PABLO VILLAÇA - crítico de cinema, belorizontino, mineiro que a cada dia
mais encantada com seus textos e sua pessoa. |
Pablo Villaça perfeição não é possível ainda neste estágio da civilização humana. Porém, é impossível não gostar de você por você mesmo. Não podemos deixar de reconhecer o mérito e seu caráter em ser assim um homem ideal na sua imperfeição. Raro e desejado por muitas pessoas que hoje estão famintas de sinceridades e honestidades. Você é sim um homem admirável. Abraços, Roberta Carrilho
Ontem, publiquei um texto sobre a importância da empatia no que diz respeito a causas diferentes das nossas e recebi diversos elogios nos comentários abaixo do post. "Mais homens deveriam ser como você!", "Ah, se todo homem pensasse assim!", "Finalmente um homem razoável!" e por aí afora.
Estes comentários, por mais generosos que tenham sido (e foram muito), me fizeram mal. Senti-me incomodado, inquieto, com um nó no estômago.
Estes comentários, por mais generosos que tenham sido (e foram muito), me fizeram mal. Senti-me incomodado, inquieto, com um nó no estômago.
E finalmente percebi que este efeito poderia ser explicado por minha aversão ao plágio.
Explico: como escritor, sempre digo que o crime mais ofensivo que alguém pode cometer contra um profissional da área é o plágio. Um crime, aliás, cuja motivação nunca consegui compreender: deve ser horrível receber elogios por algo que não se criou - e ainda pior ser criticado por um texto que pertence a outro. Você pode amar ou detestar os textos que publico, mas eles são meus. Ser louvado sem merecer é uma experiência que eu abominaria.
Daí o nó no estômago com os elogios recebidos pelo último post.
Não, não estou dizendo que plagiei o texto; ele é meu. Mas os elogios com os quais fui presenteado definitivamente não eram merecidos.
Eu queria muito ser "um homem raro". Um "exemplo". Um modelo de comportamento masculino.
Mas não sou.
Sim, seria fácil permanecer calado e receber o calor gentil dos cumprimentos - e sei que há muitos que escrevem textos calculados para provocarem este tipo de efeito. Não se iludam: conheço os truques da profissão e saberia perfeitamente escrever algo com o único objetivo de projetar uma imagem nobre ou inspiradora. Recentemente, por exemplo, vários leitores pediram um texto sobre a morte de Roberto Bolaños e, por alguns segundos, pude antever frases de efeito, confissões pessoais sobre sua importância em minha vida e o compartilhamento de risos e impressões.
Mas eu estaria sendo um hipócrita, pois o fato é que assisti a pouquíssimos episódios de "Chaves" e, mesmo reconhecendo seu alcance e sua graça, não tinha uma ligação particularmente forte com a obra do mexicano. Assim, permaneci mudo e deixei que outros que realmente tinham esta ligação afetuosa com Bolaños presenteassem seus leitores com reminiscências calorosas (como fez brilhantemente Gregório Duvivier).
Não, não escrevo para projetar uma imagem falsa de perfeição. Ao contrário: em várias ocasiões, eu antevi problemas que teria com certos textos e ainda assim os escrevi quando teria sido melhor para minha saúde permanecer com a tela do computador em branco. De novo: inspiradores ou irritantes, meus textos expressam o que penso e quem sou.
E definitivamente não sou um "exemplo de homem". E ser elogiado por isso seria injusto e ofensivo. Até tentei me justificar para minha própria consciência com um "pelo menos, não sou como o tal blogueiro!", mas isto é usar um padrão muito baixo de comparação. Se preciso disso para me sentir bem comigo mesmo... a coisa vai mal.
Nunca assediei mulheres, obviamente. Se um convite para um encontro era recusado, eu não insistia. No máximo, o repetia mais uma vez em outra ocasião (caso inicialmente tivesse recebido apenas silêncio como resposta) e pronto. "Não" é "não". Tampouco enviei fotos íntimas por supor que a pessoa do outro lado precisava urgentemente ver meu pênis em duas dimensões em seu telefone ou computador. E jamais me entreguei a fetiches agressivos unilaterais, que visavam meu prazer às custas da pessoa com quem me encontrava, fossem estes físicos ou verbais. E, claro, não persegui menores de idade.
Mas o fato de não ser misógino (ou desumano) não quer dizer que não posso agir como um babaca.
E já agi. Como agi. Contei mentiras, magoei pessoas que não mereciam ser magoadas (ok, ninguém merece), cometi traições e, sim, objetifiquei mulheres. Em alguns casos, pedi desculpas ao me dar conta do que havia feito. Em outros, apenas me afastei. Ou mesmo só percebi a gravidade da mágoa ao constatar a raiva inspirada. Algumas desculpas foram aceitas. Outras não. E também compreendo.
De modo geral, mantenho bons relacionamentos com todas as minhas ex - incluindo aquela que namorei aos 17 anos e que ainda hoje permanece uma amiga querida. No entanto, sempre acreditei que é cômodo demais nos definirmos por nossas virtudes.
O maior teste de caráter é tentar se definir por suas maiores falhas e avaliar se ainda assim você pode se considerar uma pessoa digna de elogios.
E, infelizmente, não, não posso.
Portanto, devolvo, com pesar, os elogios com os quais me presentearam no post passado. Guardem-nos para alguém que mereça. O que escrevi era apenas fruto de bom senso - um bom senso com o qual tento me comportar na maior parte do tempo.
Mas que já falhou vezes demais para que eu possa ter orgulho de mim mesmo.
Assim, peço que, por favor, não cometam o equívoco de encarar este post como um texto de "parabenizem minha valentia por reconhecer minhas falhas". Não há valentia alguma aqui. Há arrependimentos, remorsos e um esforço genuíno pra tentar seguir melhorando como ser humano e evitar novos erros.
No post passado, escrevi sobre os privilégios do homem cis hetero e branco - e um exemplo destes ocorreu no twitter na semana passada, quando, como maneira de demonstrar apoio à população negra dos Estados Unidos, revoltada com mortes seguidas de jovens desarmados graças à brutalidade policial, vários usuários começaram a postar crimes que haviam cometido, maiores ou menores, e pelos quais não foram responsabilizados por serem brancos.
E foi aí que um usuário negro comentou: "Privilégio branco é você confessar um crime no Twitter e ser aplaudido por sua valentia".
Perfeito.
Não cometam este erro aqui.
Pablo Villaça
Fonte facebook: https://www.facebook.com/pablovillaca01?fref=photo
Biografia: Pablo Villaça
Nascimento em 18 de setembro de 1974
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