segunda-feira, 6 de junho de 2016

TREM DA ALEGRIA por Jotha Lee




No momento em que o país passa por uma crise sem precedentes, com o cidadão tendo seu poder de compra reduzido em níveis alarmantes, real em queda livre, inflação em disparada e desemprego subindo vertiginosamente, um dos primeiros atos do novo governo instalado em Brasília, comandado pelo presidente em exercício, Michel Temer, dá o velho exemplo da irresponsabilidade. Ontem o país recebeu a notícia de que um vergonhoso trem da alegria chega a Brasília, distribuindo aumentos de até 41% para 16 categorias de servidores públicos.

Os primeiros premiados estão nos tribunais, que passam a ter novo teto salarial, seguindo-se do inevitável efeito dominó. A gastança vai representar centenas de milhões de reais aos cofres públicos, para bancar um aumento absurdo, muito além de todos os índices inflacionários, quatro vezes maior que o reajuste dado ao salário mínimo, que não veio acompanhado de mordomias, como esse trem da alegria virá. Para bancar essa conta, o governo vai tirar da saúde, da infraestrutura, da educação. Saia de onde sair, o dinheiro estará garantido, enquanto o trabalhador pena no seu dia a dia para fugir da miséria, diante de uma crise da qual o presidente Temer também foi arquiteto.

O que mais chama a atenção é que o discurso na ponta da língua de Temer antes do afastamento de Dilma Rousseff, era buscar saídas pra a crise e a retomada do crescimento da economia. Até agora, nenhuma medida prática de recuperação econômica foi tomada por esse governo, que anda feito barata tonta, com bravatas de seu comandante principal, o eventual ocupante da cadeira presidencial, discursos decorebas de seus aliados, enquanto o maior o país da América Latina, citado com pompa e circunstância como a sétima econômica do mundo, vai se atolando em um buraco sem fundo, alimentado pela corrupção que campeia em todos os setores da vida pública e pela omissão de um governo que já demonstrou ser tão ou mais incompetente do que o petista.

Temer não tem o direito, aliás, não tem moral, para dizer que não sabe o que está acontecendo nesse caso do trem da alegria que chega fumegando e apitando na estação do Planalto Central. Ele é governo há três anos, portanto, obrigatoriamente, sabe mais do que qualquer economista que o pais está às avessas, correndo sérios riscos de uma brutal recessão. E, mesmo sabedor dessa situação de altíssimo risco que o país enfrenta e dos estragos ainda maiores que o aumentozinho de 41% que chega no mais recente trem da alegria poderá fazer, não teve coragem suficiente para enfrentar as chantagens de sempre na pressão pelo reajuste.

Ao país, Temer acaba de passar a imagem de fraqueza, quando na verdade o que se precisava era de um governo com disposição e coragem para enfrentar o desafio de fazer o país voltar a crescer. Não é possível acreditar que a equipe econômica tenha deixado de alertar ao presidente em exercício, da irresponsabilidade de se conceder um aumento desse tamanho a essa altura do campeonato.

O povo foi às ruas por um governo comprometido com os interesses coletivos, capaz de adotar decisões corajosas de defesa de todo o país. O povo foi às ruas na esperança de recuperar o poder de compra, a autoestima e a esperança de que o país ainda tem jeito. O trem da alegria movido por 41% de aumento para classes públicas privilegiadas é um soco no estômago dos 12 milhões de brasileiros desempregados, que certamente ainda estão anestesiados por essa desastrosa decisão do governo.


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