sábado, 18 de outubro de 2014

RESSENTIMENTO: CAUSAS PSICOLÓGICAS, EFEITOS PERNICIOSOS, TRANSTORNOS EMOCIONAIS E TERAPIA por Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis

Foto by Brett Walker - link: https://www.flickr.com/photos/brettwalker/



Causas psicológicas do ressentimento

Subjacente nos refolhos do inconsciente coletivo e in­dividual da criatura humana, a necessidade do poder impõe-se como fator primacial para a autor realização, para o desenvolvimento da inteligência e da vontade, para a conquista pelo sentimento ou mediante a astúcia de tudo quanto o ego ambiciona.

Esta ânsia de poder, inerente ao ser humano pelo seu atavismo ancestral do processo de evolução animal, conforme Alfred Adler, é geradora de inúmeros conflitos quando não resolvida de maneira equilibrada.

A luta pelo poder, desse ponto de vista, constitui o motivo essencial da existência humana, na busca do seu bem-estar, da sua felicidade.

Freud, mediante a sua psicologia negativa sobre a na­tureza humana, considerava religião, ciência, moralidade como defesas elaboradas contra os conflitos humanos bá­sicos que permaneciam ligados à agressão e à sexualidade.

O seu paradigma opõe-se ao conceito de que o bem-estar, a felicidade, tenham origem em a natureza do ho­mem e da mulher, não confirmando a possibilidade de que o ser humano possa nascer bom e nobre. Em realidade, para ele, todas as repressões dos conflitos básicos que resultam da ansiedade que proporcionam, transformam a energia que funciona como o acionador dos comportamentos, conduzindo a sociedade, a cultura e a civilização tanto à grandeza dos sentimentos como ao seu desvario.

Ainda, na mesma visão, os sentimentos de elevação moral, fundamentados na justiça, na bondade, na generosi­dade, no amor fraternal, seriam destituídos de autenticida­de, pois que essas manifestações superiores seriam geradas na personalidade. Resultariam, desse modo, da ansiedade produzida por esses mesmos conflitos básicos, em vez de te­rem sua procedência nas virtudes e nas conquistas pessoais.

Mesmo a contribuição humana direcionada para a produção social, para o crescimento e edificação tanto do indivíduo como do seu grupo, ainda seriam rescaldos da repressão dos impulsos violentos e homicidas, então trans­formados em gestos de grandiosa solidariedade e relevante edificação de valores morais, sendo uma forma de compen­sação dos impulsos para agredir ou para destruir as demais pessoas...

Mediante essa formulação, inexistiriam em a natureza humana a bondade intrínseca, a herança da evolução superior, tudo reduzido aos conflitos ancestrais que se fixaram nos instintos básicos.

O verdadeiro poder, sob um novo enfoque da Psico­logia Profunda, não se encontra nos recursos amoedados, no relevo social ou político, no religioso ou cultural nas suas multifaces, mas sim na conquista interior do prazer de realizar-se, especialmente quando se consegue a vitória pelo amor, alcançando-se a individuação.

O sentido do poder, conforme Adler, que superaria o sentido do prazer, proposto por Freud, deveria avançar no rumo do sentido de existir, conforme Viktor Frankl.

Examinando-se, porém, o exclusivo sentido do po­der, toda vez quando o indivíduo se sente defraudado na sua ambição desmedida, rebela-se, permitindo que o ego seja atingido e subestimado, gerando sentimentos contro­vertidos de ódio, de rancor, de ressentimento.

Igualmente, a frustração sexual, nessa oportunidade, mascara o seu conflito quando o indivíduo sente-se rejeitado, desenvolvendo-o com mais vigor, já que sua existência é uma herança dos seus instintos básicos, que dá lugar à exacerbação que se converte em ressentimento.

O animal macho rejeitado ou não aceito pelo animal fêmea agride-a, nas esferas inferiores do processo da evolu­ção em que transitam, resultando na fase humana em sen­timento de inferioridade, de abandono, abrindo, portanto, espaço para o ressentimento que anela pela subjugação de quem o desprezou.

Alojando-se na mente e na emoção, a fracassada possibilidade de manipulação de outrem transforma-se em surda e covarde expressão de vingança disfarçada, que deseja o desforço mediante a infelicidade daquele a quem considera como seu opositor.

Transferindo-se da emoção para a memória, faz-se verdugo cruel do indivíduo que perde o discernimento, a faculdade de logicar, para fixar-se naquilo que considera ofensa, cada vez mais enredando-se nos fluidos deletérios da revolta que termina por acometê-lo de perturbações emocionais e fisiológicas que se desenvolvem e se estimu­lam pela vitalização contínua.

É compreensível o surgimento de certa frustração e mesmo de desagrado diante de confrontos e de agressões promovidos por outrem, dando lugar a mágoas, que são certa aflição de caráter transitório, não, porém, à instalação do ressentimento.

Spinoza afirmou com propriedade no seu valioso tra­tado sobre a Ética, que a emoção que é sofrimento deixa de sê-lo no momento em que dela formarmos uma ideia clara e nítida.

Enquanto fixada em algum dos instintos básicos, a emoção é geradora de sofrimento, em face dos impositivos de que se reveste, como fenômeno sem controle, como ca­pricho decorrente de imaturidade psicológica.

O sentido do existir proporciona uma visão profunda do amor, que a tudo e a todos compreende, agigantando-se ao longo das experiências vivenciadas no quotidiano, que proporcionam crescimento emocional e consequente con­trole das paixões.

o ser humano, em face da sua procedência espiritual, é portador do anjo e do demônio em latência, devendo desenvolver as inesgotáveis jazidas portadoras das elevadas manifestações adormecidas, ao tempo em que supera as heranças mais próximas do primarismo de onde procedem as formas físicas.

Assim, a vida possui um sentido de existência, que se fundamenta no amor, superando o vazio e a falta de significado, frutos do estado de tédio e de insatisfação.

Em decorrência da inevitabilidade do sofrimento, o caminho único a ser percorrido é a sua superação, quando se passa a formar a seu respeito uma ideia clara e nítida, racionalizando-lhe as ocorrências.

O ressentimento permanece como um especial ar­quétipo, sombra densa dominando os sentimentos huma­nos, aumentando o comportamento conflitivo, quando se­ria ideal liberá-lo da conduta, mesmo quando iniciando os passos de equilíbrio e da afirmação dos seus valores éticos, dos quais decorrem o bem-estar, a saúde em várias expres­sões, alcançando o numinoso.


Efeitos perniciosos e transtornos Emocionais do ressentimento

Os sentimentos violentados que se transformam em conflitos não resolvidos escravizam a criatura, que passa a vivenciá-los de acordo com o que lhe parece real, jamais conforme exercício de evolução.

Logo advêm transtornos de breve ou de longa dura­ção, tal a depressão como resultado da amargura que domi­na as paisagens íntimas, devorando os parcos ideais de viver ou transformando-se em mecanismo de vingança, transfe­rindo a culpa, que perturba, como de responsabilidade de outrem, daquele que gerou a situação, nunca, porém, de si mesmo. Vezes outras, desenvolve a ansiedade pelo desejo mórbido de desforço, mediante o qual supõe erradamente seria resolvido o conflito injustificado.

Esse comportamento, porém, tem a ver com o está­gio da consciência adormecida, ou não, de quem se acredi­ta vítima da injunção que toma corpo superior à qualidade do fato ocorrido.

Os indivíduos biliosos já se fazem caracterizar pela debilidade da organização fisiológica, responsável por transtornos funcionais dos equipamentos de que se consti­tui, tendo maior facilidade em aceitar os desafios existen­ciais como provocações e instigações à sua aflição.

Portadores de diversos complexos, dentre os quais se destaca a inferioridade que se atribuem, acreditando sempre que tudo de desagradável que lhes sucede é des­consideração de pessoas ou de grupos, mantêm-se sempre armados, disparando petardos violentos contra todos, por decorrência de suspeitas incoerentes que lhes denotam a insegurança.

Não amando, consideram-se desamados, e sempre estão em vigilância rigorosa em torno de tudo quanto lhes diz respeito, desde que procedente dos demais, nunca, po­rém, deles originado.

A um passo de distúrbios graves, facilmente acolhem o ressentimento em que se comprazem, alterando o comportamento já doentio e mergulhando cada vez mais no poço sem fundo da amargura.

Neurotizando-se com mais vigor, não são capazes de uma catarse honesta, de uma busca de esclarecimento, de um apaziguamento interior, e mais revoltam-se quando são confrontados pela sensatez que os convida a uma revisão do acontecimento, a uma mudança de atitude.

Acumulam motivos e transtornam-se emocionalmente, considerando-se perseguidos e vinculando-se a mais gra­ves compulsões de desforço.

E nesse clima de fixação mental, cultivando o fel da amargura, que se deixam tombar nas malhas nefastas de vinculações psíquicas com outras mentes em desalinho na Esfera espiritual em que se movimentam, iniciando-se conúbios obsessivos de grave porte.

Estabelecida a sintonia, o hóspede psíquico passa a realizar um processo hipnótico bem-urdido, ampliando a ideia da ocorrência na mente do hospedeiro, aumentando-lhe a carga vibratória com o acumular de outras ocorrên­cias já superadas, que agora ressumam com teor de gravi­dade, mais afligindo o desditoso que se entrega de maneira masoquista ao fenômeno de que não se dá conta.

Nesse processo, apresenta-se a mistura dos sentimen­tos da vítima e do novo algoz, induzindo a desequilíbrio grave.

E natural que a incidência do transtorno obsessivo sobre o orgulho do ego ferido na sua soberania, resulte em alta carga de descompensação emocional, que o sistema nervoso central tem dificuldade de administrar, emitindo ondas fragmentárias ou aceleradas para as glândulas de secreção endócrina que descarregarão as suas substâncias no sistema imunológico, desarticulando-lhe suas defesas.

O avanço para distúrbios mais profundos é inevitá­vel, porque o paciente bloqueia o discernimento; e qual­quer convite para o equilíbrio, para a revisão do compor­tamento, nele produz reação violenta ou falsa passividade, que significa indiferença pela terapia de que necessita.

Ei-los que transitam pelo mundo infelizes, cabisbaixos, sucumbidos ou exaltados, rancorosos, despejando dardos violentos a qualquer contrariedade, justificando a insânia coletiva e desejando agravamento das ocorrências infelizes até a consumação geral pelo caos, que gostariam tivesse vigência imediata.

Nada obstante, tudo poderia ser resolvido com imen­sa facilidade, com uma boa dose de compreensão, de tolerância e de compaixão.


Terapia libertadora

A visão nova da Psicologia positiva, que reage à proposta freudiana a respeito da personalidade humana, procura entender de maneira muito diversa as emoções, ensejando-lhe uma conduta otimista, na qual devem per­manecer como assinaladores de fronteiras a bondade, o perdão, o prazer, as gratificações do sentimento, a esper­ança e a fé, a confiança, o cultivo das virtudes, a busca e enriquecimento pela sabedoria, o amor pela Humanidade, a coragem e a justiça, a espiritualidade e a transcendência do ser.

A sua proposta induz a uma visão mais profunda do indivíduo no contexto da família, da sociedade, da democracia e da liberdade, ensejando uma orientação para que seja alcançado plenamente o sentido existencial.

Todos os seus argumentos são profundamente huma­nistas, facultando uma visão de felicidade no destino da criatura, estimulando-a a desenvolver das forças psicológi­cas dos sentimentos orientados para as virtudes.

O ser, em si mesmo, não é portador de maldade, mas foram as experiências do processo de evolução que desper­taram essa face negativa, que pode e deve ser corrigida pela aplicação dos recursos do altruísmo, da bondade, da moralidade e da cooperação com as demais criaturas do mundo.

O processo de evolução gera prazeres, mesmo no cultivo do mal; no entanto, são transitórios, servindo de medida para comparação com as conquistas do bem e as alegrias dele derivadas com sabor duradouro.

Essa Psicologia proporciona a libertação natural do excruciante padecer que ressuma do ressentimento, desde que o paciente predisponha-se à reflexão, à mudança de comportamento mental para a posterior alteração de con­duta emocional.

Desvalorizando o que considera ofensivo, em razão da fragilidade de que se reveste esse infeliz conceito, logo descobre o prazer de ser livre, de poder amar sem exigir compensação, de conviver sem qualquer estado preconcebido de autodefesa.

Ninguém vive a atacar outrem, exceto quando em desarmonia consigo, o que deixa de merecer consideração em face do distúrbio do agressor.

Nesse sentido, a mudança de atitude mental e emo­cional rompe os liames da indução obsessiva, facilitando maior claridade para o raciocínio, então livre dos impulsos dominadores do algoz.

Ao mesmo tempo, a aplicação dos valiosos equipa­mentos do bem, em forma de ações meritórias, não somen­te é gratificante para a emoção, como é compensador de dívidas transatas, de agressões à vida em outras paragens do tempo e do espaço, quando em diferente vilegiatura carnal.

Persistindo, porém, o gravame que compraz o pa­ciente, ei-lo incapaz de recuperar-se, necessitando de ur­gente socorro psicoterapêutico, proporcionado por outrem bem-equipado de conhecimentos ou especializado, a fim de que não se converta em um processo irreversível.

Em qualquer circunstância, porém, deve o indivíduo contribuir com a sua vontade, sem a qual todo o empenho e cooperação de outra pessoa redundam, infelizmente, inócuos, quando não mais desagradáveis para o padecente.




Divaldo Pereira Franco ditado pelo 
Espírito Joanna de Ângelis



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