sábado, 19 de julho de 2014

MORRE RUBEM ALVES UM DOS MEUS AUTORES DILETOS ... LUTO NA LITERATURA BRASILEIRA 2 GRANDES NUMA SEMANA (RUBEM ALVES E JOÃO UBALDO RIBEIRO)





A semana terminou triste para a literatura brasileira. Um dia depois de João Ubaldo Ribeiro, morreu neste sábado, no Centro Médico de Campinas, no interior de São Paulo, o escritor, pedagogo e psicanalista mineiro Rubem Alves, aos 80 anos. Ele estava internado desde o dia 10 de julho na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), com quadro de insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia, e sofreu falência múltipla de órgãos. Em nota, o hospital informou que o óbito foi registrado às 11h50.


Conhecido principalmente como cronista e autor de livros infantis, Rubem Alves escreveu mais de 120 títulos sobre pedagogia, teologia e psicanálise, suas áreas de formação e que pesquisou durante os anos de sua carreira acadêmica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O escritor deixa a mulher, Lídia Nopper Alves, e três filhos, Sérgio, Marcos e Raquel. Ainda não há informações sobre velório e enterro.

Trajetória – Rubem Azevedo Alves nasceu em 15 de setembro de 1933 no Sul do Estado de Minas Gerais, na pequena cidade de Boa Esperança, na época chamada de Dores da Boa Esperança. Alves ingressou no Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, no interior de São Paulo, e se formou em teologia em 1957, sob orientação evangélica. Concluiu mestrado e doutorado em teologia nos Estados Unidos.

Deu aulas para os cursos de Filosofia e Educação da Unicamp até se aposentar, no começo da década de 1990. Em 1995, recebeu o título de professor emérito do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp. Alves também concluiu o curso de psicanálise na Associação Brasileira de Psicanálise de São Paulo, em 1980, e manteve uma clínica própria até 2004.

Sua obra inclui livros como: A Alegria de Ensinar (Papirus) e Por Uma Educação Romântica (Papirus), na área de pedagogia; os infantis A Pipa e a Flor (Edições Loyola) e A Volta do Pássaro Encantado (Paulus); e Variações sobre o Prazer (Planeta do Brasil) e Entre a Ciência e a Sapiência (Edições Loyola) sobre filosofia.



"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar".

"Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar” 

"Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado".

"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."

"Cartas de amor são escritas não para dar notícias, não para contar nada, mas para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel".

"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".

"A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente". 

"A celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe.Fósforo que foi riscado.Nunca mais acenderá.Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário.Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte".

“É mais fácil amar o retrato. Eu já disse que o que se ama é a ‘cena’. ‘Cena’ é um quadro belo e comovente que existe na alma antes de qualquer experiência amorosa. A busca amorosa é a busca da pessoa que, se achada, irá completar a cena. Antes de te conhecer eu já te amava.... E então, inesperadamente, nos encontramos com rosto que já conhecíamos antes de o conhecer. E somos então possuídos pela certeza absoluta de haver encontrado o que procurávamos. A cena está completa. Estamos apaixonados”.

"Deus existe para tranquilizar a saudade".

"Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro".

"Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma".

"Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles".

"Toda separação é triste. Ela guarda memória de tempos felizes ( ou de tempos que poderiam ter sido felizes....) e nela mora a saudade."

"Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança têm isso em comum: ambos sabem que o universo é uma caixa de brinquedos. Deus vê o mundo com os olhos de uma criança.Está sempre à procura de companheiros para brincar".

"Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno".

“... Sem tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em lugares onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte... Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.”

"Toda alma é uma música que se toca".

"A alma é uma borboleta... há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose..."

“Aprenda a gostar, mas gostar mesmo, das coisas que deve fazer e das pessoas que o cercam. Em pouco tempo descobrirá que a vida é muito boa e que você é uma pessoa querida por todos.”

"Não foi à toa que Adélia Prado disse que 'erótica é a alma'. Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"


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