisfação diferente. Uma satisfação não brotada de motivos. Uma sensação que nascia sem que eu pudesse conhecer suas causas. Era como se a realidade imaterial se hospedasse em meu corpo, criando um estado de harmonia, que assim como vinha também partia. A breve passagem sempre funcionou como um indicativo de que estava no caminho certo. Compreendo a felicidade dessa forma. Viver confortável em mim mesmo, e vez ou outra receber a confirmação que me vem pelas sensações. Reconheço minha felicidade escondida em pequenas coisas miúdas. São pequenas interferências que quebram o cotidiano e sua continuidade.
Por um instante, a vida parece parar. O coração descobre um novo jeito de enxergar o sempre visto, o mundo que nunca muda, e nele encontra um motivo para sorrir ainda que a vida ande escassa de alegrias. Custa a gente aprender, mas nem sempre a felicidade estará de braços dados com a alegria. A alegria sobrevive de motivos externos. Felicidade não. É mais profunda. Não depende das alegrias para que seja real. É possível ser feliz mesmo quando não estejamos alegres. Em muitos momentos árduos da vida eu permanecia feliz. Por quê? Eu tinha certeza de que estava no lugar certo, fazendo a coisa certa.
A realização humana, raiz de toda felicidade, consiste em saber-se a pessoa certa no contexto das escolhas feitas. Encontrar conforto ainda que a vida esteja pesada, porque sabemos que estamos onde verdadeiramente deveríamos estar. É o sacrifício salutar. Reconhecer que, mesmo na ausência de alegrias, a felicidade permanece motivando a luta.
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