terça-feira, 21 de outubro de 2014

VAZIO EXISTENCIAL: ORIGEM DA PERDA DO SENTIDO, AUTOCONSCIÊNCIA E TERAPIA por Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis


Foto by Brett Walker - link:https://www.flickr.com/photos/brettwalker/


Psicogênese (origem) da perda de sentido

Em face dos conflitos que remontam ao passado espi­ritual, o indivíduo renasce assinalado por debilidade de forças morais, que resulta da indisciplina e da falta de morigeração na conduta, durante as experiências evoluti­vas que não ficaram bem-trabalhadas.

Não poucas vezes, preso ao cordão umbilical da mãe, não amadurece psicologicamente a ponto de libertar-se, mantendo interesses imediatos, entre os quais, aplenificação emocional através do conúbio sexual.

Antes, porque os preconceitos eram muito severos em relação ao comportamento sexual, a culpa inscrevia-se-lhe nos refolhos da psique, atormentando-o e levando-o a uniões ligeiras, destituídas de sentido emocional profundo, sem a anuência do amor, nem o respeito recíproco a que se devem todas as criaturas, umas às outras.

Mais necessidade fisiológica do que expressão de rea­lização afetiva, quando não lograva a completude, experimentava o vazio existencial, que se fazia acompanhar pela falta de outros objetivos existenciais.

Lentamente, nesse estado emocional, perdia a pró­pria identidade, mergulhando em aparências que pudessem agradar aos outros em detrimento da sua própria realização.

Na atualidade, não obstante o sexo constitua um para­digma de comportamento essencial, a sua satisfação aligeirada continua destituída de significado profundo, que permita o equilíbrio das emoções e a segurança afetiva. A troca insensata de parceiros, na busca da variedade, em vez de sa­tisfazer, mais frustra, demonstrando que o intercurso sexual é mais um modismo da sociedade moderna, que se consi­dera liberta dos tabus do passado, do que realmente uma forma de expressar os sentimentos e trabalhar a ansiedade.

Nessa busca desenfreada, transita-se de um estado de estresse para outro, sem que haja harmonia interior nas buscas efetuadas. As pessoas que compartem desses momentos são descartáveis, grátis ou remuneradas, bem ou mal situadas no contexto social, objeto de uso sem nenhum sentido psicológico realizador.

Quando conhecidas e importantes, portadoras do brilho que a mídia ilusória lhes confere, constituem um de­safio para o conquistador ansioso - masculino ou feminino - que, após a vitória, não lhe encontra nada de especial, somando às anteriores as novas frustrações, que terminarão por levá-lo às fugas espetaculares pelas drogas, pela depres­são, pelo vazio existencial...

Em face da rapidez dos momentos hodiernos, não se apresentam oportunidades para amadurecimento das emoções, para escolhas corretas, para reflexões e ponderações significativas. Os indivíduos são devorados pela volúpia do muito agarrar e do pouco reter. Há uma sofreguidão para aparecer, uma necessidade desesperadora para estar em to­dos lugares ao mesmo tempo, tombando na exaustão e levantando-se sob estímulos químicos ainda mais frustrantes.

Vitimado, em si mesmo, o indivíduo, que perdeu o contato com o Self, exaure-se no ego exigente e pouco gratificante, preocupando-se em ser espelho que reflete outras pes­soas, suas opiniões, seus aplausos, suas desmedidas ambições.

Aumenta-lhe a necessidade psicológica de esconder o sentimento e exibir a aparência, sobrecarregando as emoções com desaires e amarguras que procura dissimular no convívio com os demais até quando já não mais o consegue.

Explica-se que, num período de violência, de guer­ras, de catástrofes de todo tipo, a insegurança se instala no indivíduo, adicionando ao sentimento de inferioridade o desespero generalizado, a insatisfação, a ansiedade.

Freud assinalava, no seu tempo, que o fator prepon­derante mais comum para esse tipo de conflito - solidão, ansiedade, insegurança — era a dificuldade que todos expe­rimentavam em aceitar o lado instintivo e sexual da vida, em razão dos preconceitos e tabus de que a sociedade se revestia. Posteriormente, foram assinaladas outras razões, como sejam: sentimento de inferioridade, incapacidade para enfrentar os novos desafios que se apresentavam e a culpa. Tratava-se de inconsciente hostilidade que vigia entre os indivíduos e os grupos sociais, em terrível luta competitiva. Na atualidade, é a falta de metas, de obje­tivos, que assalta a consciência, dando lugar a indivíduos psicologicamente vazios.

A inferioridade e o conceito conflitivo em torno do sexo prosseguem, tanto quanto a culpa e a ansiedade, adicionados à ausência de ideais que plenificam, estimulando à luta contínua.

A grande maioria dos que assim se comportam intelectualizou-se, aprendeu a discorrer sobre temas variados, mesmo que superficialmente, mas não aprendeu a traba­lhar-se interiormente, a enfrentar os seus medos e culpas, sempre transferindo-os no tempo ou anestesiando-os no inconsciente.

Compreende-se a necessidade das conquistas exter­nas, que se torna uma forma de autor realização, e afadiga-se a criatura por consegui-las, para logo constatar a sua quase inutilidade, por não preencher os espaços tomados pela angústia e pelas incertezas.

Faz-se um abismo entre o Self e o ego, que mais se afastam um do outro, concedendo espaço para a desinte­gração da personalidade, para a esquizofrenia...

Esse vazio existencial, de certo modo, também se deriva do tédio, da repetição de experiências que não se renovam, da quase indiferença pelas demais criaturas, su­gerindo a inutilidade pessoal.

Na época da robotização, o ser humano sente-se re­legado a um plano secundário, deixando-se conduzir por botões mecânicos inteligentes que, em alguns casos, subs­tituem-no com eficiência, sem esforço, nem gratificação.

O excesso de tempo, resultado da máquina que o ajuda nas atividades habituais, faculta-lhe a corrida para a comunicação virtual, as intermináveis horas de buscas na Internet, os encontros românticos de personalidades neuróticas e medrosas, estabelecendo perspectivas mais angustiosas, por se tratar de pessoas frustradas e inseguras, refugia­das em frente da tela do computador, procurando a ilusão de seres ideais, incorruptíveis, maravilhosos.

Passada, porém, a fase de deslumbramento, iniciando-se a convivência, logo se constata o equívoco, e a imagi­nação arquiteta novas fugas da realidade para a fantasia das denominadas histórias de quadrinhos.

Desse modo, avança-se para um sentimento pertur­bador que se apresenta como um vazio coletivo que se es­tabelece na sociedade.

Em tentativas inúteis de o preencher, elaboram-se as festas alucinantes, volumosas, arrastando as multidões desassisadas e ansiosas, que se esfalfam no prazer anestesiante, para depois despertar no mesmo estado de vácuo interno, agora com os conflitos e culpas das loucuras perpetradas.

Esse vazio, portanto, não significa ausência de signifi­cados internos, de valores adormecidos ou ignorados, mas, sim, a incapacidade que toma do indivíduo, sugerindo-lhe impossibilidade ou inutilidade de lutar contra a maré das dificuldades, permitindo-se uma resignação indiferente, como mecanismo de autodefesa, que se transforma num grande vácuo interno.

A pouco e pouco, porque se adapta à nova conjun­tura, perde o interesse pelo desejar e pelo realizar, ficando amorfo, embora com aparência que corresponde aos padrões sociais, por mínima exigência do ego soberbo e rebelde.

Perdido o respeito pelo grupo social e suas institui­ções, logo depois perde-o por si mesmo, deixando-se arras­tar para profundos conflitos de inutilidade e de depressão.


Autoconsciência

A autoconsciência é a conquista realizada pelo Self após os primeiros meses da infância, quando surgem os evi­dentes sinais de que se é uma pessoa e não mais o animal irracional orientado apenas pelo instinto.

Essa formosa concessão de tornar-se consciente, em­bora as dificuldades iniciais de identificação e os conflitos que surgem durante o processo de crescimento, é uma das mais belas aquisições do ser imortal, quando transitando no corpo. É a característica especial do ser humano, que pode raciocinar, compreender o significado dos símbolos, selecionar, por preferência pessoal, aquilo que lhe é apetecível, deixando de lado o desagradável, que pode elaborar esquemas em torno de abstrações, de considerar o ético, o estético, o nobre, diferenciando-os do vulgar, do grosseiro e do indigno.

A autoconsciência amplia os horizontes emocionais e psíquicos do ser, propiciando-lhe a libertação de tudo quanto o junge ao passado - a mãe arbitrária, o pai negli­gente, as situações penosas - desde que haja o esforço de aceitação dos novos desafios existenciais.

Somente nos sonhos se apresentarão os símbolos tormentosos que devem ser trabalhados, à medida que a auto­consciência favoreça o Self com a sua realidade e soberania em relação ao ego, que passou a existir a partir do momento do raciocínio, do discernimento entre o ser e o estar.

O animal irracional permanecerá jugulado ao instin­to sem a capacidade de distinguir o belo ou expressar-se de maneira coerente. Será interpretado pela mente consciente do ser humano, que lhe entenderá os reflexos condicio­nados, as necessidades e automatismos, nunca, porém, ele próprio percebendo racionalmente o significado dos sím­bolos nem dos acontecimentos a sua volta.

Esse animal, sem dúvida, estará livre dos conflitos, da culpa, do remorso, que são valores aflitivos que acompa­nham o despertar da autoconsciência e da sua implantação. É o preço, porém, que o ser humano paga pela conquista, produzindo a seleção entre os automatismos da fatalidade biológica de animal no rumo da individualidade consciente.

É provável que muitos indivíduos aspirem ao não so­frimento, que se deriva da autoconsciência, preferindo as noites dormidas longamente, sem sonhos catárticos, representativos dos conflitos que estão sendo eliminados. Em consequência, não teriam ideia do seu próprio estado, por falta da autoconsciência, dessa incomparável capacidade de entender e de estabelecer metas.

Naturalmente, é também essa conquista que o liberta­rá da ansiedade e das suas tramas, eliminando a culpa, o desprezo de si mesmo, a perda de sentido, o vazio existencial, embora os propicie em determinados estados de desenvol­vimento, dando-lhe significado psicológico, alegria de viver, realização plenificadora.

Não poucos psicólogos e filósofos discordam do con­ceito do Self, afirmando que ele interromperia o continuum dos animais, e por não se terem provas científicas do mo­mento em que surge e começa a desenvolver-se.

O Self no entanto, é a incomum capacidade de gerar relacionamentos entre os indivíduos de forma consciente e produtiva, sem os automatismos do instinto, podendo optar por uns em detrimento de outros, em razão de afi­nidades e de conceitos, de emoções e de sentimentos. É a consciência da individualidade e não uma faculdade ape­nas intelectual. Sem dúvida que se trata do despertar do Espírito enclausurado na argamassa celular, diferindo-o do psiquismo em evolução no reino animal mais primitivo...

Esse Self, quando coerente e saudável, recusa-se ao abandono que o indivíduo em transtorno de comporta­mento se permite, quando o ego encontra-se atormentado e instável. É a sua faculdade de optar, de discernir, que irá trabalhar pela recuperação das suas potências e da sua realidade, avançando para o estágio numinoso.

O objetivo essencial da vida humana é facultar ao ser o desenvolvimento de todas as suas potencialidades adormecidas - o deus interno — tornando-o pessoa, uma indivi­dualidade que pensa. Esse processo não é automático como ocorre com os seres vegetal e animal, mas dependente das escolhas, da lucidez, das aspirações e dos esforços empreen­didos, que são resultados das conquistas já conseguidas em existência transatas.

A infância humana é a mais longa entre todos os seres conhecidos, exatamente para permitir-lhe recursos de desenvolvimento para o Self alcançar a sua plenitude, porque cada pessoa é uma identidade especial, com grandezas e pequenezes que a caracterizam, com uma história muito própria, nunca havendo iguais, mesmo quando se trate de gêmeos duplos ou quíntuplos... Cada qual estagia em um nível de autoconsciência que lhe define a idade espiritual, o progresso alcançado.

Nesse claustro divino - a autoconsciência — a pessoa vê-se de maneira única, jamais igualada por quem quer que seja do mundo exterior.

É impositivo da autoconsciência o amadurecimento psicológico mediante realizações internas e externas contínuas, superando dificuldades e acumulando valores trans­cendentes que impulsionam para níveis cada vez mais am­plos e elevados.

Por isso que, no estágio de autoconsciência, não se po­dem vivenciar estados vazios, manter vácuos interiores, per­dendo o endereço da meta e entregando-se à ansiedade perturbadora, ao estresse devastador, ao desinteresse contumaz.

Se algum membro do corpo físico não é acionado, tende ao atrofiamento. Tudo, no ser vivente, exige ação, movimento e esforço, que mais o fortalecem para o desem­penho da finalidade para a qual foi criado.

Assim também nos padrões psicológicos da autoconsciência. A pessoa deve descobrir a finalidade da sua existência e como alcançar o objetivo de ser feliz, superan­do os conflitos ou tratando-os, vivendo de maneira clara e sem culpa, usufruindo os dons da existência e aperfeiçoando-se sempre.

Quando se adquire autoconsciência - realizando-se a identificação entre o Self e o ego — torna-se possível preencher os espaços afligentes do mundo interior, nunca se ati­rando ao desprezo, ao abandono de si mesmo, à vacuidade.


Terapia libertadora

A pessoa vazia, aquela que perdeu a identidade e dei­xou de seguir na busca dos objetivos que constituem as mo­tivações seguras para existir e realizar atividades existenciais, passa por um tormentoso processo de desgaste emocional.

A perda do Si, no entanto, pode ser resolvida me­diante a mudança de atitude racional e emocional para com a oportunidade existencial.

Eis por que a fé religiosa, o sentimento de humani­dade, o respeito social, a vinculação idealista a qualquer expressão dignificadora do ser humano, tornam-se referên­cias que se convertem em estímulos para não se perder o significado psicológico interior.

Passando-se do absurdo da fé cega e autoritária para a indiferença espiritual do ser em si mesmo, as condutas anárquicas e irresponsáveis assumiram a liberação daquilo que antes era castração, produzindo males equivalentes, que ora consomem o ser social, perdido na confusão do nada a perseguir.

A jornada física é de efêmera duração, porquanto, à medida que produz frutos está sendo consumida pela su­cessão das horas, o que deixa certo travo de amargura e desencanto. A conceituação eterna do Espírito, momenta­neamente em realização na vestidura orgânica, entretanto, faculta um comportamento diferente, porque as leis que lhe regem o destino estão escritas na sua própria consciên­cia, não valendo muito as opiniões externas, sejam median­te reproches ou aplausos.

Por meio da reflexão, descobre-se o indivíduo con­forme o é, e quanto poderá fazer-se em benefício próprio, a fim de alcançar níveis mais grandiosos e compensadores, que lhe estão destinados pela própria vida.

No período, porém, de angústia e de ansiedade, em face da dificuldade de identificação de metas e de compro­missos, necessita de assistência psicanalítica ou psicológica,

Conflitos Existenciais

A fim de diluir a ansiedade e os conflitos gerados, conforme a psicogênese em que se apoiam.

A assistência orientadora irá auxiliá-lo na liberação dos medos e culpas, das frustrações e mágoas, ensejando-lhe a indispensável motivação para prosseguir, em razão dos júbilos que o tomarão, facultando-lhe sempre novos cometimentos satisfatórios.

De outro modo, a busca do Si, através da meditação e da prece, facultar-lhe-á insight valioso para compreender quanto lhe está reservado e, momentaneamente se encon­tra defasado, sem utilidade.

A comunhão mental em outras ondas de pensamen­to, em áreas extrafísicas, proporcionar-lhe-á a identificação com Entidades benfeitoras, que inspiram decisões e condu­tas saudáveis, enriquecendo-o de bem-estar.

Crê-se, indevidamente, que somente os indivíduos superiormente qualificados podem experimentar essa alegria, essa vivacidade, o triunfo sobre os conflitos. Ledo engano, porquanto esses bens estão ao alcance de todos quantos realizem atos de enobrecimento e esforcem-se por lográ-los.

Cada ato bem-conduzido oferece a compensação do resultado exitoso.

O homem e a mulher vazios necessitam de terapia própria para a recuperação da finalidade existencial na qual transitam. Basta-lhes tentar e insistir até conseguir.



Divaldo Pereira Franco ditado pelo 
Espírito Joanna de Ângelis


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