quinta-feira, 25 de setembro de 2014

VOCÊ VAI ENCONTRAR UMA MULHER INCRÍVEL E VAI PERDÊ-LA por Alexandre Petillo



Existem alguns tipos de mulheres que você vai encontrar na vida. Tem aquelas que te fazem enlouquecer por uma noite. Tem aquelas que vão chegar e vão te fazer esquecer todas as outras. Tem também aquelas que você acredita que quer passar a vida toda ao lado delas. E, ainda, aquelas que você realmente vai ter certeza que vai passar a vida toda lado a lado. E tem as mulheres incríveis.

As mulheres incríveis não são como as que você sempre sonhou.Elas são bem mais. Geralmente elas chegam no momento em que você, por alguma razão, não vai conseguir segurar a bronca. Você vai perdê-la. E, pior, o que vai ficar na lembrança não será a razão de tudo acabar, mas sim os bons momentos. No caso dela, os momentos incríveis. E lembrar desses momentos é bem mais doloroso, acredite.

Lembro cada segundo que vivi ao lado da minha mulher incrível. A gente naquele restaurante, ela de blusa azul, os cabelos pretos, olhos hipnotizantes, vindo me abraçar, o beijo mais intenso da vida. O riso solto, aquela boca toda aberta, gostosa. O apetite quase-macho para um vinho e sexo sem escrúpulos. A dançadinha sexy ao som do MPB naquele barzinho, alta noite, cabelos solto. E ela ainda sabe tudo de futebol, literatura, política. Os momentos em que ela deixava de ser amulher-fatal-incrível pra ser só uma menina que quer um ombro – ali, o meu. E você realmente acredita que o mundo é bacana.

Ela quase ter sido sua é muito pior do que ela nunca ter sido. O que é ter do seu lado tudo aquilo que sempre desejou que Deus fizesse daquela parte da sua costela. Pele macia, morena, sarcástica, cheia de frases, definições e comportamentos. Atrevidos, apaixonantemente tímidos, quando lhe convém. Impõe sua presença. Conhece as regras tanto de um jantar cinco estrelas como de uma trepada num pulgueiro qualquer, alta madrugada. Ela é um tratado. Ela é jazz. Ela é uma Zelda Fitgerald moderna. Por ela até eu, coração atleticano, fiquei com mais simpatia pelo Cruzeirense. Como disse, ela é mais, mais até do que a rivalidade clubística. E ela quase foi minha.

Quando a vida aperta, são esses momentos com a minha mulher incrível que eu lembro. Dói, mas, ei, é por isso que a gente está nessa vida. Se em algum momento você tem alguma dúvida se a vida vale, são momentos como esses que atestam que sim.Sua esperança é que eles em algum ponto futuro se repitam. A vida vale.

Te lembrou alguma coisa, caro leitor? Você já passou por uma mulher dessa? Ela está aí, enquanto você lê esse arrazoado de qualidade duvidosa, circulando só de calcinha e camiseta da Patti Smith? Aproveite, guarde esse momento. Cedo ou tarde ela vai embora e a culpa vai ser sua. Mas como ela é incrível, vai viver sem mágoas, ser sua amiga, vai te chamar para tomar cerveja, bater papo, você vai nutrir a esperança de um novo encontro pelos anos seguintes. Até ela te dar um fora, como a minha fez, altamente educada e sutil, dizendo coisas como “tive que ir embora, mas te considero muito”. “Te considero muito”, da boca dela, é bem pior do que o “gosto de você como amigo” daquela paixão adolescente.

E dessas paixões, como diz o amigo Xico Sá, só vão ficar as memórias e o gosto da vodka que te ajudou a afogar as mágoas. Como o mestre ensinou, o segredo é tocar adiante, porque “não há guarda-chuvas para o amor. Não há barcos, salva-vidas, só perdição e enchentes”.Quando se perde uma mulher incrível, não é só uma derrota, é uma vida. Ela vai arrancar suas vísceras afetivas e mesmo assim você não vai deixar de sonhar com ela. As minhas vísceras ela arrancou via telefone, na chamada mais dolorosa que já ouvi. Fiquei um bom tempo sentado na calçada, telefone desligado, amaldiçoando a sorte e Graham Bell. Mas vale. Encare. Sofra. Bote pra fora. De uma forma bem melhor do que eu com essas mal traçadas. Depois me conte. Depois dela, seu coração estará calibrado para tudo. Ou quase.

Se ela reaparece, você casa.

Alexandre Petillo 
(adaptado)





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