São pensamentos profundos da vivência humana que o Padre Fábio de Melo nos propõe a refletir. Porque o sofrimento como as alegrias são contextos da nossa vida finita? Eles são necessário e para quê? Como encarar o sofrimento de forma madura, serena. Suas palavras são muitas ... daquelas que temos que sentir uma por uma de forma homeopática... devagarzinho.
É como bebêssemos numa bela taça de um excelente vinho tinto.
Roberta Carrilho
Diante da dor sofrida, mais vale um silêncio, uma pausa, que uma palavra inoportuna. Sofrimento é destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos. O grande desafio é saber identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido. Perdemos a oportunidade de saborear a vida só porque não aprendemos a ciência de administrar os problemas que nos afetam. Sofremos demais por aquilo que é de menos. Sofrer é o mesmo que purificar. Só conhecemos verdadeiramente a essência das coisas à medida que as purificamos. Nossos valores mais essenciais só serão conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo da purificação.
Nossos maiores valores costumam florescer a partir de nossos maiores sofrimentos. Sacrifício e sofrimentos são faces de uma mesma realidade. O sofrimento pode ser também reconhecido como sacrifício, e sacrificar é ato de retirar do lugar comum, tornar sagrado, fazer santo. Tudo depende da lente que usamos para enxergar o que nos acontece. Tudo depende do que deixaremos demorar em nós. A alegria ou a tristeza só poderão continuar dentro de nós à medida que nos deixamos afetar por suas causas. É questão de escolha.
Sofrimentos não precisam ser estados definitivos. Eles podem ser apenas pontes, locais de travessia. O corpo é território da dor. É nele que o sofrimento e todas as suas faces se concretizam. A dor é uma resposta natural do corpo. Ela sinaliza para o limite que possuímos.
Quando o sofrimento bater à sua porta é melhor abrir. Resistir ou negá-lo é apenas um jeito de fugir do que mais cedo ou mais tarde você terá que enfrentar.
O sofrimento é uma espécie de espelho onde nos enxergamos a partir do outro. O sofrimento é uma das molduras que dão sustento à nossa existência. É o tecido que envolve a vida. O sofrimento é humano, o sofrimento é natural. Sofrimentos nascem de limites. Toda vez que precisamos lidar com tudo o que não podemos é natural que sejamos acometidos por sofrimentos. A vida é constante experiência de limites, isto é, de fronteiras. Estamos em êxodos intermináveis, passagens que realizamos todos os dias. Temos um limite que nos marca, mas este limite não pode nos determinar. Ele pode servir como sinal para as mudanças que deles nascem.
Sofrer é o mesmo que estar vivo. Sofremos porque somos limitados. O conceito de limite é positivo, pois nos dá a capacidade de reconhecer o que podemos e o que não podemos. A negação é um recurso que não minimiza o limite, ao contrário, ela o fortalece, potencializa-o. Os obstáculos não podem ser causa para sua desistência, porém, devem figurar em sua vida como um sinal de tudo aquilo que ainda será melhor.
Pecado é todo ato falho cometido de forma consciente, que tem o poder de repercutir em Deus, em nós, e na sociedade em que vivemos. Do limite da condição humana nascem os sofrimentos, mas este limite, ao se desdobrar no dia a dia de nossa vida, pode funcionar como impulso para nossas superações constantes. Tudo depende da forma como nos posicionamos diante dos desdobramentos.
Descubra nas pequenas coisas o quanto é preciso ser humano. Não se esqueça que Deus não o quer perfeito. Deus o quer santo. Só isso. Busque a santidade por meio de caminhos possíveis, simples. Nós complicamos demais a vida, e por esse motivo sofremos tanto. Deus é simples. Prefere os caminhos inusitados. As questões humanas, as mais naturais, são os lugares preferidos da revelação de Deus. A dor humana é lugar de revelação divina. Ao experimentar-se limitado, o ser humano vive a bonita possibilidade de descobrir a Deus como resposta e complemento para tudo o que lhe é ausente. Ele prova de Deus. Experimenta sua força a lhe sustentar, porque ao olhar nos olhos de seus limites, surpreendentemente ele consegue descobrir os olhos de Criador. Estar diante dos limites é como estar diante da necessidade de Deus. É como o filho, que diante do perigo grita pela presença do pai.
Olhar nos olhos de Deus no momento da fragilidade requer maturidade. Crer que Deus nos reconhece frágeis, pecadores, e mesmo assim continua nos amando, é desafio de considerável grandeza. Conhecer a Deus a partir do amor é garantia de experiência frutuosa. Quando descobrimos nos olhos de Deus o amor e o acolhimento, reconhecemos naquele que nos olha o respeito por quem somos.
Respeitar os limites é considerá-los, isto é, consiste em agir de acordo com eles. Temer os limites é o mesmo que se curvar a eles. Respeito é totalmente diferente de medo. Da mesma forma que precisamos respeitar a Deus, mediante a experiência do amor, também precisamos respeitar o nossos limites, mediante a experiência do cuidado com eles. O limite humano só tem sentido se costurado no manto redentor de Cristo. É nele que descobrimos o significado de nossa fraqueza, é nele e a partir dele que nos encorajamos a olhar nos olhos dos nossos limites.
Ao lançar os olhos naquele que nos fortalece, o limite se transforma em motivo de aproximação. A condição de necessitado não precisa ser vergonhosa.
Carecer é o mesmo que necessitar. Cristo está para o ser humano assim como a asa está para o pássaro. É Ele que nos eleva. Ele é que nos retira da miséria de nossos limites para nos oferecer possibilidades.
Cuidar do que somos é o mesmo que cultivar o que Cristo nos faz ser. Amar é como emprestar sentido. É o mesmo que socorrer o outro de suas necessidades mais profundas. Quando bem interpretada, a experiência do limite nos impulsiona para a experiência do cuidado. E cuidar é o mesmo que amar. Diante da fragilidade do outro, o primeiro ato precisa ser de acolhimento. Do limite pode nascer o amor. Diante da fraqueza que nos envolve, o amor nasce como solução. Corações empenhados em uma mesma causa. A dor que não é nossa nos atinge e nos envolve. Quanto mais amamos, muito mais sofremos por aqueles que amamos. É natural, inevitável. O outro que sofre nos provoca. Algo que é dele nos atinge. E diante do seu sofrimento reagimos.
Ninguém luta sem dor. Sempre que precisamos estabelecer lutas é natural que sofrimentos aconteçam. Diante do sofrimento dos que amamos que descobrimos o amor como desdobramento da dor, e esta como desdobramento do amor. Quem quiser amar terá que saber que não há amor sem sofrimento. O amor é uma força capaz de nos levar a sacrifícios concretos a ponto de tocarmos a nossa humanidade mais profunda. Sempre que amamos de verdade extraímos o que temos de mais puro em nós. O amor nos faz chegar a lugares nunca antes imaginados. O amor exerce o poder de socorrer, resgatar, redimir. A confissão é sincera. O que nos fascina no outro é o que nos falta. O amor nos salva de nossas carências, de nossas necessidades. É uma forma de suprir nossas limitações de maneira honesta e responsável. O amor se trata de emprestar a asa que nos é ausente.
Ao reconhecer no outro o que me falta, descubro dentro de mim, a partir dele, o recurso para encontrar a saída. Só quem ama é capaz de sacrifícios. É a regra.
Quem foi que disse que a bondade pode livrar alguém da condição de ser limitada? A bondade não é uma bolha de proteção que tem o poder de livrar as pessoas das fatalidades da vida. Refletir sobre o sofrimento é essencialmente refletir sobre os limites, isto porque tudo o que nos limita, de alguma forma, nos expõe a um contexto de angústias, ansiedades e questionamentos.
Sofremos porque não podemos tudo o que queremos. Sofremos porque somos afetados constantemente por situações que nos desinstalam e nos entristecem. Sofremos porque não conseguimos abarcar a totalidade dos fatos, ou porque nem sempre podemos compreendê-los. Sofremos porque não encontramos as respostas que necessitamos, ou porque nos deparamos com respostas que nos assustam. Sofremos porque não somos capazes de fazer tudo sozinhos; somos dependentes dos outros. Sofremos porque carecemos, porque somos incompletos, porque somos inacabados. Sofremos porque nem sempre podemos mudar a ordem das coisas, a sequência dos acontecimentos. Sofremos porque nos apegamos aos outros, e por vezes os afastamentos são inevitáveis. Sofremos porque nos traímos, os abandonamos. Sofremos porque somos injustamente julgados, ofendidos, caluniados. Sofremos por uma infinidade de coisas e não temos como mudar o fato de sermos naturalmente afetados pelos desajustes da vida.
Se não temos como mudar a vida, então precisamos descobrir um jeito de sermos transformados por ela. Se eu não posso mudar o fato de ter que sofrer, então posso encontrar um modo de como sofrer. A matéria que nos faz sofrer nem sempre é tão grave. O problema é a forma de lidarmos com ela. O revestimento que damos aos nossos problemas torna-se maior do que o próprio problema. Mesmo que seja natural, o sofrimento ainda é enfrentado como se fosse um inimigo. Diante de tudo o que não podemos mudar, há sempre o que podemos aprender e compreender. O movimento possível diante da dor. Encontrar nela alguma resposta, ainda que silenciosa, que nos sugira e proporcione um aprendizado.
A sabedoria nos ensina que diante de uma vida que sofre, as perguntas podem parecer inoportunas. Uma atitude vale muito mais. O bom da vida não está em chegar às respostas, mas sim em aprender a conviver com as perguntas.
O não saber não é uma prisão, ao contrário, é uma fonte de liberdade. Achar um culpado para nossa desgraça é apenas uma tentativa de solucionar o que nos aflige. Mas é em vão. Responsabilizar culpados pode até nos aliviar em algumas coisas, mas definitivamente não pode nos curar de nossas ausências. A palavra tem o poder de renascer o que está morto. Tragédias são realidades absurdas. E absurdo é tudo aquilo que parece não ter coerência, porque fere radicalmente o sentido das coisas. O sofrimento só será suportável à medida que as perguntas inférteis deixarem de ser feitas.
Reassumir a vida depois de uma tragédia é sempre um desafio sofrido. Corações machucados podem ser sementeiras de um mundo novo. Sempre que somos machucados pela vida, temos diante de nós uma sementeira. Crescerá o que a gente semear. Diante dos sofrimentos, cada um reage como pode. Nossa atitude em relação ao que a vida nos traz é o que nos difere como pessoas.
Frente ao inevitável e de tudo o que é imutável, é sempre desafiador reencontrar o equilíbrio para prosseguir. Há sofrimentos que buscamos com as mãos. São as escolhas conscientes que fazemos e que, mais cedo ou mais tarde, teremos que enfrentar. A vida é um tecido cuja matéria é composta de atitudes. São elas que delineiam o contexto de nossas escolhas. Atitude refere-se ao modo como nos posicionamos frente aos acontecimentos, às pessoas, às situações.
Ninguém muda de atitude sem a experiência do esforço. Se conseguimos alterar as nossas atitudes, naturalmente conseguimos também alterar a vida. É interessante refletir sobre tal aspecto, pois não é comum identificarmos isso em nós. Se estamos sofrendo com a vida que vivemos, é justamente porque ainda não os dispomos a mudar as nossas atitudes. Nem sempre somos culpados pelas doenças que desenvolvemos, mas não podemos negar que boa parte das enfermidades que nos acometem são provocadas por nossos hábitos de vida. Nós buscamos tudo isso com as próprias mãos.
Será que as consequências de nossas escolhas de agora, num futuro próximo, poderão doer no coração dos que amamos? Chegará o momento em que não nos restará muita coisa. Mais cedo ou mais tarde a vida nos cobrará. As escolhas de hoje repercutirão em breve neste tempo que costumamos chamar de futuro. Viver é como gritar no abismo. É impossível não sofrer com as consequências de tudo o que escolhemos. O eco é uma resposta natural do abismo. Escolhas são como sementes. O que plantamos hoje será fruto amanhã. A qualidade do fruto depende do que semeamos. Não há milagre que possa reverter o que foi semeado.
A crença na providência divina consiste em considerar que do Dom que vem de Deus sempre nasce uma responsabilidade humana. O Dom nos exige uma resposta. É preciso reagir diante do que recebemos. Deus nos deu saúde, mas agora somos nós quem precisamos cuidar dela para que continuemos saudáveis.
O jeito como reagimos diante de uma determinada situação depõe contra ou a favor do que consideramos como maduro em nós. A maneira como interpretamos as coisas ruins que nos acontecem é um modo interessante de medir o nosso grau de maturidade. Assim como somos capazes de escolher o bom, também escolhemos as coisas ruins.
Deus não quer as tragédias do mundo. As tragédias humanas são construídas aos poucos, por nós mesmos. É preciso maturidade para assumir. Pais que querem ver os filhos maduros não assumem as responsabilidades que são próprias deles. O máximo que fazem é orientar as decisões, aclarar os caminhos, mas nunca viver por eles. A tristeza do outro nos chama atenção para nossas tristezas, e nem sempre temos coragem de enfrentar as desarmonias de nosso mundo pessoal. Muito mais interessante seria se a gente tivesse a sabedoria e a coragem de reconhecer as falhas humanas, mesmo que para isso tivéssemos que permanecer sem respostas para as nossas questões. Sofrimento é experiência de humanização.
A juventude é um período que favorece muitas fugas. A impulsividade é a marca desta fase. Envelhecer é um processo natural. Estamos expostos aos efeitos do chronos, o tempo que passa. O corpo é território da realização humana. O corpo é a casa das possibilidades, mas também é a casa dos limites. Por ser constituído de matéria frágil, durante toda a vida o corpo experimenta o sofrimento da dor física. A dor é uma resposta do corpo, cujo objetivo é anunciar que ago não vai bem. A dor parece fazer parte do instinto de preservação da vida. Ela presta o ofício de denunciar que algo está errado. É o corpo dizendo a ele mesmo que há uma desordem a ser considerada. Algum detalhe do seu funcionamento está em desarmonia e alguma atitude precisa ser tomada.
A dor é uma forma de anúncio. É uma reação natural do corpo que não quer sofrer, do corpo que carece ser socorrido. A dor aparece ser uma fala do corpo que não quer morrer. É como se ela se tornasse representante do medo que sentimos do destino final. Sofrer é sempre processo penoso. Toda vez que somos expostos a situações dolorosas, acentua-se dentro de nós a condição de fragilidade. A dor fragiliza ainda mais o que já é frágil. A dor nos expõe à dura verdade de que somos finitos, de que somos passageiros e que em algum momento a aventura da vida deixará de ser possível para nós.
Envelhecer consiste em sofrer um universo de perdas, e nisto está a causa do que nos inquieta. Sofrer de velhice é destino inevitável. A velhice é acontecimento processual, cresce aos poucos, de maneira que não é possível saber o quanto dela já está nos atingindo. O tempo todo estamos perdendo. O tempo não pára, não dá tréguas. É claro que estas perdas vão se acentuando com o acúmulo de anos, mas cada fase da vida possui perdas e danos. O inegável é que a velhice começará em nossa vida quando nos prendermos nas perdas.
A vida não é só perda. Há sempre uma forma de lucrar com o que perdemos. Saber finalizar uma fase da vida requer tanta sabedoria quanto para iniciar. Tão importante quanto saber ganhar é saber perder. Muitos sofrimentos são causados na nossa vida porque não sabemos perder, não sabemos atravessar a ponte, não sabemos mudar de estação. Não seremos eternamente jovens, mas nem por isso estaremos fadados a viver a condenação da infelicidade.
A realização humana é possível em todas as etapas da vida. O importante é saber viver bem o específico de cada tempo, pois esta é uma forma interessante de construir os alicerces da próxima etapa. Perder, nós perderemos sempre, mas as perdas são tão necessárias quanto os ganhos. É só olhar diferente para elas. Se assim o quisermos, elas se configurarão como portas para muitas outras possibilidades.
Homens e sonhos se confundem e se completam em fusões constantes. Somos a mistura de sonhos e realidades. Há uma inegável conexão entre os dois pontos. Sonhos não envelhecem. Eles sobrevivem, mesmo com o acúmulo dos anos, e por isso eles podem funcionar como fórmula para rejuvenescer a alma, enchendo-a de novas e surpreendentes perspectivas. Estamos naturalmente condicionados a estabelecer um pacto com a vida a partir de nossa utilidade.
Nossas relações humanas são fortemente marcadas pelas regras da utilidade. Somos o que fazemos. Quando pautamos nossa vida a partir de nossa utilidade, corremos o risco de nos desprender de nossos verdadeiros significados. Por vezes, encostamo-nos em alguns moldes de vida que são semelhantes às ondas. São oportunidades cheias de encanto, mas sem nenhum sustento futuro. São fogos de artifício, fugazes e de rápida passagem. Quanto maior for o número de realidades fugazes escolhidas e incorporadas, maior será a possibilidade de frustrações futuras. A vida é como uma equação matemática. Ela é possível de ser administrada. O cálculo é possível. O que somamos e subtraímos, o que multiplicamos e dividimos, serão resultado final, um dia, em nossas mãos.
As escolhas da juventude costumam repercutir no modo como envelhecemos. O que construímos no dia de hoje será fundamental para as realidades futuras. Laços sanguíneos não são garantia de nada. Não basta ser irmão, pai, filho, mãe. Há que se ter um algo a mais. É no cultivo do dia a dia que fortalecemos os papéis atribuídos pelas funções biológicas.
Há outras pessoas que são mais importantes em nossa vida que muitos de nossos parentes. É inegável que nem sempre somos conscientes do poder definitivo que há nas escolhas do nosso agora. Viver é escolher. A matéria-prima do futuro está diante de nossos olhos nos dias de hoje. O que é de amanhã, no agora da vida está se dando. A vida cresce, amadurece e se transforma no impulso de nossas escolhas. O contrário também é verdadeiro. A vida atrofia, apodrece e fenece no impulso do que escolhemos cultivar. O que hoje ensinamos ou motivamos pode, mais cedo ou mais tarde, se voltar contra nós. Escolhas conscientes e bem feitas hoje podem evitar sofrimentos futuros. A vida é experiência de preparos constantes. A regra é clara.
Defeitos geram sofrimentos. Cada vez que nos experimentamos defeituosos, de alguma forma tocamos e identificamos nossa condição de homens e mulheres limitados. Defeitos são experiências concretas do limite. O limite, quando não assumido como impulso para a mudança, será sempre uma porta para a dor. O ciúme nasce da insegurança e do desejo de posse. Possuir o outro é um jeito de neutralizar a insegurança afetiva. Quem muito recebe, corre o risco de não aprender a estabelecer limites para as suas necessidades. É como um poço sem fundo. Mesmo que joguemos nele porções imensas de terra nunca o preencheremos.
A superação é o destino de quem se empenha. Quando a vitória se torna mais difícil, a superação será sempre possível. O ser humano, quando estimulado, é capaz de reações surpreendentes. Há muitos sofrimentos que nascem de nossa indisciplina. Indisciplina é uma forma de negligência que atinge diretamente a nós mesmos. O que hoje deixo de fazer e que seria importante para o meu crescimento, de alguma forma, repercutirá como consequência desagradável. Quanto mais me entregar ao caminho fácil de minhas desculpas, mais difícil será iniciar o processo de transformação. Nossas desculpas funcionam como um mecanismo de defesa. Nelas a gente se esconde para evitar a mudança e o esforço que ela exigirá. Mudar requer esforço, por isso disciplina é sinônimo de dor. O destino do corpo é inevitável. Ele envelhecerá e perderá a vitalidade. Consequentemente, ficaremos privados de muitas possibilidades. Mas uma coisa eh certa. A alma não precisa envelhecer. Sempre será tempo de superar os limites de nossa personalidade e assumir um comportamento mais harmônico e sereno. Este é o propósito dos sábios.
A mente nos faz sofrer. A mente é também o território do sofrimento. Boa parte da dor que dói no mundo tem na mente o seu local de origem. Quando a doença é na mente, a cura só pode vir mediante a reorganização do pensamento. Muitos sofrimentos provenientes da mente podem ser resolvidos no momento em que substituímos um pensamento ruim por um bom.
Muitos sofrimentos nascem dos nossos pensamentos. Entender é ato de perceber, compreender, captar pela força da inteligência. Entender é também perceber a razão, isto é, ir mais a fundo. Mudar o jeito de pensar sobre determinada realidade ou situação requer que a gente vá mais fundo. É como tentar ver uma realidade do avesso. Quando me recuso a mudar, de alguma forma estou me privando do crescimento necessário e merecido.
Sofremos muito, mas também não podemos negar que sofremos por questões insignificantes. Sofremos por falta de inteligência. Sofremos por não termos capacidade de analisar com profundidade os problemas que nos afligem. Sofremos por falta de entendimento. Sofremos por falta de iniciativas. Sofremos por falta de perseverança. Sofremos por inércia, por comodismo. Muitos sofrimentos serão extirpados de nossa vida apenas se lançarmos um olhar diferente sobre eles.
Pensamentos positivos podem aliviar a alma de sofrimentos tortuosos. Um novo significado, ou uma nova interpretação de um fato, só poderá acontecer mediante o exercício do pensamento. O bom terapeuta é aquele que consegue nos encaminhar para uma nova interpretação de tudo aquilo que nos oprime. Uma realidade passada não pode ser modificada. Ninguém pode fazer voltar os acontecimentos e transformá-los em outros. O acontecido já é definitivo em nós. Mas o que não precisa ser definitivo é o jeito como olhamos para o acontecimento. Nisso consiste a terapia. Reorganizar os efeitos do passado. Examinar a vida é revesti-la de qualidade.
Boa parte de nossos sofrimentos são frutos de pouca reflexão. Muitos de nossos conflitos sobrevivem de nossa ignorância. A reflexão é um atributo humano. Nossa capacidade de pensar a realidade nos diferencia dos demais seres. O inegável é que a vida adulta deveria ser o auge de nossa compreensão das coisas. A isso chamamos de maturidade. Uma pessoa é madura à medida que consegue estabelecer o sentido das coisas. Se não somos estimulados pelos "por quês" da vida, corremos o risco de viver sem perguntar e consequentemente de viver sem aprender. Refletir é um atributo humano. Somente nós podemos descobrir o oculto que está por trás de tudo. A reflexão é possível em qualquer ocasião. Se não refletimos, é porque não queremos ou perdemos o hábito, mas uma coisa é certa: a reflexão é necessária em todas as nossas decisões, afinal ela qualifica o nosso jeito de ser e estar no mundo. Quanto mais uma pessoa é capaz de pensar a vida, suas escolhas e o jeito de encaminhar suas decisões, maior será a possibilidade de uma experiência harmônica e equilibrada de si mesma e dos outros.
Um pouco de filosofia não faz mal a ninguém. Boa parte dos nossos sofrimentos podem ser resolvidos com o simples ato de pensar um pouco mais sobre eles. O sofrimento será sempre mais suportável à medida que somos capazes de racionalizar as causas que o move. Se descobrirmos o pensamento que nos faz sofrer e o reinterpretarmos, de alguma forma já estamos iniciando a superação. A reflexão pode minimizar os efeitos dos sofrimentos que enfrentamos. A vida continua penosa mesmo quando refletimos, mas é inegável que a reflexão consegue dar um sustento muito interessante ao nosso processo humano, afinal ela abre portas que até então estavam fechadas. A serenidade é fruto da mente bem esclarecida e bem norteada por um pensamento saudável.
O sofrimento nasce da irreflexão. Se mudarmos o jeito de pensar por meio de uma reflexão, naturalmente poderemos extirpar o que antes nos atormentava. Por vezes os medos são capazes de nos roubar a reflexão. Muitos sofrimentos nascem de nossas confusões mentais. A análise tem o poder de reordenar as ideias.
A calma da reflexão é que facilitará encontrarmos a melhor saída. A calma é essencial para que sejamos capazes de encontrar o caminho. Muitos sofrimentos nascem de nossas confusões mentais. Pessoas desesperadas são pessoas em profundo estado de confusão mental. Pessoas desesperadas não costumam lidar bem com os problemas que enfrentam. Administrar os sofrimentos no momento do desespero é tarefa árdua. Fatos não podem ser modificados, mas as consequências deles em nós sim. Quando estamos desesperados, necessitamos fazer a triagem das causas. Se não temos mais como alterar o fato, teremos então que investir nas consequências. Perguntar o porquê se sofre é tão importante quanto sorver o ar para se manter vivo. É a partir desta pergunta que descobriremos se temos ou não razões para o sofrimento.
Sofrimento sem razão é sofrimento infértil. Sofrimento sem razão são sofrimentos que poderiam ser evitados, caso a pessoa se dispusesse a fazer uso de sua reflexão. Exemplo disso são os sofrimentos que nascem dos medos. Medos muitas vezes infundados, medos nascidos de bobagens que resolvemos acreditar. Assim que racionalizo o medo, naturalmente ele perde o poder sobre mim. Um sofrimento só valerá a pena se ele for verdadeiro. Sofrer por mentiras é um absurdo. Quando identificamos um sofrimento verdadeiro, precisamos nos render a ele. Render-se ao sofrimento é reverenciar sua sacralidade, reconhecendo nele todo o crescimento que se desprenderá dele. É preciso sair dos estreitos labirintos de nossas dores mesquinhas para que possamos contemplar os amplos e largos espaços das dores transformadoras.
Garimpar diamantes é arte que exige ciência. O grande desafio do garimpeiro é encontrar a pedra preciosa no barro. É surpreendente, mas saber sofrer é uma arte que exige a mesma ciência.
Sentido é o alicerce de uma realidade. O sentido é a coerência da realidade. Tudo o que realizamos, por menor que seja, sempre está amparado por um sentido oculto. Descobrir o sentido das coisas é um jeito interessante de investigar a vida, deixar a superfície e atingir o lugar menos comum, mais profundo.O sentido é o motivo de nossas ações. O que faço tem sempre sua raiz no por que faço. Toda pergunta é, de alguma forma, a busca por um sentido. No momento em que sofremos, perguntamos. Nossas perguntas estão sempre a serviço do sentido que buscamos. A vida humana é cheia de absurdos, mas também cheia de sentidos. Absurdos e sentidos andam lado a lado porque são realidades complementares. O absurdo é o impulso que nos faz querer o sentido. Sempre que estamos diante de um fato que não tem sentido, isto é, um absurdo, somos desafiados a descobrir o caminho para a construção do sentido. É a partir desta construção que nos recuperamos. Só assim podemos sarar as consequências que o sofrimento provoca em nós. A construção do sentido favorece a continuidade da vida. As perguntas mais fundamentais nascem de nossa incompreensão da vida e seus absurdos.
Recomeços são sempre dolorosos. Por meio dos sofrimentos é necessário redescobrir o valor das pequenas alegrias. Lamentavelmente, tudo o que é grandioso pode nos cegar para a percepção de coisas menores, ainda que mais belas. Há dores que parecem reunir todos os motivos humanos num só lugar.
O altar é o lugar privilegiado do encontro de Deus com a humanidade. No altar, tudo o que é humano se diviniza. Divinizar é recolher e reconhecer a sacralidade. É retirar do profano, isto é, retirar o que está fora do templo e colocar sobre o local sagrado. Sacralizar o sofrimento é reconhecê-lo como oportunidade de transformação. O que sofremos passa a nos transformar, pois nos colocar no altar da vida, para que Deus nos recolha como oferenda agradável aos seus olhos. Somos como o pão e o vinho, e em Cristo seremos transformados. É claro que se pudéssemos escolher, escolheríamos não sofrer. Mas não há como mudar essa regra - o sofrimento humano é natural, é inevitável. Em algum momento da vida, ele nos esbarrará. Sofrer sim, mas sofrer apenas por causas que mereçam o nosso sofrimento. Sofrer, mas buscar o sentido oculto que está por detrás das profusas ramagens dos absurdos. Sofrer, mas nunca esquecer que depois da tempestade há sempre um sol preparado, pronto para brilhar e nos dourar com sua luz tão envolvente. Porque tão importante quanto não fechar a porta para os sofrimentos é não impedir, depois, a entrada das alegrias...
Pe. Fabio de Melo
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