domingo, 1 de fevereiro de 2015

CRIANÇAS E A GUERRA por Livia Louback



Surgiu na internet um vídeo que logo se tornou viral (sendo visualizado por mais de 8 milhões de pessoas): em meio a um confronto civil na Síria, um garoto baleado se finge de morto para salvar uma menina.

Somente após tantas visualizações, o grupo de cineastas que o produziu (com verbas que recebeu do Instituto de Filmes Norueguês e do Fundo Audiovisual do Conselho de Artes da Noruega no montante equivalente a R$107.000,oo) decidiu divulgar a verdadeira natureza do filme, que não tem nada de real. Dentre as muitas declarações hipócritas feitas pelo grupo, as mais marcantes foram “Tinham motivações honestas” e “o filme não foi uma forma cínica de atrair atenção”. Se não é cinismo fingir que crianças estão sobrevivendo à guerra, para conseguir publicidade e empatia, esclarecendo que era obrigação das pessoas entender que se tratava de uma filmagem produzida, pois crianças não sobrevivem na guerra, então acho melhor voltar ao dicionário e entender o que é cinismo:

Cinismo: s.m. atitude ou caráter de pessoa que revela descaso pelas convenções sociais e pela moral vigente; desfaçatez.

Definições do português à parte, me questiono como, em um mundo marcado por guerras reais, onde milhares de crianças estão morrendo e também matando, sendo privadas de suas vidas e suas infâncias, um grupo de pessoas tem a coragem de investir uma quantia qualquer (que poderia, por exemplo, ser direcionada ao auxílio dos sobreviventes das áreas em conflito) criando um filme de pouco mais de um minuto que brinca com o coração de todos nós, que já fomos também crianças. Ao notarmos a atitude heroica do menino, automaticamente começamos a torcer por seu sucesso e sobrevivência, enquanto, na realidade, outras crianças sem rosto morrem baleadas sem receberem uma gota sequer da empatia mundial.

É um mundo triste esse em que vivemos, onde aparentar é uma prioridade maior do que solidarizar. Sugiro que esse grupo de cineastas saia da Noruega e vá para a Síria, se jogar na frente das crianças sendo baleadas. Faria a todos nós (e principalmente àquelas crianças) um grande favor.






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