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quinta-feira, 2 de junho de 2022

QUERIDO LULA: cartas a um presidente na prisão


O espetáculo “Querido Lula: cartas do povo brasileiro” marca o lançamento do livro 

QUERIDO LULA: 
cartas a um presidente na prisão.

 💗💗💗




A apresentação tem como roteiro as correspondências que brasileiros de todo o país e também do exterior enviaram ao presidente no ano e meio em que esteve detido em Curitiba. 📕 QUERIDO LULA: cartas a um presidente na prisão, organizado por Maud Chirio 👉 https://bit.ly/3a2dWY1 

A coletânea reúne 46 missivas, de um total de 25 mil enviadas a ele durante o cárcere em Curitiba, procurando representar a imensa diversidade contida nas cartas, contemplando autores de diferentes origens sociais e regiões do país, com histórias de vida, tons e abordagens variadas. 

🔊 As cartas serão lidas por Zélia Duncan, Denise Fraga, Camila Pitanga, Preta Ferreira, Cleo Pires, Maria Ribeiro, Monica Iozzi, Celso Frateschi, Grace Passô, Erika Hilton, Deborah Duboc, Leandro Santos (Mussum Alive), Cida Moreira, Tulipa Ruiz e Cassia Damasceno, além de missivistas vindos de todo o país para ler suas próprias cartas. 

O encontro contará com a participação de Lula, Dilma Rousseff e do pré-candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad

O espetáculo, que conta com direção de Márcio Abreu e Thomas Quillardet, é realizado pela Boitempo em parceria com a PUC-SP e tem apoio da Universidade Gustave Eiffel, Fundação Friedrich Ebert e Instituto Lula. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ 

Maravilhoso espétaculo
Roberta Carrilho 






terça-feira, 4 de abril de 2017

MORO SE IRRITA COM PROCURADORES


Curitiba Urgente: Força tarefa faz reunião de emergência, e o clima é tenso! (veja em tela cheia) - Vídeo de Paulo Sérgio 

Adorei!! 
Bem assim mesmo este deusmoro fascista kkkkkk
Roberta Carrilho 







sexta-feira, 11 de novembro de 2016

LOURDES, O AMOR MINEIRO DE LULA por Paulo Narciso



Luiz Inácio LULA da Silva e sua primeira esposa a Mineira, Maria de Lourdes de Montes Claros 

“O senhor é o senhor Luiz?”, perguntou o médico. “Sou”, respondeu o rapaz. O senhor precisa ser forte para ouvir o que vou lhe dizer. “Seu filho nasceu morto”, continuou o doutor. “É preciso ser mais forte ainda, porque sua mulher também morreu”. Assim Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a notícia da morte de Maria de Lourdes da Silva, sua primeira mulher. Era manhã de segunda-feira, 7 de junho de 1971. Lourdes, nascida na zona rural de Montes Claros, foi, como seu marido, retirante da mesma seca de 1952. Unidos pelo destino, se conheceram em um bairro pobre de São Paulo, onde eram vizinhos. Em reportagem especial dos repórteres Paulo Narciso e Leo Drumond, o HOJE EM DIA refez esta parte da biografia do presidente, percorrendo, ao lado de sua primeira sogra, dona Hermínia, e do cunhado e amigo de juventude, Jacinto Ribeiro, o Lambari, a vila onde nasceu Lourdes, no Norte de Minas. Páginas 7 a 11, Especial.
Lula, até hoje, está convencido de que as mortes de sua primeira mulher e do filho foram causadas por negligência. Em depoimentos a Denise Paraná, na biografia autorizada “Lula, o Filho do Brasil”, ele revela a revolta de sua convicção:

“A Lourdes tinha ficado grávida e, no sétimo mês da gravidez, ela pegou hepatite. Ninguém me tira da cabeça que ela morreu por negligência da rede hospitalar do Brasil, por problemas de relaxamento médico. Porque ela estava com anemia profunda e uma hepatite crônica. Ela poderia ter sido melhor tratada. Morreu sem que houvesse nenhuma assistência para ela. Eu fui ao hospital e vi. Ela gritava, ela gritava, ela gritava. Não tinha um médico para atender, não tinha ninguém. Sinceramente, eu tenho muitas restrições a esses médicos que estavam no hospital. Hoje, eu tenho consciência de quanto um desgraçado de um pobre passa nos hospitais”.

Fugitivos da mesma seca de 1952 nos sertões de Pernambuco e de Montes Claros, a 3 mil quilômetros de distância entre si, Lula com 7 anos, Lourdes com 3, os dois se encontraram em São Paulo já mocinhos, vizinhos de uma casa de parede-meia no bairro operário da Ponte Preta.

Abandonada pelo marido quando estava grávida de Lula, já nos dias de nascer, dona Lindu recebeu carta do segundo filho mais velho, Jaime, que a chamava para São Paulo, supostamente a pedido do marido. O penúltimo dos filhos e caçula dos homens, Lula, havia escapado de morrer aos 4 anos, quando uma jumenta o ergueu pela boca, numa mordida, e só o largou depois de receber uma punhalada no pescoço.

Sem recursos para sustentar os filhos, dona Lindu vendeu as terras secas por 13 mil cruzeiros, vendeu o relógio, vendeu o jumento, vendeu os santos e as fotografias de família, e tomou o “pau-de-arara” com 7 filhos, um irmão, cunhada e sobrinho. Deixou apenas o cachorro, que aos cuidados de um tio, parou de comer e morreu de saudade dos meninos. Enquanto esperava o caminhão “pau-de-arara”, que atrasou, ela colocou os filhos num quartinho na bodega do Tozinho, e fechou a porta, para que o cachorro “Lobo” não visse os meninos e os meninos não vissem o cachorro. Dona Lindu estava determinada: “Vamos embora, ou bem ou mal, para morrer de fome, nós morremos em São Paulo”.

A viagem até o marido e o segundo filho, em Santos, durou exatos 13 dias e 13 noites, de l0 a 23 de dezembro de l952. Lula – que nunca havia saído de Vargem Comprida - viajou com uma única camisa, que chegou podre a São Paulo. O percurso foi feito todo na terra; havia poucos ônibus e os raros postos de gasolina não dispunham de banheiros. O motorista do “pau-de-arara” era quem punha ordem na hora das “necessidades” e disciplinava no meio do mato: “homens para um lado, mulheres para o outro”.

Lula descreve o “pau-de-arara”:

- É uma tábua atravessada na carroceria do caminhão. Não tem nem encosto atrás. Não é um banquinho de madeira. É uma tábua grudada na carroceria. Você senta e não tem encosto. A gente pode cair. Tinha umas 30, 40 pessoas dentro do caminhão. A gente dormia na calçada. Se esticava e começava a dormir ali. Ás vezes, com um cobertorzinho. E, de repente, a gente acordava embaixo da chuva e tinha de correr para debaixo do caminhão. Não cabia todo mundo. Ficava todo mundo amontoado debaixo do caminhão.

Ainda na saída de Pernambuco, numa noitinha, bateram na lataria da boleia, indicando que alguém estava com “precisão”. O caminhão parou no meio do mato e Lula e o irmão “Frei Chico”, 3 anos mais velho, que vinham sentados no banco de trás com as pernas de fora foram os primeiros a saltar. Mas, estava escuro, acharam o lugar perigoso, e o motorista arrancou com o caminhão. Lula e o irmão, deixados para trás, gritavam, correndo: “pára, pára, pára”, enquanto dona Lindu se desesperava na carroceria com os outros 5 filhos.


Na viagem

Quando entraram em Minas, os retirantes desceram pelo leste, em direção a Teófilo Otoni e Governador Valadares, quando poderiam ter seguido pela rota de Montes Claros, muito usada pelos retirantes nordestinos, especialmente pelos que vinham pelas “gaiolas” do Rio São Francisco até Pirapora. ”Frei Chico”, que se declara ateu apesar do “frei” no apelido, diz que o caminhão viajava com a lona abaixada e que se lembra apenas da cidade de Vassouras, no Rio. Ele tinha 10 anos.

Se tivessem passado por Montes Claros, poderiam ter cruzado com uma camioneta que, no mesmo mês do mesmo ano, levava os retirantes Lourdes e sua família para a garagem da Central do Brasil, onde tomaram o “trem baiano” para São Paulo.

O pai de Lula era estivador no Porto de Santos e se surpreendeu com a chegada da primeira família, naquela véspera de Natal. Com a prima de dona Lindu, ele já tinha filhos de 6 e 7 anos e a primeira coisa que perguntou, ao ver a família que não esperava, foi pelo cachorro “Lobo”, que havia ficado no sertão. “Cadê o cachorro?” Lula lamenta:

“Na verdade, meu pai estava pouco interessado que minha mãe viesse para cá, porque ele queria viver a vidinha dele com a mulher que ele tinha aqui, que era uma prima de minha mãe. Meu pai tinha saído de Pernambuco com essa prima, ela tinha desaparecido, mas ninguém tinha feito a relação entre o desaparecimento dela e a vinda do meu pai”.

E meu irmão, na carta, não conta essa história para minha mãe, só diz que meu pai queria que ela viesse para cá.

O estivador Aristides, carregador de sacos de café, bem ou mal, acolhe a primeira família, transfere a segunda mulher para outra casa e os aloja na casa principal. Ficava dois dias numa casa, dois dias na outra. Acabou pai de 18 filhos, oito com dona Lindu, fora os 4 que morreram, e 10 com a prima dona “Mocinha”. Os filhos, todos os filhos, não têm boas lembranças dele, e Lula chega a dizer nas suas memórias que o pai “cuidava mais dos cachorros que dos filhos”.

Tempos depois, quando ganhou uma “mangueirada” na cabeça, dona Lindu resolve, agora por iniciativa dela, deixar o marido, cansada dos maus tratos contra ela e os filhos. “E aí, para nós foi ótimo. Nós ficamos em liberdade? A gente passou a viver melhor. Era uma pobreza com liberdade. Então, a separação dos meus pais, no fundo, no fundo, foi uma grande liberdade” – comemorou Lula, que quase só podia trabalhar, pois era proibido de estudar pelo pai “analfabeto” que adorava comprar jornais quando andava de barco, “lendo” jornal muitas vezes de cabeça para baixo.

Os três irmãos mais velhos já trabalhavam e Lula e “Frei Chico” vendiam laranja, tapioca e amendoim, pelas ruas de Santos, além de carregarem feixes de lenha. Aos 10 anos, Lula vai com a mãe e os irmãos para São Paulo. Eles mudaram para um barraco, que “era tão barraco, que um dia despencou”. Algumas das irmãs já trabalhavam como empregadas domésticas e toda a mudança se resumia “numa tina e uma lata de leite Mococa, para guardar o pão e uma faca”. O que se tornaria presidente da República se lembra de que todos gozavam do seu pescoço curto: “eu era assim de tanto carregar lenha”.

Engraxate, tintureiro, telefonista, Lula ia mudando de emprego conforme mudava de endereços, mas servido de uma calça só, que a mãe lavava aos domingos. O sonho era ser motorista de caminhão, mas este dia não chegava. “Foi um período muito ruim. Muita miséria. Mas eu era um moleque feliz. Porque a gente era pobre, mas a gente tinha um mundo à nossa disposição”.

Na Vila Carioca, em mais de um endereço diferente, ele consegue entrar para o Senai, “no melhor período da minha infância”, toma o primeiro “fogo” da vida, um porre de vinho e cerveja, e começa a trabalhar na Fábrica de Parafusos Marte e, depois, na Fábrica Independência. Aqui, como torneiro-mecânico trabalhando à noite, o braço da prensa “fechou” e esmagou o dedo menor da sua mão esquerda. Com a indenização de 350 mil cruzeiros, Lula comprou móveis para a mãe e um terreninho. Mais: o dedo esmagado, envolto em curativos, despertaria a dó de Maria de Lourdes, que logo se tornaria vizinha. Era o encontro da moça de Montes Claros com o rapazinho de Vargem Comprida, em São Paulo, uma cidade já com milhões de habitantes.





Lambari

Era l965. Lula foi com a família morar na Ponte Preta, na Vila São José, divisa de São Caetano e São Paulo. Ele estava com um dedo a menos na mão esquerda, estava desempregado e “tinha muita miséria em casa”. Mas, uma miséria significativamente menor. A família já possuía um fogão de duas bocas e muitos catres velhos. ”Eu e o meu irmão colocamos o fogão bem no alto e nós íamos com muito orgulho em cima do caminhão. Afinal de contas, a gente já tinha um fogão”.

O seu plano de vida estava definido: “tudo o que eu queria era o que todo mundo quer - ter uma vida tranquila, ganhar meu salário. Queria casar e constituir minha família sem nenhuma ilusão”. Com 20 anos, nada sugeria o futuro líder de massas, bom orador, desinibido, convincente. Ao contrário, era tímido, trancado mesmo, pouco saliente, pouco “saído” - resumia sua mãe. Queria só ter casa, mulher e filhos Para isso, o destino havia feito sua parte.

Ao lado da casa, do outro lado da parede, morava Maria de Lourdes, com pai, mãe e três irmãos. Os retirantes de Montes Claros haviam dado a volta pelo mundo, no interior de São Paulo, e também acabavam de chegar, ali. Todos se tornaram amigos. Lambari, o melhor de todos – o amigo da juventude.

Mas, havia enchentes. A água do ribeirão teimoso vinha pela janela, misturada com água dos vasos sanitários, e acordava Lula quanto atingia o colchão. Resolveram mudar de novo e foram para o Jardim Patente. A família de Lourdes, com o mesmo problema, também se mudou.

Lá, os amigos, “amigos mesmos”, conhecidos de muitos anos, companheiros de festas, de bailes, de enchentes, de desemprego, de infortúnio, resolveram se namorar. Numa festa, Lula tomou três conhaques, criou coragem e fez a proposta. Lambari ajudou no consentimento, mas não ficou atrás. Passou a namorar a irmã de Lula mais nova, Tiana, ou Ruth, conforme lhe chamavam pelo nome de batismo ou pelo nome do registro civil.

Esta irmã tem a memória do clima: “Nossa adolescência foi uma fase gostosa. Ficamos conhecendo dona Hermínia, que virou sogra dele. Nós fizemos amizade, “uma amizade gostosa”. Lula nunca foi de namorar. A primeira namorada dele foi Lourdes. Tinha o Jacinto, que hoje a gente chama de Lambari, tinha o Toninho e o Zezinho. Tinha os bailinhos em casa de família, domingo à tarde. Tocava Ray Coniff, Carlos Alberto, Roberto Carlos. A gente bebia refrigerante”.

Maria de Lourdes, - “a morena de cabelos compridos, muito bonita, conservadora, sem nenhuma formação política, muito trabalhadora”, segundo Lula – já trabalhava como tecelã. Seus patrões a aconselharam e ela repetiu a Lula que ele não deveria se envolver com sindicatos. Sem maior empenho, ele tomou posse como diretor do sindicato em 24 de abril de l969 e se casou no dia 25 de maio, um mês depois.

A festa de casamento foi na casa da irmã Ruth, na Paulicéia, com batatinha, pão, sanduíche, bolo e guaraná. “Foi um casamento que tinha tudo para dar certo. E eles viviam muito bem”, recorda-se a irmã. Com as economias dos dois, compraram casa na rua que tinha 4 nomes, à medida que se encurvava. Sogros e cunhados moravam na rua Verão e Lula e Lourdes, na rua Outono. A casa tinha 2 quartos, sala e cozinha, logo reformada para receber o primeiro filho. A gravidez transcorria tranquila, até que, no 8º mês, Maria de Lourdes apareceu muito pálida, com os olhos amarelos.

Nas suas memórias, Lula descreve:

“Foi nesta casa que eu fiquei viúvo. Eu lembro que eu fui visitar ela num domingo. Ela estava numa situação deplorável no hospital, com um monte de gente no quarto. Ela gritava, eu fui chamar a enfermeira, a enfermeira não quis atender. Na segunda feira, eu fui levar a roupinha da criança. Cheguei lá e ela estava morta. Meu filho estava morto. Isso marcou muito a minha vida. Como morreu a Lourdes, morrem milhões de pessoas por aí nesse país sem ter o menor tratamento médico. Nós tínhamos planejado um filho, a gente queria ter um filho.

O velório de mãe e filho foi na rua Outono. O piso de tábua corrida afundou com o peso de tanta gente e a câmara ardente foi transferida para a copa. Lula descreve o estado em que ficou: “Eu fiquei muito tempo meio bobão. Eu ia no cemitério todo domingo, eu levava flores para colocar no túmulo dela. Eu, às vezes, ia sair de noite para qualquer lugar, mas quando eu ouvia música....não aguentava... e voltava para casa. Eu não tinha mais vontade de sair. Eu fiquei 3 anos e meio deprimido. Eu fiquei muito tempo meio borocoxô. Eu perdi o sentido da vida. Não tinha mais vontade de nada. Eu passei 3 anos sem namorar”.

(Por esta época, Lula conheceu a enfermeira Miriam Cordeiro, com quem teve uma filha. Começou a namorar Marisa, viúva de um metalúrgico, filho único, que nas horas vagas ajudava o pai no táxi e foi assassinado dentro do carro, num assalto. Lula era freguês do “fusquinha” do seu Cândido, que no táxi não parava de elogiar a beleza da nora viúva. Depois, Lula conheceu Marisa no Sindicato dos Metalúrgicos, casou-se com ela, registrou em seu nome o filho dela (Marcos) e tiveram mais 3 (Fábio Luiz, Sandro Luiz e Luiz Cláudio). “Seu” Cândido e a mulher foram padrinhos do primeiro filho do casal, mas ele morreu, também assassinado num assalto, como o filho).


Um amor

Enquanto o caminhão “pau-de-arara” conduzindo Lula descia de Vargem Comprida, hoje Caetés, uma outra família deixava o Norte de Minas. O lavrador Manoel de Bitu, irmão do padrasto de dona Hermínia, morava em Ibitinga, interior paulista, e queria que eles fossem para lá. O pai de Lourdes, João Evangelista, havia lançado sementes na encosta pedregosa do Morro Agudo, em plena estação das águas, mas a roça de milho e feijão não brotou – era a seca, na época das chuvas, a pior.

A mãe de dona Hermínia, casada pela segunda vez, havia morrido de parto, junto com a criança. Brasinho, mulato forte muito afeiçoado à menina Lourdes, de 3 anos, então lidera os retirantes em direção ao seu irmão, na cultura de algodão na fazenda paulista. Venderam 2 porcos, 2 cavalos e galinha e seguiram: Brasinho, dona Hermínia, com 22 anos, o marido Evangelista, o irmão dela, Mané Codorna e os 4 filhos do casal - Toninho, de 8 anos, Jacinto (Lambari) de 6, Lourdes, de 3, e Zezinho, de apenas 8 meses.

Os 48 quilômetros de Morro Agudo à gare da Central do Brasil em Montes Claros foram vencidos numa camioneta. Duro foi esperar o trem “maria-fumaça”, arranchados na calçada da Praça da Estação, com centenas de outros retirantes. Depois de dias de espera, quando fazia uma caçarolada de abóbora, o apito estridente convocou os retirantes, a abóbora foi atirada no saco de farinha, e todos se precipitaram no vagão de segunda e última classe.

A rotina nos dez dias seguintes até São Paulo, de baldeação em baldeação, é a epopeia de todo retirante que o “trem do sertão” levou e trouxe de São Paulo, sempre cheio, sempre melancólico, sempre carregado mais de saudades do que de apinhados passageiros.

Lances dramáticos não faltaram àquela caravana de mineiros. Toninho e Jacinto (Lambari) arrancaram algum dinheiro dos menos infelizes com a voz infantil, de 8 e 6 anos, que cantava, e suavizava, com a música sertaneja, o drama reprisado de outros. (Lambari, até hoje, canta musica sertaneja, toda 6ª feira, no restaurante Chabocão, em São Bernardo).

Aflição maior viveu dona Hermínia, futura sogra do presidente da República. Exausta, em pânico, ela apertava contra o peito o caçula Zezinho, de 8 meses – hoje afilhado de casamento de Lula. O menino tinha bronquite e a orientação do chefe do trem não admitia exceções: “quem morrer na viagem, vai ser atirado pela janela”. E toda vez que passava o chefe do trem, e olhava para a criança com bronquite, o chefe perguntava – “tá doente?”. Ela pronta respondia: “não senhor, não senhor, tá sadio, tá bom”, e segurava o menino mais forte, contra o peito, e o retinha, com a janela fechada.

Foi assim, nos mil e tantos quilômetros, 10 dias e 10 noites, dormindo no chão, nas calçadas. Na “imigração”, em São Paulo , e nas estações por onde passaram, os quatro meninos incharam o braço de tanto tomar vacina, 4 ou 5 num dia só. É que o pai Evangelista, doente do pulmão, tinha esperança de que as filas que se formavam em cada estação fossem para servir comida – mas eles\serviam vacinas. Manoel de Bitu os esperava em Ibitinga, interior de São Paulo. Foram depois para o plantio de mandioca na fazenda Ronca, onde havia escola, que não frequentavam, porque dona Hermínia os trancava em casa para sair cedo trabalhar na roça.

Na fazenda Barreiro, ficaram 9 anos como meeiros, e o fazendeiro sem filhos – Ernesto Saleno – quis adotar Lambari, com a pronta resistência da mãe, que preferia vê-lo caminhar 4 km, todo dia, para ir a escola – ele e os irmãos. Foi nesta época que os quatro ganharam registro de nascimento, atabalhoadamente providenciado pelo pai com o recurso de memória que dispunha: “este nasceu na sementeira do arroz..., aquele na colheita do milho..., a menina durante a chuvarada...”. Os registros apontam Miralta, distrito de Montes Claros, como o local de nascimento, e as data são imprecisas.

Nesta época, por 1 ano e precisos 26 dias, dona Hermínia foi tratar-se do pulmão, também ela, no Hospital Sanatório de Araraquara, e a menina Lourdes, assumiu o comando da casa. Seguiram depois para Bariri, já como arrendatários de terra que produzia amendoim, milho e mamona. Lambari fazia o curso de torneiro-mecânico do Senai em Ibitinga, bancado pelo fazendeiro que o queria adotar, e em Bariri compraram casa na cidade, onde passam a residir. Lambari arrendatário de uma tornearia, Toninho trabalhando na padaria e, Lourdes, na fábrica de óleo, enquanto completava o curso de corte e costura. Os pais eram “boias-frias”na colheita de café e algodão.



O ENCONTRO

O primo e servente de pedreiro Santinho, posteriormente levado de Montes Claros e adotado, já estava na capital de São Paulo e os chamou para lá, no vácuo do golpe de 64, começo de 65. Lambari alugou a casa 4 da rua 35, na Ponte Preta, e dias depois de trazer a família, era hora de receber, na casa ao lado, aquela família pernambucana, numerosa, encarapitada no caminhão que vinha da Vila Carioca e que exibia o fogão de duas bocas como precioso troféu.

Tangidos pela mesma seca, afinal estavam reunidos na parede-meia, que anexaria os dois destinos de retirantes: os de Minas, comandados por dona Hermínia, e os de Pernambuco, chefiados por dona Lindu, aquela mulher paciente e calma, brincalhona e otimista, incapaz de qualquer murmúrio ou queixa.

Sem móveis, sem nada, 8 pessoas no quarto e cozinha únicos, mas ainda assim mais confortáveis do que os vizinhos de Vargem Comprida, 10 ao todo (8 filhos e o primo Zé Graxa). Os de Minas passavam o dia com o radinho a pilha seguro na mão, no meio da sala, ouvindo Zé Bétio.

Lula era o rapazinho de bicicleta, que ficava na porta, mão na parede, num vai-e-vem eternos. Lourdes, com 17 anos, foi trabalhar na Tecelagem Damatex, de onde saiu para casar-se com o futuro presidente da República, cedendo a vaga para a prima Heloísa, sobrinha de dona Hermínia, que hoje mora em Montes Claros.

Lula recebia o seguro do dedo decepado e o ferimento chamou a atenção, e a dó, de Lourdes. Ele e Lambari saiam juntos para procurar o emprego que não havia em lugar nenhum. “Freio Chico” já era soldador e membro do “partidão”, e a simpática “Maria Baixinha”, enfermeira. Inventaram então os “bailinhos” de domingo, durante o dia, as excursões ao pico do Jaraguá, as sessões de cinema, as missas.

Lourdes, ainda só amiga, podia contar com Lula para toda festa, onde ela sempre queria demorar mais do que ele. Os japonesinhos ali sempre juntos, Olavo e Kiva, o primeiro virou padrinho de casamento e, o segundo, foi o que Lula teve de superar na preferência de Lourdes.

Vieram as enchentes, repetidas. Com o dinheiro da casa de Bariri compraram um imóvel na mesma rua 4, enquanto o pessoal de Lula, cortido pelas águas, foi para a Vila São José, a 3 quarteirões, ‘depois do rio”. A casa própria não intimidava a enchente e foram para o Jardim Patente, sempre na mesma região do Ipiranga, na fronteira de São Bernardo.

Dois meses depois, a família de Lula chegava à Vila Patente, instalando-se numa quadra acima. De tanto procurar emprego, na crise de 1965, Lula chorava: “eu, as vezes, parava no caminho e chorava muito...porque você perde a perspectiva”. A sorte começava a virar. Cansados de receber o mesmo “não” juntos, Lambari propôs, Lula aceitou, e os dois passaram a procurar empregos separados. No primeiro dia, um voltou torneiro-mecânico da Volks e, o outro, torneio-mecânico da Villares.

Os amigos se aproximavam mais. Lula, empurrado por 3 conhaques, passou a namorar Lourdes. Lambari escolheu Ruth, a última dos irmãos de Lula, mas demorou pouco o namoro. Dona Lindu sabia que ele namorava outras (“eu era sem vergonha, mesmo”) e o escorraçou como namorado da filha. Ao chegar em casa às l0 horas da noite, conta Lambari, Lula estava no sofá, namorando a irmã: - “Ô, meu, sua mãe já correu comigo de lá. É bom você também pegar sua linha. “Taturana” respondia: - “Dá um tempo, fica na sua.” E ficava.

Mais uma vez, as duas famílias mudaram de endereço. Lula foi para a Paulicéia, em São Bernardo do Campo, e dona Hermínia mudou-se para a rua Verão, nº 10, C , na Vila das Mercês, onde está até hoje, na companhia de Lambari, que se descasou.

Lula namorava lá, lá assistiu Lambari construir sua habitação sobre a laje no terreno de 5 metros por 25 e, de “roupinha branca e namorada a tiracolo, jornal domingueiro na mão, gozava o cunhado, misturando a masseira: “viu o que acontece, Lambari?..., você não quis estudar...”. Na rua Verão, foi testemunha da dificuldade dos sogros para pagar a segunda prestação da casa, quando o imóvel próprio da Ponte Preta foi vendido a um motorista de ônibus.

As enchentes desvalorizaram a casa. Toda pessoa que chegava para comprar, via a marca d'água na parede, media a altura dos filhos, via que ela dava no pescoço deles , e desistia.

Um motorista de ônibus comprou, pagou a primeira prestação e desistiu da segunda, porque nova enchente levou o paletó e os 800 cruzeiros que havia no bolso do paletó para pagar a prestação restante, deixando em dificuldade a família que também devia a Segunda prestação.

Da distante Paulicéia, em São Bernardo , Lula vinha namorar todas as noites. Na volta, cansando de esperar ônibus na via Anchieta desistia, retornava a pé e dormia na casa da sogra (“eu não ia pela estrada das Lágrimas, eu ia pela Marginal”). Lula achava cedo para casar, mas as circunstâncias amargas, segundo ele, o levaram a precipitar a escolha:

- Eu vivia uma vida desgraçada, eu tinha de catar bituca de cigarro no chão para fumar. Eu nunca tinha dinheiro para comprar o cigarro que eu gostava, que era o Continental. Eu comprava Kent. Então, quando eu resolvi casar eu disse: 

“Olha, já que a gente esta nessa vida desgraçada, sustentando casa, então vamos casar de uma vez e a gente se vira”.

Casaram-se na Igreja Nossa Senhora das Mercês, em 24 de maio de l969. Dois dias antes, haviam se casado no civil, ele de terno muito bem cortado, todo empertigado. Na despedida de solteiro, na Paulicéia, Lula quis reter a noiva para a primeira noite, mas dona Hermínia não permitiu, irredutível, mandando esperar o dia da igreja. Conciliadora, dona Lindu decretou: a noiva dorme aqui, o noivo vai dormir com a sogra, na Vila das Mercês. Lula protestou em vão – “mas, eu já sou casado”.

O casal foi morar no Moinho Velho, de aluguel. Depois de l ano, estava no novo nas vizinhanças da família mineira, na rua torta que começava como Primavera, evoluía para Verão, descia para Outono e acabava como Inverno. Dona Hermínia morava na rua Verão e Lula, agora na casa própria, se instalou na rua Outono.

A filha Lourdes ficou grávida e o casal – ele na Villares Equipamentos e ela tecelã da Datamex – construíram um quarto para a criança. A gravidez foi muito bem até o 8º mês. Tanto os médicos do emprego, quanto os particulares, diziam que tudo ia bem. Não ia.

O tom de gema de ovo no olho de Lourdes denunciava uma doença hepática não descoberta pelos médicos. Foi preciso que os parentes alertassem e Lula insistisse para que ela ficasse internada, numa quinta feira, no Hospital Modelo, em São Paulo. Para os médicos, as dores – queimação no estômago e vômitos prolongados - que faziam Lourdes gritar eram dores normais da gravidez.

Dona Hermínia conta que foi ao hospital, no sábado, acompanhada de Lula e de duas noras, levando frutas. A filha comeu uma pera, desta vez não vomitou, e todos voltaram para a casa, mais animados. No domingo, na visita coletiva das 14 horas, dona Hermínia estava de volta, com Lula. Os médicos, enfim, diagnosticaram a hepatite e a colocaram no isolamento, gemendo. Desesperada, a mãe perdeu-se no hospital e um médico a tranquilizou – “está em trabalho de parto, é normal”. Lula passa mal e toma uma tranquilizante, enquanto a sogra vai embora sozinha, desolada.

Na noite de domingo, Lula e Lambari, com esposa e cunhada, retornam ao hospital Modelo. O médico mandou esperar e depois autorizou que o irmão desse uma olhada na doente, que estava sedada e tinha tomado remédio para induzir a dilatação. Pela porta entreaberta, Lambari viu que Lourdes dormia.

O médico, enfático, disse aos cunhados: “Luiz, a criança está morta dentro da barriga, mas sua mulher não corre nenhum perigo. Ela está muito bem. Amanhã, traga a roupa da criança para o enterro”. Lambari se lembra que Lula aceitou o inevitável e pediu que lhe emprestasse dinheiro para o enterro do menino. Foram juntos comunicar a dona Hermínia que a filha não corria perigo. A mãe relutou, achou que estava sendo enganada, disse que a filha não escaparia e foram dormir.

Na segunda feira, 7 de junho de 1971, Lula, a mulher de Lambari e a cunhada Luzia foram para o Hospital. Lambari estava trabalhando na Volks, quando foi chamado pelo departamento social, que o mandava seguir para o hospital. Imaginou que era o dinheiro do sepultamento, passou no banco e foi. Encontrou-se com Lula, a cunhada e a esposa, na recepção, mas apenas os dois homens subiram para a porta da sala de parto.

As enfermeiras os viram chegar, e comentaram – “a família tá aí”. Esperaram muito. O médico saiu.

_ O senhor é o senhor Luiz?

_ Sou.

_ O senhor precisa ser forte para ouvir o que vou lhe dizer. Seu filho nasceu morto.

_ Eu já sabia. O médico me explicou, ontem.

_ O senhor precisa ser mais forte ainda, porque sua mulher também morreu.

Lula fez vômitos e encostou a cabeça na parede. Com a cabeça sempre na parede, ele girava o corpo contra a parede, girava... girava... girava...

(Na noite de domingo, soube-se depois, logo que Lula e Lambari saíram do hospital, Lourdes acordou, chamou pela mãe, chamou por Lula, e vomitou sangue. “A noite toda, ela vomitou pedaços do fígado”. Às 5h15m da manhã, os médicos retiraram a criança a ferros. Ás 7h15m, Lourdes morreu).

Lula e Lambari foram receber os corpos na porta do necrotério. Estavam cobertos por lençóis brancos e identificados. No lençol maior, a etiqueta indicava – Maria de Lourdes Silva. O “meninão”, de quase 4 quilos, tinha uma fita colante escrita “nati-morto”.

Lula explodiu:

_ Esses “fdp” colocaram este nome. Não era nem este o nome que eu queria para o meu filho!

(O nome – soube-se também depois – seria Fábio Luiz, o nome que Lula repetiu no primogênito do segundo casamento).

De volta

Dona Hermínia apoia-se numa bengala para caminhar. A intensa simpatia e a simplicidade minimizam este detalhe, mas ela sofreu desgaste na cabeça do fêmur e o ex-genro, já famoso, consegui-lhe uma cadeira de rodas, que ela não mais precisa.

Morando na mesma e modesta casa da Vila das Mercês, onde um presidente da República noivou e casou, ela ficou viúva em 1990. Mora com o filho Lambari e sai muito, anda por toda parte. Anda principalmente pelos bingos, e a voz da neta na secretária eletrônica do telefone resume: “Você ligou para dona Hermínia. No momento, fui até o bingo. Se demorar, é porque fiquei rica. Se não, voltarei logo. Por favor, ligue mais tarde. Obrigada”.

O olhar sereno, a voz mansa e doce, o cabelo pintado com discrição, nada sugere o sudário de uma vida de retirante e de mãe que sepultou a filha, a única. Aos 73 anos, está mais conservada que o irmão Mané Codorna, 10 anos mais moço, que foi com ela para São Paulo, e Henrique, de 70, que já a esperava lá, na seca de 1952.

Depois de 50 anos de ausência, a convite do HOJE EM DIA, ela levou o filho Lambari para conhecer, reconhecer, a casa de onde partiram, ele com apenas 6 anos. Foram com ela dois irmãos, um residente no Furadinho natal, e o outro morador de Montes Claros. Foram também filhos, sobrinhos e netos, rever a casa no meio do mato.

Já na entrada de Furadinho, o pequeno fazendeiro João Gonçalves de Souza, de 75 anos, reconhece dona Hermínia e recorda:

_ Eu assisti o seu casamento, em Vista Alegre. A senhora tinha 13 anos, muito bonita. O padre ainda perguntou – você ao menos sabe fazer um almoço?

Não sabia.

Mas sabe o fazendeiro, montado com garbo no cavalo, que ela é a primeira sogra de Lula. Aliás, “Lôla, aquele que manda em nós”.

Furadinho é um povoado a exatos 43 quilômetros do centro de Montes Claros. São minifúndios, ocupados por 40 famílias, quase todas evangélicas da Igreja de Deus – Avivamento Bíblico. O acesso é pela estrada de Januária, logo depois de Lavajinha. Ali, todos trabalham e vivem do campo e para o campo, numa região de penhascos, que difere completamente da topografia do Norte de Minas. São os “alcantis”, eles sabem, mas lamentam que estejam numa situação de grande ruína, depois que o banco deu de financiar suas atividades, estimulou uma fabriqueta de laticínios e impôs a compra de umas “vacas pretas”. As vacas morreram, ninguém deu conta de pagar os juros ao banco e todos estão muito endividados.

Lavajinha e Furadinho levam ao Morro Agudo, onde nasceu Lourdes, a primeira mulher de Lula. Quando dali saiu a caravana de retirantes, em 1952, o lugar era alegre, com muitas famílias, muitas festas e “domingadas”. Os bailes eram animados com uma vitrola manual e o primeiro trator, que destocou o terreno, causou furor e espanto.

Hoje, o morro agudo - uma alta montanha arredondada, que contrasta com os alcantis e batiza o local - é o única coisa que permanece imponente. O resto é esgotamento e desolação. Todos se mudaram a partir daquela época e as extensas pastagens resultam agora num campo de espinhos- agulha.

Cinquenta anos depois, este é o cenário que dona Hermínia e Lambari foram encontrar no retorno à casa velha, onde o pai dela, “seu” Jacinto, deu de criar uma cobra jibóia pela telhado, incumbida de comer as cobras venenosas, bem menores, mesmo a custo de cair dos caibros e assustar crianças, como a pequena Lourdes e o irmão Lambari.

Ao socavão esconso, que dá para o povoado de Barreiras, só se chega a pé. Nem o cavalo vai lá, porque o terreno é acidentado, tem pedras escorregadias e, depois delas, tem penhas e nas penhas precipícios.

Mesmo dependente da bengala, a sogra de Lula aceitou ir, guiando o filho Lambari, o maior amigo de juventude do presidente. Aquele que tinha com ele sociedade nos cigarros, partilhados também por “Maria Baixinha”, a irmã de Lula, dois anos mais velha do que o presidente, e dona dessas declarações:

“Eu e Lula sempre nos demos muito bem. Por exemplo, mais tarde, quando o Lula chegava de fogo em casa, era eu que dava banho nele. Quando ele namorava a Lourdes, ela saía com o irmão dela. Esse cara é o máximo, o Lambari, ele sabe coisa que vai deixar qualquer um impressionado. Eles passaram a mocidade toda juntos. Casaram e continuaram amigos. Nem irmãos eram tão amigos. Era uma amizade assim, a coisa mais bonita que podia existir”.

O encontro de Hermínia com os irmãos, antes de pegar a tosca estrada que permite chegar mais perto do Morro Agudo, é emocionante. Só não permitem lágrimas grossas porque o lugar não tem este costume. Mas, choram sim.

Por 2,3 km, em péssima estrada, nos aproximamos de carro do Morro Agudo, onde se pode ir “pelado” a qualquer tempo, avisa Mané Codorna, porque aqui não passa mesmo ninguém. Fomos.

Na procissão da saudade, o menino Adilson, de 6 anos, descalço, evoca o Lambari daqueles dias. A pé, entre espinhos, poeira, matas, córregos secos, subidas, descidas, colchetes, cancelas, mata-burros, a distância é de aproximadamente 2 quilômetros ou l hora. Normal para quem tem costume. Normal também para dona Hermínia, sua bengala e os 73 anos.

Na mesma hora em que Lula era recebido pelo presidente dos Estados Unidos, o primeiro amigo da juventude, Lambari, e sua mãe, a poucos metros já podiam ver o que sobrou da casa natal de Lourdes, deixada ali.

Apenas rijos esteios de aroeira, telhas silenciosas e adobes vermelhos pelo chão, que não se renderam à chuva, talvez porque nem chova mais ali, onde existia um riacho que descia da serra, esculpia na pedra, acordava os homens e adormecia as crianças.

Dona Hermínia chorou por dentro. Viu “um filme passar pela cabeça”, enquanto o menino Lambari ressurgiu dos seus 56 anos perguntando pela plantação de abacaxi, pela mangueira, pela vaca que o “pegou” onde costumava comer terra. “Parece que foi noutra vida”, resumiu a sogra de Lula, enquanto o irmão Henrique perguntava pelos passarinhos, que ninguém via, e Mané Codorna justificava, com acerto: “até os bichos gostam de movimento. Cantar pra quem?”

Na volta da bocaina, sentindo mais o caminho que a mãe de 73 anos, Lambari tomou a frente e repetiu o amigo Lula nos dias finais da campanha que o elegeu presidente da República:

_ Eu, que sou mais bonitinho, vou tirando retrato na frente. Você, Lambari, como é mais feio, vai dando autógrafo.

No miserável povoado de Lavajinha, que recolhe os votos da redondeza, historicamente um reduto governista, a vitória de Lula não foi menos expressiva do que em Montes Claros, onde teve 8 de cada 10 votos. Talvez até por causa do financiamento das “vacas pretas”. A história de que ele é genro de dona Hermínia também é sabida, mas não tanto que justifique a vitória de 121 votos contra 42 dados a José Serra, 2 brancos e 8 nulos, num total de 173 apurados.


Na posse

Em 1980, aos 64 anos, quando morria de câncer – doença que devasta a família materna de Lula -, dona Lindu soube no hospital que o filho estava preso, notícia que lhe vinha sendo poupada. Ela fez a observação: “Meu Deus, como que ele vai fazer tudo isso? Deve ter um anjo da guarda perto dele”. Dias depois, conversando com a nora, esposa de Zé Cuia, dona Lindu pediu um copo dágua, tomou, virou do lado e morreu.

Como ela, dona Hermínia admira profundamente o genro. A convite especial de Lula, dona Hermínia e Lambari, assistiram o presidente receber a faixa no parlatório, em Brasília. Os dois estavam dentro do Palácio do Planalto, ao lado dos irmãos de Lula, no núcleo mais íntimo da família, de pernambucanos e mineiros. E viram, e aplaudiram, o gesto solene em que o amigo retirante assumia o mais alto posto da República.

_ Dona Hermínia, naquele momento, a senhora pensou que sua filha poderia estar alí, como primeira dama do país?

_ Pensei, sim. E ela estava. Estava representada na honestidade de Lula e na lealdade de Marisa a Lula.




Pedidos

A casa de Mané Codorna, o tio da primeira mulher do presidente, e seus poucos móveis, quase nenhum, apesar de respirar mansuetude e quietação, bem pode servir a Lula quando desejar rever os momentos de pobreza material mais intensa que teve em São Paulo, de casa em casa, de bairro em bairro.

Se quiser, se algum dia for lá, onde nunca foi nenhum prefeito de Montes Claros nos 171 anos do município, o presidente pode também ouvir das crianças histórias muito parecidas com a que ele viveu na meninice.

A pedido do HOJE EM DIA, as crianças de 6 a 14 anos escreveram cartas ao presidente fazendo referências à conterrânea que foi sua primeira esposa. E nelas, o lamento é constante. Todos se queixam, e esperam ajuda, para que as escolas as recebam melhor, e não assistam aulas sentadas no chão. Também, pedem merenda melhor e ônibus decentes, que não as obrigue a andar, às vezes 4, 5 horas, toda madrugada para chegarem ao local das aulas.

E se ouvir os adultos conterrâneos de sua Maria de Lourdes da Silva, o presidente pode até determinar que a região ganhe uma grande maternidade, que impeça que as mulheres dali, como a sua Lourdes, morram na hora de ter filhos. Ali, morrer no parto é uma constante, até hoje. Em Montes Claros, pessoas morrem na porta dos hospitais, com frequência.

Como morreu Lourdes, em São Paulo, em l971, morreu a avó de Lourdes, mãe de Hermínia. Morreu a primeira mulher de Mané Codorna e morreu a mãe de Maria Nazaré de Freitas, que na igreja do Avivamento Bíblico narrou para todos a história do 5º parto de sua mãe, Maria Ribeiro da Silva, outra Silva, que morreu no parto triplo em que apenas ela sobreviveu.

E todos pedirão, por fim, em comovido silêncio, que o presidente dê a esta maternidade regional um nome que o acompanha e vela por ele – Maria de Lourdes da Silva, retirante de 22 anos, morta em 7 de junho de 1971.

* O jornalista Paulo Narciso, 52 anos, começou aos 15, no “O Jornal”, de Montes Claros. Aos 20, era repórter de Polícia do “Estado de Minas”, onde atuaria como editor e repórter especial. Aos 21, obteve menção honrosa no Prêmio Esso. Em 1975, ganhou o Prêmio Esso, com a reportagem “A Esperança Muito Passageira do Trem do Sertão”.












domingo, 13 de março de 2016

POR QUE EU CONTINUO NÃO INDO PARA A RUA by Tayná Leite



Faço das palavras da Tayná as minhas ... 
Roberta Carrilho


Muita gente que não me conhece me xingou de coisas inomináveis. Me acusaram de corrupta, vendida, petralha, burra, "conivente com a tragédia que assola nosso país" e tantos outros adjetivos que jamais imaginei que seriam atribuídos a mim. Estando grávida e em um momento de maior introspecção e preservação, estava bastante dividida sobre me expor mais uma vez.

Eis que estou navegando inocentemente na minha timeline do Facebook e me deparo com um vídeo beirando o surreal - e que não compartilho por razões óbvias.

No vídeo, o rosto do juiz Sérgio Moro é utilizado em uma montagem que é uma exaltação pitoresca à sua figura de "salvador da pátria". A partir disso, ele convoca as pessoas para ir às manifestações a fim de demonstrar insatisfação com o atual governo -- leia-se PT, Dilma e Lula porque muitos ignoram que o PMDB é governo e decide votações e tem a presidência de duas casas.

Então me dei conta de que a hora não é de preservação e sim de posicionamento. E o posicionamento não é - necessariamente - à esquerda ou à direita, mas contra a loucura e a polarização. Preciso sim, me posicionar contra essa idolatria de pessoas e figuras que em nada contribui ao debate político e ao avanço democrático.

Então, aqui vou eu.

Mesmo sendo repetitiva, sabendo que vou ler coisas desagradáveis, vou colocar as razões pelas quais, eu, Tayná, não vou para as ruas.

Sou contra toda forma de corrupção e não vou para a rua; eu não irei para a rua e jamais irei se for para estar ao lado de pessoas que se afinam com pautas de direita.

Sob a desculpa de estarem preocupadas com a corrupção, essas pautas querem restringir direitos conquistados a duras penas e são capazes de mascarar os problemas históricos desta nação que, como li esses dias no Facebook, sempre foi uma máquina de moer gente.

Continuo não indo às ruas domingo porque essa revolta é seletiva da mídia e também de muitas pessoas que ali estarão.

Esse protesto não é sobre corrupção. A Lava-Jato não é sobre corrupção. Se fosse, seu "garoto propaganda" não seria Áecio Neves. Se fosse, não veríamos, como no ano passado, faixas com‪#‎somostodosCunha‬ escrito. Se fosse teríamos gritos e protestos contra Alckmin, Beto Richa, Serra e Fernando Henrique Cardoso.

Continuo não indo às ruas se não for para expor o Cunha, o PSDB, o PMDB e não adianta achar que uma faixa que diz "queremos que todos os partidos políticos respondam por seus atos" represente um real desejo de justiça e igualdade.

A corrupção não é novidade.

Certamente ela não é novidade para quem cresceu sem saneamento básico e asfalto porque a verba nunca chegou. Ela não é nada nova para quem não teve acesso à educação básica e à saúde por séculos e décadas, muito menos para os que vivem sem água no sertão ou para os que morrem todo ano nas enchentes fluminenses.

Então, não se engane dizendo que a sua revolta é com o nível absurdo de corrupção. Ela está aí, corroendo o Brasil há séculos de formas muito mais perversas e nem por isso você gastou seu teflon com isso.

Muitos dizem: "mas eu não vou domingo pedir a volta da Ditadura" ou "mas eu não apoio o Cunha ou Bolsonaro". Essas mesmas pessoas estarão lado a lado com essas mesmas pautas e este risco eu não quero correr.

Eu fui às ruas contra o Beto Richa e os deputados que massacraram os professores. Eu fui às ruas contra o PL 5069/2015 e o Cunha que ainda insiste em culpabilizar as mulheres vítimas de violência e nos tolher o pouco de direitos reprodutivos conquistados.

Eu não fui pra rua tirar foto com a PM ou abraçar o amigo com a camisa da seleção brasileira (que representa uma das instituições mais corruptas do Brasil e quiçá do mundo). Curiosamente, nessas manifestações não havia rua fechada para nós, nem cordão de isolamento.

Poucos que se indignarão domingo estavam lá apoiando as mulheres. Faltavam muitos dos defensores inflamados do Lula e das Instituições Democráticas. Não teve cobertura da grande mídia e as pessoas passavam com seus carros xingando e reclamando do trânsito.

Por que será?

Já nos dizia Mark Twain:
"Toda vez que você se encontrar ao lado da maioria, é hora de parar e refletir."

Eu não irei às ruas pedir o fim da corrupção ao lado de pessoas que, em muitos casos, não pagam seus impostos, vivem em Miami, mas nunca tem nada a declarar na alfândega e ainda se iludem "que roupa não entra na cota".

Eu não vou às ruas com quem apoia a redução da maioridade penal ou quem é contra a legalização do aborto e jamais, nem sob decreto, irei para a rua com quem acredita que um país com tantas desigualdades como o nosso, no qual a maioria da população é diariamente massacrada pelo Estado, esteja como está apenas por culpa do PT.

Eu não irei às ruas celebrar o Moro ou o MPF que se acham "paladinos da Justiça" quando estão, quando muito e com ressalvas, apenas fazendo seu trabalho.

Para mim, os fins continuam não justificando os meios.

Pode se tratar do Lula, do Cunha, do meu vizinho ou de quem for. Vou pelo caminho mais difícil da mudança. Aquele que passa por uma reforma profunda de valores e não pela destruição de tudo aquilo pelo que tantos deram suas vidas para conquistar.

Não, para mim Moro não é ídolo. Aliás, sequer é alguém que eu pessoalmente admire e sim, eu considero o MP - com raras exceções - um órgão do qual desconfiar; e não, jamais apoiarei nem dez nem duas medidas "contra a corrupção" que sejam também contra a Constituição.

Também não podemos continuar perpetuando discurso de ódio e culpando os outros pelos nossos problemas sem que nos dediquemos minimamente a aprofundar a reflexão e fazer algo para resolvê-los. Essa discussão Fla-Flu não nos levou a lugar nenhum.

Chamar o cidadão de "coxinha" não vai resolver em nada. Culpar o empresário que acorda cedo, paga impostos e que gera empregos também não. Ajuda muito menos aquele que defende o governo cegamente com unhas e dentes sem enxergar suas incoerências, sua hipocrisia e demagogia - e o quão pouco o próprio PT fez para corrigir distorções históricas no tratamento que é dado ao cidadão pelo próprio judiciário que agora "os persegue".

Ainda assim, mesmo eu não indo para a rua por todas as razões expostas, acredito que o protesto é um meio valido de manifestar insatisfação e sei muito bem que nem todos que vão acreditam em todas as pautas ali colocadas. Acredito também que muitos dos que ficarão em casa são realmente iludidos e estão cegos pela ideologia.

Então, vá às ruas no dia 13 e demonstre sua posição. Vá em paz e proteste! Mas lembre-se quem estará ao seu lado e que tipo de pautas estão sendo reivindicadas.

E mais: nem o impeachment nem o status quo resolverão o problema. A única coisa que vai iniciar a mudança verdadeira é o olhar para primeiro para si, depois para o outro com atenção e empatia.

É sair da cadeira e da frente do computador e agir. É ler, estudar, empoderar, ocupar o espaço público, cobrar os políticos, votar com consciência e (de preferência ir votar).

Você pode achar que o maior problema do Brasil é a corrupção, mas não é. O maior problema do Brasil é o individualismo e a consequente desigualdade social. A corrupção é apenas sintoma de uma causa muito mais podre e pobre.




domingo, 31 de janeiro de 2016

O PAÍS DOS ELEGANTES por Flávio de Castro




Fantástica esta crônica do Flávio de Castro

Adorei o doce sarcasmo com aquela pitadinha picante de ironia. Volá está pronta a realidade no Brasil.
Roberta Carrilho



Eu confesso que não sei a verdade: não sei se Lula é ou não dono de um triplex no Guarujá como não sei se FHC é ou não dono de um apartamento na Avenue Foch, em Paris.
Sei apenas que a presunção de ser dono de um triplex no Guarujá é inequivocamente associada à corrupção e a presunção de ser dono de um apartamento em Paris não tem nada a ver, obviamente, com corrupção.
Especialmente se o apê do Guarujá for um tanto novo-rico e o apê de Paris, um tanto elegante.
A QUESTÃO É ESTÉTICA.Lula carregando uma caixa de isopor e sendo dono de um barco de lata é uma cômica farofa. Se FHC carregasse uma caixa de isopor e fosse dono de um barco de lata seria uma concessão à humildade.
A QUESTÃO É CLASSISTA.Um Odebrecht sentado à mesa com FHC é um empresário rico. O mesmo Odebrecht sentado à mesa com Lula é um pagador de propina.
Nada disso tem a ver com corrupção. Nada disso revela qualquer preocupação com o país. A cada dia que passa, é mais evidente que o que está em discussão é quem são os verdadeiros donos do poder.
E os donos legítimos do poder são os elegantes. Aqueles com relação aos quais não interessa saber como amealharam riqueza porque, simplesmente, a riqueza lhes cai bem.
A casa grande tem um perfume que inebria toda a lavoura arcaica e sensibiliza até a senzala. É o que estamos assistindo.
Tudo o mais, tudo o que não é casa grande é Lula e os amigos de Lula!
A QUESTÃO É PRECONCEITO.Vejam como um fraque cai naturalmente bem em FHC. Um fraque assim em Lula, certamente, deveria ter sido roubado.
O Brasil é o país dos elegantes. De uma elegância classista, racista e preconceituosa deitada eternamente no berço esplêndido do aristocrático século XIX.
[FHC, por favor, levante a gravata do seu lado direito, está um pouco torta, isso, perfeito!]





quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

PARA VOCÊ QUE NÃO CONHECE O COMBATE À CORRUPÇÃO NO BRASIL por Maria Frô

QUEM QUISER ENTENDER COMO FUNCIONA HOJE AS INSTITUIÇÕES FISCALIZADORAS DO BRASIL, ASSIM DECLARADAS POR LEIS está aí uma oportunidade. O texto é longo, porém didático, fácil interpretação. É uma aula de instrumentalização de combate à corrupção que foi implementada a partir de 2003 no país. Quem têm olhos que vejam e quem quiser fechá-los também é um direito da pessoa. Mas não poderá alegar alienação ou não ciência de como é e como funciona. Abraços, Roberta Carrilho



Atualização: para a geração midiática com uma enorme preguiça de ler todos os dados, gráficos e links elencados no texto abaixo, segue um pequeno vídeo exibido no jornal da TV Cultura com comentários do historiador Leandro Karnal e do cientista político e economista Ricardo Sennes


Prestem atenção na notícia inicial, especialmente aqueles que vivem pedindo golpe militar pelas manifestações e prestem atenção ao partido envolvido na denúncia e nos comentários dos estudiosos sobre corrupção.  




A corrupção sempre foi apontada como um dos mais graves problemas enfrentados pelo Brasil, e vista, inclusive, como um mal inevitável e invencível, como fenômeno peculiar e inerente à cultura brasileira. 



No entanto, diversas pesquisas hoje já demonstram que a corrupção é um problema global que afeta todos os países do mundo, comprometendo a efetividade das políticas públicas e o crescimento econômico e atentando contra a democracia e a legitimidade das instituições. 

Relatório divulgado pela Comissão Europeia em fevereiro deste ano conclui, por exemplo, que a corrupção atinge todos os seus 28 países-membros, custando cerca de 120 bilhões de euros por ano (quase R$ 390 bilhões) à economia do bloco. Trata-se do primeiro estudo do gênero realizado pela Comissão que, ouvindo também o público, aponta que para três quartos dos europeus entrevistados a corrupção é comum e para mais da metade seu nível vem aumentando nos últimos anos. 

No continente americano, pesquisa similar divulgada em 2010, realizada pela Vanderbilt University nos EUA, perguntava ao entrevistado se algum funcionário público havia lhe solicitado propina no último ano. O Brasil ficou com o segundo melhor resultado das Américas, com apenas 1,6% respondendo que sim – atrás unicamente do Chile, com 1,2%. Os Estados Unidos ficaram com 2,2%, a Argentina com 7%, o México com 9,2%, e a Bolívia com 18%. 

Se a corrupção está presente em todas as sociedades, o que as diferencia é a disposição e capacidade de estabelecer mecanismos de controle que inibam a prática de irregularidades. No Brasil, durante séculos, o governo não teve a necessária vontade política para enfrentar o problema, pois investigar e trazer à tona casos de corrupção provoca, muitas vezes, crises e desgastes políticos, aumentando a percepção da sociedade de que a corrupção está crescendo, mesmo quando o que ocorre é exatamente o contrário. 


Essa situação começou a mudar a partir da decisão corajosa tomada pelo Governo do PT de construir um Estado mais transparente e republicano e enfrentar definitivamente a corrupção. Rompeu-se com uma prática de gestão que imperava na Administração Pública, marcada ora pela completa omissão, ora pelo combate frouxo, burocrático e ineficaz dos desvios de recursos públicos. Assim, a partir de 2003, o país passou a contar com uma política pública de Estado de prevenção e combate à corrupção por meio da ação articulada entre os diversos órgãos e do estímulo à participação da sociedade civil no controle da gestão. Uma política que, seguindo padrões internacionais, dá ênfase tanto a medidas repressivo-punitivas, como a medidas preventivas. 

Fortalecimento institucional 
Nesse sentido, diversas ações foram adotadas, como a criação da Controladoria-Geral da União (CGU); o fortalecimento da Polícia Federal; a plena autonomia garantida ao Ministério Público; o incremento da atuação da Advocacia-Geral da União (AGU) no ajuizamento de ações de improbidade e de ressarcimento ao erário; o aumento e maior eficiência das fiscalizações da Receita Federal; e a atuação precisa do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (COAF) no monitoramento de movimentações atípicas que possam configurar lavagem de dinheiro ou corrupção e enriquecimento ilícito de agentes públicos; e a reestruturação do Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que fortaleceu sua atuação no combate a carteis. No esforço de aprimorar o sistema de prevenção e combate à corrupção, diversas medidas no plano legal também foram adotadas, assim como de melhoria da governança pública, conforme a seguir apresentado.

Com a criação da Controladoria-Geral da União (CGU), em 2003, o Governo Federal foi dotado de um órgão estruturado e permanente de fiscalização, com auditores qualificados e técnicas modernas de controle. Até então o que existia era a Corregedoria-Geral da União, órgão criado em 2001, penúltimo dos oito anos do governo FHC, pela Medida Provisória n° 2.143-31, em resposta ao clamor da opinião pública diante do engavetamento da CPI da corrupção. No primeiro momento, o órgão desempenhava apenas funções correcionais; um ano depois, o Decreto n° 4.177, de 28 de março de 2002, transferiu a Secretaria Federal de Controle Interno (SFC) ¬– unidade responsável pela auditoria do Poder Executivo Federal, que integrava a estrutura do Ministério da Fazenda – para a então Corregedoria-Geral da União. Em 1° de janeiro de 2003, um dos primeiros atos do Governo Lula foi a edição da Medida provisória n° 103, posteriormente convertida na Lei n° 10.683, que, entre outras providências, alterou a denominação do órgão de Corregedoria para Controladoria-Geral da União, lhe concedeu o status de Ministério, vinculando-o diretamente à Presidência da República, e denominou seu titular de Ministro de Estado do Controle e da Transparência, além de definir suas competências, ampliando sobremaneira suas atribuições e alçando-a a condição de uma verdadeira agência anticorrupção.

A partir de sua criação, a CGU instituiu o Programa de Fiscalizações por Sorteio Público de Municípios, o qual já fiscalizou 2.084 municípios (37% do total dos municípios brasileiros) e a aplicação de cerca de 20 bilhões de reais. Nas cidades, os auditores realizam visitas in loco a obras, escolas, hospitais, postos de saúdes, residências de beneficiários de programas sociais e demais locais onde há aplicação de dinheiro público federal a fim de verificar a correta destinação dos recursos. Os relatórios resultantes dessas fiscalizações não vão para nenhuma gaveta, como acontecia no passado; vão, conforme o caso, para a Polícia Federal, para o Ministério Público, para o TCU, para os ministérios responsáveis pelo dinheiro repassado, e para o site da CGU, onde toda a sociedade pode acessá-los.

Além da fiscalização de municípios, a CGU também realiza diversas outras ações de controle, como Auditorias Anuais de Contas, Auditorias Especiais e Investigativas e Avaliações da Execução dos Programas de Governo (como o Bolsa Família, o Saúde na Família, a Qualificação Profissional, o Minha Casa, Minha Vida, os empreendimentos da Copa do Mundo 2014, etc.). Todos os órgãos e entidades públicas, inclusive as empresas estatais, se submetem ao controle permanente da CGU.
Em paralelo à ação fiscalizatória, a CGU instituiu, em 2005, o Sistema de Correição do Poder Executivo Federal, que acompanha os processos instaurados e por instaurar em cada ministério, garantindo a efetiva apuração das irregularidades praticadas por servidores públicos. Assim, de 2003 a 2013, 4.577 servidores públicos federais foram expulsos, incluindo dirigentes e servidores de cargos elevados, por envolvimento em diversos tipos de irregularidades, sendo que 3.078 (67%) por algum ato ligado à corrupção. O Cadastro de Expulsões da Administração Federal exibe os nomes de todos os agentes públicos que foram demitidos do serviço público desde 2005.

Mas a CGU não se preocupa apenas com as infrações cometidas por servidores públicos. Se a corrupção envolve um corrupto e um corruptor, é preciso agir nos dois lados. Nesse sentido, em 2007, a CGU passou a atuar também na aplicação de sanções a empresas que cometem ilícitos contra o Estado e criou o Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS), que lista as empresas punidas e que estão, por isso, proibidas de contratar com a Administração.

Ainda no campo repressivo e demonstrando não temer ser alvo de investigações, os governos Lula e Dilma promoveram profundas mudanças na Polícia Federal e praticamente a transformaram em uma nova instituição. O órgão foi fortalecido com a ampliação do seu quadro de delegados e agentes, uma política de valorização salarial, o incremento de seu orçamento – que permitiu a compra de novos equipamentos e a modernização das técnicas de investigação – e, principalmente, foi garantida à PF ampla liberdade para atuar no combate à corrupção.

Não é sem razão que entre 2003 e 2012 centenas de operações foram deflagradas, que resultaram na prisão de mais de 2 mil servidores públicos. A Polícia investiu na estruturação de uma área especializada no combate a fraudes e à corrupção e, somente em 2012, foram criadas 17 delegacias especializadas no combate à corrupção e desvios de recursos públicos. Em 2013, as investigações de crimes do colarinho branco suplantaram as ações contra o tráfico de drogas e o contrabando. Além disso, dados de dezembro de 2013 mostram o andamento de 12.870 inquéritos policiais em todo o Brasil que apuram a prática de crimes que envolvem o desvio de recursos públicos. Esse número representa mais de 10% de todas as investigações em curso na Polícia Federal. Os contratos sob investigação da PF somam o número recorde de R$ 15,59 bilhões em recursos públicos.

Também a Advocacia-Geral da União (AGU) passou a ter uma atuação destacada no enfrentamento da corrupção, assumindo o papel de braço jurídico dos órgãos de controle do Governo Federal nessa luta. A partir do ajuizamento de ações, a AGU tem conseguido reaver verbas desviadas, garantindo a efetiva recomposição do patrimônio público. Em 2010, foram ajuizadas 3.706 Ações Civis Públicas, de improbidade administrativa e de execução de decisões do TCU para reaver R$ 2,7 bilhões desviados em esquemas de corrupção. No mesmo ano, foram recolhidos aos cofres públicos cerca de R$ 491,2 milhões referentes a verbas desviadas em convênios firmados pela União com prefeituras e entidades públicas. Em 2011, foram ajuizadas 2.343 ações para reaver aos cofres públicos mais de R$ 2 bilhões desviados em atos de corrupção. Em 2012, a AGU obteve a maior recuperação de créditos devido a atos de corrupção com a devolução de quase R$ 468 milhões desviados da construção do TRT de São Paulo e ainda conseguiu a repatriação de US$ 6,8 milhões da conta bancária na Suíça do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto. E em 2013 foram ajuizadas 2.109 ações visando a recuperação de R$ 1,05 bilhão.

Para garantir o efetivo enfrentamento da corrupção, os governos Lula e Dilma asseguraram também ampla autonomia ao Ministério Público. Contrariamente ao governo anterior, todos os Procuradores-Gerais da República nesse período foram nomeados respeitando lista tríplice apresentada pela categoria. Assim, se encerrou o nefasto período do “Engavetador Geral”, quando o MP não exercia a plenitude de suas atribuições no combate à corrupção, em especial quando isso pudesse alcançar altas autoridades. Enquanto Procurador-Geral da República do governo FHC, Geraldo Brindeiro recebeu 626 inquéritos criminais, engavetou 242 e arquivou 217. Somente 60 denúncias foram aceitas. As acusações recaíam sobre 194 deputados, 33 senadores, 11 ministros e, em quatro casos, sobre o próprio presidente FHC. Entre as denúncias que engavetou está a de compra de votos para aprovação da emenda constitucional que aprovou a reeleição para presidente, beneficiando o então ocupante do cargo.

Todas essas medidas adotadas demonstram o claro compromisso dos governos Lula e Dilma de combater a corrupção, institucionalizando controles democráticos e punindo responsáveis por danos ao patrimônio público. O Governo do PT não esconde a corrupção embaixo do tapete; ao contrário, vem sistematicamente enfrentando e expondo o problema.

Cultura de Transparência 
Mas todas essas medidas de repressão da corrupção não bastariam se uma decisão fundamental não tivesse sido tomada: a de se investir, pela primeira vez no Brasil, em políticas públicas de transparência da gestão. Assim, a CGU criou, ainda em 2004, o Portal da Transparência, que disponibiliza informações detalhadas e atualizadas diariamente sobre cada gasto do Governo Federal, acessível a qualquer cidadão, sem exigência de senha ou cadastro.

Ao longo dos anos, o Portal foi sendo constantemente aperfeiçoado para incluir novos dados e tornar as informações publicadas ainda mais acessíveis. Destaca-se, por exemplo, a divulgação de todos os recursos transferidos a estados, municípios e ONGs por meio de convênios, dos benefícios pagos no âmbito do Programa Bolsa Família, das operações efetuadas com os cartões de pagamento do Governo Federal, dos recursos investidos na Copa 2014 e nas Olimpíadas 2016 e dos salários de todos os servidores públicos federais.

E o mais importante, o Portal da Transparência do Governo Federal é hoje um instrumento de controle social que está sendo efetivamente utilizado pela população: começando com menos de 300 mil acessos em 2005, atingiu mais de 11 milhões de acessos em 2013, com média mensal de visitas em 2014 em torno de 1.131.669 milhão.

Além das importantes medidas de divulgação espontânea de informações na internet, os Governos do PT também foram os responsáveis por aquela que é, sem dúvida, uma das mais importantes leis editadas no Brasil no período recente: a Lei de Acesso à Informação, cujo projeto foi enviado ao Congresso Nacional em 2009, pelo Presidente Lula, e sancionado pela Presidenta Dilma em novembro de 2011. A Lei de Acesso à Informação rompeu com a cultura de sigilo que há séculos imperava no Estado, determinando que todas as informações são, em regra, públicas. A Lei também estabeleceu curtos prazos para respostas aos pedidos de acesso dos cidadãos, responsabilizando servidores que os descumprissem e incentivou a divulgação de dados em formatos abertos. E contra expectativas pessimistas, foi implementada pelo Governo Dilma em tempo recorde – apenas 6 meses – e de modo exemplar, servindo de referência para os demais Poderes, Estados e Municípios. Desde maio de 2012, já foram apresentados quase 165 mil pedidos de acesso à informação ao Governo Federal, todos processados eletronicamente, com o percentual de 98% respondidos, em um tempo médio de 13 dias (que corresponde a menos da metade do limite permitido pela lei, que é de 30 dias).

Os Governos Lula e Dilma partiram, portanto, praticamente do zero na área de transparência para levar o Brasil a ser reconhecido hoje como um dos países com maior grau de transparência do mundo. Não por acaso, o Portal da Transparência do Governo Federal já recebeu diversos prêmios internacionais (entre eles, prêmio da ONU que o reconheceu como uma das cinco melhores práticas de prevenção da corrupção no mundo). Também não foi sem razão que o Brasil foi o primeiro país a ser convidado pelo presidente Obama, em 2010, para liderar, junto com os Estados Unidos, a iniciativa global Open Government Partnership (parceria para o governo aberto) que atualmente já congrega 63 países. Só um governo que nada tem a esconder e não tem compromisso com o malfeito é capaz de se abrir para o completo e permanente escrutínio público.

Avanços normativos 
No esforço de enfrentamento da corrupção, várias outras medidas de aprimoramento do marco legal também foram adotadas ao longo dos Governos do PT, com destaque para os seguintes: Lei que regulamenta o Conflito de Interesses no âmbito do Poder Executivo Federal, coibindo condutas como o uso de informação privilegiada, o exercício de atividade incompatível com o cargo e a concessão de benefícios indevidos a particulares; Lei que institui a Responsabilização de Pessoas Jurídicas por Atos de Corrupção, que vem sendo denominada Lei Anticorrupção e trouxe, de forma inédita, punições severas a empresas corruptoras; Nova Lei de Lavagem de Dinheiro, que endureceu o combate a esse crime retirando a obrigatoriedade de comprovação da prática de crime antecedente que deu origem ao dinheiro e aumentando a multa a que está sujeito quem é condenado, que hoje é cem vezes maior; Lei que pune as organizações criminosas e regulamenta técnicas especiais de investigação que permitem identificar e desarticular essas organizações; e a Lei que reestruturou o CADE, fortalecendo a sua atuação no combate a cartéis. Trata-se de importantes diplomas legais, propostos pelos Governos do PT, que promovem mudanças estruturais no sistema de prevenção e combate à corrupção.

No plano infralegal, legados fundamentais para o Estado Brasileiro também foram deixados, como o Decreto nº 5.483/2006, que instituiu a Sindicância Patrimonial dos servidores federais; o Decreto nº 6.170/2007, que criou o Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse – SICONV e revolucionou o procedimento de transferências voluntárias de recursos da União para estados, municípios e entidades sem fins lucrativos, especialmente para imprimir-lhe mais transparência; o Decreto nº 6.370/2008, que dispõe sobre a utilização do Cartão de Pagamento do Governo Federal; e o Decreto nº 7.568/2011, que estabelece critérios mais transparentes para a celebração de parcerias com Organizações da Sociedade Civil, a exemplo do chamamento público obrigatório para as ONGs.

Ademais, diversas medidas de modernização da gestão, que diminuem a burocracia, aumentam a transparência e promovem a ética também foram adotadas de modo a coibir a ocorrência de irregularidades. Destaca-se a edição do Decreto n° 5.450/2005, que tornou obrigatório o uso do pregão eletrônico nas aquisições de bens e serviços comuns do Governo Federal e do Decreto 5.497/2005, que estabeleceu limites para que os cargos em comissão fossem ocupados exclusivamente por servidores de carreira; a criação, em 2007, da chamada Super-Receita, que reduziu o desperdício e permitiu maior combate a fraudes e à sonegação; e a edição do Decreto nº 7.203/2010, que combate o nepotismo no Governo Federal.

Diante de todo o exposto, resta evidente e inquestionável o quanto se fez, de forma inédita, no Brasil nesses últimos anos na prevenção e no combate à corrupção. No entanto, embora as ações adotadas ao longo dos Governos Lula e Dilma tenham sido fundamentais para que o país pudesse finalmente apresentar avanços efetivos nessa área, a grande exposição do combate à corrupção na grande mídia deixou a falsa impressão em alguns de que a corrupção cresceu nos governos do PT. Um mal entendido que precisa de uma vez por todas ser desfeito. Na verdade, os casos só apareceram porque, pela primeira vez na história do país, instituições de defesa do Estado foram estruturadas e fortalecidas e, principalmente, puderam atuar livremente, sem nenhuma interferência.

O trabalho, certamente, não está concluído. Diversos são ainda os desafios a ser enfrentados, pois ninguém desconhece que as causas mais profundas da corrupção têm raízes em questões como o financiamento privado de campanhas e de partidos. Por isso, a importância da continuidade desse esforço. Não pode haver retrocesso nem recuo nessa caminhada. A sociedade brasileira não o toleraria. A luta contra a corrupção precisa continuar. 
NOTA DO MARIA FRÔ 
O Instituto Alvorada produziu em maio do ano passado uma excelente síntese dos mecanismos de combate à corrupção no Brasil durante os governos petistas de Lula e Dilma. O Instituto é formado por servidores públicos, que atuam nos mais variados órgãos da Administração Pública, e oriundos de diferentes regiões do país, eles também tem formação diversificada: administradores, advogados, bacharéis em relações internacionais, cientistas da computação, economistas, engenheiros. 
A atuação do Instituto Alvorada tem duas vertentes: a formulação de propostas de políticas públicas, que nascem de estudos realizados pelo próprio Instituto Alvorada ou por terceiros e a influência no processo decisório na direção de políticas que promovam os princípios compartilhados pelos membros do Instituto. Desse modo, atuam sobre o cidadão brasileiro, as autoridades dos poderes executivo e legislativo, servidores públicos, membros da academia, órgãos de imprensa e terceiro setor para sugerir mudanças. 
São membros do Instituto Alvorada: 
Antônio Cruz - Bacharel em Direito pela UFPE, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e trabalha na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. 
Clarice Calixto - Mestra em Direito pela UnB e bacharela na mesma área pela UFMG, é Advogada da União e trabalha atualmente no Ministério da Justiça. 
Danilo Limoeiro - Doutorando pelo Massachusetts Institute of Technology – MIT, mestre, com distinção, pela Universidade de Oxford e graduado em Relações Internacionais pela UnB, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.  
Emilio Chernavsky - Doutor e mestre em Economia pela USP, especialista em Gestão Pública pela Universidade de Bruxelas e bacharel em Economia pela UNICAMP, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e trabalha no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. 
Fernando Kleiman - Mestre em Sociologia pela UnB e graduado em Economia pela USP, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, atualmente trabalhando no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 
Francisco Carvalheira - Formado em Direito pela PUC-RJ, atualmente ocupa o cargo de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Trabalha no Ministério da Justiça. 
Gabriel Sampaio - Mestre em Direito Processual Penal pela PUC/SP, especialista em Ciências Criminais pela UNISUL/LFG e em Direitos Fundamentais pela IGC-Coimbra/IBCCRIM e graduado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, trabalha atualmente no Ministério da Justiça. 
Gustavo Caldas - Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra e bacharel em Direito pela UERJ, é Procurador da Fazenda Nacional e trabalha atualmente na Advocacia-Geral da União. 
James Gorgen - Mestre em Comunicação Social pela UFRGS e bacharel em Comunicação pela PUC-RS, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e trabalha atualmente no Ministério das Comunicações. 
João Guilherme Granja da Silva - Mestre em Ciência Política e bacharel em Direito pela UFPE, é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, atualmente desempenhando suas funções no Ministério da Justiça. 
Marcos Toscano - Mestre em Filosofia pela UnB e graduado em Direito pela UFPE, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e trabalha atualmente no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. 
Marivaldo Pereira - Mestre em Direito Processual Civil e bacharel em Direito pela USP, trabalha atualmente no Ministério da Justiça. 
Pedro Pontual - Mestre em Políticas Públicas pela SPEA/IU, especialista em Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável pela EPFL e IIT/Chennai e graduado em Engenharia Elétrica pela UnB, e, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, trabalhando atualmente na Casa Civil da Presidência da República. 
Rafael Almeida - Formado em Administração Pública na Escola de Governo da Fundação João Pinheiro de Minas Gerais, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e trabalha atualmente no Ministério da Justiça. 
Rafael Dubeux - Doutorando e Mestre em Relações Internacionais pela UnB e bacharel em Direito pela FDR/UFPE, foi pesquisador visitante na Universidade da Califórnia – Berkeley, trabalha como Advogado da União na Casa Civil da Presidência da República.  
Ricardo de Lins e Horta - Mestre em Neurociência e bacharel em Direito pela UFMG, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e trabalha atualmente no Ministério da Justiça. 
Rogério Veiga - Mestre em Política Científica e Tecnológica e bacharel em Ciência da Computação pela UNICAMP, integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, atualmente cedido para a Prefeitura de São Paulo. 
Vânia Vieira - Mestra e bacharela em Direito pela UFMG, além de formada em Administração Pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro de Minas Gerais, é Procuradora Federal, atualmente trabalhando no Ministério das Comunicações. 
Victor Cravo - Mestre em Direito pela UnB e bacharel na mesma área pela UFPE, é Procurador Federal, atualmente na Procuradoria Federal Especializada da ANATEL.