Recebi este texto do meu amigo gay Alexandre ou Lelê para os íntimos e não tão íntimos assim e resolvi compartilhá-lo. Aliás, é um texto contemporâneo e muito lúcido. Gostei muito ;) - Independentemente do gênero ou opção sexual que a pessoa escolha ser, ela tem que se respeitar e se fazer ser respeitada. Não há lógica em optar por ser gay (ou lésbica) e ter vergonha em se assumir ser gay. É preciso coerência no mínimo. Mas, de qualquer forma não vou me estender no que é norma ou normal ou que é permitido ou que é trejeito. Não quero fazer juízo de valor. Cada um sabe o que é melhor para si. Mas, quero deixar claro minha opinião que é mais louvável ser assumido do que ser enrustido com ares de eu sou o 'cara', 'fodão', 'macho' e eu gosto é de muié. Postar fotos de mulheres expostas nuas, gostosonas e na verdade entre 4 paredes ou mesmo a sós ou acompanhado ele sabe no fundo que não é tão macho assim... e pior, não pega e nem é pegado. As mulheres sentem por ofato ou mesmo por instinto mais apurado-aguçado-hormonal 'aquele ali' ah não engana. Ruim de cama! risos... E, quando pega alguma mulher o desempenho deixa a ver navios por inapetência ou falta de competência na macheza mesmo... sabe de nada inocente. Tem nojinhos, vergonha do nu (próprio ou de outrem - risos!) ou quer ser bruto e potente pensando que é isso que todas as mulheres querem a todo momento. Não somos mesas de sinuca onde tem que acertar o buraco com uma tacada. Aff! É patético isso! Esse infeliz gay não assumido é pior porque é destituído de verdade até consigo mesmo. É um idiota em termos bem amplos. Eterno infeliz e solitário.
Roberta Carrilho
“Viado, você vai morrer! Vai morrer de AIDS! Vai morrer passando fome, porque seu pai te expulsou de casa, porque tem vergonha de você. Vai morrer agora, no meio da rua, levando porrada até ficar irreconhecível. Ninguém vai te ajudar, sua bicha. Você vai morrer porque não é gente. Vai morrer porque merece!”
Tudo isso escutei em uma fração de segundo, enquanto o carro de onde o grito de “bicha” saiu cantava pneu para longe de mim…
Que segurança é essa que faz alguém se sentir confortável para sair de seu espaço e xingar outra pessoa? Sei lá, eu poderia estar armado, reagir de alguma forma… Mas não, a bichinha nunca reage. A bicha tem vergonha de ser bicha porque cresceu ouvindo que isso era errado, então mesmo que se ache uma diva, vai acessar essa vergonha quando a homofobia for esfregada em sua cara. A bicha não reage e por isso quem não é bicha se sente tão superior.
Não consigo entender a necessidade de me chamar de bicha, de viado, de boiola, etc. Em primeiro lugar, não perguntei nada. Em segundo lugar, eu estava presente em todas as vezes que fiz sexo com outro homem, de forma que tenho plena ciência da minha homossexualidade, obrigado.
Essa “vontade incontrolável” de apontar a bichice alheia é estrutural. A cada “viado” lançado como um tapa ou como um tiro, alguém morre de verdade. Uma parcela inteira da população é reduzida a uma mesma coisa marginal, que precisa ser eliminada. Uma coisa que é acusada de promover uma “ditadura” quando pede socorro, às custas de meia dúzia de selinhos de novela.
Viados, vocês vão morrer!
Vão morrer porque são covardes. Vão morrer porque engolem esse papo de que são “menos homens”, quando na verdade aguentam uma barra muito mais pesada do que os “pequenos príncipes” que são o orgulho da família. Vão morrer porque não devolvem os socos e principalmente porque tem vergonha.
Viados tem vergonha de quem dá pinta, de quem “faz escândalo”, de quem “não se dá ao respeito”. Se envergonham, também, das travestis e das “sapatões caminhoneiras”. Tudo que é fora da norma, é motivo de vergonha. Dar a bunda, tudo bem, mas por favor no sigilo. Quem levanta bandeira é um chato e quem reclama de alguma coisa é “vitimista”. Viados são tão obcecados por imitar alguma normalidade que tudo precisa ser normativo, “como manda o figurino”. Menos a parte de gostar de homem, claro! Isso está liberado, é “vida íntima que não interessa ninguém” e – obviamente – quanto mais macho for o cara, melhor.
Bichas, parem. Que morte horrível…
Sou viado e morri um pouco quando me negaram uma boneca, e muito mais quando meus amiguinhos de escola me “deram um gelo” porque comprei uma caneta rosa. Morri quando me assumi, porque sendo um anormal eu tive que passar pela experiência de COMUNICAR à minha família sobre o que eu gosto ou não gosto de fazer na cama. Para piorar, o papo sobre camisinha – que poderia ser apenas sobre prevenção em geral, cuidado, amor próprio, sei lá – tinha um único subtexto: AIDS!
Morri quando acharam que eu queria virar uma mulher, um estilista, um cabeleireiro ou uma Drag Queen. Não que essas coisas todas não sejam fabulosas, mas ninguém merece ter todos os estereótipos do mundo jogados na cara ao mesmo tempo. E se eu só quisesse ser livre? Eu teria me assumido alguma coisa, caso essa “coisa” não estivesse sendo gritada a cada passo meu? Todo mundo vai morrer um dia, mas eu fui abortado em vida pela homofobia de vocês!
Ninguém precisa me matar. Eu morri quando a Câmara foi tomada por uma bancada conservadora e fundamentalista, ao mesmo tempo em que as bichas nos aplicativos gritavam que não votariam em viado. Morri quando alguém disse que preconceito é “questão de gosto” e que o ódio é “opinião pessoal”. Morri a cada ataque homofóbico na Rua Augusta, a cada travesti assassinada e a cada lésbica estuprada. Morro sempre que um gay é homofóbico. Eu sou todas as bichas porque quando alguém se sente no direito de me chamar assim, apaga minha individualidade para me transformar em alvo. E isso mata qualquer esperança.
Sempre que apontam minha diferença, eu escuto um “Viado, você vai morrer”. Entretanto, a pior parte disso é olhar em volta e não enxergar o senso de comunidade nos outros gays. É perceber que a gente não vai morrer porque merece, mas porque ACREDITA que merece.
Viados, parabéns. Os homofóbicos não terão trabalho algum. Vocês vão morrer e eles estarão no camarote, será o próprio “suicídio assistido”!
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