quinta-feira, 26 de março de 2015

NINA SIMONE: A COMPLETUDE HUMANA PELA ARTE, AMOR, TALENTO E CONVICÇÃO por Élida Regina Pereira


Nina Simone, ícone da música norte americana, foi completude de amor, alma, política e genialidade musical. Teve sua música e alma expostas pelo mundo e expôs suas emoçōes e opniões de uma forma destemida. Nascida na década de trinta, viveu um período triste da história norte americana e mundial, e consequentemente, colheu seus dejetos.


Eu me identifico muito com Nina, com seu lado intenso, autêntico, humanísta, amoroso, alma viva, ser solitário e selvagem. Sou intensa no sentir e no viver dos meus pensamentos, desejos, anseios como ela. É por tudo isso que eu titulei o meu blog: "sou sentimentos... " porque sou todos eles (os doces, amargos, azedos, bons, maus, etc) Roberta Carrilho




Nascida Eunice Kathleen Waymon, em Tryon, na Carolina do Norte, no dia 21 de fevereiro de 1933, seu talento prodígio como musicista ficou evidente quando ela tocou algumas notas no piano, aos 3 anos de idade. Seus pais eram pertencentes a igreja metodista e não ignoraram seu talento. Eunice foi educada de forma rigorosa na igreja. Seus pais a ensinaram a concepção entre certo e errado, a ter dignidade e trabalhar duro pelo que queria. Eunice tocou piano na igreja liderada por sua mãe, mas não cantava. 

Começou a estudar piano com uma professora britânica que morava por perto, chamada Muriel Mazzanovich. Foram em suas humildes raízes que ela desenvolveu seu amor, pra uma vida inteira, por Johann Sebastian Bach, Chopin, Brahms, Beethoven e Schubert. Para que ela estudasse a comunidade arrecadou dinheiro, com o intuito que ela fosse para Nova Iorque. Antes, ela havia tentado admissão no prestigiado Instituto de Música Curtis, na Filadélfia. Eunice sonhava com uma carreira pioneira como pianista clássica afro americana, mas, o instituto negou sua admissão. Seu sonho inicial, não se realizou. Ela afirmou que não foi aceita por ser uma jovem negra. Eunice se tornou Nina Simone para que a sua família, por ser religiosa, não descobrisse que ela estava tocando em bares. Nina Simone chamou a atenção da industria aos 24 anos de idade, quando enviou uma demo com músicas gravadas durante uma de suas apresentações na Pensilvânia.


Nina Simone, definida por ela mesmo, como uma pessoa emocional e que podia ser totalmente desagradável, se algo não lhe agradasse. Também foi taxada por muitos como louca e desequilibrada. A exposição à violências de diferentes formas, seja à uma guerra, ao racismo diário, ao machismo diário, à falta de amor e tantas outras formas de violências, não passarão pela vida de qualquer ser humano, sem deixar suas sequelas. E como ser humano de alma profunda, Nina Simone, teve como sequelas, problemas com paranóias e alucinações. Durante sua trajetória, Nina viu algumas de suas referências e companheiros de luta contra o racismo e as desigualdades morrerem. E após ser exposta à violência de perder companheiros, surgiram as alucinações, como fruto do medo de ser assassinada. Nina não era louca, era humana.





Nina, como ativista, teve companheiros de grande peso para a história da luta contra o racismo no mundo. Miriam Makeba, Martin Luther King, Malcom X, Nelson Mandela e muitos outros, nos quais, ela se identificou com as propostas de luta. Cantou no enterro de Martin Luther King e após sua morte, escreveu a música: Why? (The King of Love is Dead).




Se tornou amiga de Miriam Makeba e partilhou com ela as convicções e posições políticas. Dizia que se sentia mais viva quando cantava por e para (como ela mesmo dizia), o seu povo, o povo negro. Queria e cantava contra as injustiças e contra o racismo. Teve como sua maior admiração, Nelson Mandela, e quando teve a honra de conhecê-lo, afirmou que não se decepcionou.

A música, ela definiu, como a coisa mais importante em sua vida. No palco ela expunha toda a sua genialidade musical, atrelada as suas experiências pessoais, protestos e convicções políticas. Em algum momento da vida, é notório que Nina se sentiu incompreendida por sua personalidade, podemos notar em algumas entrevistas concedidas e a sua escolha e interpretação, tão profunda na canção “Don’t let me be misunderstood” (Não me deixe ser mal compreendido). Ela despeja no ouvinte a correnteza forte que era sua alma.

Nina, teve seus momentos de infelicidade e insatisfação com a própria carreira, chorou a perda do pai, questionou o jazz e queria ser reconhecida pela música clássica negra e não aceitou ser marginalizada. Nina Simone, além da sua genialidade musical foi um ser humano completo. Viveu conquistas, dores, amores, magoou, foi magoada e foi intensa durante toda a sua vida. Em poucos momentos, ela foi vista em momentos de felicidade, demonstrou durante anos a insatisfação com a vida pessoal e com as injustiças

No documentário, Nina Simone: The legend, Ela falou sobre solidão: 

"Eu não sei mais o que a vida deveria ser... Quando você não tem ninguém em casa, a vida não significa muito." 

Nina não interpretava uma falsa personalidade, não se preocupava com as indústrias fonográficas e vendas. Nina cantou o que ela sentia e o que a representava. Cantou pela arte, pelo amor e pelas suas próprias convicçōes.

Quando o artista expõe sua obra, sua vida, sua alma, como fez Nina Simone, as leituras podem vir de formas variadas e convenientes a quem lê. Nina viveu no ápice das manifestações e ações racistas norte americana, usou sua voz contra o racismo e muitos, por conveniência e até mesmo como tentativa de desqualificar suas reivindicações, interpretaram isso como raiva e loucura. Mas, ela definiu como inteligência, como um modo de mostrar aos brancos que não estava passiva diante dos fatos. Há quem chorou com ela, há quem chorou por ela, há ainda, quem chora ao vê-la nos vídeos e ao ouvi-lá cantar e tocar com tanta dor, verdade e convicção.


Mergulhar na obra de Nina é mergulhar numa obra profunda de amor, dor, humilhação, solidão, sonhos, vitórias, derrotas, e todas as complexidades que um ser humano, realmente humano, carrega consigo. Nina Simone nos presenteou deixando sua vasta obra, selada com a imortalidade.

Nina Simone - Feeling Good




Nina Simone - Don't Let Me Be Misunderstood 





Nina Simone - I put a spell on you. 





The Ballad of Nina Simone - Nina Simone Sings My Baby Just Cares for Me and Other Jazz & Blues Hits 












Fonte: © obvious: 












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