quinta-feira, 23 de outubro de 2014

TABAGISMO (FUMAR): CAUSAS. INSTALAÇÃO E DANOS DA DEPENDÊNCIA E TERAPIA por Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis



Foto by Brett Walker - link: https://www.flickr.com/photos/brettwalker/


Causas do tabagismo



O cultivo dos hábitos saudáveis, considerados como virtudes morais, oferece o bem-estar gerador de harmonia pessoal e social. Eles contribuem decisi­vamente para o equilíbrio orgânico, emocional e psíquico, facultando uma existência realmente prazerosa.



Esses hábitos proporcionadores de felicidade inscul­pem-se no cerne do ser e ajudam-no a conquistar o proces­so de autorrealização.

Dentre os mais expressivos e edificantes, em toda a sua grandeza destaca-se a superação do egoísmo através da prática do bem com total desinteresse, definindo o biótipo espiritual triunfador.

Sob outro aspecto, os hábitos viciosos atormentam, desenvolvendo ou ampliando conflitos que entorpecem o indivíduo, enfermando-o, desarticulando-lhe as resistên­cias morais.

Certamente, há aqueles que se afeiçoam com facili­dade aos bons costumes e vivenciam-nos com relativa fa­cilidade, em razão de se haverem exercitado em existências anteriores, enquanto outros que tombam na dependência viciosa, estão iniciando-se ainda na experiência da luta para adquirir imunização ao seu contágio.

Os hábitos de qualquer procedência são resultados da dinâmica de manutenção do exercício, mediante a afi­nidade com este ou aquele, seja possuidor de benefícios ou de aflições.

Quanto mais se repetirem as tentativas e ações, mais serão fixadas no comportamento, tornando-se uma deno­minada segunda natureza.

Os vícios, pois, decorrem da acomodação mental e moral a situações penosas e equívocas, que exigem esforço para salutar direcionamento, mas que a falsa sensação de prazer transforma-se em desar ou aflição, logo que fruída.

Dentre os denominados vícios sociais destaca-se o tabagismo, de consequências danosas para o organismo físico do dependente da nicotina e dos demais conservantes do fumo, bem como gerando transtorno da emoção.

De duas ordens são as causas do tabagismo: a primei­ra delas, de natureza subjetiva, porque ínsita no emocional do indivíduo, apresentando-se sob variado elenco de manifestações, tais como a timidez e o medo, o complexo de inferioridade e a insegurança, a baixa estima pessoal e a ansiedade, que resultam de processos anteriores da evolução ou que ressumam dos conteúdos psíquicos inconscientes arcaicos e infantis do fumador.

Nessa situação, é fácil a busca do bastão psicológico de sustentação, no caso em tela o tabaco para mascar ou fumar, mais genericamente em forma de cigarro, charuto ou cachimbo, que é queimado, tendo tragada a sua fumaça.

Sob o ponto de vista psicanalítico, conforme Freud, durante o período de desenvolvimento oral na criança, toda vez que essa apresenta qualquer necessidade e chora, logo recebe a chupeta, a amamentação, o dedo na boca, as guloseimas, indo repetir-se esse fenômeno na idade juvenil e adulta, quando se busca o tabaco na sua forma social e elegante, para restituir a tranquilidade, vencendo aparente­mente a ansiedade.

Aquela fase oral do desenvolvimento infantil grava-se no inconsciente, nos seus aspectos positivos e negativos, representando a gratificação que os pais e os familiares oferecem ao bebê com o objetivo de deixá-lo feliz.

Desse modo, na juventude, o cigarro especialmente torna-se o consolo ante as incertezas, os desafios e o apoio psicológico para os temores de enfrentamentos em relação à angústia e principalmente à solidão. Nesse período de incertezas da existência, o jovem experimenta muita ansiedade e sofre grave insegurança, acreditando que, no fumo, irá encontrar os valores que lhe faltam no momento, assim tombando no vício.

Indispensável, dessa forma, entender-se a oralidade, a fim de resguardar-se da fuga para o tabagismo.

A segunda é de natureza objetiva, social, externa, defluente da convivência com outros dependentes da ni­cotina, que fingem haver adquirido a independência (dos pais, dos familiares, dos mestres), afirmando a personali­dade, adentrando-se na sociedade dos adultos, igualmente viciados...

Receando ser discriminado no grupo em que se mo­vimenta, por não proceder de maneira idêntica (relacionamentos-espelho, em que os indivíduos refletem-se na conduta uns dos outros), o jovem ou mesmo o adulto, permite-se a iniciação, nem sempre muito agradável, logo parecendo capaz de afirmar-se perante os demais, já que não tem convicção das próprias possibilidades, tornando--se dependente do vício.

As pressões sociais e emocionais, os incontáveis em­bates do crescimento como ser inteligente, quando produ­zem ansiedade e geram inquietação, empurram o incauto para o recurso do bastão psicológico de apoio, com a finali­dade enganosa de tranquilizar e inspirar soluções.

Também são sugeridas outras espécies de causas, como sejam: a voluntária, pelo excesso de fumo ou de mas­tigação do tabaco, e a profissional, que atinge os trabalha­dores dessa indústria perversa.

Dependentes das substâncias absorvidas pelo uso do tabaco, alguns desses tipos psicológicos frágeis criem que a ingestão do álcool, mesmo que em doses mínimas, propicia inspiração, qual ocorre no período da sesta, em favor da criatividade, e buscam esse estímulo morbífico.

A criatividade, a inspiração, o êxtase legítimo, de­correm da perfeita lucidez, num período de bem-estar e de integração com o Cosmo, após o esforço da busca para o auto encontro, facultando ao subconsciente ou ao pré-consciente o auxílio necessário e eficaz.

Nesse comportamento, atinge-se com relativa faci­lidade o estado alterado de consciência, em vez de mergu­lhar-se em estados de consciência alterada, pela ingestão de substâncias alucinógenas, portadoras de danos imprevisíveis ao cérebro e aos respectivos departamentos emocional e psíquico do usuário.

Assim, o êxtase deve ser alcançado mediante perfeita sintonia com as faixas sutis da vida, sem a intoxicação resultante de qualquer substância vegetal ou química.

Quando ocorre a transcendência temporária na dicotomia sujei to/objeto, dá-se o êxtase, sem qualquer co­notação neurótica ou pejorativa, ou ainda, regressão a ser­viço do ego.

Será sempre nesse estado de perfeita afinidade que su­cede, facultando o abandono do ego e suas injunções para a harmonia com o self numa outra dimensão espaço/tempo.

Os vícios, sejam de qual constituição se apresentem, tornam-se cadeias escravizadoras de consequências lamentáveis para os seus aficionados.

Melhor, portanto, evitar-lhes a instalação do que a posterior luta pela sua superação.


Instalação e danos da dependência viciosa

Iniciada a experiência desastrosa, sempre que haja qualquer tipo de conflito, de ansiedade, de insegurança, o paciente busca o recurso do tabaco na vã ilusão de alcançar os resultados do bem-estar, da serenidade.

À medida que o organismo intoxica-se, aumenta o índice da necessidade, passando à dependência coercitiva e perturbadora. Simultaneamente aparecem os sinais que tipificam os danos causados ao organismo, que podem vir a sós ou associados uns aos outros.

O tabagismo é responsável, portanto, por diversas enfermidades, especialmente as do sistema nervoso central, como dos aparelhos cardiovascular, respiratório, digestivo e das glândulas endócrinas, com perturbações da fala, acidentes de estenocardia e dos vasos periféricos. Na sua fase aguda, surgem as náuseas, vômitos, desmaios, dores de ca­beça, fraqueza nas pernas, sialorreia...

Na ocorrência de insuficiência coronária e bronquite crônica, nas dispepsias gástricas e biliar, diabetes, o taba­gismo piora os quadros, levando a desenlaces dolorosos e inevitáveis.

O fumante pensa haver conseguido ganhos com o hábito danoso, como por exemplo fazer parte do círculo de dependentes, sentindo-se aceito e idêntico, especialmente na fase das conquistas amorosas, quando o outro - masculino ou feminino - é viciado.

A ampla divulgação pela mídia de que o fumador é um indivíduo triunfante, conquistador invejável e realiza­dor de façanhas poderosas, contribui para que as persona­lidades conflitivas busquem o tabaco, a fim de alcançarem realização semelhante. Infelizmente, a mídia não apresenta os seus modelos, quando estão sendo devorados pelo câncer que resulta do hábito inveterado de absorver nicotina em altas doses...

A ilusão proporcionada pelo tabagismo é paradoxal: inicialmente parece que acalma, que dá vitalidade, no entanto, quanto mais a vítima se deixa arrastar pelo uso doentio, mais neurótica, mais insegura e mais instável apresenta-se.

O indivíduo farmacodependente atinge um nível de transtorno de tal monta, que se sente incapaz de enfrentar qualquer tipo de atividade sem o apoio do cigarro, muitas vezes mesmo antes de qualquer refeição, a fim de iniciar o dia.

Quando tenta evitar-lhe o uso, e casualmente o an­seio da ação não corresponde ao esperado, logo supõe que é a falta do cigarro que se faz responsável pelo que considera insucesso, e recorre-lhe ao apoio, reabastecendo-se de ânimo e formando o círculo vicioso.

Mesmo quando o dependente reconhece os danos que o vício vem-lhe causando ao organismo, teme abando­ná-lo, embora o deseje sem grande esforço, prosseguindo, porém, vitimado nas suas garras.

O eminente psiquiatra Sigmund Freud, já referido, denomina esse fenômeno como a pulsão de morte, ou seja, a maneira mórbida como a pessoa deixa-se arrastar pelas condutas doentias e destrutivas.

Fenômeno especial ocorre nessa como em qualquer outra dependência viciosa, que é a presença de Espíritos igualmente enfermiços que se utilizam do paciente para a convivência obsessiva, dando prosseguimento aos hábitos infelizes em que se compraziam e ora sentem falta, em face da ausência da organização física.

Assim, estabelecem-se ligações mórbidas, ensejando processos de vampirização que se fazem mais complexos, quando utilizam dos vapores etílicos, das emanações do tabaco, das drogas, para continuarem comprazendo-se.

Essa ingerência mais agrava o estado do paciente fí­sico, porque, mesmo usando a bengala psicológica, prosse­gue frustrado, em razão do desvio daquelas substâncias que lhe pareciam auxiliar quando em tormento.

À medida que a parasitose espiritual mais se aprofun­da no comportamento do encarnado, este sente-se ainda mais enfraquecido, aturdido e infeliz, esvaziado de ideais de superior significação.

Toda vez quando pensa em abandonar o vício, tem a mente invadida por pavores e ameaças não verbalizadas, que mais o afligem e o atiram no vazio existencial.

O existencialista francês Jean-Paul Sartre sugeriu que se desvestisse o tabaco de qualquer significado es­pecial, reduzindo-o à questão de uma erva que arde e se consome, não merecendo, por isso mesmo, qualquer outra conotação.

Dá-se, porém, o oposto, porque o viciado olha-o com enorme expectativa, a ponto de transformá-lo em sua tábua de salvação, guardando o último cigarro com verda­deira volúpia, quando escasseiam em suas mãos, a fim de que, no momento da angústia, que já formula inconscien­temente, disponha do mecanismo de apoio e de liberação do mal-estar.

O lamentável em todo esse processo é que além dos males proporcionados pelo tabagismo à vítima, alcança as pessoas que ao seu lado se encontram, porque as obriga a aspirar o fumo perverso que espalha, intoxicando-as tam­bém. Não poucas vezes, aqueles que se expõem às emana­ções do cigarro ficam impregnados de tal forma, que se enfermam, apresentando sintomas típicos de usuários do produto destrutivo.

A cultura do cigarro, do charuto e do cachimbo, em nossa sociedade dita civilizada, faz parte dos grandes meca­nismos inconscientes de fuga da realidade para a fantasia, para o exibicionismo, para autorrealizaçóes equivocadas.

Dando-se conta dos prejuízos que já experimenta expressiva massa de fumantes, muitos procuram fórmulas mágicas para libertar-se do vício e tentam os recursos de ocasião que aparecem com certa periodicidade, sem que, de fato, desejem pagar o alto preço pela abstinência do fumo.

Assim, param por algum tempo, e à medida que vão sendo vítimas da síndrome dela decorrente, apresentam-se irritadiços, depressivos, impacientes, sofrendo interrupção do sono, confusão mental, insatisfação, retornando prazerosamente ao hábito consumista e extravagante.

Assevera-se que determinado famoso escritor, crítico literário irlandês, afirmou com certa dose de ironia: "Dei­xar de fumar é fácil. Eu já o deixei inúmeras vezes..."

Qualquer hábito, para ser liberado do indivíduo que lhe aceita a injunção, deve ser substituído por outro, de forma que não surja o vazio, a ausência de algo que parece importante, em face de se estar acostumado à sua presença.


Terapia para o Tabagismo

Da mesma forma como se instalou o vício, a sua libertação ocorre mediante um processo semelhante e de prolongado curso.

Os danos causados quase sempre são irreversíveis, sendo alguns, ainda em início, possivelmente diminuídos com a ausência da nicotina.

A denominada compensação do fumante - apresen­tar a carteira de cigarros, retirá-la de coberturas de luxo, a postura exibicionista — cria dificuldade quando ele se resolve por abandonar o hábito. Naturalmente a falta do mentiroso prazer que está arraigado no seu comportamen­to, gera-lhe algumas perturbações, que se prolongarão en­quanto dura a intoxicação.

Uma postura psicológica deve ser levada em conta inicialmente: a maneira como se vai libertar, a fim de ser um ex-fumante e não alguém que deixou de fumar — uma forma de perda - desejando realmente alcançar o êxito, porquanto ele já sabe que deve parar, a fim de que real­mente deseje parar.

É necessário, desse modo, uma mudança de comportamento, na qual o paciente deve possuir uma clara percep­ção da sua ansiedade, aprendendo a superá-la, vencendo-a sem o uso do tabaco. Essa mudança propõe várias etapas, nas quais o paciente vai-se adaptando a cada uma delas, no curso do seu processo de cura, evitando criar outros hábi­tos, como o uso de caramelos e pastilhas, de substitutivos placebos...

O desejo real deve ser mantido pelo pensamento ra­dicado na lógica e no anelo de uma existência saudável, na qual os valores pessoais disponham-se a superar as dificul­dades do estágio em que se encontra.

A aplicação de tempo e de energia nessa mudança que deverá ser durável, não lhe deve permitir recidivas ex­perimentais de que apenas uma só vez será bastante para acalmar-se quando em aflição, desse modo, reiniciando o vício.

Só então começam a surgir as vantagens, os resul­tados bons da decisão, quando a mente apresenta-se mais clara, o organismo, mesmo em fase de eliminação dos tó­xicos, tem respostas melhores e mais rápidas, o sono faz-se mais tranqüilo e o bem-estar instala-se a pouco e pouco.

Conflitos Existenciais

O estímulo para ser um ex-fumante contribui para ganhos emocionais, e não perdas, alcançando um novo pa­tamar de vida, o estímulo de uma vitória sobre si mesmo, a alegria de haver conseguido o que muitos outros ainda não se resolveram por alcançar, facultando vantagens psicológi­cas compensadoras.

Simultaneamente, a ajuda psicoterapêutica de um especialista, a fim de acompanhar o procedimento que irá restituir a saúde e a paz, torna-se fator essencial para o êxito que se deseja conseguir...

Como corolário da decisão, o paciente deve buscar as Fontes Generosas da Espiritualidade, por intermédio da oração e da concentração, a fim de receber os fluxos de energia renovadora para a manutenção da estabilidade dos propósitos abraçados.

Mantendo a vigilância de que é um paciente em con­tínuo tratamento, cabe-lhe evitar qualquer possibilidade de cedência ao vício, não lhe aceitando os desafios subliminais que atingem a todos que se encontram nessa fase de transformação.






Divaldo Pereira Franco ditado pelo
Espírito Joanna de Ângelis





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