sábado, 23 de janeiro de 2016

PAIS FALAM HONESTAMENTE SOBRE PORQUE SE ARREPENDEM DE TER FILHOS por Ellen Wallwork

Você já se arrependeu alguma vez de ter tido filhos? 

A paternidade e a maternidade mudam nossas vidas de várias maneiras, então não parece ser razoável esperar que todas as mães e pais desfrutem da tarefa de criar os filhos. Ainda assim, muitas pessoas se sentem relutantes em admitir que gostariam de voltar à vida que tinham antes de ter filhos, por medo de serem tachados de “ingratos” ou “péssimos pais”. 

Mães e pais em busca de um canal para compartilhar sentimentos postaram suas histórias em uma conversa no site de perguntas e respostas Quora intitulada: ‘Como é o arrependimento de ter tido filhos?’ 

“Para ser honesto, existem momentos em que fico lá e quero bater minha cabeça contra o batente da porta, simplesmente detesto ser pai”, um usuário escreveu no site. 


“O estranho sobre este dilema é que ninguém, muito menos os outros pais, tem muita simpatia por você.” 

Esse pai percebeu que não estava sozinho em suas frustrações, depois que buscou ajuda através da terapia. 

“O terapeuta me disse que isso era muito mais comum do que eu imaginava, mas havia um grande tabu em dizer que você simplesmente odiava ser pai”, escreveu. 

“Então busquei no Google ‘odeio ser pai’ e surpresa: estavam em todos os lugares. Pessoas oprimidas pelo tédio e arrependimento.” 

O homem, cujo filho tem 9 anos, disse que preferiu não se identificar por “razões óbvias”. 

“Eu realmente o amo”, o pai escreveu. “Apenas desejaria que outra pessoa de fato apreciasse o processo de criá-lo, já que em um nível objetivo e subjetivo, minha própria vida é marcadamente menos agradável desde que ele chegou. Isso é pura honestidade.” 

“A melhor analogia seria que, em vez de ser você mesmo, você está representando um roteiro, dia após dia, de fingir estar entusiasmado com algo que você odeia. Que te desgasta. Você gostaria de se libertar e ser você de novo.” 

Ele concluiu que sentir arrependimento por ter se tornado pai pode deixar a pessoa em uma posição muito solitária. 

“O estranho sobre este dilema é que ninguém, muito menos os outros pais, tem muita simpatia por você”, escreveu. 

“Mesmo se você estiver clinicamente deprimido ao ponto da disfunção.” 

“Espera-se que uma pessoa que tenha uma criança veja isso como um tipo de presente precioso multifacetado do Cosmos. Como alguém pode ser tão ingrato ao Cosmos por um presente de tamanha magnificência?”. 

“E que, em resumo, é uma grande fração do problema de conviver com isso. Existem problemas piores, claro, mas este em particular é o meu.” 

Um mãe, cuja filha tem hoje 17 anos, disse que era “desesperada” para ter um bebê e isso a levou ao casamento: “Com o primeiro homem que teve interesse em ter um filho comigo, mesmo sabendo, no fundo, que estava tomando uma decisão errada”. 

Ela disse que a “urgência biológica” de ter filhos se tornou tão forte que a fez “ignorar os sinais vermelhos que o meu agora ex-marido estava enviando constantemente para mim, bem como ignorar que eu havia passado os últimos 27 anos insistindo que eu não queria filhos”. 

A mãe teve que deixar de trabalhar por causa de complicações na gravidez, e isso causou dificuldades financeiras, mas os problemas, segundo ela, iam além disso. “Tenho certeza de que existem muitas pessoas neste mundo que têm filhos de uma hora para outra que não podem sustentar e nunca sentiram que ter um filho foi um erro. Eu senti, e ainda sinto, que cometi um erro.” 

A mãe fez questão de afastar qualquer ideia de que não ama sua filha. “Para ser clara, EU AMO minha filha e me refiro a ela como minha ‘magnum opus’”, escreveu. “Se algo acontecesse com ela, eu ficaria inconsolável. Para sempre. Preferiria morrer com ela se ela morresse. Meu erro não tem a ver com amá-la ou que exista algo de errado com ela. Nada disso é verdade. Não é — isso nunca passou pela minha cabeça, nem de vez em quando — sua culpa de forma alguma que eu tenha me tornado mãe. Nunca a culpei, nem para mim mesma ou em voz alta, pelos meus fracassos.” “E, por causa disso, porque ela é realmente incrível, a sensação mais frequente é a de culpa. Sinto-me culpada a todo momento por não ser a mãe que ela merece.” 

Culpa foi um sentimento expressado por muitos pais na conversa. 

“Eu de fato me arrependo por ter feito um trabalho tão ruim ao criá-lo — ele merecia mais do que fui capaz de dar a ele”, escreveu outra mãe. 

“Arrependo-me de ter tido filhos, porque não estava preparada (23) e porque sou muito egoísta para realmente me preocupar com os sentimentos de outras pessoas além dos meus. Arrependo-me de ter tido um filho porque realmente, realmente era uma tarefa muito grande com a qual eu não era capaz de lidar.” 

Outro tema frequente foram os esforços feitos pelos pais para garantir que seus filhos se sentissem amados e desejados. “Eu me empenhei em fazer de tudo para evitar que ela se sentisse rejeitada ou mal-amada, mesmo ignorando minhas fortes tendências introvertidas, porque ela precisava que eu a deixasse ser melosa quando na verdade eu não era aquela pessoa”, escreveu a mãe. 

“Foi difícil ser mãe e ainda é, e ainda existe a culpa, mas também existe amor e responsabilidade.” 

Os pais também quiseram deixar claro que os sentimentos de arrependimento estavam relacionados com a situação, e não propriamente com os filhos. “Se eu acho que ELA é um ‘erro’? Não, não acho, mas acho que TÊ-LA foi um erro”, um pai escreveu. “Foi justamente a próxima coisa que aconteceu e, embora eu a ame, se eu tivesse oportunidade de voltar atrás, para como as coisas eram antes, sim, eu aceitaria. As pessoas simplesmente não querem escutar esse tipo de coisa.” 

Outra mãe acrescentou que, por outro lado, sua filha é exatamente o que a ajuda a lidar com o arrependimento de ter se tornado mãe. “Se me arrependo de ter tido uma segunda filha? Sim. Se me arrependo de ter tido MINHA FILHA? Não”, disse. “Ela está sempre rindo e cheia de alegria, e me lembra que a dificuldade não é tudo.” 



Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost UK e traduzido do inglês. 

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