quarta-feira, 14 de abril de 2021

NARCISISTA


Ultimamente muito tem sido falado sobre narcisismo. Pessoas narcisistas têm sido relacionadas com relacionamentos abusivos e até confundidas com psicopatas. Mas afinal, o que é essa característica? Na psicanálise, o narcisismo é uma fase da infância em que o bebê percebe que é diferente da mãe e do que mais está à sua volta. É nessa fase que ele começa a prestar atenção em si mesmo e a amar a si mesmo, de acordo com Erlei Sassi, coordenador do Ambulatório Integrado de Transtornos de Personalidade e do Impulso do Ipq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). 

No entanto, ao contrário do que se pensa, o narcisismo nem sempre é ruim. Ao contrário, na infância, ele é natural e importante. Primeiro, o bebê é amado por quem cuida dele e garante a sua sobrevivência. Depois, passa a amar a si mesmo -- é a fase do narcisismo. E, finalmente, começa a amar os outros.

"À medida que a gente vai crescendo, a gente vai se dando conta de que não é tão especial, de que não é tudo o que a gente quer vai ser realizado. É a instituição do limite", explica Antonio Carlos de Barros Júnior, psicanalista e doutor em psicologia social pela USP. 

Uma pessoa com transtorno narcisista tende a ficar furiosa quando alguém não reconhece o quanto ela é especial. Com isso, ela pode facilmente se envolver em brigas, seja em casa, no trabalho ou no trânsito. Em alguma dessas brigas, se alguém estiver armado o desfecho pode ser trágico. "Todo mundo gosta de ser adulado. 

Ninguém gosta de ser criticado. Mas para quem tem transtorno de personalidade narcisista, ser adulado é uma necessidade. É vital. Quando isso não acontece, ele fica enfurecido", explica o psiquiatra. 

Como identificar um narcisista patológico

O narcisismo "se torna patológico quando acontece fora do tempo e afeta outras pessoas", de acordo com Sassi. 

Porém, no campo da saúde mental, não há uma forma única de definir quem é e quem não é narcisista. Existem questionários sobre o tema, além do DSM-V (5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria). Segundo a publicação, uma pessoa tem transtorno da personalidade narcisista quando cumpre ao menos cinco dos nove seguintes critérios:

  1. Tem uma sensação grandiosa da própria importância (por exemplo, exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior sem que tenha as conquistas correspondentes); 
  2. É preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal;
  3. Acredita ser "especial" e único e que pode ser somente compreendido por, ou associado a, outras pessoas (ou instituições) especiais ou com condição elevada; 
  4. Demanda admiração excessiva; 
  5. Apresenta um sentimento de possuir direitos (por exemplo, espera receber um tratamento especial, sem uma justificativa específica); 
  6. É explorador em relações interpessoais (tira vantagem de outros para atingir os próprios fins); 
  7. Carece de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as necessidades dos outros; 
  8. É frequentemente invejoso em relação aos outros ou acredita que os outros o invejam; 
  9. Demonstra comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes.
No entanto, apenas ler esta lista e se identificar com ela não é suficiente para um diagnóstico. Para isso é necessário buscar ajuda profissional, em consulta com um psiquiatra ou psicólogo. 


O que fazer diante do narcisismo 

Um narcisista em geral não se reconhece como tal. Então, ele só vai buscar ajuda quando começa a sofrer com o seu próprio narcisismo. Por exemplo, ele começa a ter sintomas como tristeza e ansiedade. "O narcisista lida muito mal com a frustração. Ele não entende que não pode ter todos os seus desejos satisfeitos. Se a criança não é ensinada a lidar com as pequenas frustrações, fatalmente não saberá lidar com as grandes, e aí pode desmoronar", explica o psicanalista Barros Jr. Além disso, pessoas narcisistas costumam ter a ilusão de ser alguém superespecial e quando isso cai por terra, uma tristeza muito grande pode surgir. 

Outro sintoma é a ansiedade frente à aprovação do outro. Para o psicanalista, quando o sujeito começa a questionar se ele não está deprimido ou ansioso demais, já é hora de buscar ajuda. Assim, a pessoa pode "verificar como ela lida com a frustração, qual é a sua dependência em relação à aprovação dos outros e se ela está imobilizando a sua existência", explica Barros Júnior. 

Do ponto de vista médico, não há remédios especificamente para o transtorno narcisista, explica Sassi. O que se faz, eventualmente, é utilizar medicamentos para tratar alguns sintomas do narcisista, como ansiedade. Mas, segundo o psiquiatra, o tratamento principal nesse caso é a terapia. 

Ele faz o mesmo que quando você reclama por ele não te respeitar ou diz que ele está abusando. 

Gaslighting, distorcendo informações para favorecê-lo com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade. Além de te difamar para os seus conhecidos, para que achem que você está implicando com ele ou está perdendo o juízo.

Se você quer se proteger, tenha em mente que o narcisista pode ter experiência em manipular pessoas e vai se aprimorando nisso a cada nova vítima. Ele sabe que para evitar ser desmascarado, é preciso "envenenar o poço" das pessoas próximas a você para que se tornem seus macacos voadores, tentando fazê-los ficarem ao lado dele e contra você. Daí, não importa o que você disser, os outros acreditarão que é você que está implicando com ele ou está ficando louco. 

Um narcisista encoberto passa a imagem de uma pessoa agradável, empática, humilde, mas é tudo superficial. Só as suas vítimas conhecem a sua verdadeira face. É incrível como parece que todos os narcisistas leram Maquiavel e sabem usar os seus ensinamentos com maestria. Veja isso:

Contra quem tem boa reputação, é difícil conspirar e é difícil que seja atacado enquanto for considerado excelente e reverenciado pelos seus súditos (Maquiavel).
Quanto mais firmes forem os seus laços com as pessoas que são importantes para você, mais difícil será para o narcisista rompê-los. Mas ele criará intrigas para se passar por bom moço enquanto te vilaniza. O narcisista encoberto é carismático e é bom em distorcer os fatos e fazer "lavagem cerebral" nas pessoas. O gaslighting não é feito apenas com a vítima, ele também pode iludir as pessoas próximas a ela. Caso ele veja que essas pessoas não são influenciáveis e a vítima é consciente, seria de se esperar que ele desistisse e fosse procurar outra. Na verdade, ele sempre tem várias vítimas em potencial, com as quais ele usa o seu charme superficial e love bombing. No início... os narcisistas praticam 100%.

Quando alguma delas sucumbe à sua sedução e avança para as próximas fases do abuso (desvalorização, descarte, hoovering), ele passa a investir mais pesado nela para obter suprimento e todo tipo de vantagem que ela possa lhe oferecer. 

A desvalorização começa quando ele percebe que já ganhou controle sobre a vítima por meio da dependência emocional. Quando ela começa a implorar por migalhas daquilo que o narcisista lhe dava na fase do love bombing, isso o faz se sentir desejado e é um suprimento para ele.

A informação é a melhor defesa contra o abuso narcisista.

Outra coisa, narcista geralmente 99% fica obcecado por alguém que ele determina e esse alguém tem para oferecer para vida dele. Fica obcecado pelas coisas que pode usar/abusar do outro: dinheiro, sexo, moradia, carro, status, favores, beleza, amizades, popularidade, inteligência, etc.

Ficam loucos, descontrolados, muitos matam quando percebem que estão para perder a coisa-pessoa. Não possuem empatia com nada e ninguém e sempre quando descobertos se posicionam como vítimas e injustiçados (narcisista oculto)

Love bombing = Conhecer um cara legal, ficar com ele e, logo após o segundo ou terceiro date, ser alvo de um ataque romântico na forma de flores, presentes, jantares, declarações apaixonadas nas redes sociais e ao vivo e em cores e até aparições surpresa no trabalho. Para muitas mulheres, trata-se de um sonho que nem mesmo a mais açucarada das fantasias ousou imaginar. Para outras, porém, tamanho exagero só causa repulsa, medo e desconfiança. O chamado "love bombing" -- em tradução livre, "bombardeio de amor" -- costuma provocar reações contraditórias, ainda mais se levarmos em conta que, apesar de tanta evolução dos costumes, muitas mulheres ainda são influenciadas por conceitos de antigamente como a necessidade da prova amorosa, e de que os homens que valem a pena são arrebatadores e ardentes. No entanto, trata-se de um comportamento que exige atenção. Segundo especialistas, tende a se tornar obsessivo e até mesmo abusivo.

Para Silvia Malamud, psicóloga clínica especializada em terapia de casais e família, de São Paulo (SP), o risco existe se as características de personalidade estão dentro do espectro do narcisismo perverso e de outras patologias afins. "É quase uma regra: relacionamentos marcados logo no início pelo 'love bombing' têm a tendência de, na segunda página, virarem decepções ou inseguranças afetivas sem fim. Isso porque esse tipo de conduta indica uma projeção de todas as carências na outra pessoa, como se ela não tivesse defeito algum e fosse solucionar tudo na vida do apaixonado. E como as pessoas, em geral, andam muito carentes, o perigo do 'bombardeio de amor' está nas cobranças que surgem depois de um tempo e nas decepções que podem vir no pacote. E, ainda, na cegueira que persiste quando o outro é 'inventado' pelo par e a todo custo precisa se encaixar no modelo", afirma. 

O "love bombing" impede que se enxergue a natureza do relacionamento. Uma cegueira de excitação envolve o momento e não dá espaço para que a relação possa se desenvolver com maior profundidade. "Tudo passa a parecer a celebração do encontro e o desejo da perfeição do desenvolvimento do mesmo. Mas a grande questão é: o que pode significar perfeição para cada um, individualmente?", questiona Malamud. 

Segundo Luiza Colmán, psicóloga de Goiânia (GO) especializada em temáticas ligadas ao amor, é comum que essas pessoas queiram se sentir amadas na mesma proporção com que demonstram -- e, justamente por isso, acreditam que suas demonstrações de afeto serão correspondidas e valorizadas intensamente. "Em alguns casos, o 'love bombing' também serve para marcar território e deixar bem claro para todos que o par é comprometido", observa. 

Limites precisam ser respeitados 

De maneira persistente, o "bombardeio de amor" pode, sim, caracterizar abuso se o alvo da atenção exacerbada se sente controlado e sufocado pelo comportamento. É preciso, logo no início, pontuar o incômodo com firmeza e gentileza, sem culpa. Muitas pessoas não conseguem comunicar essa insatisfação porque como as atitudes, em princípio, se dão "por amor", parece que é feio reclamar. 

"É fundamental conversar sobre isso com o par e expor seus sentimentos e desejos, além de explicar o que tanto exagero causa. Não se deve desmerecer o outro, pois em alguns casos suas ações têm boas intenções, mas, infelizmente não agradam como deveriam", afirma o psicólogo Yuri Busin, diretor do CASME (Centro de Atenção à Saúde Mental Equilíbrio), em São Paulo (SP). 

Muitos arroubos de romantismo fazem parte do cenário de diversos começos de relacionamento -- o tempo se encarrega de "amornar" as coisas. Não é toda manifestação apaixonada que tem potencial de se tornar uma relação abusiva, mas, de acordo com a psicóloga Claudia Melo, do Rio de Janeiro (RJ), o que merece cautela nesse processo são os excessos. "Se você sinaliza pro par que é preciso ir com calma e ainda assim a sua fala não é respeitada, é sinal de problema. Se você diz 'não apareça no meu trabalho de surpresa, não vá à minha casa sem me avisar, não precisa mandar flores a toda hora' e esses limites são ultrapassados, cuidado. Mesmo sendo algo bonito, é fora do comum. Trata-se de alguém que demonstra claramente não ter limites nem respeita o espaço alheio", diz. 

Para a psicóloga e psicanalista Priscila Gasparini Fernandes, de São Paulo (SP), no início de um relacionamento é normal querer agradar ao outro, exagerar no carinho e nos presentes para garantir a conquista. "Mas isso é breve, logo deve haver uma estabilidade. Quando o exagero prossegue, é bom ficar alerta, pois quem faz é alguém que está tentando compensar algo. Então, o risco de virar uma obsessão é grande", avisa. 

Determinar o limite saudável de um comportamento "love bombing", na opinião da psicóloga Luiza Colmán, depende do quanto as ações acarretam prejuízos para o próprio indivíduo e/ou para outras pessoas. "Os excessos precisam ser observados se provocarem danos em áreas como trabalho, vida financeira, relações sociais e até mesmo na saúde física por causa do estresse ou do desgaste. Muitas vezes é necessário procurar ajuda de um terapeuta", diz. "A melhor forma de começar a quebrar o padrão é se perguntar: para que tanto excesso? 

Qual a reação esperada? É difícil para muita gente responder a essas perguntas sem auxílio, por isso um olhar profissional é fundamental para mudar o jeito de agir, principalmente se a pessoa não consegue deixar de exagerar, mesmo já tentando outras vezes", completa Luiza





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