terça-feira, 30 de abril de 2013

GRANDES DISCURSOS QUE NUNCA FORAM PROFERIDOS - BBC Brasil



Atualizado em  28 de abril, 2013 - 17:37 (Brasília) 20:37 GMT
Jacqueline e John Kennedy / AP
John F. Kennedy (à dir.) escreveu discurso nunca proferido sobre invasão dos EUA a Cuba
O que teria acontecido se John F. Kennedy tivesse retornado com segurança de Dallas no fatídico dia 22 de novembro de 1963? O Congresso teria aprovado a Lei dos Direitos Civis? Milhões de pessoas não teriam sido mortas na Guerra do Vietnã?
A história não é formada apenas pelos fatos que se sucederam, mas também por aqueles que, por motivos conhecidos ou desconhecidos, nunca ocorreram.
Há apenas um lugar em que é possível imaginar como a história seria modificada caso eles tivessem realmente acontecido: nos arquivos.
São neles que se guarda um tesouro: notas de discursos escritos, mas nunca proferidos.
Quando os Estados Unidos enviaram homens para a Lua, tinham certeza de que os astronautas chegariam a seu destino, mas não de que conseguiriam trazê-los de volta são e salvos.
Foi por isso que William Safire, o brilhante autor dos discursos do ex-presidente dos EUA Richard Nixon, convenceu seus colegas da Casa Branca sobre a necessidade de escrever um texto "no caso de um desastre na Lua".
A versão original é, apesar de nunca proferida, uma peça brilhante.

Perdidos no Espaço

Neil Armstrong / Getty
Richard Nixon escreveu discurso em caso de morte do astronauta Neil Armstrong
"Esses bravos homens, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, sabem que não há esperança de que voltem para casa. Mas também sabem que há esperança para a humanidade em seu sacrifício."
"Estes dois homens estão dando suas vidas para o objetivo mais nobre da humanidade: a busca de sua verdade e compreensão".
"Serão chorados por suas famílias e amigos, serão chorados por sua nação, serão chorados pelos povos do mundo, serão chorados por uma Mãe Terra que se atreveu a enviar dois de seus filhos ao desconhecido".
"Em sua exploração, fizeram com que todo o mundo se sentisse unido, em seu sacrifício, estreitaram mais a irmandade entre os homens".
"Na Antiguidade, os homem olhavam as estrelas e viam seus heróis nas constelações. Em tempos modernos, fazemos o mesmo, mas nossos heróis são homem épicos de carne e osso".
"Outros seguirão seus passos, e certamente regressarão a suas famílias. Essa busca não será negada ao homem. Mas esses homens foram os primeiros e continuarão sendo os mais importantes em nossos corações".
"Porque cada ser humano que olhe para a Lua nas noites que estão por vir saberá que há um lugar no outro mundo que sempre será da humanidade".

Ameaças de guerra

Dois dos antecessores de Nixon tiveram discursos prontos sobre desastres ainda piores, mas que nunca ocorreram.

Escritos mas não ditos

Richard Nixon, em caso de um desastre na Lua: "O destino determinou que os homens que foram explorar a Lua em paz permaneçam na Lua para descansar em paz".
Dwight D. Eisenhower, no caso do fracasso do Dia D: "Nosso desembarque na área de Cherburgo e El Havre não alcançou uma posição satisfatória e retirei as tropas. Minha decisão de atacar neste momento e neste lugar baseou-se na melhor informação disponível. Os soldados, a Força Aérea e a Marina fizeram tudo o que puderam em sua missão, com valentia e devoção. Se há alguma culpa, ela é somente minha".
John F. Kennedy, um outro discurso sobre a Crise dos Mísseis em Cuba: "Dei uma ordem - que foi seguida pela Força Aérea dos Estados Unidos – para que operações militares com armas convencionais fossem executadas de modo a eliminar uma das principais reservas de armas nucleares no solo de Cuba."
O general Dwight D. Eisenhower, que comandou os Estados Unidos de 1953 a 1961, por exemplo, chegou a rascunhar algumas palavras caso o desembarque do Dia D, operação que deu início a libertação da Europa na Segunda Guerra Mundial, fracassasse. No discurso, Eisenhower assumia responsabilidade pelo eventual "erro": "Se há alguma culpa nessa intenção, ela é somente minha".
John F. Kennedy também escreveu em papel seus preparativos para uma possível invasão dos Estados Unidos a Cuba.
"Com um peso no coração, e no necessário cumprimento de meu juramento ao cargo", começava o discurso de Kennedy.
O objetivo dele era anunciar o início das operações militares para retirar armas nucleares de Cuba, durante a Crise dos Mísseis de 1962.
Tal ação, se realizada, poderia provocar uma guerra nuclear.
Mas na maioria dos casos, escrever discursos era uma tarefa mais prosaica, em momentos de ócio ou rotineiros. Isso também é evidente em outro discurso que Kennedy nunca pronunciou: um texto que ele preparou para ler em novembro de 1963, na cidade de Dallas, no Texas.
Kennedy morreu em 22 de novembro de 1963, após ser baleado na cabeça enquanto desfilava em carro aberto em Dallas.
"Nós, neste país, nesta geração, somos – por destino mais do que por opção – os guardiãos dos muros da liberdade mundial. Pedimos, portanto, que sejamos dignos de nosso poder e responsabilidade, que exercitemos nossa força com sabedoria e moderação, e que possamos lograr nesta era e por todos os tempos a antiga visão de 'paz na Terra para os homens de boa vontade'".
"Essa deve ser sempre a nossa meta, a retitude da nossa causa sempre deve sustentar a nossa força. Porque, como se escreveu há muito tempo: "se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela."

Sorte ou azar?

A tarefa de escrever discursos é altamente criativa, mas se depara, na maioria das vezes, com o engessamento da burocracia. Ou um acidente.
Trabalhando durante a noite do primeiro discurso para a conferência do Partido Conservador britânico de William Hague, eu mesmo já fui vítima do acaso.
Naquele dia, alguém pisou no cabo da impressora e uma página do texto sobre deliquência desapareceu por completo.
No dia seguinte, alguns jornalistas liberais felicitaram a equipe por trás do discurso (incluindo a mim) por omitir a referência tipicamente conservadora sobre o crime no Reino Unido.
Mas os discursos originais que permaneceram contam sua própria - e verdadeira - história.
O discurso jamais pronunciado de um líder é uma pequena pista do que teria acontecido. Trata-se, ao fim e ao cabo, de um indício de um futuro que se converteu em passado sem ser presente.

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