segunda-feira, 30 de agosto de 2010

DESABAFO DE UM PARANOICO - Juarez Nogueira

Juarez Nogueira - escritor e professor de Divinópolis/MG


Com meu sincero respeito e admiração por esse paranoico estoico que eu chamo de amigo, Juarez Nogueira.

É um texto intenso como ele o é.

Quem gosta dele, assim como eu, o entende.

Se concordo com as posições dele é outra coisa, mas uma coisa é certa, ele sabe escrever seus sentimentos com tanta veemência que só nos cabe reles mortais uma reflexão mais aprofundada das questões levantadas.

Este Blog foi feito para publicar textos inteligentes e de sentimentos.

Como este!!!!!!!!

Parabéns Juarez pela lucidez paranoica.
Sua admiradora de sempre
Roberta Carrilho - 30/08/10

Gente, gente!

Amiga amante do deus Lullah disse que estou ficando paranoico por causa do ódio (é o que ela diz) que “transparece” nas mensagens sobre o “cara”. Vê-se que ela já aprendeu depressa, com o Mullah, a chamar os outros de aloprados. O que é o fanatismo de uma religião, hein?

Para quem me conhece – ou acha que me conhece – sabe que paranoico é uma ofensa. Magoei. Como é que alguém tenta me rebaixar assim do meu degrau de louco de pedra?

Estou mesmo muito ofendido. Tanto que vai aí o meu desabafo. Para os íntimos e nem tão íntimos.

E pensar que a amiga é psicóloga... Será que ela já ouviu falar da Dra. Nilse Silveira, a mais renomada psiquiatra brasileira, discípula de Carl Yung, que também foi ridicularizada e menosprezada pelos médicos de seu tempo? Perco a amizade, mas não perco a hora. Nem o guizo. (Eu ia dizer juízo, mas... prefiro rir enquanto posso.)

Abraço,
Juarez


*************************************************

Juarez Nogueira estava discutindo com uma amiga dele psicóloga que eu não me lembro o nome no momento... era ou é uma antiga amiga dele e durante todo este debate ele foi compartilhando com sua rede de amigos entre eles eu estava. Não era comigo esta discussão! Comigo foi ao final que eu me posicionei e ele arrematou com o fim da nossa amizade! 


*************************************************

Eis o desabafo do paranoico (mandei o texto para a amiga lúcida e racional demais também, viu gente?):

A tática é velha conhecida.

A estratégia de covardes, apaniguados e medíocres, dos “espertos”, é tentar desacreditar o outro sob a pecha de “aloprado”. Muitos fazem isso para se safarem da própria responsabilidade ou desviar o foco de sua estupidez. Trocando em miúdos, é como alguém que tenta desmerecer a credibilidade de outrem impingindo-lhe desvios para desviar a atenção daquilo que primeiro se desviou. É ribaldo que monta erro para amoitar errados.

A História é pródiga de exemplos.

Os sumo-sacerdotes judeus, liderados por Caifás, trataram primeiro de ridicularizar Jesus Cristo para depois acusá-lo de blasfêmia. Só um louco subversivo se proclamaria filho de Deus. O final dessa história todos sabem – embora muitos se “esqueçam”, ignorem.

O filósofo Giordano Bruno foi ridicularizado, atacado e, por fim, expulso da Inglaterra. Na Itália, foi acusado de heresia e condenado à fogueira pelo Santo Ofício, a pedido das autoridades de Veneza, não sem antes dizerem que era envolvido com magia.

A guerreira Joana D’Arc foi, antes de condenada à fogueira, ridicularizada por seus trajes masculinos e publicamente desacreditada, sob acusação de heresia e de bruxaria por “ouvir vozes”.

Há muitos outros casos: Sócrates, Boécio, Galileu Galilei, Vincent Van Gogh, Lutero, Santos Dumont, Gandhi...

Que dizer da atriz Erika Mann, filha do escritor Thomas Mann, que por pouco conseguiu escapar da Alemanha de Hitler? Ou do cientista Alain Turing, matemático e criptoanalista, um dos pioneiros da computação, que conseguiu decifrar os códigos das forças hitleristas? Foi por causa de seu trabalho que o Exército Aliado conseguiu finalmente barrar a besta nazista. Apesar disso, que fim levou Turing após a guerra? Acusado de ser doente, por ser homossexual, acabou numa prisão britânica, onde, induzido à loucura, se suicidou com cianeto.

O poeta e teatrólogo Antonin Artaud foi acusado de louco, internado em hospícios ao longo de sua vida. Deu ao mundo uma inteligência estética da vida e do corpo. Se foi louco, foi talvez um dos mais lúcidos de toda a história. Entre as obras de Artaud, está “O Teatro e seu Duplo”, o mais influente livro sobre o teatro escrito no século XX. Nessa obra, o “louco” e ridicularizado Artaud fala de “chaves profundas do pensamento e da ação sob todo espetáculo”. Por “todo espetáculo” pode-se entender a cena política, a cena social, a tragicomédia humana, enfim, o teatro de toda a vida.

E que dizer dos artistas da Semana de Arte Moderna, a famosa Semana de 22, quando tiveram seus trabalhos e ideias execrados pelo público e mesmo por outros artistas que ali só viam garatujas non sense?

Quando Pedro Collor, irmão de Fernando Collor, o denunciou por corrupção e prevaricação junto com o tesoureiro PC Farias, tratou-se logo de dizer que Pedro tinha “perturbações psicológicas”. Pedro Collor se submeteu a um exame de sanidade mental e, munido dele, mais documentos, concedeu uma entrevista à revista Veja, na qual acusou PC Farias de operar uma extensa rede de corrupção e tráfico de influência na qualidade de "testa-de-ferro" do presidente, o qual não reprimia tais condutas por ser um beneficiário direto daquilo que ficou conhecido como "esquema PC". Hoje, quem vê Lulla de bracinho dado com Collor, deve pensar mesmo: será que eu pirei?

Vou parafrasear Vinicius de Morais, os muito racionais que me perdoem, mas loucura é fundamental. Principalmente quando a “loucura” não é a acomodação da “ingenuidade” ou da “imbecilidade” subjazente ao afrouxamento da moral reinante, moral de rebanho mass media chegadinha em populismo e embotada de “carisma”, como se vê no Brasil de hoje. Tudo muito normal, tudo muito aceitável, não é? Tudo BBB: bom, bacana e bem-arranjado. Nas esferas brasilianas, claro. Sem contestação. Porque se contestar é aloprado. Se não for unanimidade, ai Jesus! Pois vou parafrasear também Guimarães Rosa: "pensar é muito perigoso".

Mas doido mesmo, ou burro, ou ingênuo útil, é quem aceita tudo que lhe dão sem questionar, sem aprofundar na análise, sem, como disse o louco genial Antonin Artaud, sondar as “chaves profundas do pensamento e da ação sob todo espetáculo”. Ou, como disse Shakespeare, que se deixa guiar como cego.

Melhor a paranoia de uma única pessoa do que a razão falsamente ingênua e manobrada de todos que dessa pessoa fazem troça por razões e interesses escusos. Deve ser bem por isso que Jean Cocteau advertiu: "o limite extremo da sensatez é o que o resto batiza de loucura". Embora, eu reconheça, a sensatez não convém a todos, apenas aos grandes espíritos. Idem a loucura. Ou a paranoia ou qualquer distúrbio que perturbe a comodidade da ordem por meio da dúvida, do questionamento, do incômodo que é alguém que pensa em voz alta.

Há um texto de Pirandello que diz: “Basta que a verdade comece a gritar na cara de todos para ninguém acreditá-la e tomá-la como louca.” Então, se isso é loucura, se é paranoia bater-se pela sabedoria para descobrir as vergonhas, quero tomar a inteligente resolução de enlouquecer. E de deixar que me julguem como louco, paranoico  Posso também pedir clemência, compaixão, implorar: oh, não me julguem paranoico  oh, não! Porque estoico sou. Mas no tribunal da inquisição dos imbecis, dos medíocres e dos covardes, não cabe estoicismo. A paranoia sim, e ali ela serve para acusar e tentar calar. Para institucionalizar a idiotice, como se viu naquela fábula da roupa nova do rei. Foi preciso uma criança gritar ‘o rei está nu!’, para que rei e reino recobrassem o juízo. Se obstinação e calor na argumentação, se cetic ismo na busca da verdade, no questionamento dos fatos e no entendimento da possibilidade de uma conexão entre eles é paranoia e loucura, podem me chamar. Estou dentro. Digo presente. Antes assim. Até porque, antes de mim, Michel de Montaigne, que já não via novidade sob o sol, obstinou pensar: “Há alguma coisa tão teimosa, porfiada, desdenhosa, contemplativa, grave e séria, como um burro?"

*************************************************

Depois de quase 20 anos de amizade e cumplicidade ele simplesmente acabou tudo no dia 09/11/10 por e-mail (abaixo) porque eu disse que iria votar na Dilma e não José Serra. Simples Assim! Sofrido Assim!
Apesar desta atitude irascível e radical dele eu continuo respeitando e admirando sua mente brilhante. Fique em paz meu amigo Juarez ou Juju.
Abraços,
Roberta Carrilho

*************************************************


Date: Mon, 1 Nov 2010 11:14:23 -0200
From: junarez@bol.com.br
Subject: Só leia se for Gente Decente!
To: robertacarrilho@hotmail.com


Amigos, Gente de Bem!

Aqui estou, redivivo e pronto para qualquer luta ou descanso. Confesso que um tanto quanto inapetente para a luta contra a mediocridade e a louvação dos finados. E justifico: contra a mediocridade, sabemos, até os deuses pelejam em vão. Mas vai passar rapidinho essa inapetência. Vai passar porque antes quero ser derrotado no bem do que vencer no mal.

Por isso, Amigos, Pessoas de Bem!, escrevo àqueles que vivem não de vitórias, mas de luta. Aqueles que sabem: a derrota moral infligida é mais grave do que o desastre material. Que sabem: por trás de alguns triunfos há sempre um ressentimento e numa razão direta que varia a grandeza – desse triunfo ou desse ressentimento –, se é que nisso possa haver grandeza.

Digo isso porque há os que vencem e não lhes importa como vençam, porque nunca conquistam a vergonha. E vitória sem vergonha é veleidade, não mais. 

Digo isso porque aprendi, com meu amigo Saint-Exupéry, autor d’O Pequeno Príncipe (aquele livro que todo mundo diz que leu, mas que raros leram com a alma) que algumas vitórias exaltam, outras corrompem, outras despertam. E também, porque devo ao Mestre Antônio Vieira o entendimento de que a vitória tanto menos vale quanto mais custa.

Sim. A vitória que tanto menos vale quanto mais custa. É esta a vitória a que o povo brasileiro assistiu com o resultado democrático das urnas nestas eleições. É este o ganho de Dilma Roussef ou Vana ou Estela ou Lúcia ou Patrícia ou sei lá quem não sabemos, até que democraticamente seja aberta a urna que contém a ficha dessa pessoa, escondida no Supremo Tribunal Militar e venha a luz a verdadeira identidade. Amigos, Pessoas de Bem! Para avaliar esse triunfo nas urnas, é preciso considerar se houve grandeza. Aqui, vão os dados das eleições, de acordo com o TSE, em relação ao número de votos:

Dilma Roussef: 55.752.09
José Serra: 43.710.422
Nulos: 4.689.310
Nulos: 4.689.310
Abstenções: 29.194.356
Total de eleitores: 135.804.433 

A aritmética da grandeza, percebam, não está nos números do triunfo. Naquilo que se convencionou chamar de ‘maioria’. Ora, maiorias podem ser tão obstinadas quanto cavalgaduras, quanto minorias podem ser tão tacanhas em sua estultice. Ou não.

Mas somem os votos de José Serra, os nulos, brancos e abstenções e verão que, para bem conhecer, não é preciso demonstrar nem explicar: basta alçar a visão. Ver além. Os números confirmam um resultado imediato, mas mostram que Dillma não ganhou com a maioria. Note que eu digo que Dillma ganhou, não venceu.

Dillma ganhou, portanto, com a manobra da ilegalidade de seu criador, Luis Inácio Lulla da Silva, que abandonou as responsabilidades do cargo de presidente para ser cabo eleitoral. Por isso, o ganho de Dillma vale menos, muito menos. Porque não é a vitória do mérito. Da competência. É o ganho do apadrinhamento, da indicação, da facilitação de recursos com dinheiro público para entronizá-la na veleidade do triunfo – a qualquer custo. Não é a vitória de uma mulher como Irmã Dulce, Dra.Zilda Arns, Bertha Lutz, Nísia Floresta, Marina Silva, Dra.Nise Silveira, Pagu, Tarsila Amaral, Chiquinha Gonzaga, entre tantas, tantas outras mulheres que se fizeram per si, e não porque um marmanjo as manobrou como bonequinha de corda. Quem ganhou mais, portanto, não foi Dilma, foi Lulla.

E Lulla também não ganhou por seu mérito, porque os números confirmam o óbvio: sua dita popularidade é uma farsa. Tanto que não ganhou, não elegeu sua marionete no primeiro turno. Tanto que deitou seu mal contido ressentimento ao dizer que “70 milhões de brasileiros não foram inteligentes o suficiente para decidir eleição em primeiro turno”.

Pois bem. Esses 70 milhões de brasileiros que não votaram em Dillma, nem no primeiro nem no segundo turno, são, em grande parte, os brasileiros que não se deixaram engrupir no conjunto dessa obra de mentiras, falácias e bravatas que o apedeuta Lulla propõe perpetrar neste país onde uma convicção não vale mais que uma bolsa-esmola.

Dillma ganha perdendo porque não convenceu (convencer significa vencer com) as pessoas de bem, cientes e conscientes do mensalão, do dinheiro na cueca, do caso Lullinha, dos cartões corporativos, da mentira de que o país pagou a dívida do FMI e é so acessar o site do Banco Central do Brasil e do FMI para conferir o valor de U$235,3 bilhões, do circo armado das olimpíadas, da inflação percebida na alta dos alimentos toda semana, nas alianças com Collor, Sarney, Maluf, Edir Macedo, Hugo Chavez...

A vitória de Dillma – se vitória se pode dizer – não é uma vitória que exalta. É um ganho que corrompe. Corrompe porque é continuísmo. Corrompe porque é fruto de locupletamento com os “cumpanhêro”, de emparelhamento estatal, de uso da máquina pública e do culto da personalidade de seu mentor, Lulla, e não da autonomia de Dillma como pessoa, como mulher, como política, como cidadã.

Mas esse ganho também deve despertar. Despertar as pessoas de bem deste país para o fato de que precisam conhecer mais, trabalhar mais, agir mais. Inquietar-se mais e mais incomodar. Despertar para a necessidade de não se abaterem, cientes de que Dillma ganhou, mas não venceu com grandeza nem com mérito. 

E então, volto a uma frase de Saint-Exupéry: os homens compram tudo pronto nas lojas... Mas como não há lojas de amigos, os homens não têm amigos.

O atual momento é emblemático de uma releitura que a partir daí faço: há políticos que compram tudo com bolsas... Mas como não há bolsas de vergonha, esses políticos não têm E-LEITORES, têm clientes. É só rodar a bolsa.

Amigos, pessoas de bem! Comecem a trabalhar agora, aí, onde estiverem. Sem trégua! Com a cara corada de vergonha, mas limpa, erguida! Firmes no propósito de não se impressionarem com o grito dos maus, dos violentos, com os ganhos dos corruptos, mas de não se permitirem o silenciar do bem e da ética!

A luta continua!
E eu estou aqui!
Meu abraço sincero,
Juarez Nogueira

*************************************************

Em 09/11/ 2010 17:39:00
robertacarrilho@hotmail.com escreveu:


Eu li Juarez, apesar de entender você e sua eloquência, não compartilho a mesma opinião. A democracia está aí, ou seja, aceitar e respeitar as diferenças. 

Eu o respeito pelo que você é e não pela sua posição política. Esta não me interessa, você sabe que eu sou LULA, de peito aberto; o que me interessa é só a sua amizade, nada mais.


"Democracia: é uma crendice muito difundida, um abuso da estatística". Jorge Luis Borges


"As diferenças de opiniões nunca devem suscitar inimizades nem ressentimentos". Carlos Bernardo González

"A confidência corrompe a amizade, muito contato a consome, o respeito a conserva". Cícero


"Amigo é aquele que sabe tudo a seu respeito e, mesmo assim, ainda gosta de você." 

Abraços,
Roberta Carrilho




*************************************************

Date: Tue, 9 Nov 2010 18:14:00 -0200
From: junarez@bol.com.br
Subject: Re: RE: Só leia se for Gente Decente!
To: robertacarrilho@hotmail.com


Foi um equívoco de minha parte!
Note que eu sempre me dirijo a "Gente Decente"!
É compreensível que haja quem não se reconheça nesse grupo.
Por isso já decidi: vou deletar seu contato de minha lista.
Eu já entendi que você tem um caráter muito sublime para que eu me considere seu amigo.
Tiau!




Um comentário:

  1. o pior e vc ter a paranoia e as coisas acontecerem a maioria das vezes!
    hehehehe

    ResponderExcluir